Josef Mengele: os 40 anos da morte do médico nazista que viveu 17 anos em SP. Por André Bernardo, do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil - 06/02/2019
Josef Mengele: os 40 anos da morte do médico nazista que viveu 17 anos em SP. Por André Bernardo, do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
6 de fevereiro de 2019, quarta-feira Atualizado em 23/04/2025 21:13:36
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Bertioga, 7 de fevereiro de 1979. O cabo da PM Espedito Dias Romão já se preparava para passar o plantão e ir para casa quando atendeu a uma chamada de emergência. Do outro lado da linha, alguém avisava de um corpo na Praia da Enseada. Ao chegar ao local, por volta das quatro da tarde, encontrou a praia deserta.
Na areia, apenas o banhista morto e um casal de austríacos, Wolfram e Liselotte Bossert. "Não havia mais nada que pudesse fazer. Ele já fora resgatado da água sem vida", recorda Romão, hoje aposentado, aos 72 anos. "Por se tratar de um mal súbito, acredito que tenha sido fulminante. Mas, não posso garantir."
A documentação apresentada por Wolfram identificava o defunto como Wolfgang Gerhard, um austríaco de 54 anos. Só em 1985, Romão veio a descobrir que Gerhard era um dos muitos pseudônimos que Josef Mengele - acusado de ter enviado milhares de prisioneiros para a morte em campos de concentração e de ter realizado experimentos crueis em mais de três mil gêmeos - usou para viver incógnito depois da Segunda Guerra. O verdadeiro Gerhard morreu em 16 de dezembro de 1978 e foi sepultado em Graz, na Áustria, sua terra natal.
A lista de nomes falsos adotados por Mengele é extensa e inclui, entre outros, Fritz Ullmann, Helmut Gregor e Fausto Rindón. Só no Brasil, foram dois: Peter Hochbichler e Wolfgang Gerhard. "Nosso país nunca foi uma opção para Mengele por causa da presença de índios e negros. Na América do Sul, ele preferia a Argentina. Por ter muitos alemães e simpatizantes do nazismo, se sentia em casa", explica o jornalista e historiador Marcos Guterman, autor de Nazistas Entre Nós - A Trajetória dos Oficiais de Hitler Depois da Guerra (2016).
"Mengele só fugiu para cá porque temia ser capturado como Adolf Eichmann", completa o historiador, referindo-se a outro criminoso de guerra, capturado em maio de 1960, na Argentina, e enforcado em junho de 1962, em Israel.O médico e o monstro de AuschwitzQuando a derrota na Segunda Guerra tornou-se uma questão de dias, os oficiais nazistas só tinham três decisões a tomar: suicídio, prisão ou tentativa de fuga. Em 17 de janeiro de 1945, quando tropas soviéticas estavam a dez dias de tomar Auschwitz, Mengele optou pela terceira alternativa. Sob o pseudônimo de Fritz Ullmann, trabalhou, por quatro anos, numa plantação de batatas no sul da Alemanha.Em junho de 1949, seguiu para a Argentina, onde trocou novamente de identidade e virou Helmut Gregor. Quando a Alemanha pediu sua extradição, fugiu para o Uruguai. Em 1959, migrou para o Paraguai e, dois anos depois, para o Brasil."Mengele era de família rica. Na Argentina e no Paraguai, contou com a ajuda de outros ex-oficiais nazistas. Chegou a ser dono de uma farmacêutica na Argentina, de onde tirava um bom dinheiro", relata Guterman.Josef Mengele nasceu em Günzburg, na Alemanha, no dia 16 de março de 1911. Seu pai, Karl, era um rico industrial do ramo de equipamentos agrícolas. Mas, em vez de assumir os negócios da família, preferiu estudar medicina em Frankfurt.Formado em 1938, foi admitido em Auschwitz cinco anos depois, como coronel-médico da SS, a tropa de elite do regime nazista. Logo, ganhou o título de O Anjo da Morte. "Mengele foi o mais sádico e cruel de todos. Como se estivesse brincando de Deus, selava o destino dos prisioneiros que chegavam a Auschwitz. Enquanto uns seguiam para o campo de trabalhos forçados, outros eram jogados nas câmaras de gás", explica o jornalista americano Gerald Posner, autor de Mengele - The Complete Story (2000).Um terceiro grupo, formado por gêmeos, anões e deficientes físicos, era usado como cobaia de experimentos macabros no pavilhão batizado de "zoológico". Suas pesquisas, que nada contribuíram para a ciência, consistiam, entre outras atrocidades, em testar os limites do ser humano em temperaturas altíssimas - como caldeirões de água fervente - ou injetar cimento líquido nos úteros das prisioneiras para avaliar os efeitos da esterilização em massa.Recluso, gostava de ler poesia e ouvir música clássicaAssim que chegou ao Brasil, em 1961, Mengele passou a se chamar Peter Hochbichler e foi morar em Nova Europa, a 318 km de São Paulo. Por intermédio de Wolfgang Gerhard, um simpatizante de Hitler que morava no país desde 1948, foi apresentado ao casal Geza e Gitta Stammer.Como estavam à procura de alguém para administrar sua fazenda de café, resolveram contratá-lo. Um ano depois, se mudaram para Serra Negra. "De tão campesino, nosso município não tinha sequer asfalto. Era o lugar ideal para alguém se esconder", afirma o historiador Pedro Burini, autor de O Anjo da Morte em Serra Negra (2013). "Como os Stammer eram húngaros, Mengele ficou conhecido na região como Pedro Hungarês. Ou, simplesmente, Pedrão."Sob o pretexto de observar pássaros, Mengele mandou construir uma torre, com cerca de seis metros de altura, no telhado do sítio. Munido de binóculos, passava horas lá em cima, vigiando quem entrava e saía da propriedade."Mengele vivia sob constante tensão. Tinha pavor de ser capturado por agentes do Mossad, o serviço secreto de Israel", relata o jornalista francês Olivier Guez, autor de O Desaparecimento de Josef Mengele, previsto para ser lançado, ainda este ano, pela editora Intrínseca."O pavor era tanto que deixou o bigode crescer. Acreditava que, por debaixo dele, ninguém o reconheceria. O problema é que, de tanto mastigar os fios do bigode, formou-se uma bola de pelos em seu estômago, que o obrigou a fazer uma cirurgia."Paranoico, Mengele raramente saía de casa. Passava os dias recluso, lendo Goethe e ouvindo Strauss. Quando precisava ir à cidade, vestia capa e chapéu. Não satisfeito, ia escoltado por uma matilha de cães que ele mesmo adestrou.A amizade com os Stammer chegou ao fim em 1975, quando Geza descobriu que Mengele e sua mulher tiveram um caso. Foi quando o criminoso de guerra mais procurado de todos os tempos se viu obrigado a mudar de endereço. Dali em diante, perambulou por diversas cidades paulistas, como Caieiras, Diadema e Embu.Procura-se vivo ou morto. Recompensa: US$ 3,4 milhõesSeu último esconderijo foi a residência dos Bossert, no bairro do Brooklin, na capital paulistana. À época, Gerhard precisou regressar para a Áustria e deixou toda sua documentação com Mengele.De saúde frágil, o médico de Auschwitz queixava-se de insônia, hipertensão e reumatismo. À noite, não ia para a cama sem esconder uma velha pistola Mauser, uma semiautomática de origem alemã, sob o travesseiro. Faz sentido. Sua cabeça valia, na ocasião, um prêmio estimado de US$ 3,4 milhões, algo em torno de R$ 12 milhões.Em outubro de 1977, quando morava na Estrada do Alvarenga, próximo à represa Billings, Mengele recebeu uma visita inusitada: Rolf, seu filho. Ao longo de duas semanas, quis ouvir do pai sua versão sobre Auschwitz.Em entrevista ao programa The Phil Donahue Show, de 17 de junho de 1986, Rolf Jenckel, hoje advogado em Munique, na Alemanha, relata que, em nenhum momento o velho demonstrou culpa ou remorso: "Não admitiu que fez nada de errado. Disse apenas que estava cumprindo ordens."
Sob o nome falso de Wolfgang Gerhard, o corpo de Mengele foi sepultado no cemitério de Nossa Senhora do Rosário, em Embu das Artes. Provavelmente estaria lá até hoje se, em maio de 1985, a polícia alemã não tivesse interceptado cartas dos Bossert endereçadas a Hans Sedlmeier, um ex-funcionário da família Mengele.
Desconfiadas, as autoridades alemãs acionaram a polícia brasileira que, sob a responsabilidade do superintendente da PF em São Paulo, o delegado Romeu Tuma, resolveu fazer buscas na residência do casal e descobriu toda a verdade.
O corpo de Mengele, então, foi exumado e seus restos mortais examinados pela equipe do legista Daniel Romero Muñoz, então diretor do setor de antropologia do Instituto Médico Legal de São Paulo. Seu laudo, de julho de 1985, foi confirmado, sete anos depois, por um exame de DNA feito na Inglaterra: a ossada era mesmo de Mengele.
Como o filho nunca requisitou o corpo do pai, seu esqueleto é usado, desde 2016, como material didático em aulas de medicina forense da USP. Diante disso, Israel deu o caso por encerrado.
Encerrado? Não para o historiador polonês naturalizado brasileiro Henry Nekrycz. Em Mengele - A Verdade Veio à Tona (1994), Ben Abraham, como era mais conhecido, sustenta que tudo não passou de uma farsa. O corpo enterrado no Brasil em 1985 não era do médico nazista e, sim, de um sósia.
"Consigo entender quando um sobrevivente do Holocausto, como Ben Abraham, não se conforma que seu carrasco, Mengele, tenha morrido placidamente numa praia paulista, sem pagar pelos crimes que cometeu. Mas o fato é que Mengele morreu e foi enterrado em São Paulo. O resto é teoria da conspiração", avisa Guterman.
ME|NCIONADOS• Registros mencionados (1): 07/02/1979 - Falecimento de Josef Mengele EMERSON
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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.