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    17 de setembro de 2024, terça-feira
    Atualizado em 21/04/2025 20:00:19

  
  


Composta de três partes ("O Continente", "O Retrato" e "O Arquipélago"), publicadas no decorrer de 13 anos (1949 a 1961), O Tempo e o Vento é a obra-prima do escritor gaúcho Erico Veríssimo (1905-1975). Nela se redefinem com clareza questões latentes por quase duas décadas de sua produção literária, em particular as relações entre campo e cidade (presentes na ambientação e caracterização de toda sua obra pregressa) e o interesse pelo horizonte histórico e político que as determina.

Para estabelecer um panorama da história brasileira – ou ainda, da ocupação da região inicialmente conhecida como Continente de São Pedro, ao que alude o título do primeiro tomo –, Veríssimo retorna ao ano de 1745 e ao primeiro empreendimento colonial de vulto na região do Rio Grande do Sul, as Missões, onde indígenas, jesuítas e colonos europeus produziram uma experiência social bastante particular. O pano de fundo para a abertura do mais popular dos três volumes, "O Continente" (1949), é a chamada Guerra Missioneira, a partir da qual o Continente se torna parte da colônia portuguesa. Pedro Missioneiro, mestiço criado por padres de Sete Povos das Missões, vê-se abandonado à própria sorte quando os exércitos comandados por Gomes Freire de Andrade invadem e destroem o povoamento. Perambulando pelos campos, chega aos domínios dos Terra, família de tropeiros paulistas de Sorocaba. Entre os Terra, Pedro Missioneiro conhece Ana; e da paixão dos jovens, nasce o menino Pedro Terra. A gravidez de Ana leva seu pai, Maneco, a ordenar que seus filhos matem o índio.

Anos depois, um ataque de castelhanos à casa dos Terra dizima a família e sua propriedade: com a casa incendiada e os pais e irmãos mortos, Ana, violentada, deixa a sesmaria com o filho, a cunhada e a sobrinha e parte para a vila de Santa Fé. Estabelecido em Santa Fé, Pedro Terra é pai de Bibiana, uma das mais marcantes personagens da trilogia. Casada com o capitão forasteiro Rodrigo Cambará após um duelo deste com o importante Bento Amaral, Bibiana não só dá à luz o importante clã dos Terra-Cambará como torna-se o pivô de uma rivalidade que se estende pelas décadas seguintes, assumindo as tonalidades que o fundo histórico propõe. Atravessa a Revolução Farroupilha (na qual Rodrigo é morto e a família perde a propriedade) e a Guerra do Paraguai (em que o empobrecimento se vê mitigado pelo casamento de Bolívar, filho de Bibiana e Rodrigo, com Luzia Silva, neta de um agiota da cidade) e chega aos fins do século XIX com o conflito entre os castilhistas (Terra-Cambará, liderados agora por Licurgo, intendente e chefe político republicano de Santa Fé) e maragatos (Amaral) da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul.

Em "O Retrato" (1951), Veríssimo retoma, com o doutor Rodrigo Cambará e seu pai, coronel Licurgo, as relações entre modernização urbana e tradicionalismo rural que servem de fundo a seus primeiros romances. O foco está no embate entre as duas perspectivas, tendo como elemento estruturador o desenvolvimento de Santa Fé como núcleo citadino. Rodrigo, criado em Santa Fé e formado médico em Porto Alegre, retorna à cidade natal entusiasta de modernidades que não só entram em conflito com os modos do patriarca como, mais profundamente, revelam uma cisão em seu próprio caráter. No momento (passagem do século XIX para o XX) em que as personagens deixam o protagonismo nos embates formadores do país para se enclausurar numa Santa Fé amesquinhada, doutor Rodrigo encarna o conflito entre o desejo de modernização e a decadência moral que acompanha a insidiosa necessidade de adaptação do tradicionalismo aos novos tempos.

Em "O Arquipélago" (1961), as tensões de "O Retrato" voltam ao palco das ações de âmbito nacional. Com a adesão ao governo de Vargas no Estado Novo e sua ida como deputado ao Rio de Janeiro, Rodrigo conhece o auge do poder; porém, com a queda de Vargas e seu adoecimento, tem de voltar a Santa Fé, onde vive um acerto de contas familiar. Para tanto, concorrem à narrativa personagens não tão consumidas pela ação histórica e mais por um desejo de compreensão distanciada de seu universo social, como Floriano, filho de Rodrigo e alter ego de Veríssimo, cujo projeto de se tornar escritor o coloca em conflito com o pai.

Segundo Flavio Loureiro Chaves (1944), a contribuição de O Tempo e o Vento para a literatura brasileira foi resolver a equação formal do romance histórico, tal como desenvolvida por José de Alencar (1829-1877), apoiando-se não em uma brasilidade abstrata, mas no desenvolvimento concreto de uma região específica, explorando em profundidade seus tipos e momentos decisivos para só com base neles alçar-se a retrato apropriado a uma ideia nacional. Indo além, diz Donizeth Aparecido dos Santos, pela definição de Lucia Helena, que O Tempo e o Vento supera a própria questão de seu gênero de partida. Trata-se, segundo o pesquisador, de uma “narrativa de fundação”, pela qual se cria uma “comunidade imaginada”, para a qual são fundamentais o componente técnico (de base artístico-literária) e o político (de base histórica e crítica). Lembra o mesmo pesquisador, por meio da autobiografia de Veríssimo (Solo de Clarineta), das providências do autor no sentido de compilar e desbravar uma história tradicionalmente engessada e mistificada, feita de “nomes inexpressivos, debaixo de clichês apagados”. Para descobrir, como romancista, “como eram ‘por dentro’ os homens [...], aquela humanidade batida pela intempérie” (Apud SANTOS, 2013: 123), Veríssimo explora os contrapontos entre a história social e os rumos das vidas particulares, mas também a formação de homens como Licurgo Cambará e seu filho, que simbolizam a própria ascensão dos Terra-Cambará ao poder, deixando de ser meras vítimas da história para se tornarem verdadeiros agentes.

Pela ambição e riqueza da arquitetura e por trazer em seu bojo uma importante reflexão sobre a tradição literária brasileira, O Tempo e o Vento representa um momento particular do esforço literário de compreensão da sociedade nacional.




  


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