O triplo legado de Dom Pedro I que conspirou para o Brasil ser desse jeito
21 de julho de 2024, domingo Atualizado em 25/10/2025 19:16:01
•
•
•
O mercenário alemão Carl Seidler desembarcou no Rio de Janeiro em 1826, entre os aventureiros arregimentados na Europa para combater ao lado dos brasileiros na Guerra da Cisplatina. O conflito encerrou-se dois anos depois, com a derrota do Brasil e a independência do Uruguai, mas Seidler ainda ficou por aqui até 1835.Não gostou muito do que viu.
No livro Dez anos no Brasil, o viajante alemão descreveu as péssimas condições sanitárias do Rio de Janeiro e os horrores da escravidão. Definiu o país como “a terra da fantasia e da insensatez, o estado imperial de um arlequim multicolorido que, com sua vara de condão, transforma ouro em papel, pão em pedra e homens em animais”.
Citada ao fim do capítulo que trata da Guerra da Cisplatina, a dura avaliação de Seidler sobre a jovem nação brasileira captura o espírito crítico de O primeiro golpe do Brasil – Como D. Pedro I fechou a Constituinte, prolongou o escravismo e agravou a desigualdade entre nós (Máquina de Livros; 176 páginas), de Ricardo Lessa. O “arlequim multicolorido” de que falava o alemão era o próprio Pedro, e a transformação de homens em animais alude à chaga moral que seu império tropical sustentou: a escravidão.
Jornalista com passagens por IstoÉ, Gazeta Mercantil e GloboNews, Lessa faz, neste seu sexto livro, um trabalho de desmontagem do que resta da imagem de herói da independência que a historiografia oficialista construiu em torno do primeiro imperador do Brasil. Tal como é apresentado na obra, D. Pedro I foi um suspiro tardio de absolutismo na América, em um tempo no qual ventos constitucionalistas e republicanos sopravam pelo mundo.
Em sua própria vizinhança, na qual as antigas colônias espanholas conquistavam a independência, o Brasil, afirma Lessa, “permanecia estagnado como uma ilha de monarquia cercada de revoltas republicanas de todos os lados”.
Na perspectiva do autor, o duvidoso grito do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, não foi o evento fulcral desse período conturbado. O ano definidor do Primeiro Império na verdade teria sido 1823, quando uma Assembleia Constituinte com representantes das províncias brasileiras foi chamada ao Rio para escrever a Lei Maior do país – só para ser voluntariosamente dissolvida pelo soberano, que não admitia limites para seu arbítrio.
A constituinte começou suas atividades em maio, na Cadeia Velha, que ficava no local onde hoje está a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Irritado com críticas que os jornais liberais lhe faziam e com certas tendências liberais dos constituintes, Pedro mandou dissolvê-la em novembro.
O monarca valeu-se da mão pesada dos autocratas: a Cadeia Velha foi cercada por tropas militares, ainda sob comando de oficiais portugueses. Cinco representantes provinciais saíram de lá para a prisão.
Preso em sua residência, José Bonifácio, que já fora o mais respeitado conselheiro do jovem imperador, seria exilado em seguida. O fechamento da constituinte é o evento que Lessa chama, com boa razão, de primeiro golpe do Brasil.
O trabalho dos constituintes não foi totalmente desperdiçado. Serviu de base para a primeira Constituição do país, outorgada por Pedro em março de 1824. Lessa explica os cortes, acréscimos, emendas e distorções impostos a mando do rei.
A mudança fundamental foi a criação do Poder Moderador, por meio do qual Pedro poderia impor sua vontade última à nação. Medidas importantes para o progresso social do País foram diluídas ou anuladas.
Foi o caso da instrução primária gratuita em todas as comarcas, que na versão final resumiu-se a uma vaga disposição de criar colégios e universidades – que não saiu do papel. Naquele tempo, nota Lessa, já havia 22 universidades na América Espanhola. A Universidade do Rio de Janeiro, atual UFRJ, primeira do Brasil, só seria inaugurada em 1920.
O primeiro golpe do Brasil examina em detalhe o vínculo da Coroa com a escravatura. Os fazendeiros que exploravam mão de obra escravizada e os mercadores de pessoas constituíam o esteio econômico de Pedro e sua corte. Ideias de uma abolição gradual da escravidão, acalentadas por figuras de perfil mais liberal como Bonifácio, foram esquecidas. As leis que restringiam o tráfico negreiro não eram cumpridas pelas autoridades.
Atada a essa base retrógrada, a monarquia também foi responsável por “um longo apagão na economia brasileira”. A negligência com as contas públicas e com a moeda nacional é uma tradição trazida ao Brasil pela família real portuguesa, em 1808. Quando retornou a Portugal em 1821, o rei D. João VI limpou os cofres (expressão de Lessa) do Banco do Brasil. Seu filho passou então a emitir papel-moeda sem lastro.
As despesas com a malograda campanha na Cisplatina pioraram a situação, e em 1829 o Banco do Brasil decretou falência. “O recurso de emitir papel pintado como dinheiro foi utilizado repetidamente no Brasil até 1994, quando a inflação se estabilizou, com o Plano Real”, diz Lessa.
Amparado em cronistas da época como Seidler e no trabalho de historiadores como Evaldo Cabral de Mello, Lessa compôs um painel sintético das mazelas imperiais e de seu legado. Embora o mito de Pedro como fundador do Brasil já tenha perdido muito de seu antigo viço, O primeiro golpe do Brasil é um livro oportuno quando uma certa nostalgia da monarquia ressurge nas franjas do conservadorismo.
É sobretudo uma necessária defesa do império da Constituição e da igualdade dos cidadãos perante a lei. Não há outro caminho para superar o legado autoritário que o passado nos deixou.
ME|NCIONADOS• Registros mencionados (1): 25/03/1824 - Juramento da Constituição Política do Império, prestado na Capela Imperial EMERSON
Sobre o Brasilbook.com.br
Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.