'Mulheres indígenas tiveram protagonismo nos mapas do Brasil colonial. Por Denise Moura, Professora livre-docente do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Unesp (Universidade Estadual Paulista) - 19/04/2024 Wildcard SSL Certificates
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Mulheres indígenas tiveram protagonismo nos mapas do Brasil colonial. Por Denise Moura, Professora livre-docente do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Unesp (Universidade Estadual Paulista)
    19 de abril de 2024, sexta-feira
    Atualizado em 28/10/2025 03:51:02

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Mapeamento e mapas são mais terrenos de mulher do que o mundo masculino da ciência moderna europeia nos fez e ainda faz pensar.

Quando o assunto é mapeamento, cartografia e mapas, o que vem à mente são figuras e performances masculinas, seja de exploradores, topógrafos ou cartógrafos. Porém, os mapas históricos do Brasil desenhados no século 18 (por missionários de ordens religiosas à frente de expedições de mapeamento estatais) contêm os olhos, as mãos e os pés de mulheres indígenas.

Mapas, estes desenhos de territórios, são terreno de mulher não apenas na tradição de curadoria e tratamento histórico-analítico, como ocorreu no século 20 e nas duas últimas décadas, mas também em seus traçados feitos no período colonial.Mapa de Oeiras (PI) no fim do século 18, que integra o livro ´Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial´ - ReproduçãoO primeiro e principal nome da catalogação dos mapas históricos do Brasil foi de uma mulher, Isa Adonias. Ela foi responsável por concluir, em 1960, a descrição e organização da coleção de mapas históricos manuscritos do Brasil colonial conservados no Arquivo do Itamaraty, no Rio de Janeiro.Apenas em 1968 o geógrafo inglês John Brian Harley inaugurou em um artigo o que admitiu serem apenas linhas esqueléticas de uma metodologia para uma abordagem social e humanizada do mapa.Isso impulsionou um campo de pesquisa, o da história social da cartografia, que nos últimos vinte anos se expandiu através da investigação de mulheres historiadoras. Algumas delas, inclusive, fazendo uso da cartobibliografia de Isa Adonias.As territorialidades da mulher indígenaQuando observados em perspectiva de gênero e com o auxílio das teorias e dados de disciplinas como a arqueologia, a antropologia e a etnografia, os croquis e mapas do território percorrido por expedições de mapeamento ocorridas no Brasil no século 18 evidenciam a face feminina indígena.Sob essa abordagem, estes documentos denunciam as sutilezas das concepções patriarcais e masculinas ainda persistentes no modo como a ciência interroga. Muitos desses croquis e mapas foram posteriormente impressos em tipografias na Europa.Missionários de ordens religiosas, como beneditinos, franciscanos e jesuítas, por terem tido relações diretas e continuadas com os povos indígenas, produziram mapas mais potencialmente femininos, ao contrário daqueles feitos por cartógrafos profissionais, os então engenheiros militares.Muitas vezes, esses profissionais desenharam o terreno sem nunca ter pisado nele e apenas reaproveitando croquis feitos no calor das expedições. Agindo assim, revestiam saberes, percursos e usos femininos indígenas com convenções técnicas da cartografia.

Mapa creditado ao brigadeiro e cartógrafo José Custódio de Sá e Faria, feito a pedido de Dom Luís Antônio de Souza, o Governador Capitão Geral da Capitania de São Paulo. As observações da historiadora sobre o mapa destacam os saberes da territorialidade feminina indígena contidos no documento - DivulgaçãoOs blecautes do feminino indígenaComo pesquisadora da História da Cartografia, foi somente ao colocar o difícil ponto final em uma pesquisa acadêmica em história da cartografia (que me absorveu por sete anos) que atinei para os danos epistemológicos que havia sofrido em virtude de uma ação de gênero, não necessariamente deliberada, mas de cultivo geracional.

Falo do blecaute do feminino, porém do feminino indígena nas fontes históricas que havia lido, relido e colhido dados sobre o processo de mapeamento e confecção de mapas do noroeste do atual estado do Paraná, região conhecida no século 18 como sertões do Tibagi, Ivaí e Campos de Guarapuava.

Na ocasião, eu me perguntei: o que aconteceu com a mulher indígena mencionada em um ofício escrito em 7 de julho de 1769, pelo comandante geral das expedições, dando ordem a um de seus capitães para vestir a indígena que deveria seguir à frente dos soldados, juntamente com um padre capelão?

Ambos, o padre e a mulher indígena, ficaram incumbidos de se comunicar com os indígenas encontrados no trajeto, o que significa caminhariam lado a lado.

Entre 1769 e 1773, 11 expedições fluviais e terrestres organizadas pelo estado monárquico português percorreram os ditos sertões do Tibagi para entender seus limites, características físicas e etnográficas ainda desconhecidas. Deveriam elaborar mapas para serem usados como documentos oficiais de embasamento das discussões com o rei e funcionários da Corte de Madrid para a definição da fronteira fluvial sul do Brasil.

Estas expedições foram bem-sucedidas, geraram vários croquis e mapas que circularam anexados em ofícios. Em 1 de outubro de 1777, foi concluído e assinado o primeiro Tratado de Santo Ildefonso, que assegurou para Portugal a navegação de rios e território situados no sul do Brasil.

A responsabilidade atribuída a esta mulher indígena e os desdobramentos da sua performance conduzindo comandantes e soldados território adentro foram relevantes. Nada, porém, foi mencionado sobre sua pessoa na narrativa masculina dos ofícios, que enalteceram incessantemente o padre beneditino nomeado para seguir ao lado da mulher indígena e os soldados.

Houve um blecaute das observações, ações e itinerários desta mulher. Foi então que, ao fim de uma pesquisa, voltei ao seu início para recuperar algo que deveria ter sido o começo, não fosse a força dos legados masculinos da cultura. Pude então constatar que alguns traçados dos mapas somente poderiam ter saído dos olhos e pés de uma mulher indígena.

Quem segue à frente são mulheresPesquisadoras da história indígena já demonstraram que mulheres indígenas eram colocadas à frente de expedições como intérpretes, para estabelecerem a comunicação entre mapeadores e populações nativas dos territórios mapeados.

Diante da experiência histórica de confrontos violentos entre os homens, tanto exploradores como indígenas, as mulheres transmitiam segurança e confiança nos encontros e negociações diplomáticas próprias dos processos de desbravamento, exploração e mapeamento de territórios. Estas mulheres exerciam um papel político de intérpretes e mediadoras.

Expedições de mapeamento de um território do Brasil ainda muito pouco conhecido ao longo de todo o século 18 foram inúmeras. Aquelas que percorreram os sertões do Tibagi deixaram uma narrativa visual em um conjunto sequencial de 39 estampas coloridas representando os acontecimentos da expedição de número dez, umas das últimas, ou seja, quando praticamente estava concluído o empreendimento.

Se a mulher indígena foi ausente dos escritos dos soldados, do padre e do comandante autores dos ofícios manuscritos, o mesmo não ocorreu com o pincel de Joaquim José de Miranda, desenhista da época do qual nada sabemos.

O rio Bermejo, indicado nos mapas feitos pelos missionários, faz parte da territorialidade das mulheres indígenas do Gran Chaco, área formada por partes da Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil - ReproduçãoMiranda recebeu a encomenda do governador de narrar visualmente a expedição. Em pelo menos três cenas, o artista registrou a presença da mulher indígena vestida, como anunciada no ofício, uma delas, como mostra a imagem abaixo, posicionando-a no centro da cena:

Na cosmovisão indígena da América do Sul existe uma divisão sexual do trabalho na qual a mulher desempenha determinados papéis que asseguram o existir do grupo. Um deles é o cultivo das roças e a colheita dos frutos. Não significa que mulheres também não praticassem a caça em certos meios ou circunstâncias.

Este papel social ligado ao cultivo e colheita dos frutos definia a sua territorialidade que, em alguns casos, foi transposta explicitamente para os mapas feitos por missionários, como ocorreu no caso do padre que seguia pelos sertões do Tibagi ao lado da indígena guia e intérprete.A este padre coube os créditos dos êxitos da expedição, mas o traçado de seu itinerário entregava a territorialidade da mulher indígena que o acompanhava. Isso se torna visível através dos registros das árvores frutíferas, espaços que eram costumeiramente percorrido por elas.A invisibilidade da mulher indígena na história está relacionada à violência e desigualdade de gênero instaurada pela relação com o colonizador e sua herança cultural euro-masculinista, que negou a territorialidade feminina do momento do desbravamento ao desenho do território.É através dos percursos, usos e saberes sobre o território que a mulher indígena afirma sua existência, sua identidade e, acima de tudo, a de sua etnia. Mapas são a expressão visual de territórios e territorialidades.Negligenciar a mulher indígena de seus traçados e direções é mais uma maneira de negar e violar direitos originais de povos inteiros.



\\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\cristiano\registros\4304icones.txt



Índio desenhando um mapa
Data: 20/04/2024
Créditos/Fonte: Imagem gerada por A.I. Dall-e 3


ID: 13834



ME|NCIONADOS Registros mencionados (1):
07/07/1769 - Ofício
EMERSON

  


Sobre o Brasilbook.com.br

Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.

Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.

meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.

Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.


Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.

Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.

Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.

Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.



"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba


Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.