DEIXO TODAS AS CAPITANIAS DE PAZ, MUITAS DELAS CONQUISTEI POR GUERRA: HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO EM UM MANUSCRITO DE MEM DE SÁ
2021 Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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portanto, ela é qualificada como “santa”. Não seria este o próprio movimento da colonização emque destruição e colonização andam pari passu assim como o soldado e o padre na nova terra?Nessa esteira, ressoam as linhas escritas do português Mem de Sá, terceiro governadorgeral do Brasil: “deixo todas as capitanias de paz, muitas delas conquistei por guerra”. Seumanuscrito data muito provavelmente de 1570, o que faz do texto, em termos de anos, um irmãopróximo ao episódio pintado por Meirelles. Com código Ms. 506, f. 63-63vº, o documentooriginal está sob a guarda da Biblioteca Joanina e a reprodução foi muito gentilmente cedidapelo Dr. António Eugénio Maia do Amaral, diretor-adjunto da Biblioteca Geral da Universidadede Coimbra desde 2007.
Em linhas gerais, o documento é uma magra prestação de contas em que Mem de Sá pontua, frente e verso, o que fez em terras brasileiras até então; ele que havia sido enviado de Coimbra para cá no final de abril de 1557. Embora não fosse militar, nem homem da Corte, era conhecido por ser um juiz “probo e enérgico” (VAINFAS, 2000, p. 387), característica que cairia bem na colônia em disputa com os franceses que, na corrida pela posse, estavam na frente, fincados na Baía de Guanabara, ainda amplamente habitada por indígenas. Sob o comando de Villegagnon, que instalara aqui a França Antártica em 1555, o confronto se estenderia por longos doze anos, dando vitória – como a história nos adianta – aos portugueses.
As ações de Mem de Sá não demoraram a ser reconhecidas e sua fama, espalhada. O padre jesuíta Antônio Blasquez, em 30 de abril de 1558, afirma que o governador imprimiu uma “outra maneira de proceder que até agora não se teve, que é por temor e sujeição; e pelas mostras que isto dá no princípio, conhecemos o fructo que adiante se seguirá, porque com isto todos temem e todos obedecem e se fazem aptos para receber a Fé”.2 Essa maneira peculiar não se restringia ao domínio de povos indígenas, mas à própria organização da colônia.
Outro padre, José de Anchieta, elevaria Mem de Sá à categoria de Ulisses: a ele dedicou opoema “De Gestis Mendi de Saa” (c. 1562), todo escrito em hexâmetro dactílico, um esquemarítmico muito presente na poesia épica. Ali são louvados os feitos de Sá pela guerra cujoresultado não seria outro além de paz e civilização, de braços com a catequese e a glória deDeus (MIRANDA, 2007, p. 24). Essas ambivalentes nuances podem ser percebidas no pequenotrecho do poema a seguir:
O quão ditoso dia, Mem de Sá, aquele em que a terra brasílicate pôde vislumbrar! Que vida salutar hás de conceder a esses povosaflitos! Ao teu combate, com que grande pavor, fugiráo fero inimigo, que muitos impropérios vocifera, lançando-oscontra os cristãos, impelido por uma fúria mortal!3 [Página 3 do pdf]
Na pena de Anchieta, o Brasil passa a louvar Mem de Sá antes mesmo de seus atos,bastando apenas que se entrevisse, que se vislumbrasse sua imagem durante a chegada. Nasegunda linha, olhando a história à contrapelo, é possível realizar uma inversão dos adjetivossem prejuízo algum da compreensão de seu conteúdo: Que vida aflita hás de conceder a essespovos salutares! Amparando essa nossa nova afirmação está o fato de que apenas em 1558o próprio Mem de Sá escreve ao rei contando que havia destruído 130 aldeias tupinambáspróximas ao rio Paraguaçu, na Bahia. (SILVA, 2020, p. 102) Certamente o objetivo de Sá nãoera garantir uma vida salutar aos povos aflitos, conforme conta o jesuíta Anchieta.
Atuando desde dezembro de 1557, quando aportou na Baía de Todos os Santos, travando guerras em Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro – combates nos quais perderia seu filho, Fernão, e o sobrinho, Estácio –, Mem de Sá, com quase 70 anos, deseja voltar para sua terra, segundo o manuscrito:
“Peço a V.[ossa] A.[lteza] que em paga de meus serviços me mande ir para o Reino, e mande vir outro governador, porque afianço a V. Alteza que não sou para essa terra”. (CARVALHO, 1875, p. 404)
O governador sucessor seria dom Luiz de Vasconcelos que, enfim, daria a Sá o descansoque pediu. Parece ser ao próprio Dom Luiz que ele se dirige no autógrafo a seguir. No entanto,se um documento congela um evento na linha do tempo (como o quadro de Meirelles congelaaquele encontro, como o manuscrito de Mem de Sá congela sua letra), nesse dia não saberiam– nem Sá nem dom Luiz – que a troca dos poderes jamais seria efetuada. Como vingança dosfranceses, as caravelas de dom Luiz de Vasconcelos foram atacadas em alto mar a meio docaminho de Portugal para o Brasil. A contragosto, o já cansado governador fica aqui até morrerem março de 1572.O manuscrito que está na Biblioteca Joanina, embora enxuto – uma página apenas –,apresenta inúmeros e interessantes desafios para a pesquisa. Um deles é o português escritosem fixação ortográfica: há palavras grafadas de diferentes maneiras, como yndios (índios),higreijas (igrejas), hum/huma (um/uma), serquay (cerquei). Na transcrição que seguirá (eque seria impossível sem o dote paleográfico do Dr. Maia do Amaral) busquei uniformizar eatualizar a ortografia a fim de permitir certa fluidez na compreensão, mas não inseri pontuação,como vírgula, mesmo quando se fazia necessária. Por outro lado, essa situação é ela mesmarepresentativa da história que conta: a transcrição lacunar do documento pode ser vista como umaespécie de alegoria da fundação também lacunar da cidade do Rio de Janeiro. Permanecerão noengasgo historiográfico episódios, encontros e confrontos que resultaram no desaparecimentode inúmeras tabas indígenas. [Página 4 do pdf]
ME|NCIONADOS• Registros mencionados (4): 01/04/1557 - Mem de Sá foi enviado de Coimbra para cá no final de abril* 01/01/2021 - Mem de Sá faleceu em Salvador 01/01/2021 - Mem de Sá chega a Salvador com um decreto para o extermínio dos índios Caetés 01/01/2021 - Carta do padre jesuíta Antônio Blasquez EMERSON
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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
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Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.