'Carta de El-Rei D. Manuel ao Rei Catholico, narrando-lhe as viagens portuguezas á India desde 1500 até 1505, reimpressa sobre o prototypo romano de 1505 - 01/01/1892 Wildcard SSL Certificates
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Carta de El-Rei D. Manuel ao Rei Catholico, narrando-lhe as viagens portuguezas á India desde 1500 até 1505, reimpressa sobre o prototypo romano de 1505
    1892
    Atualizado em 27/08/2025 04:43:38

    
    
    


Em o mez de outubro de 1505 o typographo João de Besicken imprimiu em Roma, vertida cm mau italiano, uma carta de D. Manuel de Portugal ao rei catholico acerca das suas expedições na índia desde o anno 1500 até ao fim de março de 1505.

D´este documento, importantissimo não só pelo personagem que o firma, mas inclusivamente por ser a primeira noticia que a imprensa deu á Europa dos successos portuguezes na índia, ´ não existem actualmente, segundo nos consta, senão três exemplares: um na Marciana de Veneza," outro que Varnhagem ^ informa achar-se na Biblioíheca Corsini de Florença, e o terceiro que Gallardo menciona entre os livros da Bibliotheca Colombina de Sevilha, adquiridos por Fernando Colombo. *[p. ]6 PROLOGOguez, e cujo original se conserva no Archivo da Torre do Tombo. E tantoisto assim foi que, ha pouco tempo, se encontrou no Archivo de Estadoem Veneza o texto portuguez da dita carta de D. Manuel, publicada porNavarrete, texto que o erudito professor Belgrano, de Genova, ilustroue deu à luz em Roma em 1890. !

Mas o que completa a demonstração são outras duas cartas portuguezas que D. Manuel escreveu em 1499 sobre a descoberta da India,uma das quaes dirigiu aos reis catholicos, sendo outra para o CardealProtector, das quaes deu conta pela primeira vez o meu douto amigo Dr.Teixeira de Aragão.

Em o nosso prototypo romano ha um erro, que podia dar suspeita oude uma fraude litteraria, aliás facil de se descobrir, quanto ao auetor aquem se attribue a carta, ou de uma fraude typographica quanto á datada edição 1505, se não fosse evidente que em 1515 já D. Fernando Co-lombo possuia um exemplar della, e não menos evidente fosse tambemque mesmo n´aquella data ninguem estava no caso de apresentar tão mi-nuciosas noticias sobre diversas expedições à India senão D. Manuel.O ervo consiste em que vem ali Pedro Alvares Cabral dado por ca-pitão-mór da armada saída em 1502 para a India, quando todos sabemque esse capitão foi Vasco da Gama, o proprio que a havia descoberto.Podia D. Manuel commetter esse erro? Não. Como então explical-o?Eu creio que o erro terá procedido do amanuense italiano, o qualcopiando, ou talvez traduzindo apressadamente, a minuta portugueza datarta, para logo transmittil-a a Roma, e vendo-se em dificuldade de de-cifrar o nome do tal commandante, o interpretaria pelo de Pedro Alva-res Cabral, induzido a tal engano por ler ahi que o capitão-mór fóra omesmo da primeira expedição. Ora do começo da carta de D) Manuelum leitor pouco experiente e pouco attento poderia talvez deduzir que ocommandante da primeira armada fora Pedro Alvares Cabral, pois d´ellaprincipia elfectivamente a narração do Rei Afortunado.1 Foi publicada no Bolletino della Societá Geografica Italiana, serie 3.º, vol. mt, p.271 e seg. Roma, 1890.2 Vide Vasco da Gama e a Vidigueira, estudo historico, ete., publicado no Boletimda Sociedade de Geographia de Lisboa, serie 6.º, p. 693-69%. [p. 6]

Copia de uma carta de el-Rei de Portugal enviadaao Rei de Castella ácerca da viagem e successo da India.

Aimia que, Calholico Rei e Senhor, depois do resgate e commercio nasterras da India iniciado em nosso nome eu tenha por mais de uma vez informado a Vossa Serenissima Magestade do que succedeu, todavia tendo agora chegado alguns dos nossos navios, pareceu-me conveniente dar-vos aviso das novidades que soube. E repetindo o que em outras cartas nossas já temos escripto, a fim de que sejaes plenamente informado de tudo, repetiremos os factos desde a primeira nossa armada até à presente.

As primeiras nãos que mandâmos áquellas terras foram em numero dexir, além de uma caravella que levava mantimentos. E sahiram do nosso porto de Lisboa no anno de 1500, no dia 8 de marco, para ir a negociar em especiarias e drogas nas regiões da India, além do mar Roxo e Persico, em uma cidade chamada Calicut, cujo Rei, costumes e usos de seus habitantes mais adiante contarei.

Da dita armada foi Capitão General Pedro Alvez Cabral. Navegando elle além do Cabo Verde descobriram uma terra que novamente veiu à noticia d´esta nossa Europa, à qual terra puz o nome de Santa Cruz: e isto foi porque na praia arvorou uma cruz muito alta. Outros chamam-lhe terra nova ou novo mundo. Esta terra aonde elles fundearam é situada além do Tropico do Cancro em xum grãos; pois os marinheiros com seus quadrantes e astrolabios tomaram a altura; porque sempre navegam para aquelles mares com instrumentos astrologicos.

Sahindo do dito Cabo Verde esta terra jaz entre Oeste e Sudoeste, ventos principaes, e dista do dito Cabo Verde quatrocentas léguas. Dos seus habitantes, de sua fertilidade, grandeza e condição, e se seja Ilha ou terra firme, com outras nossas cartas temos já dado a Vossa Serenissima larga informação.

Sahindo a dita armada d´este logar. o capitão deixou ahi dous christãos à mercê de Deus: pois elle trazia vinte homens já condemnados à morte pela justiça para deixal-os aonde melhor lhe parecesse. D´estes dous homens, em uma outra armada que directamente mandámos áquella terra, voltou um que sabia a língua dos indigenas, e nos informou de tudo. D´esta terra o capitão fez regressar a nós aquella caravella que levava mantimentos.

E No segundo dia do mez de maio partiram em direcção ao Cabo da BoaEsperança; e no dia xr chegaram à vista do dito Cabo, que é distante mil eduzentas leguas da sobredita terra. Este Cabo de Boa Esperança está além daequinocial em xxxr grãos: e é aquella terra que Ptolomeu lá nos confins deAfrica chama terra incognita. Toda a costa é mui bem povoada de gente nãomuito preta; é fertil, e abunda em fructos de toda a qualidade e em aguas. Pe-las observações feitas pelos marinheiros, conheceu-se o Polo Antarctico, o Ca-nopo, e muitas outras figuras de estrellas: observações que elles me trouxe-ram: ahi por 10 noites continuas viram em direcção à Africa um grandissimocometa, e além d´isso viram à meia noite o arco Iris, o que para nós é cousainaudita.(e No dia 24 do dito mez, navegando com bom tempo para montar o ditoCabo, levantou-se de repente um violentissimo vento, de fórma tal que fez ahisossobrar quatro das ditas nãos juntamente com toda a tripulação. Duas d´el-las perderam-se; as outras tomaram o vento em popa com velas rasgadas, sar-tas, vergas quebradas e mastros desarvorados, e por cinco dias correram como tempo, e por fim, tendo abonançado a tempestade, e juntando-se as seis nãos,navegando ao longo da costa chegaram a Sophala.Esta é uma ilha ao pé da barra de um rio: é habitada por muitos mer-cadores; aonde ha ouro infinito, que ahi é introduzido do sertão da Africa porhomens de baixa estatura, mas fortes, e monstruosos muitos d´elles; pois co-mem carne humana, principalmente de seus inimigos, e teem pequena voz.Da mesma fórma é trazido o ouro à nossa mina em Guiné. Esta ilha é possuidapelo Rei de Quiloa. Além de esta ilha acharam duas grandes nãos que vinhamda dita Sofala, e eram dirigidas ao Rei, das quaes tomou posse o nosso capi-tão; porém tendo elle sabido que pertenciam ao dito Rei deixou-as livres na-vegar, tomando só para si um piloto para Quiloa: e chegado que elle foi aQuiloa, cidade principal do dito reino amplissimo e bem povoado, com salvo-conducto, foi muito honrado pelo dito Rei; pois tinha cartas nossas escri-ptas em lingua arabica e portugueza para o dito Rei, com o fim unico de nosconceder o resgate e o commercio da dita ilha, E assim foi concedido: porém,[p. 11]As naus daquela parte são de tal sorte: navegam sempre com vento a favor, pois não podem ir de bolina; não têm castelo de popa. O referido rei falou, por intérpretes, com nosso capitão em barquinhos, e terminaram uma boa amizade entre nós; e deu ao dito capitão um piloto que o conduziria a Calichut; lá ficaram dois outros homens dos condenados à justiça: um deles tinha que saltar em Melindi, o outro procurar pela terra.Esses dois reinos, Quilloa e Melindi, ficam além do Mar Vermelho; fazem fronteira com gentios e com o padre Jani, que em sua língua chamam Abeclii, que quer dizer “ferido”, porque, de fato, se marcam com ferro; e diz-se que são batizados sem água.No dia 7 de agosto, partiram para Calichut e passaram por um golfo de ___ léguas, chegando à vista de Calichut no dia 13 de setembro, seis meses depois de sua partida de Lisboa. A uma légua de distância do porto de Calichut, foram recebidos por cidadãos e nobres do rei com grande festa: saíram à frente da cidade e dispararam artilharia, o que causou grande admiração.

Calichut é uma terra na Índia populada por gentios, onde se trazem todas as especiarias e drogas; por isso há mercadores de todas as partes, como de Bruges, Flandres e Veneza, na Itália. No dia seguinte, enviaram para a terra quatro índios que tinham trazido de Lisboa e falavam a língua portuguesa, que receberam do rei com salvo-conduto para poderem desembarcar os mantimentos que o Gapo (oficial) lhes havia imposto.

Alfonso Furtado, que compunha com o rei, mandou cinco antigos nobres de suas ordens às naus, para que o Gapo viesse à terra a parlatório; assim o Gapo desembarcou, deixando Sanchio Tovar no lugar das naus. O rei veio à marina a certas de suas casas para receber o dito Gapo, que foi conduzido por certos nobres do alegre rei e suas braçadeiras até a presença do mesmo rei.Ele estava em uma liteira, coberta com um pano de seda púrpura; da cintura para cima estava nu, da cintura para baixo coberto por um véu de bom pano bordado com ouro e prata; na cabeça tinha uma bereta de brocado, como uma antiga celata; das orelhas pendiam duas pérolas, uma redonda e outra em formato diferente; usava dois braceletes de ouro com muitas joias e pérolas; e inúmeros anéis nas mãos, todos preciosíssimos e de grande valor.Ali havia uma grande cadeira toda de prata; os braceletes e os ombreiros eram de ouro com muitas joias; havia vinte trombetas de prata e outras de ouro, mais longas que as nossas, e de som muito poderoso. Na sala havia seis grandes candelabros de prata ao estilo mouro, que queimavam dia e noite; ninguém podia se aproximar do rei a menos de seis passos por reverência. O capitão, chegando, aproximou-se mais que os outros, e, sentado, fez sua embaixada e entregou as cartas escritas em árabe e sua língua; imediatamente enviou o presente, que era o seguinte: [p. 12]como duas nãos que deviam ficar ahi tinham-se perdido, não fez commercioalgum.€& Quiloa é uma cidade na Arabia, situada em uma pequena ilha junto àterra firme, mui bem povoada de homens negros e de negociantes, e é edifi-cada ao nosso modo. Ahi ha abundância de ouro, prata, ambar, musgo, € ra-soavel quantidade de perolas: vestem-se de pannos de seda e algodão finos.G Sahindo dali, navegaram em direcção ao reino de Melinde, para cujoRei traziam egualmente cartas minhas e embaixada; pois elle graciosamentetinha recebido Dom Vasco, que foi o primeiro que descobriu essa costa. Ahino porto de Melinde acharam tres nãos de Cambaia, de 200 toneliadas cadauma. Estas nãos são de canna na parte superior; e a sua querena é ligadacom cordas e calafetada com betume, por falta de pregos: e d´esta fórma sãoas nãos todas d´aquelles sitios; navegam sempre tendo vento em popa, poisnão podem andar de bolina, e teem o castello de popa. O sobredito Rei falloupor meio de interpretes com o nosso capitão em bateis: estabeleceu-se boaamisade entre nós, e elle deu ao dito capitão um piloto para o conduzir atéCalicut: ahi ficaram outros dois degredados, um dos quaes devia estar em Me-linde, e outro explorar terra dentro.Estes dois reinos Quiloa e Melinde estão àquem do Mar Roxo: e confinamcom gentios e com o Preste João, chamado Abechi na lingua d´elles, que si-guifica ferrado; porque com effeito elles com ferro escaldado se persignam; eassim são Daptisados sem agua.

No septimo dia de agosto partiram para Calicut, e atravessaram um golfão de setecentas leguas, chegando à vista de Calicut no dia 13 de setembro, seis mezes depois da sua sahida de Lisboa. Á distancia de uma legua do porto de Calicut foram ao seu encontro varios cidadãos e gentishomens do Rei, com muita festa; fundearam em frente da cidade e deram salvas de artilheria: o que foi motivo de grande espanto para elles.

Calicut é na India uma terra povoada de gentios: alli ha commerciode todas as especiarias e drogas, é por isso acham-se ahi mercadores de to-dos aquelles sitios, e varias mercadorias, como Bruges em Frandes e Veneciana Italia. No dia seguinte mandou para terra quatro Indianos que tinha levadode Lisboa, e que fallavam bem a lingua portugueza, os quaes alcançaram doRei salvo-conducto para que a nossa gente podesse desembarcar, como 0 Ca-pitão lhes tinha ordenado. E assim desembarcou Affonso Furtado, o qual con-vencionou com o Rei que elle mandasse como refens para bordo cinco dos seusmais antigos fidalgos, a fim de que o Capitão desembarcasse para tratar comelle: e d´esta fórma o Capitão veiu a terra, deixando Sancho Tovar em seu logarem a não. O Rei veiu à praia, alojando-se em umas casas suas para receber 0dito Capitão, o qual foi levado nos braços de certos gentishomens do dito Rei [p. 13]

até à presença do mesmo Rei. Estava o Rei deitado em um palanquim, e cobertocom um panno de seda vermelha: da cintura para cima era nu, e da cintura parabaixo estava coberto com um vêo de algodão lavrado de ouro e prata: na cabeçatinha um barrete de brocado, à maneira de um capacete antigo: pendiam-lhe dasorelhas duas perolas grandes como avellãs, sendo uma redonda, e a outra do fei-tio de uma pera: trazia dois braceletes de ouro com muitas joias e perolas, e mui-tos anneis nas mãos ornados de gemmas preciosissimas e de muito valor. Ahi es-tava uma grande cadeira toda de prata, tendo os braços e o espaldar de ouro commuitas joias; havia assim mesmo vinte trombetas de prata, e tres de ouro maiscompridas um terço do que as nossas, e que davam um fortissimo som. Na salahavia seis grandes alampadas de prata, segundo o uso mourisco, que estavamaccesas noite e dia. Ninguem dos circumstantes pode chegar-se para o Rei senãoa distancia de seis passos, por reverencia; mas o Capitão ao chegar aproximou-se mais do que os outros, e sentando-se deu sua mensagem, e entregou as nos-sas cartas escriptas em arabico e em portuguez. E logo mandou vir o nossopresente, que foi o seguinte:« Primeiro: uma grande bacia e um jarro de prata dourada, lavrada comvarias figuras: uma grande terrina coberta, e uma taça grande de ouro, lavra-das com figuras: duas maças de prata com suas cadeias: quatro almofadas,sendo duas de brocado e duas de veludo carmesim; um docel de brocado comfranjas de ouro e carmesim: um grande tapete: dois pannos de arraz finissi-mos, representando um flores e o outro figuras.(0 Rei recebeu gostosamente esta dadiva; porque ahi não usam d´essascousas: e concluiu-se a paz e amisade. Em confirmação, o rei mandou fazeruma carta em uma folha de prata batida, com o seu sello feito de ouro, no es-tylo de Damasco, segundo o seu costume; a qual me trouxeram; e tambem ou-tras cartas escriptas em folhas de arvores, que parecem folhas de palmeiras:nas quaes commummente se escreve. D´estas arvores fazem assucar, mel, azeite,vinho, agua, vinagre, carvão e cordas, e grande mantimento para trazer emas nãos.G Em seguida o Rei deu licença ao Capitão que voltasse à sua não, eque enviasse para terra Os cinco refens que em a não não quizeram comer nada.Estes refens, vendo voltar o Capitão, por medo de serem ahi retidos lança-ram-se à agua, e parte d´elles fugiram para terra; alguns foram tomados pe-los marinheiros. E o Capitão não os quiz restituir senão depois que o Rei lhemandasse Affonso Furtado com oito christãos e algumas fazendas que tinhamficado em terra. Nesta restituição houve alguma discordia; pois um não sefiava no outro.Cc Feita a restituição, por vontade do Rei e do Capitão, desceu em terraAyres Corrêa, que devia ficar ahi por feitor; e em sua troca vieram para as [p. 15]

Cochim, que está a quarenta leguas de Calicut: no caminho encontraram duasnãos do Rei de Calicut, as quaes aprisionaram e queimaram. No dia vinte equatro de dezembro chegaram a Cochim, e, tendo sido recebidos graciosamentepor aquelle Rei, fizeram accordo com elle; e em dezeseis dias fizeram a suacarga: porque é d´estes sitios que as especiarias e drogas vão para Calicut.Este Rei é poderosissimo, a ponto que só dous mercadores tinham cincoentaboas nãos para oppôr ao Rei de Calicut. E em troca de sete homens nossos,que foram a terra para negociar, mandou à não dous gentishomens seus, quemudavam de vestimenta cada vez que queriam comer: pois, comendo elles nomar, já não podiam apresentar-se ao Rei, segundo a sua lei. N´este reino hamuitos christãos da conversão de S. Thomé, cujos sacerdotes seguem a vidaapostolica com muita devoção e rigor: teem egrejas aonde sómente é a cruz,e celebram com pão azymo e vinho, que fabricam com uva-passa e agua, pornão ter outra cousa: todos os christãos usam cabello e barba, que nunca cor-tam. Ahi souberam que o corpo de S. Thomé está longe de Cochim cento ecincoenta leguas, na costa do mar, em uma cidade chamada Meliapur, muipouco povoada, e trouxeram terra do seu sepulchro, que, pelos muitos mila-gres, é frequentado dos christãos e de todas aquellas nações. Outrosim trou-xeram para aqui dous sacerdotes christãos, que, com licenca de seu prelado,vieram para irem a Roma e a Jerusalem, pois crêem que a Egreja de S. Pe-dro é mais bem governada que a sua propria.(+ Sonberam outrosim que, além da dita casa de S. Thomé, ha muitas po-voações de christãos, que vão em peregrinação ao dito santo. São homens bran-cos e de cabellos louros, olhos verdes, e são fortissimos: a sua terra principalchama-se Malchina, d´onde veem jarras grandes e bonitas de porcellana; musgo,ambar e pão aloes, que tiram do rio Gange, que corre na terra deles.(. Sendo já carregadas as ditas nãos, appareceu uma armada do Rei deCalicut, de oitenta vélas, com quinze mil homens: pelo que o nosso Capitãofez-se de véla, deixando em Cochim sete christãos, e trazendo comsigo comorefens os dois gentishomens, com intenção porém de voltar; mas visto que ti-nha bom tempo resolveu regressar, e é por isso que os dous mouros e os doussacerdotes estão aqui no reino: e não quiz atacar a dita armada de Calicut porlevar as nãos carregadas e com pouca gente, e por ser grande o caminho, poisachavam-se distantes de Lisboa quatro mil leguas.

E partindo-se no dia quinzede janeiro de 1501 passaram diante de um outro reino chamado Cananor,áquem de Calicut, cujo Rei mandou offerecer a carga ao Capitão, dando-lhetudo a credito até elle voltar outra vez; mas o Capitão, agradecendo-lhe, nãotomou senão cem arrobas de canella, que fez pagar logo, e que os mouros emseus bateis trouxeram para a não. E enviou um dos seus gentishomens comcarta e mensagem, o qual está aqui. D´este nosso reino os refens de Cochim [p. 19]

“Do ano de 1502, de fevereiro até abril seguinte, foi enviada em viagem uma nau, capitaneada por Dom Vasco da Gama, aquele que descobriu a Índia, e com ele levou Gaspar, o judeu; e, ao navegarem, ao passarem pelo Cabo da Boa Esperança, chegaram a um lugar chamado Ochilia. Essa terra está situada dentro de um rio, e ali pediu víveres para seu sustento.Vendo aquele rei tantas naus e tantas pessoas cristãs, ficou espantado; pois já havia muitos anos que não se viam tantos navios, nem mesmo cristãos, naqueles lugares. E os habitantes da terra não queriam dar-lhes pousada nem provisões de espécie alguma.Diante disso, o Almirante começou a bombardear a terra; de tal modo que os habitantes vieram até a nau do Capitão, dizendo que dariam quanto Sua Senhoria ordenasse. Então, o Almirante exigiu que o rei da terra viesse em pessoa diante de Sua Senhoria, garantindo-lhe salvo-conduto. Assim veio o referido rei de Ochilia, que era mouro, até a nau no batel do Capitão, e beijou-lhe os pés e as mãos, dizendo que mandasse, pois estava a seu inteiro serviço. [p. 71]

Em 1504, no dia 22 de abril, foram enviadas 12 naus em viagem, comandadas pelo capitão Lupo Snarez, das quais uma se queimou aqui no porto. A maior, a nau capitânia, chamava-se Nonzià, carregada de mercadorias, das quais nada pôde ser recuperado; seguiram apenas as outras 11 naus, que transportavam mercadorias: ou seja: ramos K. 2800; corais, zoè, hotoni K. 6500; chumbo K. 500; cinábrio K. 300; arsênico vivo K. 300; em dinheiro, tudo somado, 30 mil ducados. Essas naus permaneceram em viagem por 5 meses, realizando comércio em Cnchim; todo o carregamento: pimenta em Cananor, cravos, pérolas, laca e outras drogas em Cliaucolam, pimenta sob posse de mercadores cristãos; em Culain pouca pimenta, macis, pimenta longa e cânfora. Havia um local onde se concentravam todos os paus de canela.Em 1504, no dia 16 de setembro, retornaram 3 naus, comandadas pelo capitão Francesco dal Bur-chercher, carregadas de especiarias; das quais a maior continha 800 barris, a segunda 500, e a terceira 400–500. A quantidade total das especiarias foi K. 12 mil. A qualidade: pimenta K. 10 mil, canela 500, cravos K. 450, K. 130, laca e verzino, totalizando K. 750. Especiarias menores: cânfora K. 7, cubebe K. 191, macis K. 2, espigo-nardo K. 3, madeira de aloe K. 1g. Ficaram em Cananor duas outras naus grandes, carregadas de especiarias avaliadas entre K. 7 e 8 mil, que deveriam partir dois dias depois. Essas se perderam e não se teve mais notícias.Com essas três naus veio da Índia Bonavito (F. Alban, veneziano), com sua esposa e filhos; sua esposa era natural de Malecha, a qual em Lisboa se converteu ao cristianismo. O referido Bonavito recebia deste Sereníssimo Rei uma provisão de 70 ducados por ano, com casa e sustento para sua vida, tendo fornecido a Sua Alteza boas informações sobre as coisas da Índia, tendo sido esse veneziano vinte e dois anos nessas regiões, desde que partiu do Gaiaro, na época em que Messer Francesco Marcelo era cônsul em Alexandria; ele realmente viu muito mais nessas regiões do que Gaspar Judeu. [p. 73]





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Comparando com outras fontes
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Conclusão:

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