Seguro encontraram os colonos em franco desentendimento 247 tendo ajudado a sanar os ânimos exaltados 248. Aí ficaram Nóbrega e Diogo Jácome, enquanto Leonardo Nunes prosseguiu viagem para sul com um pequeno grupo de carijós: “Para S. Vicente foram se dez ou doze, não podendo ir mais por ser a embarcação pequena. Quando vier o Governador mandaremos os outros” 249, ou seja, para ganhar tempo, Leonardo Nunes seguiu na frente para o litoral de São Vicente, lugar de destino da próxima missão.
Estaera, aliás, uma das atribuições da Ordem: a salvação das próprias almas, mas, emparticular a ajuda no aperfeiçoamento das dos próximos250. Com a viagem de LeonardoNunes a prosseguir, a paragem seguinte foi na vila do Espírito Santo, actual Vila Velha,onde desembarcaram e foram, recebidos com entusiasmo por “alguma gente daterra251”. Ali permaneceu por espaço dum mês, ficando alojado na casa do pároco local,Francisco da Luz, a convite deste 252, por inexistência de hospedaria na terra. Quiseramas circunstâncias que entre a necessidade da embarcação ter de ficar mais algum tempono porto e aquela em que se encontrava a população ficasse em terra por mais tempo doque o originalmente previsto, tendo motivado o pedido de alguns no sentido do demovera ficar na terra: “e me queiram por força deter que não passasse adiante, e vendo eu anecessidade que tinham e por alguns embaraços que succederam aos do navio, medetive com eles um mez”253. Razões práticas forçaram, portanto, o padre Nunes a dilatarjá haviam saído para Ilhéus onde o aguardariam “Agora é já partido Leonardo Nunes cm Diogo Jacome, elá me hão de esperar quando eu fôr com o Ouvidor, que irá daqui a dous mezes pouco mais ou menos”.247Id.Ib. p. 107248Cartas, p. 84: “ si Nosso Senhor por sua misericórdia não os socorrera trazendo-os á paz e concordia,para o qual quis Nosso Senhor movelos de tal maneira que os mais delles se perdoaram publicamente ema egreja”. Carta de Leonardo Nunes, 1550.
249 Id. Ib. pp. 106-107. Cartas, p. 78, o Pe. Navarro escreve em carta com data de 28 Março de 1550 “Seismezes há que o Padre Nobrega partiu com a armada a visitar os Christãos da costa de São Vicente e comelle o padre Leonardo Nunes e Diogo Jacome”. No cruzamento destas cartas verifica-se que a contagemdo tempo nem sempre é coincidente. Carta de António Pires, 1551.
250 “Summa Instituti”. In Monumenta Ignatiana. Constitutiones Societatis Jesu. Vol. 1. Roma. 1934, pp.4-6.251Cartas, p. 84.252 OLIVEIRA.Op. cit, p. 68, nota 7.253Cartas, p. 84. Carta de Leonardo Nunes, 1550. [p. 111]
Coutinho, a sede foi transferida da antiga Vila do Espírito Santo, a Vila Velha, para ailha de Santo António, doada a Duarte de Lemos, de defesa mais fácil:(…) abre em boca cousa de meia légua; e tem em si a vila, que toma o nomedo mesmo rio. É defensável em extremo; porque de uma e outra parte servemde praias muralhas altíssimas de penedia tosca da natureza, assombro deinimigos.(VASCONCELOS, p. 74)Não obstante alguma informação, transformada em tradição entre as autoridadesdo Estado do Espírito Santo, e, segundo a qual o ano de 1551 é apresentado como a datade fundação da vila de Vitória261, o raciocínio seguido por José Teixeira de Oliveiraapresenta credivelmente a data de 1550, ano em que pela primeira vez surge adesignação de Vitória como vila, “Faço saber aos que esta virem, que por nesta Villa daVictoria Provincia do Espirito Santo Capitania de Vasco Fernandes Coutinho”262. Ohistoriador tira, portanto, a conclusão tendo por base o documento (provisão), daresponsabilidade de António Cardoso de Barros, o provedor-mor263 que, naquelemomento, se encontrava na capitania por delegação de Tomé de Sousa e apresenta adata de 3 de Março de 1550.2618 de Setembro de 1551.262OLIVEIRA, Op. cit., p.70. O autor cita autores e documentação e analisa as hipóteses de 1550 versus1551.263Deste alto funcionário integrante da comitiva chefiada por Tomé de Sousa dá notícia a Crónica daCompanhia de Jesus. VASCONCELOS, Op. cit., p. 195 “Constava o grosso da gente de mil homens, osseiscentos soldados, os quatrocentos degredados; afora outros muitos moradores com suas casas; e algunscriados del-Rei, que vinham providos em ofícios: por ouvidor geral Pedro Borges, e por provedor-mor doEstado Antônio Cardoso de Barros”. [p. 114]
matéria de destaque na carta de acordo com o objectivo definido por Loyola de cuidardas almas, auxiliando-as a terem uma vida mais cristã.Na capitania, afora a ocupação de pequenas áreas, resultantes de préviasatribuições de sesmarias, existiam dois pequenos núcleos urbanos: a vila do EspíritoSanto, da iniciativa de Vasco Fernandes Coutinho, em breve chamada de Vila Velha -tal como acontecera, por exemplo, em Salvador, na Baía - e a de Nossa Senhora daVitória, a vila nova, instalada na ilha de Santo António que, como se viu, tevedesignação oficial de vila antes de 13 de Março de 1550273. As vantagens da localidadedeverão ter agradado aos jesuítas que nela se terão fixado nas cercanias do núcleourbano da vila, preferido pelos colonos para habitação e funcionamento dos serviços.Não encontrámos dados precisos sobre o local onde o padre Afonso Brás e o irmãoSimão Gonçalves deram início à fixação, seja na antiga ou na nova povoação. É-nos,contudo, licito pensar na analogia entre a pequena povoação do Pereira e Salvador, avila nova, erguida nas imediações e em melhor local da Baía de Todos os Santos após achegada da armada do Governador-Geral. Na documentação jesuítica consultada, nãoexistem indícios quanto a qualquer alteração ao lugar inicialmente escolhido nem, tãopouco, onde os dois primeiros jesuítas deram início à construção da casa provisória.Sobre o assunto, apenas a vaga referência a “uma pobre casa para nos recolher nella” e aintenção de iniciar “uma ermida junto della em um sitio muito bom”274. Contudo, ofacto do manifesto desejo de começarem em breve uma ermida já nos remete para umespaço simultaneamente próximo, mas externo ao pequeno centro urbano275 dapovoação. Carvalho (1982), ao seguir as pistas de Daemon, comenta inconsistências notexto deste e276 situa a primeira casa na actual Rua Francisco Araújo277 Efectivamente,esta rua fica nas imediações do Palácio Anchieta, sede actual do governo do Estado e273 OLIVEIRA. Op. cit. p. 70.274Cartas. p. 113. Carta VI, do Espírito Santo, 1551.275 SOUZA, Luciene Pessotti. “O espaço sagrado e o espaço profano: o sagrado como estratégia deCompanhia de Jesus na formação do espaço urbano e da sociedade da Vila de Nossa Senhora da Vitória”.In Atas do IV Congresso Internacional do Barroco Ibero-Americano. V. 1. Belo Horizonte/MG: C/Arte,2006, pp. 1024-1035. A autora tem trabalhado a geomorfologia urbana da cidade de Vitória/ES nasvertentes histórico-militar, de arquitetura e urbanismo.276 CARVALHO, José Antônio. O colégio e as residências dos jesuítas no Espírito Santo. Rio de Janeiro:Expressão e Cultura, 1982, pp. 44 – 46.277Idem. Ibidem, pp. 46 e 62, nota 78. [p. 120]
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