21 de dezembro de 2024, sábado Atualizado em 10/08/2025 20:29:03
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Por Jaime Pinsky - Nasci e passei a infância em Sorocaba.
Dentre as muitas lembranças que carrego de lá duas têm um relevo especial: a repressão às greves operárias – minha casa ficava a poucos metros de uma fábrica têxtil e muito perto das oficinas da então Estrada de Ferro Sorocabana – e as festas religiosas, cristãs e judaicas.
A cidade não tinha sinagoga, clube, ou escola judaica.
Mas, desde pequeno, eu sabia que era judeu.
Nasci em dezembro de 1939 e cedo aprendi que ser judeu implicava em risco de vida.
Pais, tios, conhecidos, judeus e não judeus se encarregaram de deixar isso bem claro.
Fui informado, diretamente e pelo choro mal disfarçado de minha mãe, que os que haviam ficado na Europa, em vez de se mudarem para o Novo Mundo, muitos familiares, tinham virado cinza, parcela dos 6 milhões assassinados pelos nazistas alemães e seus aliados.
Uma garota que morava perto e brincava de roda com a minha irmã falou que os judeus mereceram isso, pois tinham matado Jesus.
Mas meu tio, que morava com a gente, dizia que esse era um argumento absurdo, referia-se a fatos ocorridos muito tempo atrás, quando a avó da minha avó nem pensava em nascer e que não era razoável culpar todos os judeus, que nasceram séculos e séculos depois, de algo que, no final das contas, tinha sido perpetrado pelos romanos.
Para ele, uma espécie de intelectual da família, essas ideias só existiam, assim como a perseguição aos judeus, porque estes não tinham uma pátria só deles, como brasileiros e americanos, para defender seus cidadãos.
“Mas algum dia ainda terão”, ele acrescentava sempre.
Meu tio entendia de política internacional.
Eu não entendia muito, mas lia jornal desde muito cedo e com cinco anos de idade já tinha decidido estudar História.
Li, na época, sobre a fantástica capacidade de produzir cultura por parte do ser humano – em poucos milhares de anos nosso cérebro aprendeu a construir conceitos e, logo depois, com a escrita, já conseguíamos registrá-los.
Há 20 mil anos, nossos avós já tinham criado representações de humanos e animais, logo depois conciliamos sons para que ficassem harmoniosos, investigamos a alma em profundidade e o universo buscando desvendá-lo.
O que não aprendemos ainda é a conviver harmoniosamente.
E, por ódio inculcado dogmaticamente os judeus, há muito tempo, se transformaram no bode expiatório, o culpado pelas chuvas e pelas secas, pela falta de fé, ou pelo excesso dela, por se deixarem abater sem reagir, ou por reagir além da conta, como se houvesse uma medida exata nas mãos daqueles que falam em “reação desproporcional”.
Há poucos dias ouvi de um estudante, não inteiramente analfabeto, que os israelenses não deveriam reagir contra o massacre de 7 de outubro de 2023, pois os atacantes não tinham noção exata do que estavam fazendo…
Não sabiam que não se deve estuprar garotas na frente de seus pais, antes de assassinar uns e outros em um tranquilo kibutz?
Não sabiam que estavam rodando pelas estradas sem identificação bélica alguma, armas escondidas, nenhum uniforme, como se fossem grupos de amigos em busca de lugar para piquenique e não um bando de criminosos machistas com sede de sangue?
Não sabiam que apenas graças a isso (e à consequente suposição de que não se tratava de inimigos) tiveram total liberdade para rodar dentro de Israel sem serem parados?
Não sabiam que, depois do maior genocídio da História (este, sim, foi um genocídio), teoricamente concebido, cuidadosamente executado, os judeus, que perderam, entre os anos 1930 e 1940, mais do que 40% de sua população, além verem destruída a civilização de língua iídiche, que hoje é uma língua morta, não estavam mais dispostos a depender de terceiros para se defender?
Em Israel, com todos os problemas que o jovem país tem, mulheres são livres e têm direitos semelhantes aos dos homens, a não ser que alguma regra religiosa limite sua ação, sejam elas judias, muçulmanas ou cristãs.
Em Israel, homens e mulheres homossexuais não são encarcerados, humilhados e, eventualmente, executados, por serem homossexuais, como em alguns países islâmicos.
Foi uma surpresa o o fato de forças militares israelenses irem à luta, batalhando pela libertação dos reféns capturados pelos militantes do grupo terrorista palestino, torturados e humilhados publicamente?
E que fez o Hamas? Dispôs-se a devolver os reféns, até a trocá-los por palestinos em prisões israelenses?
Não. Filmavam cenas reais ou simuladas e espalharam pelo mundo para alimentar o ódio anti-israelense e antissemita.
E, a meu ver, encontraram, do lado israelense, um governante que se sentia confortável com o confronto, não com a busca de solução para o impasse.
No atual mundo de faz de conta, em que fatos parecem não ter importância, argumentos ridículos começaram a aparecer.
Em vez de as pessoas se unirem para buscar soluções factíveis (há como fugir à existência de dois estados independentes?), bobagens tem sido proferidas até por pessoas que, pelas funções que exercem, deveriam ser mais responsáveis.
Como comparar Israel com África do Sul, ou Congo Belga?
O surgimento do nacionalismo judaico não tem nada a ver com o colonialismo do século 16, ou o imperialismo do século 20.
E isso posso provar, como historiador. Sugiro a leitura do meu novo livro Os Judeus, sobre o assunto.
Utilizei, para escrevê-lo, longa e cuidadosa pesquisa que fiz, anos atrás, para obter o grau de livre docente da USP (tese feita anos após o doutorado e que exige autorização de vários órgãos colegiados da universidade).
A documentação provava que o sionismo, movimento que surge no século 19 na Europa, tinha o objetivo principal de salvar os judeus russos das perseguições e da miséria pelas quais o czarismo russo era responsável.
A identidade nacional judaica, formulada por diferentes pensadores, inclusive Herzl, nada tinha de imperialista.
Nem sequer recebia o apoio da maior parte dos judeus “emancipados”, aqueles que preferiam sua vida confortável na Europa Ocidental a qualquer pedaço de terra no Oriente Médio.
E mais, é fácil verificar que parte da reação islâmica ao movimento sionista deve-se ao fato de que ele pregava relações de produção comunistas (o kibutz) para a região, algo que os grandes proprietários de terra não tinham interesse em estimular, pois isso abalaria seu poder político e econômico, baseado na exploração do camponês.
Curioso que tanta gente não soubesse nada sobre isso… Está tudo no meu novo livro. Boa leitura.
Jaime Pinsky é historiador e editor, professor titular concursado da Unicamp, doutor e livre docente da USP, ex-professor da Unesp, Assis, autor e/ou coautor de 31 livros, inclusive Os Judeus, a luta de um povo para se tornar uma nação (Contexto)
Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.