Ruínas: Ascensão e queda do Império Inca - Atila Barros
2018 Atualizado em 01/07/2025 04:11:16
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Boliviana) Com os domínios de Ananpacha divididos, em Caypacha vie-ram os humanos e suas paixões. Assim nasceram os gêmeos Payachatas, Parinacota e Pomerape (Quinchazata e Guallatire), estes correspondem a dois amantes, cuja relação amorosa foi proibida e punida por alguém muito poderoso que se opôs a sua união, transformando-os em montes gêmeos, que estão sempre perto, se olhando, mas sem poder se tocar.
Conta ainda à história que os Payachatas, Quinchazata e Guallatire, elevando seus cumes mais de 6.000 metros de altura, mantêm um grande tesouro Inca, estes seriam as estátuas de ouro dos monarcas que adornavam os nichos do Templo do Sol em Cusco, a prata das rainhas, o Santuário da Lua, e muitas outras riquezas.
O Tesouro dos Incas, que foi salvo do resgate de Atahualpa, estaria escondido no cume da montanha e quando a neve é escassa apareceriam perfeitamente os passos que fizeram os servos do Inca para enterrar as riquezas de seu mestre em meio cone do vulcão.
Para alguns povos que vivem nas terras destas montanhas, os Paya-chatas representam um casal apaixonado: um príncipe e uma prince-sa de duas tribos antagônicas que queriam se casar. Para evitar que esta união se consumasse, foram mortos por suas tribos. Mas, a natureza em vingança do mal feito, soterrou os dois povos e sobre eles formou os la-gos Chungara e Cota-Cotani. No lugar em que os príncipes foram en-terrados subiram dois vulcões; Parinacota e Pomerame.4Com o recuo das geleiras e consequente desertificação do litoral oci-dental da América do Sul, algumas tribos nômades começaram a circu-lar por aquelas regiões. Tal fato ocorreu há cerca de quatorze mil anos. Essas tribos vagavam pela terra em busca de frutas, raízes, água doce e caça. Foi nesse contexto que surgiram os primeiros indícios de civi-lização na América do Sul. Os registros arqueológicos apontam para [p. 66]
nal: uma que ia de noroeste para sudeste, e outra que ia de nordeste para sudoeste dos seus domínios. Sendo assim, o Império ficava dividi-do em quatro partes (suyus). O suyu do norte recebia o nome de Chicasuyu; o do sul era chama-do Kollasuyu; o do leste, Antisuyu e o do oeste chamava-se Kuntinxuyu. Cada suyu era considerado um Reino independente, sendo governado por um Apu (chanceler, representante do Inca). Existiam portanto qua-tro Apus, que deviam obediência ao Inca, constituindo-se assim, um Império, na concepção exata da palavra. Os suyus eram divididos em províncias, como grandes estados. Cada província era administrada por um governador chamado Tukriquq, es-tes moravam na cidade principal da província, que era dividida em di-versas regiões. Cada região possuia o governo de um Kuraka, este o anti-go chefe da etnia conquistada. A área ocupada anteriormente pela etnia seria a área que o Curaca controlaria, assim, os diversos Curacas se hie-rarquizavam de acordo com as antigas posses de suas etnias. As regiões eram divididas em partes, podendo ser cidades ou aldeias. Por haver poucas cidades, eram formadas por maioria de aldeias, nor-malmente uma por região, na qual morava o Kuraka. Aldeias e cida-des eram habitadas por ayllus (famílias, parentes próximos). Estes for-mavam a base do Tawantinsuyu, representando a união de familiares e amigos numa espécie de clã que se unia para viver junto e trabalhar com mais eficiência, tanto para viver melhor quanto para servir melhor. A civilização Inca alcançou o seu apogeu no século XV, sob Pachacu-ti. Entre as suas realizações culturais estão a arquitetura, a construção de estradas, pontes e engenhosos sistemas de irrigação.O imperador Pachacuti – o nono governante do Império Inca - foi o homem mais poderoso da antiga América, já que enviou várias expe-dições para conquista de terras. Quando os oponentes se rendiam eram bem tratados mas, quando resistiam, havia pouca clemência. Com as conquistas, Pachacuti acrescentava não apenas mais terras ao seu do-mínio como guerreiros sob seu comando. Sendo talentoso diplomata, [p. 111]
Sendo o próximo filho legítimo na linha de sucessão, Huáscar, que a contragosto teve que assumir o império, visto que era mais interessa-do na ourivesaria e moldagem de outros metais como a prata, embo-ra houvesse sido educado e instruído segundo as crenças e costumes vi-gentes. Era de índole afável, pouco interessado em política e expansão de domínios e muitas vezes relegava o comando do império a seus con-selheiros e sacerdotes e até mesmo à Coya (mulher e irmã do impera-dor e mãe dos seus filhos legítimos).1532 - 1533: ATAHUALPAAtahualpa ou Atahualpa (quéchua Ataw Wallpa) (Quito, 20 de março de 1502 - Cajamarca, 26 de julho de 1533) foi o décimo terceiro e último Sapa Inca (Imperador) de Tahuantinsuyu, como era chamado o Império Inca.Atahualpa era filho do Inca Huayna Capac com Tocto Pala, que fora uma princesa estrangeira (de Quito) que desposara o Inca Tupac Yu-panqui, pai de Huayna e que do leito do pai passou para o do filho.Por isto, o seu pai Huayna deixou-lhe como legado as terras de sua mãe (ao norte de Cusco), designando seu meio irmão Huáscar, como Sapa Inca, fato que gerou a disputa sucessória pelo trono na qual Atah-ualpa, apoiado por grande exército e bons generais, venceu Huáscar numa guerra sangrenta que durou vários anos.Voltando para a cidade de Cusco, a capital do império, para tomar posse do trono que recentemente conquistara, Atahualpa parou na ci-dade andina de Cajamarca, conduzindo um exército de cerca de 80000 guerreiros, quando foi traído e aprisionado pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro, no dia 16 de novembro de 1532. [p. 125]
dade e que é considerada a mais bela praça do país, revelando perfei-ta integração e cruzamento cultural entre as características nativas e o mundo europeu.
De referência, são ainda alguns monumentos como o Convento de Santa Catalina, datado de 1580, expandido no século XVII, onde cerca de 450 freiras viveram isoladas do mundo exterior, e o convento franciscano de La Recoleta, próximo do rio Chili, datado de 1648 e que possui uma bi-blioteca com mais de 20.000 livros, dos quais o mais antigo data de 1494.
O Museu Santuários Andinos fica aberto durante todo ano, mais não se decepcione se não encontrar a Juanita por lá, a múmia é reti-rada da exposição para estudo em determinadas datas, já que mesmo com todo trabalho para preservar o artefato, a múmia está em processo de decomposição. Outras múmias completam a coleção do museu, tão curiosas quanto a Dama de Ampato.Em agosto de 2008, novas múmias aparecem em Lima. Apoiados pela National Geographic, investigadores retiraram, de um sítio ar-queológico, uma múmia bem preservada, de uma mulher que viveu há cerca de 1300 anos. A sepultura está dentro das ruínas da Huaca Puclla-na, um complexo funerário da antiga civilização Huari, que existiu na região do Peru antes dos Incas.Os investigadores acreditam que a sepultura é de 700 d.C. Junta-mente com a múmia, os arqueólogos encontraram mais dois corpos de adultos e uma criança, que provavelmente foi usada para sacrifício, co-mum para os Huari. Antes de ser transportada, a múmia feminina foi envolvida em papel para ficar protegida. Quando se trouxe para fora, a cara foi exposta, revelando duas órbitas azuis que estavam na vez dos olhos, e que os arqueólogos ainda não sabem de que são feitas.Os Huari viveram na região que hoje faz parte do Peru entre 600 e 1100 d.C. A cidade mais importante da civilização estava perto da atual Ayacucho, nos Andes, mas sabe-se através da grande rede de estradas que construíram, que os Huari viajavam muito. [p. 176]
realidade, já que sempre foram regidos por megalomaníacos prepoten-tes e sedentos por sangue? Para entender os rituais do povo do Tawantinsuyu, devemos enten-der melhor o conceito de barbárie e canibalismo.César Cantu faz uma precisa distinção entre bárbaro como os tárta-ros das estepes asiáticas ou os membros das antigas tribos germânicas. Neste último afirma: [...o equilíbrio das suas faculdades parece estar tão pro-fundamente alterado que o trabalho puramente humano jamais conseguirá restabelecê-lo, porque só um pálido clarão de inteligência o distingue dos bru-tos animais. “Além disso, tem um, pendor invencível para a inércia, vive no torpor; diviniza seu chefe, a quem tributa absoluta e irrefletida obediência; abusa do álcool a ponto de encurtar a vida aos seus olhos, a força é a única vir-tude, a guerra o único direito. Esse era o estado de muitas tribos americanas no momento da Conquista. As que não eram selvagens constituíam exceção]. Algumas tribos chegaram à selvageria mais completa, no extremo da degradação humana, no limite entre o homem e a besta, a fera. No que hoje é a Argentina, a prática do canibalismo generalizado se com-provou de norte a sul de seu imenso território, entre os Guaranis, os To-bas, os Pehuelches e os habitantes da Terra do Fogo. Do mesmo modo, os Lules de Tucumã, segundo testemunho de Núñes de Prado, aterrori-zavam seus vizinhos por seu canibalismo. O que antes era ritualista pas-sou a ser selvageria. Nas ilhas do Caribe, na América Central, e em dois terços do território Sul-americano, o principal motivo das guerras tri-bais era a obtenção de carne humana. Por isso tais guerras promovidas pelos astecas, por exemplo, foram incessantes. Quanto aos índios Ca-ribes que habitaram a Venezuela, Guianas e Antilhas Menores, quan-do os espanhóis chegaram tiveram notícias de suas guerras contínuas, provocadas principalmente para provocar os sacrifícios humanos e, em consequência, a obtenção de troféus humanos e o canibalismo.As tribos do tronco Guarani, espalhadas desde a Argentina ao Ama-zonas, também viviam travando guerras que visavam, sobretudo, à cap-tura de prisioneiros para sacrificá-los e devorá-los. As culturas andinas [p. 236]
não estavam isentas de canibalismo. Na Nova Granada, por exemplo, a maioria delas era antropófaga. Assim, os Panches de Tolina e Cundi-namarca faziam banquetes em família, nos quais se devoravam entre si pais, filhos e irmãos e nos combates bebiam o sangue dos feridos. Os Pi-jaos, da Cordilheira Central, eram igualmente canibais ferozes. A carne humana se tornou insubstituível fonte de proteína para es-tes povos. A matança, que deixou de ser ritualista e ato selvagem, agora era necessária para sustentar seus costumes alimentares onde nem mes-mo os mortos mais velhos eram poupados de serem devorados.A vida cotidiana estava impregnada a fundo pelo macabro e pelo horrendo. Os Tupinambás do Brasil, além de esquartejar, assar e devo-rar os adversários mortos e feridos no próprio campo de batalha, corta-vam também os órgãos genitais das mulheres e das crianças mortas du-rante a luta, dando-os às suas esposas, que os preparavam e os serviam por ocasião das grandes festas. Quando voltavam às suas aldeias, tra-zendo prisioneiros de guerra, estes deviam gritar: “Eu, a vossa comida, cheguei!”. Eram atados e entregues ao cuidado de mulheres, enquanto seus raptores se entregavam à bebedeira que durava vários dias. Os pri-sioneiros, convertidos em escravos do respectivo raptor, eram exibidos em certas festas nas quais cada um indicava as partes do corpo da víti-ma desejava comer, ou então seu dono determinava previamente que partes dariam a cada um. Devido à completa amoralidade e promiscuidade sexual em que se encontravam os guaranis, era permitido aos prisioneiros, enquanto eram engordados para serem consumidos, ter relações sexuais com as mulheres da aldeia. Os filhos nascidos dessas uniões, chamados “cunhambiras”, eram destinados a ser devorados quando alcançassem um certo desenvolvimento. Eram sacrificados então na presença do pai, que também era morto no mesmo dia. A mãe era a primeira a consumir a carne da vítima. O ritual do massacre durava cinco dias de cerimônias, bailes e bebedeiras. A morte era por esmagamento do crânio causado pelo golpe de uma clava (borduna ou tacape), as [p. 237]
Inca. Ou seja, as datas e registros para a transformação da coca em co-caína são discordantes. Podemos tomar como data inicial da conquis-ta a empreitada de Francisco Pizarro que decidiu executar o imperador Inca Atahualpa no dia 29 de agosto de 1533, sendo assim 300 anos de di-ferença entre a queda do império Inca e descoberta da cocaína.SURGIMENTO DA COCAÍNAO alcalóide Cocaína só foi isolado das folhas de coca por Niemann em 1860, que lhe deu o nome. No entanto há boas razões para supor que foi antes Friedrich Gaedcke que a isolou pela primeira vez em 1856.O seu uso espalhou-se gradualmente. Após visitas de cientistas italia-nos à América do Sul, que levaram amostras da planta para o seu país, o químico Angelo Mariani desenvolveu, em 1863 o vinho Mariani, uma poderosa infusão alcoólica de folhas de coca (devido ao poder extrativo do etanol que as infusões de água ou chás usados antes). O vinho Ma-riani era muito apreciado pelo Papa Leão XIII, que inclusivamente pre-miou Mariani com uma medalha honorífica.A Coca-Cola seria inventada em parte como tentativa de competi-ção dos comerciantes americanos com o vinho Mariani importado da Itália. A Coca-Cola continuaria, desde a sua invenção até 1929, a incluir cocaína nos seus ingredientes, e os seus efeitos foram sem dúvida deter-minantes do poder atrativo inicial da bebida.A cocaína tornou-se popular entre as classes altas no fim do século XIX. Entre consumidores famosos do vinho Mariani contavam-se Ulys-ses Grant, o Papa Leão XIII, que até apareceu na publicidade do produ-to e Frédéric Bartholdi (francês, criador da Estátua da liberdade), que comentou que se o vinho tivesse sido inventado mais cedo teria feito a estátua mais alta (um sintoma de excesso de autoconfiança típico).A cocaína foi, nessa altura, popularizada como tratamento para a to-xicodependência de morfina. Em Viena, Sigmund Freud, o médico cria-dor da psicanálise, experimentou-a em pacientes, fascinado pelos seus efeitos psicotrópicos. [p. 256]
Publicou inclusivamente o livro Über Coca sobre as suas experiências. Contudo, acabou por se desiludir com a depen-dência a que foram reduzidos vários dos seus amigos. Foi ele que a for-neceu cocaína ao oftalmologista Carl Köller, que em 1884 a usou pela primeira vez, enquanto anestésico local, aplicando gotas com cocaína nos olhos de pacientes antes de serem operados.A popularidade da cocaína ganha terreno: Em 1885 a companhia americana Park Davis vendia livremente cocaína em forma de cigar-ros, pó ou líquido injetável, sob o lema de “substituir a comida; tornar os covardes corajosos, os silenciosos eloquentes e os sofredores insensí-veis à dor”. O ficcional Sherlock Holmes (personagem de Arthur Conan Doyle) chega mesmo a injetar cocaína nas veias numa das histórias. Em 1909, Ernest Shackleton leva cocaína para a sua viagem à Antártica, as-sim como o Capitão Robert Scott.A folha de coca contém 0,5% de um produto anestesiante chama-do cocaína. A partir do século XIX, os cientistas conseguiram retirar a cocaína da coca. Em um primeiro momento, ela foi utilizada por suas propriedades anestésicas. Mas, a partir de 1914, a cocaína foi definida como “droga perigosa” e proibida. Nos anos 60, após a guerra do Vietnã ressurgiu como uma droga popular. A demanda cresceu e a “máfia da droga” entrou em cena.A folha de coca, estigmatizada por ser a matéria-prima da cocaína, se transformou em um ingrediente saudável na produção de pães, sorve-tes, bombons e balas, além de sabonetes e pasta de dentes.Vários estabelecimentos da cidade peruana de Cusco passaram a usá-la com o objetivo de demonstrar que a planta sagrada dos povos andinos, além de combater o mal-estar causado por grandes altitudes e de ser utilizada nos antigos rituais pré-colombianos, é comestível e tem usos cosméticos e medicinais que contribuem para uma vida saudável.Ciente de que a coca é “um assunto muito sensível”, o especialista e proprietário da “Coca Shop”, Christo Deneumostier, disse que “o proble-ma não é a coca, mas uso que se faz dela”, em alusão ao excedente do culti-vo que vai parar nas mãos do narcotráfico. [p. 257]
direção ao laço que se lhe tinha preparado. O fanático comandante não pôde deixar de ver nisto o dedo da Providência. Atahualpa, por seu turno, procedia cheio de confiança e de boa-fé. Ele era detentor de um poder tão absoluto no seu império que jamais poderia suspeitar de um ataque à sua pessoa. Talvez não pudesse imaginar que um pequeno grupo de homens, reunidos em Caja-marca, tivesse a audácia de pensar em apoderar-se de um poderoso monarca no meio do seu próprio exército. Ele não conhecia o caráter espanhol.Pouco faltava para o pôr-do-sol quando a vanguarda da comitiva real transpôs as portas da cidade. À frente vinham as centenas de servos incum-bidos da limpeza do percurso e de entoar cânticos de triunfo que aos ouvidos dos conquistadores, segundo um deles, soavam como canções do inferno. De-pois marchavam outras companhias de índios de diferentes classes, cobertos de indumentárias variadas. Alguns cobriam-se de vistosos tecidos brancos, co-loridos como as casas de xadrez. Outros seguiam todos de branco, empunhan-do martelos e maças de prata e cobre. Sobressaindo entre os seus vassalos via--se o Inca Atahualpa, no cimo de umas andas em que havia uma espécie de trono de ouro maciço, de inestimável valor. O palanquim, guarnecido de cha-pas de ouro e prata, apresentava-se coberto das brilhantes plumas dos pás-saros tropicais. Os adornos do monarca eram muito mais ricos do que os da noite precedente. Pendia do seu pescoço um colar de esmeraldas de brilho e tamanho extraordinários. O aspecto do Inca era grave e majestoso; e do alto mirava a multidão com o ar tranquilo de um homem acostumado a mandar.Ao entrarem as primeiras filas da procissão na vasta praça (que, segundo um antigo cronista, era muito maior do que qualquer outra em Espanha), a multidão apartou-se à direita e à esquerda de maneira a deixar caminho li-vre à comitiva real. Tudo se fez com ordem admirável. Permitiu-se ao monar-ca atravessar a praça em silêncio e nem um único espanhol se deixou avistar. Logo que entraram cinco ou seis mil homens, Atahualpa mandou fazer alto e, lançando em todas as direções uns olhares cheios de curiosidade, pergun-tou: Onde estão os estrangeiros?Naquele momento, frei Vicente de Valverde, religioso dominicano, capelão de Pizarro, e mais tarde bispo de Cusco, apareceu com o seu Breviário, ou, segundo dizem outros, com a Bíblia numa mão e um cru-cifixo na outra. Aproximando-se do Inca disse-lhe que vinha por ordem do seu chefe explicar-lhe as doutrinas da verdadeira fé, objetivo com o qual os espanhóis tinham chegado ao país a partir de tão longe.Depois passou a explicar-lhe o mais claramente que pôde o mistério da Santíssima Trindade e, referindo-se em seguida à criação do Homem, falou da sua queda, da sua redenção por Jesus Cristo, da crucificação e da ascensão do Salvador aos céus, depois de haver deixado o apóstolo Pedro por seu vigá-rio na terra. Contou-lhe como os poderes concedidos por Jesus Cristo ao seu vigário haviam sido transmitidos aos sucessores daquele apóstolo, homens sá-bios e virtuosos que, sob o título de “papas”, exerciam autoridade sobre todos os tronos e potentados da terra.Manifestou-lhe que um dos últimos papas havia incumbido o imperador espanhol, o monarca mais poderoso do mundo, de conquistar e converter os naturais daquele hemisfério ocidental; e que o seu general, Francisco Pizarro, havia chegado para cumprir tão importante missão. Terminou pedindo-lhe que desistisse dos erros da sua fé e abraçasse a dos cristãos, a única que lhe po-dia salvar a alma. E que se reconhecesse tributário do imperador Carlos V, o qual em todo o caso o auxiliaria e protegeria como a um leal vassalo.Pode duvidar-se de que Atahualpa, o Inca, tivesse entendido algum dos curiosos argumentos com que o religioso pretendeu estabelecer uma relação entre Pizarro e São Pedro. Mas é indiscutível que compreendeu perfeitamen-te que a finalidade do discurso consistia em persuadi-lo de que devia renun-ciar ao seu poder e reconhecer a supremacia de outro. Cintilaram os olhos do monarca índio ao responder: Não quero ser tributário de nenhum homem, eu sou mais importante do que qualquer príncipe da terra. O vosso impera-dor pode ser um grande príncipe, não duvido disso, pois verifico que conse-guiu enviar os seus vassalos de tão longe, através dos mares, e por isso mesmo desejo tratá-lo como irmão. Quanto ao papa de que me falas, ele não deve es-tar bom para tratar de dar reinos que não lhe pertencem. Quanto à minha religião, não pretendo desistir dela. O vosso Deus, segundo dizes, foi condena-do à morte pelos mesmos homens que tinha criado. Mas o meu (acrescentou, apontando a sua divindade que então se escondia por trás dos montes) o meu vive ainda nos céus e é dali que vela pelos seus filhos. Depois perguntou a Val-verde com que autoridade lhe dizia aquelas coisas, ao que o frade respondeu exibindo-lhe o livro que tinha na mão. Atahualpa pegou no livro, percorreu algumas páginas e, sem dúvida irritado pelo insulto que havia recebido, ati-rou-o ao chão, para longe de si, exclamando: Diz aos teus companheiros que me darão conta das suas ações nos meus domínios, e que não me irei embo-ra sem ter obtido plena satisfação dos agravos que me fizeram. O frade, alta-mente escandalizado pelo ultraje feito ao Livro Sagrado, apanhou-o do chão e correu a informar Pizarro do que o Inca tinha feito, exclamando ao mesmo tempo: Não vedes que enquanto estamos aqui perdendo tempo a falar com esse cão cheio de soberba, os campos vão-se enchendo de índios. Ide-vos a ele, que eu vos absolvo.Pizarro compreendeu que havia chegado a hora. Agitou uma bandeira branca no ar, que era o sinal combinado. Logo soou o tiro fatal e, então, sain-do o capitão e os seus oficiais para a praça, lançaram o antigo grito de guer-ra: Santiago! A eles! O qual foi respondido pelo grito de combate de todos os espanhóis que se achavam na cidade, os quais saíram impetuosamente dos grandes salões em que se achavam escondidos e invadiram a praça com a ca-valaria e a infantaria em coluna cerrada, arrojando-se contra a multidão de índios. Estes, colhidos de surpresa, atordoados pelo estrondo da artilharia e dos arcabuzes, cegos pelo fumo que em colunas sulfurosas se espalhava pela praça, encheram-se de terror e não sabiam por onde fugir para evitar o fim que adivinhavam próximo. Nobres e plebeus caíram sob as patas dos cavalos, cujos donos distribuíam golpes à direita e à esquerda sem poupar ninguém. As suas espadas, rebrilhantes através da densa nuvem de fumo, lançavam o desalento nos corações dos desditosos índios, que testemunhavam pela primei-ra vez as terríveis manobras da cavalaria. Foi assim que não opuseram resis-tência, nem tão pouco possuíam armas para o fazer. Não tinham possibili-dade de escapar, porque a entrada da praça se achava obstruída pelos corpos dos que tinham perecido durante a vã tentativa de fuga. E tal era a agonia dos vivos ante o terrível ataque, que uma multidão de índios, em seus esforços convulsivos, rompeu através de um muro de pedras e barro seco no qual abri-ram uma brecha de mais de cem passos, pela qual se escaparam para o cam-po, perseguidos todavia pela cavalaria que, galgando por sobre os escombros do muro derrubado, caiu sobre os fugitivos matando os que pôde e dispersan-do os outros em todas as direções.O monarca índio, aturdido e cercado, viu cair em seu redor os seus mais fiéis vassalos sem compreender o que se estava a passar. A liteira em que se fa-zia transportar andava de um lado para o outro consoante os agressores aco-metiam por aqui ou por ali. E ele contemplava aquele espetáculo de desola-ção como um marinheiro solitário que, acossado na sua barca pelos elementos furiosos, vê brilhar os relâmpagos e soar os trovões com a convicção de que nada pode fazer para evitar a sua sorte. Os espanhóis, por fim, cansados da sua obra de destruição e vendo que aumentavam as sombras da noite, teme-ram que a sua régia presa se lhes escapasse depois de tão grandes esforços; e al-guns cavaleiros tentaram desesperadamente concluir de vez a tarefa, tirando a vida a Atahualpa. Mas Pizarro, que estava por perto, gritou bem alto: Que se guarde de tocar no Inca quem tenha estima pela própria vida! E, estenden-do o braço para protegê-lo, foi ferido na mão por um dos seus soldados, ferida essa que foi a única sofrida pelos espanhóis durante o ataque. Então a peleja redobrou de fúria em torno da régia liteira, a qual se sacudia cada vez mais até que, mortos muitos dos nobres que a sustinham, o Inca correu o risco de tombar brutalmente no solo. Pizarro e alguns dos seus acudiram a ampará--lo nos braços, evitando a queda. As insígnias imperiais foram imediatamen-te arrancadas a Atahualpa e o desgraçado monarca foi transferido para um edifício próximo onde ficou apertadamente vigiado.Cessou então toda a tentativa de resistência. A notícia da captura do Inca espalhou-se pela cidade e pelos campos, dissolvendo-se o encanto que poderia manter unidos os peruanos. Cada um pensou somente na própria salvação. Soou também o alarme entre os soldados índios acampados nas imediações, os quais, ao saber da fatal notícia, deitaram a fugir por todos os lados, perse-guidos pelos espanhóis que, no arrebatamento do triunfo, se mostraram sem misericórdia. Por fim à noite, mais piedosa do que os homens, estendeu um manto protetor sobre os fugitivos, e as tropas dispersas de Pizarro reuniram-se outra vez, ao toque das trombetas, na praça sangrenta de Cajamarca.Pizarro não deu inicialmente ouvidos às terríveis sugestões acerca da sorte do Inca, ou, pelo menos, assim o aparentou, mostrando uma visível repugnân-cia em sacrificar o prisioneiro. Havia muito poucos que o acompanhassem em semelhante atitude, e entre eles contava-se Hernando de Soto, que considerava injusto um tal desenlace, por não estar provado o crime de Atahualpa.Neste estado de coisas, o chefe espanhol decidiu enviar um pequeno desta-camento a Guamachucho, para reconhecer o país e averiguar o que havia de verdade nos rumores da insurreição. Após a partida do destacamento a agita-ção entre os soldados cresceu de tal forma que Pizarro, não conseguindo resistir à pressão, consentiu que se preparasse o julgamento de Atahualpa. Era decer-to decoroso e mais seguro emprestar ao assunto uma aparência de isenção. Or-ganizou-se um tribunal a que presidiram como juízes os dois capitães, Pizar-ro e Almagro. Nomeou-se um fiscal e concedeu-se um defensor ao prisioneiro.Eram doze as acusações formuladas contra o Inca. As mais importantes eram a de que havia usurpado a coroa e assassinado o seu irmão Huáscar; além disso, havia dissipado as rendas públicas desde a conquista do país pelos espanhóis, dotando com elas os seus parentes e favoritos; acusavam-no tam-bém dos crimes de idolatria e de adultério, vivendo publicamente casado com muitas mulheres; apontavam-lhe, por último, que tinha tratado de sublevar os seus vassalos contra os espanhóis.Estas acusações, muitas das quais se referiam aos costumes do país ou às relações pessoais do Inca sobre que os invasores espanhóis não possuíam qual-quer jurisdição, eram absurdas. A única a ter alguma importância, se fos-se verdadeira, era a última, mas a sua debilidade era tamanha que os julga-dores se viram na necessidade de acrescentar-lhe as outras. O artifício indicia que estava já decidida a morte do Inca.Foram ouvidos alguns testemunhos índios, e as suas declarações, quando passaram pelo crivo da interpretação de Felipillo (um natural da terra que odiava Atahualpa), sofreram graves deturpações, ao sabor dos interesses dos invasores. Rapidamente se concluiu a audição das testemunhas, a que se seguiu uma discussão acalorada acerca das vantagens e das desvantagens que resultariam da morte do Inca.A questão era de mera conveniência. Por fim declararam-no culpado, não sabemos se de todos os crimes que lhe eram atribuídos, e foi condenado a ser queimado vivo na grande Praça de Cajamarca, a sentença deveria executar--se naquela mesma noite, sem sequer se esperar o regresso do destacamento enviado a Guamachucho, cujas informações poderiam confirmar ou desmen-tir os rumores relativos à insurreição dos índios. Como fosse julgada neces-sária a aprovação do padre Valverde, apresentou-lhe uma cópia da sentença para que a assinasse, o que ele fez sem vacilações, declarando que, em sua opi-nião, o Inca merecia em qualquer caso a morte.Houve, sem embargo, alguns presentes no tribunal que manifestaram a sua discordância acerca destas ações arbitrárias, considerando-as como uma enorme ingratidão para com os favores recebidos do Inca, o qual só tinha so-frido agravos em troca. Declararam que os testemunhos acusatórios eram in-suficientes para uma condenação daquelas, e negaram que o tribunal reu-nisse autoridade para sentenciar um príncipe soberano no centro dos seus próprios domínios. Havendo necessidade de um julgamento, sustentavam eles, o prisioneiro deveria ser embarcado para Espanha e julgado ante o Im-perador, único ser que possuía o direito de decidir a sua sorte.Porém, a grande maioria dos presentes, que era de dez contra um, respondeu a estas objeções afirmando que estava convencida do crime de Atahualpa, e que tomava sobre si a responsabilidade do ato. A disputa subiu de tom a ponto de quase se ter verificado uma violenta ruptura. Mas, por fim, convencidos de que a resistência seria inútil, os opositores remeteram-se ao silêncio, limitando-se a elaborar um protesto escrito contra os procedimentos em curso, que deveriam deixar uma mancha indelével sobre os que neles tomassem parte.
Quando Atahualpa, o Inca, recebeu a notícia da sentença, manifestou grande desgosto e angústia, pois, apesar de nos últimos tempos desconfiar de que o pudessem condenar à morte, havia mantido um fio de esperança quan-to à atitude dos captores. Por um instante a certeza do seu trágico destino de-bilitou-lhe o ânimo e o fez exclamar, de lágrimas nos olhos: Que fiz eu, que fizeram os meus filhos para merecer tal sorte? E, sobretudo, que fizemos para merecê-la das tuas mãos, acrescentou, dirigindo-se a Pizarro. Quando tu não achaste mais do que amizade e afeto no meu povo, quando reparti contigo os meus tesouros, quando de mim não recebeste senão benefícios? Depois, em tom dramático, suplicou que lhe perdoassem a vida, prometendo dar todas as garantias que se lhe exigissem para segurança de todos os espanhóis que com-punham o exército e oferecendo o dobro do resgate que já havia pago se lhe dessem tempo para reuni-lo.
Uma testemunha ocular assegura que Pizarro se manifestou visivelmente a favor de Atahualpa, a cujos pedidos não podia atender porque isso signifi-caria opor-se à vontade do exército e à sua própria convicção de que a desapa-rição do Inca era indispensável à pacificação do país.Atahuallpa, vendo que não conseguia dissuadir o conquistador, recobrou a sua habitual serenidade e desde aquele momento submeteu-se ao seu desti-no com a atitude e o valor de um guerreiro índio.Publicou-se a sentença do Inca, ao som das trombetas, na grande praça de Cajamarca. E, duas horas depois de o sol se pôr, os soldados reuniram-se ali, empunhando tochas, para presenciarem a execução.Era o dia 29 de Agosto de 1533. Atahualpa saiu a pé, preso por algemas de ferro, em direção ao local do suplício. O padre Vicente de Valverde seguia a seu lado procurando consolá-lo e realizando uma derradeira tentativa de que ele desistisse das suas crenças supersticiosas e abraçasse a religião dos vencedores; tudo porque pretendia salvar a alma da sua vítima no Além, ele que tão espon-taneamente o havia condenado a tão terrível expiação neste mundo terreno.Durante a prisão de Atahualpa o padre Valverde havia-lhe exposto repe-tidas vezes as doutrinas do cristianismo, e o monarca índio, escutando-o, em-bora com paciência, não se mostrara nunca disposto a renunciar às crenças dos seus antepassados. Agora, contudo, na hora solene e terrível da execução, o padre dominicano jogou o último lance. Com Atahualpa já amarrado para o suplício, tendo ao redor as tochas que haviam de incendiar a sua pira fune-rária, Valverde, erguendo a cruz, rogou-lhe que se convertesse e que se deixasse batizar: se o fizesse, a horrorosa sentença da fogueira seria comutada na pena mais suave do garrote.O desditoso monarca perguntou se era mesmo verdade o que se lhe dizia, e, tendo obtido a confirmação de Pizarro, consentiu em abjurar da sua reli-gião e em receber o batismo. A cerimônia foi levada a cabo pelo padre Valver-de e o neófito (recém convertido) recebeu o nome de Juan de Atahualpa, em honra de S. João Baptista, em cujo dia se verificou aquele sucesso.Atahualpa manifestou desejo de que os seus restos fossem trasladados para Quito, sua terra natal, para que fossem conservados com os dos seus antepas-sados por linha materna. Depois, voltando-se para Pizarro, pediu-lhe como último favor que tivesse compaixão dos seus jovens filhos e os acolhesse à sua proteção e amparo.Depois, recuperando a serenidade habitual, que por instantes o havia abandonado, submeteu-se tranquilamente à sua sorte, enquanto os espanhóis que o rodeavam entoavam o credo pela salvação da sua alma. Assim pereceu o último dos Incas.O corpo do Inca permaneceu no local da execução durante toda a noi-te. Na manhã seguinte levaram-no para a igreja de S. Francisco, erigida pe-los conquistadores, onde se celebraram as exéquias (celebração litúrgica) com grande solenidade.Pizarro e os principais cavaleiros assistiram de luto, e as tropas escutaram com devota atenção o ofício dos mortos celebrado pelo padre Valverde. A ceri-mônia foi interrompida por gritos e choros vindos das portas do templo, que se abriram repentinamente, dando entrada a um numeroso grupo de índias esposas e irmãs de Atahualpa. Invadindo a grande nave, cercaram o corpo di-zendo que não era aquele o modo correto de celebrar os funerais de um Inca, declarando-se dispostas a sacrificarem-se sobre a sua tumba para o acompa-nharem no país dos espíritos.Os circunstantes, ofendidos com tal procedimento, informaram as invaso-ras de que Atahualpa havia morrido cristão e de que ao seu novo Deus abor-recia tais sacrifícios. Depois as intimaram a que saíssem da igreja, e muitas delas, ao retirarem-se, suicidaram-se na esperança de acompanhar o seu ama-do senhor nas brilhantes mansões do Sol.Os restos de Atahualpa, mesmo depois de tantas súplicas, foram deposi-tados no cemitério de S. Francisco. Porém mais tarde, assim que os espanhóis saíram de Cajamarca, o corpo do Inca desapareceu. Acredita-se que foi leva-do em segredo para Quito”. Ironia do destino ou não, Vicente Valverde, o homem que em nome de Deus batizou o Inca, foi devorado por índios, da ilha equatoriana de Puna.Logo se organizou a divisão de terras e riquezas entre os conquista-dores. Francisco Pizarro, diante dos inconvenientes que representavam a distância e a grande altitude de Cusco, fundou em 1535 a cidade de Lima, perto da costa, para facilitar a comunicação marítima com o Panamá e com a metrópole. Um dos lugares-tenentes (homens de confiança) de Pi-zarro, Diego de Almagro, partiu para a conquista do Chile, mas, decep-cionado pela falta de riquezas naquele país, voltou ao Peru, onde tentou apoderar-se de Cusco. Foi vencido e executado em 1538, mas três anos de-pois alguns de seus homens conseguiram matar Pizarro. [p. 272-279]
ro de dom Pedro de Portocarrero, senhor de Moguer. Com ele, Vasco aprendeu a manejar a espada. E, mais importante, teve acesso às notí-cias fantásticas que chegavam das descobertas marítimas.
Em 1500, a Espanha vivia uma febre de conquistas que só se apla-caria após quase dois séculos. Ela começara em 1492 com Colombo, que, patrocinado pelos reis espanhóis, revolucionara o conhecimento geográfico da época. As expedições posteriores, tendo por base a ilha de Hispaniola (atuais República Dominicana e Haiti), no Caribe, onde Colombo fundou as primeiras colônias, trouxeram mais notícias espan-tosas. Para além das ilhas de Cuba, existiriam ainda mais terras. A ex-pectativa da coroa espanhola com as novas possessões era enorme.
Por isso, em 1494, a Espanha firmou, sob o patrocínio da Igreja, o fa-moso Tratado de Tordesilhas – na prática, um freio contra Portugal, o único possível país em condições de explorar as novas terras. Os portu-gueses haviam conseguido em 1488 contornar a África com Bartolomeu Dias e, novamente em 1500, partiam com uma frota para, ao que tudo in-dica, apossar-se das terras que já sabiam que existiam no Novo Mundo.
Naquele 1500, enquanto borbulhavam as histórias sobre o Novo Mundo, Vasco, cedendo aos impulsos aventureiros e valendo-se da in-fluência de seu amo, conseguiu uma vaga na expedição do explorador Rodrigo de Bastidas. Um ano depois, a frota partiu do porto de Cádiz com duas embarcações principais (dois navios menores seguiram no ano seguinte) com a missão de mapear o então desconhecido litoral dos atuais Panamá e Colômbia. Vasco tinha cerca de 25 anos.A expedição de Rodrigo de Bastidas permaneceu ao longo do atual litoral colombiano por quase dois anos. Durante esse tempo, Vasco de Balboa tomou contato com a realidade do Novo Mundo. E apren-deu a regra para os aventureiros espanhóis que exploravam as rique-zas da região: o conquistador, na prática, era livre para pilhar o que quisesse – pedras preciosas, ouro, pau-brasil – desde que, ao fim da aventura, deixasse um quinto do que tivesse encontrado junto aos fis-cais do Tesouro espanhol. Em 1502, Bastidas encerrou a aventura com [p. 284]
com os relatos mais auspiciosos ainda de Hernán Cortés, que retorna-va da conquista do México. Em 26 de julho de 1529 a rainha assinou a capitulação que autorizava Pizarro conquistar e explorar as riquezas do Peru nomeando-o governador e capitão geral.
Em 1530, levando consigo três de seus meios-irmãos, Pizarro se re-uniu com Almagro e Luque no Panamá e rumou para o sul fundan-do, em setembro de 1532, o primeiro estabelecimento hispânico na cos-ta do Peru denominado San Miguel de Pirua, lá formando uma força de conquista com sessenta e dois cavaleiros e cento e seis infantes, com os quais ingressou continente adentro na “conquista do Império Inca”.
Resumo da ópera: no dia 16 de novembro de 1532, Pizarro, com sua pequena força expedicionária, chegou a Cajamarca onde, deixando seu exército fora da cidade, aceitou o convide do imperador Atahualpa para um jantar no qual assassinou sua pequena guarda de honra e fez o pró-prio imperador seu prisioneiro. No ano seguinte Pizarro invadiu Cusco com tropas indígenas e derrubou o Tahuantinsuyu.
Julgando que a capital Cusco estava muito distante e muito acima no altiplano, Pizarro fundou a cidade de Lima no dia 18 de janeiro de 1535, prosseguindo em árdua campanha, pois as forças Incas tentaram retomar Cusco sendo derrotadas por Almagro que, por isto, julgou-se em condições de tomá-la para si, gerando uma disputa com Pizarro que o derrotou e executou em 1538, na cidade de Ute. Entretanto, partidários de Almagro assassinaram Pizarro em 26 de junho de 1541.
Para continuar a obra da família, entra em cena Gonzalo Pizarro.Gonzalo Pizarro, nascido em Trujillo, nove de abril de 1502, Espanha, acompanhou seu meio irmão mais velho, Francisco Pizarro, na sua ter-ceira expedição para a conquista do Peru em 1532. Gonzalo também era irmão de Hernando Pizarro e de Juan Pizarro. Um homem de confian-ça de seu irmão Francisco durante a conquista, Gonzalo foi um dos mais corruptos, brutais e cruéis conquistadores do Novo Mundo, sendo mui-to menos contido contra os nativos e os Incas que seus outros irmãos. [p. 293]
suasão e não pela violência, e o clero secular, favorável às extirpações. Nesse período, criou-se o cargo de juiz visitador, com o intuito não só de extirpar a religião andina, mas também de liquidar os doutrinadores regulares, submetendo-os ao seu poder e acusando-os de explorarem a população indígena e de não conhecerem as línguas vernáculas, o que dificultava a predicação.
De 1610 a 1660, a extirpação de idolatrias teve seu período de maior atividade, e, apesar dos confrontos entre o clero regular e o clero secu-lar, a partir de 1610, a Companhia de Jesus conseguiu empreender sua campanha de cristianização. Seguindo uma política missioneira relati-va à zona andina, conforme foi tratada por José de Acosta, e usando cri-térios aborígenes e coletivistas, os jesuítas conseguiram alcançar a eli-te indígena através do Colégio del Príncipe, em Lima, onde os filhos de Curacas (chefes locais) eram educados. Para, além disso, criarem a pri-são para feiticeiros, a Casa de Santa Cruz, com a finalidade de suprimir a elite de sacerdotes da religião indígena. A Companhia praticamente dominou religiosa e culturalmente o território peruano nesse período.
A Inquisição inicial queria tão somente acabar com as heresias de indivíduos já integrados à cultura hispânica, enquanto a extirpação, se-gundo Pierre Duviols, era a filha bastarda da inquisição, instalada em Lima em 1571 e da evangelização, pois tinha por projeto a destruição das religiões andinas.Houve nesse período um processo de aculturação da população indígena, por parte dos visitadores, e por isso, as “bruxas” mais perse-guidas eram as dogmatizadoras, visto serem as que promoviam uma contra-evangelização.A tentativa de ocidentalização da América se deu através da evange-lização e da extirpação de idolatrias, através da reprodução de lógicas mentais da velha Europa no Novo Mundo e uma prova disso, é o im-plante de ideias envolvendo o diabo e sua aliada, a bruxa, nos povos an-dinos. Porém, o mundo andino não conhecia a noção do mal encarna-do em uma figura satânica, e sim uma visão dialética em que o bem e o [p. 307]
te ao rei. Em 1784, a Espanha estabeleceu quadro intendências distritais no Alto Peru, cobrindo as atuais repartições administrativas de La Paz, Cochabamba, Potosí e Chuquisaca.A Coroa Espanhola, inicialmente, controlou os governos locais indi-retamente, mas centralizou seus procedimentos enquanto o tempo pas-sava. Inicialmente, Vice-rei Francisco de Toledo assegurou os direitos dos nobres locais e os garantiu autonomia local. Mas a coroa eventualmente empregou funcionários espanhóis, ‘’corregedores de índios’’, para coletar tributos e impostos dos índios. Corregedores de índios também impor-taram mercadorias e forçaram os índios a comprá-las, uma prática abu-siva que provou ser uma enorme fonte de riqueza para esses funcioná-rios, mas causou um grande ressentimento entre a população indígena.
Com os primeiros colonizadores do Alto Peru, vieram os clérigos re-gulares e seculares para iniciar a conversão dos índios para o Cristianis-mo. Em 1552 o primeiro bispado no Alto Peru foi estabelecido em La Pla-ta; em 1605. La Paz e Santa Cruz também se tornaram bispados. Em 1623 os Jesuítas estabeleceram a Universidade Real Maior e Pontifícia de São Francisco Xavier de Chuquisaca, a primeira universidade do Alto Peru.
Reações indígenas ao controle colonial e as conversões ao Cristianis-mo variaram. Muitos índios se adaptaram aos modos espanhóis, que-brando com suas tradições e ativamente tentando entrar na economia de mercado. Eles também fizeram uso das cortes para proteger seus in-teresses, especialmente contra novas determinações de taxas e tributos. Outros, entretanto, agarraram-se aos seus costumes o máximo possível, e alguns se rebelaram contra os líderes brancos. Rebeliões locais, em suas maiorias desorganizadas, ocorreram através do domínio colonial. Mais de 100 revoltas ocorreram no século XVIII na Bolívia e no Peru.Embora a Religião Inca oficial tenha desaparecido rapidamente, os índios continuaram exercendo religiões locais sobre a proteção dos go-vernantes locais. Mas com a influência cristã nos índios aumentando, um novo catolicismo popular se desenvolveu, incorporando os símbo-los das religiões indígenas. Considerando que as rebeliões iniciais fo [p. 317]
Quando me perguntam se os Incas ou seus antecessores teriam adentra-do no continente americano em direção às terras que hoje pertencem ao Brasil, respondo que até o momento tudo é muito vago e precisamos de mais do que teorias para provar que o império se estendeu até nosso atlântico. Mas se me perguntarem no que acredito, digo que sim, eles estiveram aqui.Não acredito que eles construíram templos ou deixaram pomposos tesouros de um imperador não catalogado na arvore genealógica do Ta-wantinsuyu, mas acredito que marcaram presença por aqui como extra-tivistas e negociantes.Antes pensava-se que a floresta era uma barreira que separava os po-vos andinos dos nossos antepassados tropicais, mas estradas foram cons-truídas e vestígios da cultura dessa civilização foram deixados e com-partilhados entre tribos como caiçaras, guaranis e outras.Para este breve relato, usarei como referência o escritor Luiz Galdi-no e seu livro; Peabiru – Os Incas no Brasil.Galdino demonstra, com detalhes e referências, uma possibilida-de quase irrevogável de que os Incas estiveram no Brasil muito antes de 1500. O escritor evidencia uma rede de estradas conectando diversos pontos do nosso litoral à capital Inca, Cusco, no Peru. [p. 352]
Chamada de Peabiru, a rede de estradas utilizadas pelos descobridores e exploradores no começo da colonização no Brasil não foi aberta aleato-riamente a facão, como contam cronistas e roteiros hollywoodianos. O filme de 1986, A Missão, Dirigido por Roland Joffé e estraldo por Robert De Niro, Jeremy Irons e Ray McAnally mostra um pouco des-sas “tais estradas”.Wikipediando um pouco, o peabiru (na língua tupi, “pe” – caminho; “abiru” - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos in-dígenas sul-americanos desde muito antes de Cabral e suas caravelas, li-gando o litoral ao interior do continente. O termo “Caminho do Peabiru” foi empregado pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra “História da Conquista do Pa-raguai, Rio da Prata e Tucumán”, no início do século XVIII. Outras refe-rências espalhadas por textos sem fonte legítima apontam que o termo já era utilizado em São Vicente logo após o descobrimento do Brasil.
O principal destes caminhos, denominado Caminho do Peabi-ru, constituía-se em uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlânti-co. Mais precisamente, Cusco, no Peru, ao litoral brasileiro, na altura da Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo), estendendo--se por cerca de 3.000 quilômetros, atravessando os territórios dos atuais Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil. Segundo os relatos históricos, o cami-nho passava pelas regiões das atuais cidades de Assunção, Foz do Igua-çu, Alto Piquiri, Ivaí, Tibagi, Botucatu, Sorocaba e São Paulo até chegar à região da atual cidade de São Vicente. Ainda havia outros ramos do caminho que terminavam nas regiões das atuais cidades de Cananeia (SP) e Florianópolis.
Em território brasileiro, um de seus braços ou sessões era a chama-da Trilha dos Tupiniquins, no litoral de São Vicente, que passava por Cubatão e São Paulo, em lugares posteriormente conhecidos como o Pátio do Colégio e rua Direita; cruzava o Vale do Anhangabaú; seguia pelo traçado que hoje é o das avenidas Consolação e Rebouças; e cruza-va o rio Pinheiros. Outro braço partia de Cananeia (SP). Ramificações [p. 353]
adicionais partiam do litoral dos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.Agora senta que lá vem história, e essa pode mudar sua forma de pensar sobre esta longa trilha épica digna de um conto de J. R. R. Tolken.Wikipediando mais um pouco fica fácil coletar alguns dados que parecem nunca terem sido consultados, isto pelo espanto das pessoas quando lidamos com o assunto Peabiru.
Em 1524, o náufrago português Aleixo Garcia, que fez parte da expe-dição espanhola de Juan Díaz de Solís, comandou uma expedição inte-grada por algumas centenas de índios guaranis carijós, partindo da Ilha de Santa Catarina (Meiembipe), percorrendo essa trilha para saquearouro, prata e estanho, tendo atingido o território peruano, no Impé-rio Inca, nove anos antes da invasão espanhola dos Andes, em 1533. Esta data, entre os governos de Huayna Capac (1493 – 1525) e Huáscar (1525 – 1532) em 1533, já governava o Inca Atahualpa.
Outros relatos citam que Martim Afonso de Sousa, fundador da Vila de São Vicente (município da Microrregião de Santos, na Região Me-tropolitana da Baixada Santista, no estado de São Paulo) só se fixou na-quele trecho do litoral porque, de antemão, dispunha de informações de que, dali, se teria acesso ao caminho que o levaria às minas do Potosí, na Bolívia, e aos tesouros do Tawantinsuyu. Por sua determinação, uma ex-pedição partiu de Cananeia (no litoral da Capitania de São Vicente, SP), em 1 de setembro de 1531, com o mesmo destino, sob o comando de Pero Lobo, tendo Francisco das Chaves como guia. Seguindo por um antigo caminho indígena que entroncava com o Caminho de Peabiru, esta ex-pedição desapareceu, chacinada pelos indígenas guaranis nas proximi-dades de Foz do Iguaçu quando se dava a travessia do Rio Paraná.
O espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca começou a caminhada par-tindo da foz do rio Itapocu, no litoral norte de Santa Catarina, no dia 2 de novembro de 1541, vindo a descobrir, no final de janeiro de 1542, as Cataratas do Iguaçu. Na mesma época, o viajante e cronista de origem germânica Ulrich Schmidl percorreu-o em 1553. Os jesuítas batizaram [p. 354]
O atual vale do Rio Rímac, mais conhecido como Lima, recebia o nome de Rimaq, segundo a pronúncia lambdacista do quechua cos-tenho. Nas variantes da serra, pronunciava-se i.maq. Como em outros topônimos, a oclusiva final terminou por eliminar-se ao passar ao caste-lhano, preferindo-se com o tempo a grafia Lima, após coexistir em do-cumentos com as formas Limac e Lyma.Ao ser fundada a capital da flamejante colônia, se lhe deu o nome de Ciudad del os Reyes devido a que o território limenho foi invadido em 6 de janeiro, dia dos reis magos; no embargo persistiu o nome da re-gião, pelo qual o novo centro povoado terminou por conhecer-se como a cidade de Lima. O rio, em cambio, viu alterada sua grafia ao ser subju-gada por indicação do Terceiro Concilio Limense, ao igual que outros muitos topônimos de origem quechua.A história da cidade de Lima inicia-se com sua fundação espanhola em 1535. O território formado pelos vales dos rios Rímac, Chillón e Lu-rín estava ocupado por assentamentos pré-incas. A cultura Maranga e a cultura Lima foram as que se estabeleceram e forjaram uma identidade nesses territórios. Durante essas épocas se construíram os santuários de Lati (atual Puruchuco) e Pachacamac. Estas culturas foram conquistadas pela Império Wari durante o apogeu de sua expansão imperial. Foi du-rante esta época que construiu-se o centro cerimonial de Cajamarquilla. Junto à declinação da importância Wari, as culturas locais voltaram a ad-quirir autonomia, destacando a cultura Chancay. Posteriormente, no sé-culo XV, estes territórios foram incorporados no Império Inca.Desta época podemos encontrar grande variedade de huacas (locais sagrados) ao largo de toda a cidade, algumas das quais se encontram em investigação. As mais importantes e conhecidas são as de Huallamarca, Pucllana, Mateo Salado e Pachacamac.Em 1532, os espanhóis e seus aliados indígenas, sob comando de Francisco Pizarro, tornaram prisioneiro o Inca Atahualpa em plena ce-rimônia religiosa na cidade de Cajamarca, e mesmo com o pagamento de um resgate, este foi assassinado após um julgamento simulado em [p. 359]
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