A "festa tupinambá" em 1550 na França que convenceu rei a embarcar em conquista do Brasil
3 de junho de 2025, terça-feira Atualizado em 04/06/2025 17:57:52
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Por Daniela Fernandes, Role, de Paris para a BBC News Brasil
Duas aldeias indígenas com muitas araras, papagaios e macacos nas árvores, em plena Normandia, na França, seria, mesmo nos dias de hoje, uma cena insólita.
Imagine no século 16, quando uma "festa tupinambá" foi realizada para celebrar, em 1550, a entrada triunfal do rei francês Henrique 2º na cidade de Rouen.
O evento que retratava o Brasil foi fundamental para a França se lançar na conquista colonial nessa nova região do mundo e contribuiu para reforçar o mito do "bom selvagem", a idealização do homem "puro" que vive em harmonia com a natureza.
As entradas reais, festividades para saudar o monarca, eram motivo de competição entre as cidades. Henrique 2º, na época com 31 anos, havia assumido o trono três anos antes e foi a Rouen acompanhado de sua esposa, Catarina de Médici, embaixadores e aristocratas importantes.
Da ponte onde se encontrava, no rio Sena, o cortejo avistou um espetáculo jamais visto no reino: uma reconstituição do chamado Novo Mundo, a partir de relatos de marinheiros franceses e de indígenas que foram levados à França no início do século 16.
Em uma pequena ilha no Sena, em meio a uma vegetação exuberante, foram criados dois vilarejos separados por paliçadas. Havia cabanas com troncos grosseiramente aparados, cobertas por galhos. Ali homens nus com os rostos enfeitados e corpos pintados reproduziam cenas do cotidiano: alguns simulavam caçar com arco e flecha, outros dormiam em redes ou comiam em volta de fogo. Pássaros voavam e animais pulavam nas árvores.
Poucos indígenas brasileiros, principalmente da etnia tupinambá, fizeram parte do elenco: apenas cerca de 50. Os figurantes, por volta de 250 no total, eram majoritariamente marinheiros franceses, disse à BBC News Brasil o historiador Didier Le Fur, especialista dos séculos 15 e 16 na França, autor de inúmeros livros, entre eles Henri 2º e Le Royaume de France en 1500 (O reino da França em 1500).
Segundo ele, naquela época, os indígenas não teriam sido forçados a viajar à França. Muitos deles atuavam como intérpretes e teriam aceitado o deslocamento pela curiosidade de descobrir outras terras.
No espetáculo, um dos vilarejos criados para as festividades, não por acaso com cores vermelhas, uma alusão ao pau-Brasil, tinha boas relações com os franceses. Na encenação, os habitantes levavam a madeira até um local no rio onde os franceses desembarcavam e faziam trocas por machados, iscas e diversos acessórios. Já o outro vilarejo era pró-Espanha, diz Le Fur.
É o povo ligado à Espanha que inicia uma batalha, com armas em punho, contra o "vilarejo amigo" dos franceses. Cabanas foram queimadas para dar mais realismo ao evento.
Não é difícil imaginar quem venceu: a aldeia que fazia comércio com a França e tinha relações pacíficas com os franceses.
A festa foi patrocinada por mercadores e armadores da Normandia, que aproveitaram a visita do rei para convencer Henrique 2º, com essa encenação estudada, da necessidade de implantar uma colônia na costa brasileira para aproveitar melhor as riquezas locais, ressalta Le Fur. "A mensagem era de que os franceses eram bem quistos no Brasil e que as relações comerciais com alguns povos do Brasil eram sólidas", diz ele.
O objetivo também era mostrar ao rei, com a derrota da aldeia rival, no caso pró-Espanha, que embora outros povos estivessem ligados aos portugueses, haveria pouco perigo em instalar uma colônia francesa nessa região do mundo.
"A ideia funcionou", destaca Le Fur. E rápido: meses depois da encenação financiada por mercadores da Normandia, Henrique 2º enviou o explorador e cartógrafo Guillaume Le Testu para fazer uma prospecção na costa brasileira para avaliar a possibilidade de criar uma colônia no Brasil.
França Antártica
Foi a partir disso que foi decidido o projeto da França Antártica, comandado pelo almirante Nicolas Durand de Villegagnon.
A expedição implantou, em 1555, uma colônia na Baía da Guanabara que durou pouco tempo, apenas até 1560, quando o forte Coligny, na ilha de Serigipe (hoje ilha de Villegagnon), erguido pelos franceses, foi destruído pelos portugueses.
A coroa portuguesa não foi o único problema da expedição da França Antártica.
Havia também muitos conflitos internos. Foi uma colônia com tensões religiosas entre católicos e protestantes (que poucos anos mais tarde, a partir de 1562, resultou em uma guerra de religião na França).
A França Antártica enfrentou revoltas e deserções dos colonos contra as severas regras impostas por Villegagnon. Ao impedir os homens de ter contato com as mulheres indígenas, uma parte deles abandonou o forte na ilha e foi para o continente. Alguns relatos da época afirmaram que o almirante contribuiu para a queda do "Brasil francês."
Ao mesmo tempo, a monarquia francesa atravessava um período de fragilidade política e crise religiosa, marcada por sucessões precoces e o início de guerras civis entre católicos e protestantes.
Henrique 2º, que autorizou a expedição colonial no Brasil, morreu em 1559 e seu filho, Francisco 2º, que assumiu o trono com apenas 15 anos, faleceu em 1560. Em seguida assumiu seu irmão Carlos 9º, outro menor de idade, com a mãe Catarina de Médici como regente. Os conflitos internos da coroa francesa deixaram as questões coloniais para segundo plano.
Após a destruição do forte Coligny na Baía da Guanabara, em 1560, parte dos colonos franceses conseguiu se refugiar em terra firme no Rio de Janeiro, com o apoio dos tamoios, até serem definitivamente expulsos pelos portugueses em 1567.
Quase duas décadas antes da entrada de Henrique 2º em Rouen, a França havia tentado, em 1533, acabar com o Tratado de Tordesilhas. O papa da época estava mais ou menos de acordo, diz Le Fur, mas após seu falecimento ele foi sucedido por um pontífice pró-espanhol.
Na época do Tratado de Tordesilhas, em 1494 — firmado pelos reinos de Portugal e da Espanha e que definiu os limites de exploração entre ambos na América do Sul — a França estava focada em colonizar a Itália, lembra Le Fur, operação que fracassou e deixou a França sem recursos.
No início do século 16, a França estava longe de ser uma potência marítima e alguns comerciantes franceses, interessados no pau-brasil, acharam mais fácil piratear navios portugueses para roubar os mapas com as rotas para o Brasil, afirma o historiador. A publicação do Atlas Miller na França em 1519 com cartas marítimas facilitou depois a navegação.
Antes da França Antártica no Rio de Janeiro, os mercadores da Normandia já trafegavam bastante pela costa brasileira. Entre 1526 e 1549, os franceses realizaram cerca de 50 viagens ao Brasil, uma média de duas por ano, segundo Le Fur.
A França não tinha a intenção de colonizar o Brasil, mas a ideia foi ganhando fôlego ao longo das várias expedições e contatos com algumas populações locais.
França Equinocial
Após o fracasso na colonização na Baía da Guanabara, os franceses não se deram por vencidos.
Uma outra grande expedição, a França Equinocial, foi lançada em 1612, liderada por Daniel de la Touche. Desta vez, o alvo foi o Nordeste brasileiro. O nome faz referência à decisão de se instalar próximo à linha do Equador.
Os franceses fundaram São Luís, no Maranhão, nome dado em homenagem ao rei francês Luís 13.
Para evitar os problemas da França Antártica, o objetivo era estabelecer uma colônia católica. Eles fizeram alianças com os povos locais, como os tremembés e tupinambás, fundaram um forte e começaram a construir a cidade.
deA França Equinocial era um projeto ambicioso, que visava ocupar boa parte do Nordeste do Brasil e também Norte do Brasil, incluindo parte do Pará e do Amapá.
A expansão fracassou devido à resposta militar portuguesa que conseguiu, após várias batalhas, expulsar definitivamente os franceses do Maranhão em 1615.
Devido a instabilidades políticas na França, os colonos de São Luís não conseguiram obter tropas e recursos adicionais para enfrentar os portugueses.
Não deu certo no Brasil, mas os franceses não abandonaram a ideia de fixar uma colônia na América do Sul. Obtiveram sucesso no território que é hoje a Guiana Francesa, com a fundação de Caiena em 1643.
Nos anos seguintes, houve confrontos com ingleses, portugueses e holandeses pela disputa da Guiana Francesa, até hoje um território ultramarino da França.
Especialistas afirmam que a festa indígena na Normandia, que mostrou povos amigos dos franceses (encenados principalmente por marinheiros franceses), contribuiu para o mito do "bom selvagem", embora essa ideia só fosse ganhar força no século 18, com pensadores como Jean-Jacques Rousseau.
Nos Ensaios de Michel de Montaigne, do século 16, o filósofo francês afirmou que a alma dos indígenas não é corrompida e que os europeus só se interessam pela riqueza e pelo poder.
A entrada de Henrique 2º em Rouen foi descrita na época em um manuscrito ilustrado, uma das obras importantes da biblioteca de Rouen.
Uma outra versão curta com gravuras foi distribuída à população, que pôde pela primeira vez ter uma ideia do que era essa região do mundo, apesar do espetáculo romanceado.
Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.