A “Ilha Brasil” de Jaime Cortesão: ideias geográficas e expressão cartográfica de um conceito geopolítico. Francisco Roque de Oliveira
25 de fevereiro de 2017, sábado Atualizado em 28/10/2025 07:50:29
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comunicam directamente entre si por alguns dos tributários, formando verdadeiras ilhas"45.Mas mesmo sem a identificação dos autores em causa, ficavam esclarecidos os fundamentosfísicos que haveriam de dar lugar à lenta construção do Estado brasileiro a partir da criação eda projecção de uma série de mitos expansionistas – "e, mais que todos, o da Ilha-Brasil"46.Cortesão explorará este tema recorrente no seu magistério em subsequentes artigos desta sériecomo, por exemplo, "O índio: bússola e mapa vivo", "Sentido da geomítica do Brasil", "Aprimeira bandeira no papel", "A Ilha-Brasil e os vicentistas", "Origens indígenas da IlhaBrasil", "Carácter do mito da Ilha-Brasil" e "A Companhia de Jesus e a Ilha-Brasil" – todoseles posteriormente inseridos na Introdução à História das Bandeiras.Ainda antes de se deter na leitura dos mapas de origem portuguesa que trariam a marcaindelével do "mito da Ilha-Brasil", Cortesão arrisca estabelecer uma linha de continuidadeentre a consciência geográfica e as representações cartográficas quinhentistas e seiscentistasde origem indígena do futuro espaço brasileiro e a aprendizagem do mesmo espaço por partedos primeiros colonizadores. Apesar de admitir expressamente não conhecer exemplosconcretos de cartografia tupi-guarani ou aruaque desse período, não evita assumir como certae segura a sua suposição. Uma vez mais, a sua convicção profunda impõem-se à necessidadeda prova positiva. Uma vez mais também, a força da sua prosa poética não constitui o menordos argumentos: "Astronomia incipiente e representação plástica ou cartográfica do territórionão passam de manifestações do mesmo e maravilhoso sentido de orientação. Sentido vital eorgânico. Superlativo do instinto das aves migradoras. Como outros povos nómades, osprimitivos habitantes do Brasil eram verdadeiras bússolas e mapas vivos"47.Nada atrapalha a circunstância de não sobrar uma linha de continuidade tangível entre estacartografia oculta e indemonstrável e a prefiguração do conceito da insularidade brasileira queCortesão começou por identificar nas suas leituras dos textos franceses de João Afonso edepois estendeu aos mapas. No seu entendimento, a construção do território assenta numconceito quase imanente de espaço que precede o seu reconhecimento objectivo e a sua posse:"Antecipando-se ao conhecimento pleno, prefigura a realidade, concebendo-a a seu modo edando-lhe uma força deflagradora de vontade. Aqui, pois, o homem, criando o mitogeográfico, faz o primeiro passo que vai do determinismo puro à liberdade"48. No limite, ademonstração cartográfica surge a jusante de tudo, mais como um discurso sobre o espaço ouuma representação detentora de uma eficácia geopolítica sobre o real, do que como clássica eescorreita tradução pictórica do próprio real: "Antecipando-se ao conhecimento pleno de umaentidade geográfica e económica", repete Cortesão, "o português concebeu-a sob a formamítica da Ilha-Brasil e passou a cingir os mapas a esta realidade. Compreendeu ràpidamenteque à estreita faixa do continente, talhada pelo meridiano divisório, era indispensável darfundo geográfico e possibilidade de circulação e defesa, ou seja, viabilidade política, em faceda poderosa América Espanhola"49.Também esta conclusão replicava o que já vimos escrito pela pena de Jaime Cortesão novolume da História da Expansão Portuguesa no Mundo publicado em 1940. A principaldiferença será que, agora, Cortesão se vai deter, por fim, na identificação pormenorizada dassucessivas representações cartográficas do "mito da Ilha-Brasil" através do comentário a um conjunto seleccionado de mapas portugueses e de proveniência castelhana.
"A primeira bandeira no papel" traz logo em título a sugestão disso mesmo, sendo o mapa do Brasil inserto no designado Atlas Miller de Lopo Homem-Reinéis (1519) o principal objecto de análise:
""Lá está a grande protuberância oriental da América do Sul, firmemente traçada desde as duas largas aberturas do Amazonas (com o contorno da ilha de Marajó, quaseinteiramente delineado) até ao vastíssimo rasgão do estuário do Prata, e parte da costa que selhe segue ao sul. Ao alto da carta, numa larga cartela, uma legenda em latim ensina que “Estaé a carta da região do Grande Brasil”, situado ao ocidente das Antilhas de Castela, referindose a seguir aos habitantes, à fauna e à floresta da nova terra"50. É o mapa que Cortesãoidentifica como aquele que representa "apenas uma primeira fase do mito da Ilha-Brasil",ainda que bastando a legenda que identifica o magni brasilis para termos já demarcada "aentidade geográfica natural e humana" que pretende inconfundível com o resto51 (figura 1).
No artigo “A Ilha-Brasil dos vicentistas” – alusão ao momento, no século XVI, em que São Vicente polarizava a instalação da colónia portuguesa nas áreas meridionais do Brasil –, o leitor passará directamente das referências colhidas nos escritos de João Afonso “a uma Ilha Brasil” circum-navegável entre a foz do Amazonas e a boca do Prata para uma selecção de mapas que reproduzem a mesma ideia da ligação entre estes dois grandes rios sul-americanos articulada por um grande lago interior, cuja designação se modifica de mapa para mapa.
Nessa lista expurgada das centenas de cartas que copiariam este modelo cartográfico até meados do século XVII – mais precisamente, até à carta da América meridional de Nicolas Sanson d´Abbeville de 1650 – Cortesão inclui o mapa do Novo Mundo do grupo de quatro cartas que formam o planisfério de Bartolomeu Velho de 1561 (figura 2), a carta atlântica de Luís Teixeira de c. 1600 (figura 3), a carta da América do Sul de Lucas de Quirós de 1618, destacando, ainda assim, o primeiro destes três espécimes cartográficos:
"De todas as cartas a mais notável e extraordinária é o mapa de Bartolomeu Velho, de 1561, onde o Brasil aparece claramente delimitado como uma ilha enorme, subdividida em ilhas mais pequenas. O Prata e o Pará, este último assim nomeado e na posição aproximada do Tocantins, ligam-se e comunicam-se pela vastíssima lagoa Eupana, ao sul da qual se vê o “Mar grande ou Paraguaia”, que identificamos com os pantanais dos Xarais. Da mesma lagoa nasce o S. Francisco, o qual se reúne por um lado menor ao Parnaíba e mais abaixo ao Paraná, que, por sua vez, se reúne à lagoa Eupana, encerrando esta ligações em seu conjunto de cinco ilhas".Este mapa de Bartolomeu Velho servirá de mote para o artigo sobre as "Origens indígenas da Ilha-Brasil" da mesma séria dedicada às bandeiras paulistas, ou não fosse esse "o primeiro mapa onde a Ilha-Brasil, delineada como um todo orgânico e em oposição ou como complemento à divisória de Tordesilhas, aparece pela primeira vez".
Por seu turno, em "Carácter do mito da Ilha-Brasil", Cortesão confronta-o com a representação divergente dos vastos circuitos fluviais sul-americanos na cartografia espanhola representada pelo mapa da América de Diego Gutiérrez gravado em 1562 em Amesterdão (lapso por Antuérpia), intuindo daí que portugueses e espanhóis podiam haver recebido dos indígenas as mesmas informações sobre essa geografia interior, "mas uns e outros seleccionaram e adaptaram essasinformações às suas tendências e propósitos"55. E a esperada conclusão, que reunia a provados textos à dos mapas:"Hoje sabemos que a Ilha-Brasil, tal como a definiu João Afonso e a representava Bartolomeu Velho,não é geogràficamente exacta. Trata-se de um mito, isto é, de uma criação ideal, em que se fundemcrepuscularmente uma realidade geográfica e humana, mal conhecida, e a ambição de lhe dar validadepolítica. A Ilha-Brasil é um mito expansionista, em que se antecipa a solução o problema e do conflitode soberania, entre Portugal e Espanha"56. [Páginas 11, 12 e 13]
ME|NCIONADOS• Registros mencionados (3): 01/01/1519 - *Atlas Miller é evidência da "ilha Brasil", segundo Jaime Cortesão 01/05/1544 - “e tanto o Amazonas, a que ainda dava o nome de Maranhão, como o rio da Prata nasciam de um lago no interior do Brasil, fazendo deste uma ilha que fora totalmente circum-navegada”* 01/01/1561 - *Mapa de Bartholomeu Velho EMERSON
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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
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Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.