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“Memória Histórica de Sorocaba”, parte VIII
    1970
    Atualizado em 18/06/2025 17:51:44

  
  
  


CAPITULO VIII. A Sorocabana. Reduzem-se as feiras. Matadouros. Recensea-mento de 1872. Instrução pública. Maçonaria. Cadeia. Rosário. Dom Pedro II e o Conde D‘Eu. Gabinete de Leitura. Imprensa. Ilu-minação. Construções de alvenaria. Manuel Lopes de Oliveira e Francisco de Paula Oliveira e Abreu, pioneiros da indústria. Fábri-cas de chapéus. O Fonseca. Notas Sociais. Abolição. República.

Luís Mateus Mailasky, nascido de família nobre em Kassa, na Hungria, em 21 de agôsto de 1838, homem de cultura geral, emigrou, talvez por motivos políticos, chegando a Sorocaba em janeiro de 1866 e não um ano antes, como já escrevemos. E já em setembro, êle que segundo a tradição fôra hóspede do Mosteiro de São Bento por gentileza de frei Baraúna, tem dinheiro para emprestar aos lavradores de algodão para a safra de 1867, comprar aos beneficiadores os fardos de 1866 e enviá-los a Santos (em tropa até São Paulo) e crédito para encomendar máquinas na América e na Europa, mediante comissão, e também "recebe encomendas de molhados para o Rio de Janeiro". Assim anunciava no Araçoiaba. Era comerciante atacadista à rua da Penha, 156, nos baixos do sobrado do chefe conservador Joaquim José de Andrade, com cuja filha, dona Ana Franco, veiu a casar-se em 9 de abril do ano seguinte . Chegou, viu e venceu. Acho que tirou dinheiro a juros do próprio Andrade, de Roberto Dias Batista, cuja máquina consertou e dos Lopes. [p.345]

Foi o homem que Sorocaba precisava, homem de horizontes largos. Penso que era adepto do liberalismo econômico mais avançado, que fêz a riqueza da Inglaterra vitoriana. Casando-se, passou a residir no sobradão da rua da Cadeia, derrubado há pouco tempo, como um homem rico. Seu nome encheu uma época e uma região. Naturalmente teve inimigos, fruto da inveja. Acaso o nobre húngaro enriquecido surgia nele autoritário quando não o ouviam, pois João Lacerda contava a Antônio Francisco Gaspar que as discussões da Diretoria da Sorocabana eram tumultuosas. O normal, porém, seria a amabilidade profissional do comerciante, pois obteve quanto quís, empobrecendo indiretamente muitos sorocabanos para o bem de São Paulo e do Brasil, porque as ações da Sorocabana, de 200 mil réis, chegaram a perder todo o valor.

Em vez de exportar algodão para as fábricas inglêsas, resolveu tecê-lo aqui. Fundou uma companhia por ações para uma fábrica de tecidos, comprou o terreno, foi buscar em Campos o maquinário e o mestre, Joaquim Pereira Guimarães, português. Havia escrito o primeiro artigo sôbre a fábrica em fevereiro de 1867, antes de receber o primeiro algodão em caroço dos lavradores. Em 1868, era banqueiro, pois no anúncio do negócio, também a varejo, inclui "saca sôbre as praças de Santos e do Rio de Janeiro, à vista e a 30 dias".

A fábrica foi principiada em 1868-1869 e não passou de um barracão provisório. Falam em máquinas estragando-se ao ar livre. Fracasso. A safra de 1870 não foi boa e os preços em vez de subir, baixaram, decerto por causa da concorrência de outras zonas. Os acionistas prejudicados, entre os quais, os Lopes, nem assim perderam a confiança no estrangeiro naturalizado.

Quando foi fundada a Companhia Ituana os sorocabanos, con-vidados para comprarem ações, não puderam convencer aquêles ri-cos fazendeiros da cana e do café a extender os trilhos mais cinco léguas, de Itú a Sorocaba. Mailasky estava presente à reunião e con-venceu os companheiros a retirarem-se . A lenda é mais bonita sem-pre do que a história. Gaspar ouviu contar que na frente da matriz, após a missa domingueira, interpelado com que dinheiro faria a estrada — já agora do Ipanema a São Paulo, e não mais de Sorocaba a Itú, muito mais fácil, respondeu, tirando do bolso uma moeda: "com êstes quatrocentos réis". Quer dizer que contava com o crédito e a propaganda. Sabia que nesses campos do sul cheios de serenidade e barba de bode, não tiraria muito dinheiro . O Banco Alemão, do Rio de Janeiro o ajudou.

Era mais aceito no Rio de Janeiro cosmopolita do que no São Paulo provinciano . Bem entendido, não desejava dar prejuízo a nin-guém. Queria criar a riqueza, a começar do já existente algodão e o[p.346]

ro para os estribos, etc . Enfim, surgiu a fábrica Dias da Silva . Aos20 e 30 ourives da prata só lhes sucederam os relojoeiros da rua dr. .Braguinha vendendo jóias, e um ou outro ourives do ouro. O último ourives da feira foi Bento de Barros Lima, morador na rua Nova, perto da rua da Margem.

O matadouro, que ficaria bem perto da estação, em 1874 começou a ser mudado para o outro lado do rio, atual rua Pedro JoséSenger que então principiava, partindo da rua São Paulo. Seria construído um rancho provisório na frente ao aterrado do Lava-Pés, como córrego dêste nome passando pelo meio . Essa foi a resolução, porém depois tiraram diretamente um rego de água do Tanque do Buava, do mesmo córrego, e que ficava mais abaixo da atual piscinaQuinzinho de Barros. Só em 1881 foi derrubado o matadouro velho,onde quizeram fazer um mercado, mas não foi possível, resolvendo-seacrescentar o que já servia no largo Santo Antônio.

As praças começaram a ser arborizadas por obséquio de vereadores prestadios, que recebiam as mudas e cercas compradas pelaCâmara. Chegou a ser cercada tôda a atual praça Fajardo, que aindaconserva mangueiras antigas. Da praça Ferreira Braga restou até apouco um coqueiro solitário. A da matriz não foi arborizada, porservir ainda para divertimentos como circos, fogos de artifícios, paradas da Guarda Nacional, etc .A praça frei Baraúna com as ruas Cesário Mota e Artur Martins, foi iniciadas em 1864 em terreno de São Bento. As cavalhadaspassaram a ser naquele logradouro. Acabaram com o cemitério deSão Bento, que em 1863 ainda servira para cadaveres de bexiguentos,mas deixaram uma pracinha e nela uma capelinha onde se faziamfestinhas de Santa Cruz e São João, sem o clero . A que puxava oterço era uma liberta que, no seu tempo de escrava, cortou com aenxada a cabeça de um branco que lhe fizera proposta desonesta .Foi a juri, recebeu poucos anos de prisão, que cumpriu na cadeianova que foi inaugurada em 1863. Mas os jurados, pelo costume dotempo, juntaram a pena diária dos açoites. Era ao anoitecer. Todos fugiam das proximidades da cadeia ao ouvirem os gritos da infeliz açoitada junto às grades . Frei Paulo e Eugênio Pilar, entre outros, me transmitiram esta notícia digna de um drama. Os jornaismencionam as festinhas .Exatamente em 1874, como publicou frei João, foi construidaoutra capelinha de Santa Cruz, "no bairro de Árvore Grande", A ár- [Página 348]

Dona Gertrudes de Almeida Pilar, mãe de Ubaldino do Amaral, tinha um internato para meninas do Paraná, que vinham da Lapa a cavalo, na rua da Penha. Saiu cêrca de 1875 para Piracicaba, onde faleceu seu espôso Francisco das Chagas do Amaral Fontoura e veiu morrer na capital de São Paulo em 1886. Conhecemos-lhe uma aluna, dona Sofia Wirmond. Não havia carteiras, servindo a mesa grande da sala de jantar. [p. 351]

A imagem de São Jorge acamponhava a Câmara em procissãodesde 1818 e morava numa das salas . O cavalo branco em que afaziam montar também era da Câmara e tinha vida folgada no capinzal das ruas — "Lá vai o cavalinho de São Jorge!" — exclamou umavez o menino Francisco Pacheco, vindo da escola do padre Lessaem 1886. Hoje, mais que octogenário, ainda se lembra do episódio.Depois de 1889, a Câmara (Igreja separada do Estado) não acompanhava mais a imagem na procissão de Corpus Christi mas deixouos devotos visitarem-na em sua sala, naquele dia. E a Câmara virava igreja .. . Até que em 1906 um intendente a enviou à capela-deSanta Cruz . Os arreios de São Jorge estão no Museu Sorocabano .A sua espada com uma inscrição patriota foi roubada depois de 1940.O Conde d´Eu, visitando Sorocaba, em 1874, achou muito bonito o prédio da Câmara e Cadeia. Ora, veja só! [p. 354]

Em 9 de novembro de 1886 passaram ainda para o Ipanema osaugustos imperantes . Almoçaram numa sala da estação . Depois tomaram um carro e seguidos de outros (havia muitos carros particulares) foram visitar, corre-correndo: matriz, câmara e cadeia, Gabinete,as 2 cadeiras masculinas e femininas, mercado, hospital, fábricasAdams e Fonseca .O conde d´Eu veiu sózinho em 1874, fazendo a viagem a cavalodesde as pontas dos trilhos, Júlio Ribeiro foi visitá-lo, levando a homenagem da pena à espada, segundo o seu jornal. Depois passoupor Sorocaba com a Princeza Isabel e tôda a família para o Ipanema,onde Bento José Ribeiro lhes forneceu troles e cavalos, inclusive aCamurça que a Princesa cavalgou por êsses campos .Deste 1872 vinham muito os presidentes da Província . O último,foi Rodrigues Alves, em 1889. [p. 356]

O curioso Francisco de Paula Oliveira e Abreu fêz uma planta para o mercado em 1881. O pedreiro que executou essa ou outra planta até 1884 chamava-se Antônio Tomaz de Souza. O prédio particular de sobrado, de Eduardo Antero da Cunha, em estilo de chalé, à rua Penha (depois foi um pastifício) é dessa época. Em 1881 se construiu o prédio da fábrica de tecidos Fonseca, sem revestimento.

Manuel Lopes de Oliveira tinha loja no largo do Rosário e uma chácara principiando da rua Ruy Barbosa e limitada mais ou menos, pela rua atual Nogueira Padilha até meia légua com o capitão Chico seu sogro, é pela rua Assis Machado e vila Barcelona atual, com o seu cunhado capitão Francisco de Assis Machado, e pela atual rua Newtom Prado, com Francisco de Paula Oliveira e Abreu. Era a Chácara Amarela. O jornal paulistano Ipiranga de agôsto de 1852, documenta perfeitamente a chegada das máquinas e teares mecânicos, os primeiros da Província. O jornal local O Americano, mais tarde, e o ofício da Câmara ao Govêrno em 1856 confirmam completamente que Manuel Lopes fiou e teceu mecânicamente, o primeiro da Província, embora os cinco teares tivessem parado logo por ignorância ou boicote dos operários escravos. [p. 360]

O locomóvel foi aproveitado para o benefício também na éra do algodão herbáceo .Os teares continuavam, mas rendia mais exportar o algodão .Francisco de Paula e Oliveira e Abreu, desde 1848 plantou amoreiras e trouxe o bicho da sêda de São Paulo, e, como era muitocurioso, construiu por si os aparelhos manuais de fiação, como consta do precioso livro que êle mesmo compôs e do relatório do presidente Nabuco . Pela tradição consta que chegou a tecer uma echarpe .Há pouco foi derrubada sua casa de taipa, já vendida em 1865. Oporão alto era para a criação do bicho . Uma vizinha lembrava-se dosrestos das amoreiras. Outros nos contaram que em sua loja da ruaBrigadeiro Tobias esquina das Flôres, êle que era muito ativo (depois de fechar também a tipografia cobria botões com linha e talvez a sêda de seus sonhos, e levou a alcunha de Chico Botão .Era irmão do cônego José Norberto cuja Arte poética imprimiapessoal e fraternalmente, e primo de Abreu Medeiros .Antônio Rogick nasceu em Budapest em 1821. Embarcou para o Brasil em Hamburgo no navio à vela "Josefina". Chegou a Sorocaba para exercer o ofício de chapeleiro, já casado, em 7 de junhode 1844. (Livro de Estrangeiros, da Prefeitura) .Os cronistas tem dado o ano de 1852 para o início da sua Fábrica de Chapéus, mas é engano . Vimos no cartório Pedro Coelho(e publicamos no Estado) a escritura de sociedade que êle fez comRazzl, a qual data de 1848.José Rogick era seu sobrinho.Segundo um ancião muito digno, a primeira fábrica era na esquina da rua da Margem (Leopoldo Machado) com a "15 de Novembro", à esquerda de quem sobe .Em seus apontamentos dona Ana Nayá refere que aí talvez depois da mudança da fábrica, se reuniam os alemães para tomar a cerveja e comer os seus presuntos, dando à trela, matando saudades,abancando-se a uma mesa comprida .Rogick e Razzl atrairam a Sorocaba muitos chapeleiros alemães.Segundo escreve Antônio Francisco Gaspar (Sorocaba de Outrora) o Simão Razzl teria iniciado a fábrica mesmo em 1841, maso honesto e incansável pesquisador baseou-se numa informação oralde 1950, num informante que não viu a coisa e podia ter-se enganado, uma vez que esta data era fornecida de memória . O informantedisse-lhe que Pedro José Senger e João Knippel eram oficiais dessafábrica. Ora, Eduardo Senger guardava a alavanca que quebrou ahomoplata (trabalhando de pedreiro na ponte) a seu avô Senger, e

[p. 361]

Em 1886 Antônio Razzl, filho de Wenceslau, inaugurou sualoja de chapéus numa casa cuja bandeira de ferro tinha as letrasF . A . M., à rua das Flôres, esquina da rua dr . Braguinha. O ricoAssis Machado, falecido havia pouco, aí fizera belas festas, foi depois a Padaria Alemã e, hoje, arranha-céu. [p. 362]

Em 1886, inaugurou-se o primeiro encanamento de água, comtrês chafarizes: praças da Matriz, do Rosário e Santo Antônio, coma água bombeada (bomba hidráulica) do córrego da atual Vila Carvalho e caixa de água com filtro atrás da Matriz. Louvores mereceuo vereador cel . Manuel Nogueira Padilha e os industriais da Sorocabana Speers e Oetterer. [p. 363]




  


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