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Indígenas questionam tradicional apelido "Bugre" do Guarani. Marcos Guedes, Folha de São Paulo
    26 de setembro de 2020, sábado
    Atualizado em 13/02/2025 06:42:31

  
  


Graciela é Guarani, com muito orgulho, mas não é bugre. Ela é um dos muitos indígenas brasileiros com aversão à palavra que os torcedores do Guarani gritam, também com orgulho, enquanto cantam seu hino: “Avante, avante, meu Bugre”.

Graciela Guarani, 34, conhece a origem do vocábulo. Mesmo que não conhecesse, teria percebido que não se trata exatamente de um elogio ao crescer em Mato Grosso do Sul, habituando-se a ouvir construções como “bugres sujos”, “cabelo de bugrinha suja” e similares.

“A palavra bugre é racista e sempre vai ser, por ser um termo que grande parte da sociedade perpetua para condicionar o ser originário como inferior”, diz a produtora cultural. “É vil, racista, muito cruel. É usado para nos desumanizar, a partir do momento em que nos consideram sem alma, selvagens e pagãos."

O povo indígena guarani se espalha por cinco países da América do Sul —Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai. No total, são mais de 280 mil pessoas, cerca de 85 mil delas no Brasil, segundo o Mapa Guarani Continental, de 2016. A população se concentra principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.

Para essas pessoas, lutar contra o uso do termo "bugre" e contra sua normalização sempre foi difícil, mas uma esperança surgiu nos movimentos antirracistas desencadeados neste ano, principalmente a partir da morte do negro George Floyd. Nos Estados Unidos, onde ele foi asfixiado pelo joelho de um policial branco, veio à superfície uma série de questionamentos.

Um deles era referente ao nome do tradicional time de futebol americano da capital, Washington Redskins, ofensivo aos povos indígenas da América do Norte. “Red skin”, ou “pele vermelha”, já foi o termo usado para designar o escalpo, o couro cabeludo, arrancado do crânio dos indígenas mortos no período em que seu extermínio era política governamental.

Havia recompensa para quem entregasse “red skin”, como comprovam documentos dos séculos 18 e 19.

Pressionado também por patrocinadores, o Washington Redskins, após longa e determinada recusa em lidar com o tema, finalmente topou mudar de nome. Na temporada recém-iniciada, a equipe vem atuando provisoriamente como Washington Football Team, enquanto discute a identidade que assumirá.

No Brasil, não há contestação ao Guarani Futebol Clube, fundado em 1911 como Guarany Foot-Ball Club. O nome da equipe campineira foi escolhido por causa de Carlos Gomes, célebre compositor nascido em Campinas –autor da ópera “O Guarani”, baseada no livro homônimo de José de Alencar.

O que os indígenas questionam é o apelido Bugre.

“Bugre seria o mesmo que chamar alguém de selvagem. É uma palavra usada no sentido pejorativo, para ofender um indígena. Qualquer um que chama um indígena de bugre está o ofendendo da forma mais desumana”, diz Kellen Natalice Vilharva, 25, outra que se irrita com o apelido do campeão brasileiro de 1978.

“Infelizmente, a forma de que o Brasil foi invadido, com as terras indígenas roubadas, tem consequências até hoje. Bugres, preguiçosos, invasores e várias outras palavras se usam comumente, e as pessoas nem sabem o que elas significam, não têm ideia do que há por trás”, acrescenta a bióloga, jovem liderança da etnia guarani kaiowá.

Os torcedores do Guarani, em sua vasta maioria, também não têm ideia. A construção do apelido Bugre foi feita por associação ao nome do time, usado quase como um sinônimo. Não foi como Porco ou Urubu, xingamentos transformados em identidade pelos torcedores de Palmeiras e Flamengo, respectivamente, como mecanismos de defesa.

Não há dúvida, porém, de que a carga semântica da palavra seja historicamente negativa.

“De fato, ‘bugre’ é um termo pejorativo (‘rude’, ‘primário’, ‘incivilizado’, ‘selvagem’), associado aos povos nativos pelo colonizador português. O primeiro registro do termo no português do Brasil é de 1771. Tem origem na palavra francesa ‘bougre’, por sua vez derivada do latim medieval bulgarus (no sentido de ‘búlgaro’, ‘herético’, ‘sodomita’)”, explica Thaís Nicoleti, consultora de língua portuguesa da Folha.

Luís Augusto De Mola Guisard, 59, também fez esse trajeto histórico ao escrever “O bugre: um João-Ninguém”. Na dissertação de mestrado, o sociólogo foi até os bogomilos –tidos como heréticos por negar os rituais da Igreja Católica no século 9– e traçou o caminho da palavra “bugre” até que ela fosse aplicada aos povos nativos brasileiros.

“Comecei a estudar a etimologia da palavra e percebi que vem de um conceito do infiel moral da Idade Média”, diz o pesquisador. “O bugre é aquele que é infiel moral e é também, quando o colonizador chega aqui, para ele, um infiel do mundo do trabalho.”

Guisard fez um longo trabalho de campo na cidade de Cáceres, em Mato Grosso, onde há uma considerável população indígena. Lá, mesmo com toda a transformação que a palavra sofrera desde os bogomilos, percebeu que ela continuava sendo usada com o cunho agressivo de sempre.

“Aqui, o bugre é gente pequena, que é ninguém, um joão-ninguém”, disse um comerciante entrevistado no trabalho. “Bugre é o nome do cara de beiços grossos, feições grosseiras, às vezes pouca inteligência”, afirmou outro entrevistado, identificado como parte de uma família tradicional local.

Há vários outros exemplos, e tudo o que escutou Guisard foi de encontro ao que havia escrito Gilberto Freyre, em “Casa Grande e Senzala”. No livro de 1933, o antropólogo já tinha observado o evidente caráter pejorativo com que a palavra fora empregada no Brasil.

“A denominação de bugres dadas pelos portugueses aos indígenas do Brasil em geral e a uma tribo de São Paulo em particular talvez exprimisse o horror teológico de cristãos mal saídos da Idade Média ao pecado nefando”, escreveu Freyre. “Para o cristão medieval foi o termo bugre que ficou impregnado da mesma ideia pegajosa de pecado imundo.”

Isso não ficou para trás, como mostrou a pesquisa de Guisard. Se o torcedor do Guarani grita “avante, meu Bugre” sem ciência de toda a carga semântica que carrega o hino, há partes do país em que o tom continua deliberadamente jocoso.

Existe, por isso, um incômodo entre os povos indígenas com o apelido do time campineiro. Ainda que a alcunha não tenha sido criada para atacar, ela machuca.

“O clube carrega o peso de ter no seu nome uma representatividade tão magnífica, que também tenho o orgulho de carregar. Acredito muito que o clube tenha a possibilidade de repensar algumas construções pejorativas e construir de fato um orgulho que não seja à custa de lágrimas de muitos. Ainda acredito na inteligência humana brasileira de conhecer sua história e revolucionar muitos dizeres e construções pejorativas”, aposta Graciela Guarani.

“Querendo ou não, por ter esse nome, o clube carrega uma responsabilidade, leva o nome de um dos maiores povos indígenas do Brasil”, diz Kellen Vilharva. “É mais do que necessário o clube se posicionar. De 1976 a 2020 eles têm usado esse termo pejorativo no hino. Estamos em outra época. Com certeza, deveria mudar.”

O Guarani foi procurado pela reportagem para se posicionar sobre o tema e preferiu não enviar uma resposta.

Longe do estádio Brinco de Ouro, “a nossa taba”, como diz o hino composto por Oswaldo Guilherme há 44 anos, indígenas continuam lutando contra o uso de um vocábulo que os ofende.

Recentemente, Graciela se viu obrigada a intervir em um grupo de WhatsApp quando a palavra foi utilizada. “Ela me corta e me machuca como uma faca”, disse a guarani, tentando ser didática: “É como chamar nossos irmãos negros de macacos”.

Já Kellen se revoltou ao ouvir “boa noite, bugrada” de um colega quando tirava sua carteira de habilitação. Ela hesitou, temendo gerar um mal-estar na turma, porém resolveu explicar o significado da palavra e as possíveis consequências legais em casos de racismo. Não se arrependeu.

“Não ficar calado e ensinar as gerações mais novas é a maneira de quebrar essas ideias.”



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ME|NCIONADOS Registros mencionados (3):
01/01/1771 - *Bugre
02/04/1911 - Fundação do Guarani Futebol Clube
01/01/2016 - *O povo indígena guarani se espalha por cinco países da América do Sul —Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai. No total, são mais de 280 mil pessoas, cerca de 85 mil delas no Brasil, segundo o Mapa Guarani Continental, de 2016. A população se concentra principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país
EMERSON

  


Sobre o Brasilbook.com.br

Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.

Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.

meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.

Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.


Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.

Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.

Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.

Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.



"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba


Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.