'Territórios de cidade, territórios de morte, urbanização e atitudes fúnebres na América portuguesa. Renato Cymbalista, FAU-USP - 01/01/2012 Wildcard SSL Certificates
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Territórios de cidade, territórios de morte, urbanização e atitudes fúnebres na América portuguesa. Renato Cymbalista, FAU-USP
    2012
    Atualizado em 13/02/2025 06:42:31

  
  


O primeiro trecho sublinhado – “Trabalharemos quando pudermos para recolher alguns ossos” –revela a imensa importância de trazer os restos dos mortos junto à ocupação permanente, nãodeixando-os no sertão. Tratava-se de matéria por demais sagrada para ser simplesmenteabandonada “aos animais da terra e às aves do céu”. O território da colônia foi desde os primeirosanos objeto de uma profunda hierarquização: havia os locais adequados e os inadequados para amorte, assim como para a vida.O segundo trecho sublinhado – “Agora sim acreditamos que o Senhor há-de estabelecer aqui aIgreja, tendo já lançado nos alicerces duas pedras banhadas em sangue tão glorioso” – revela opeso especial dado a esses mortos. Anchieta faz nesse trecho uma relação direta entre a mortemartirizada dos jesuítas e a irreversibilidade da empreitada catequizadora. É interessantenotarmos novamente o conteúdo arquitetônico dessa fala: os jesuítas mortos equivaleriam àsduas pedras inaugurais e sagradas, constituindo os alicerces da igreja que por sobre elas seconstruiria simbolicamente o edifício da Igreja Católica.A escala de sacralidade que orienta a visão de mundo dos jesuítas fica ainda mais evidente naúltima frasesublinhada informa ainda que o próprio Anchieta, pelos seus pecados ainda nãopurgados, não seria ainda digno de morte semelhante, que o transformaria assim também em“alicerce da Igreja” nas terras novas.Em outro relato de martírio, o Padre Simão de Vasconcellos relata que o padre Leonardo Nunes,após expulsar o herege João Ramalho de uma igreja, ajoelhou-se diante dos mamelucos que oameaçavam e, de mãos postas, esperou que o matassem.39 Nesse episódio, Leonardo Nunesparece ter tido não só a intenção de coroar a sua própria trajetória com o martírio, mas também aintenção de elevar o espaço da igreja na escala sacra, molhando-o com seu próprio sangue demártir.O sangue dos mártires sacralizando o território surge também no depoimento que segue, doPadre Antonio Vieira, sobre a Ilha dos Joanes (Marajó), já um século depois, em 1654:Dista esta ilha da cidade do Pará só duas marés de jornada, e ainda lá nãochegou a luz do evangelho, havendo trinta e nove anos que aqui vivem osportugueses[...] No Pará faleicom um soldado que se achou na ilha destes bárbarospoucos dias depois da morte dos padres, e [...] acrescenta que viu o lugar onde forammortos, e que era um terreiro grande, com um pau fincado no meio, oqual aindaconservava os sinais de sangue.A este pau os atavam um por um em diferentes dias, e logo se ajuntavam aoredor deles com grande festa e algazarra, todos com seus paus de matar nas mãos.Chamam paus de matar a uns paus largos na ponta, e mui fortes e bem lavrados, quelhes servem como de maças na guerra; armados desta maneira, andam saltando ecantando à roda do que há-de-morrer, e, em chegando a hor em que já não podeesperar mais sua fereza, descarregam todos à porfia os paus de matar, e com eleslhes quebram as cabeças. Vão tirados à cabeça todos os primeiros golpes, e não aoutra parte do corpo, porque é costume universal de todas estas gentilidades nàopoderem tomar nem Ter nome senão depois de quebrarem a cabeça d ealgum seuinimigo, e quanto o inimigo é de mais nobre nação e d emais alta dignidade, tanto onome é mais honroso. Não é necessário, para esta cerimônia, que o mesmo quequebra a cabeça haja morto o homem ou a mulher inimiga (que também nas cabeçasda smulheres tomam nome), mas basta que o matasse outro, ou que ele morressenaturalmente. E assim acontece irem caminhos de muitas léguas e entrarem de noite,às escondidas, nas povoações de seus inimigos, e desenterraram-lhe da sepulturauma caveira, e levarem-na mui vitoriosos, e porem-na na praça de sua aldeia, e aí,quebrando-a com a mesma festa e fereza, tomarem nome dela. Desta maneiratomaram nome estes bárbaros nas cabeças dos nossos treze padres, ou, para melhordizer, lhe deram posse daquele nome que, com o sangue que haviam de derramar emtão gloriosa demanda, [se] lhe tinha escrito no livro da vida. Depois de mortos os [Página 8]

[...] Salvo [...] se Deus ordenar que isso se torne a despovoar”. A frase informa que a presençados ossos deve ser fator pesante para que a capela se perpetue.Mas o homem era um estrategista, possuía também um plano caso seu desejo não pudesse serrealizado. Se o território voltasse a se despovoar, os ossos deveriam ser trasladados, ainda quepelos derradeiros que dali se despregassem. Aqui, mais uma informação: sem os vivos, os mortostampouco poderiam permanecer. A saída dos vivos parece significar também a inviabilização dochão sagrado necessário até a ressurreição.As palavras de Domingos Fernandes dificultam-nos sobremaneira a transposição para aqueletempo e espaço da nossa idéia atual de morte como o oposto e a negação da vida. Parecem-memuito mais parceiras: os ossos do morto ajudariam a fixar os vivos, mas na ausência da ocupaçãopermanente dos vivos, os ossos do morto tampouco poderiam permanecer. E mais: a hipótese dodespovoamento se concretizaria se “por meus pecados [...] Deus ordenar”, assim comoacontecera com Sodoma e Gomorra, cuja população pecou a ponto de Deus provocar odesaparecimento das cidades. A negação da vida (e também da morte) neste caso parece ser odespovoamento, a retomada do território pelo sertão selvagem, desorganizado e profano.Outro testamento – o de Pero Leme, de 1592 na Vila de São Vicente – revela que uma cuidadosaleitura do território urbano podia preceder a escolha do local de sepultamento:...digo que, morrendo, me enterrarão na igreja de nosso senhor matriz dessavila de São Vicente e se o Mosteiro de Jesus se consertar me enterrarão lá na cova deminha mulher que deus haja...43O testamento mostra a imensa força do território como elemento mediador das crenças no destinodos mortos no além, sobrepondo-se em importância às representações de afeto familiar: para otestamenteiro, ser sepultado em local digno, em bom estado e frequentado pelos vivossobrepunha-se em importância aos laços familiares, pois a única hipótese de Pero Leme sersepultado junto à sua esposa era no caso de arruinado mosteiro da Companhia de Jesus seconsertasse.

Ainda mais interessantes são alguns documentos que mostram que, para além das escolhas individuais, decisões coletivas e urbanísticas podiam ser feitas a partir da presença dos mortos. Um registro nas Atas da Câmara de São Paulo revela que eles exerciam seus poderes sobre o território urbano:

Aos vinte e cinco anos do mês e junho do dito ano [1598] se ajuntaram em Câmara os oficiais dela para assentarem coisas pertencentes ao bem comum e principalmente sobre o fazer da igreja e onde seria [...] e todos assuntaram e disseram que era bem fazer-se a dita igreja onde está começada pelo bem que pode haver, por já estarem ali defuntos e estar no meio da vila.

Pelo que informa o relato acima, o fato de a igreja já estar começada não era razão suficiente para a continuidade das obras: o argumento de os mortos estarem lá enterrados é utilizado para reforçar a posição em prol da continuidade das obras nesse mesmo local, o que demonstra que em alguma medida os mortos são levados em conta nos assuntos referentes à ordem urbanística.

Um trecho de Frei Vicente do Salvador mostra que essa lógica dos vivos seguirem os mortospodia também afetar decisões a respeito das estratégicas das ordens religiosas na ocupação do território colonial:

Pelo sertão nove léguas do rio de São Vicente está a vila de São Paulo, em aqual há um mosteiro da Companhia de Jesus, outro do Carmo, e nos têm sinaladopara outro de nossa Seráfica Ordem [de São Francisco], que nos pedem queiramosedificar, que nos pedem queiramos edificar há muitos anos com muita instância e [Página 10]



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ME|NCIONADOS Registros mencionados (1):
25/06/1598 - Ata
EMERSON

  


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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.

Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.

meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.

Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.


Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.

Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.

Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.

Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.



"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba


Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.