Varnhagen: O Homem e a Obra; Revista "América Brasileiro", diretor: Elysio de Carvalho
março de 1923, quinta-feira Atualizado em 27/08/2025 06:27:49
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ORIGENS DA FAMÍLIA BRASILEIRAIgnorantes ou desavisados, algunsescriptores brasileiros ainda hoje nosexprobam, como um convido humilhante, a pecha de que o Brasil foi colonisaÜO por criminosos que se retiravam dasprisões da metrópole e se degredavampara aqui como castigo, e affirmam atéque esses relapsos da sociedade normalvinham da America constituir o grossoqas populações, e que muitos desses perdidos e que formavam, nos primitivosnucleos, a famosa nobreza da terra.Antes de tudo, se fossem impurasas nossas origens, ahi estaria um factouigno de ser estudado pelos mestres dodireito penitenciário, que prefere regenerar o delinqüente, fazendo delle umatorça produetiva, a sacrifical-o nas gaJes sem proveito. Infelizmente o subsidio, que dos nossos primeiros tempospoderiam haurir os criminalistas danova escola penal, não são assim tãovastos. Ha, com effeito, numerosos casosde regeneração pelo degredo no Brasil;mas «esses, na maior parte, ou se explicam por outras circumstancias ou nãotem o caracter de generalidade que selhes querem dar. Aliás, não nos impressionaria a arguição como ultrage oumau signo que presidisse ao nosso nasi cimento. Nem sempre é dos horóscoposque saem as legitimas sinas na historia,b clássico o exemplo de Roma, povoadade salteadores, e nem por isso se julgaram os romanos diminuídos no esplendor da sua aristocracia. Um patriciadofeito de bandidos é tão digno nos dias dagloria como se se tivesse formado só dasgrandes figuras de uma raça. Qual é, nahistoria, o povo que tenha começado porum núcleo de santos? Todos principiaram pelo covil da fera ou pela agremiação de scelerados, e scelerados, então,quer dizer — heróes. Mas se não haveria nenhum desar para os brasileiros emterem de encontrar, como todos os povos, nas suas origens calcetas, nem porisso deixa de offender-nos tão flagranteaffronta á realidade dos factos. E´, portanto, menos porque desejamos lavarmáculas imaginárias do que pelo intentode restabelecer a verdade, que vamosexamíinar, summariiamente, embora, ioassumpto da nossa thése.E´ sabido que os primeiros colonisadores, que foram os vários donatáriosa quem a coroa portuguesa confiou esperançosa essa tarefa, para aqui trouxeram condemnados a degredo. Convémlembrar desde já que os chefes das expedições eram todos da melhor nobrezae pessoas muito principaes, antigos embaixadores, viso-reis e capitães-móres.Não houve um senhor de capitania quenão fosse figura de prol na metrópole.Basta refleetir que o rei só fazia taes mercês como galardão a serviços de montaprestados a monarchia: nao seria decerto nas baixas camadas que se haviamde encontrar typos, cuja fidelidade ecujo valor se recommendassem ao soberano, e no meio de uma corte illustre,onde não faltariam pretendentes á honra e á fortuna de concessões tão vultuosas. Os homens a quem se doavam naAmerica verdadeiros reinos não podiamser nem foram senão das primeiras classes da população portuguesa. Os seusprepostos e auxiliares — o pessoal decommando para a milícia da terra, osencarregados da administração, os serventuários da justiça, etc. — eram também pelos capitães-móres escolhidos entre a melhor gente. Se isto é absolutamente inegave), é verdade também quevários desses primeiros directores dopovoamento tiveram entre os colonos quecontrataram muitos degredados. Tal facto, no entanto, é preciso que se explique. Naquella epocha se puniam com apena de degredo muitas "culpas" que halargo tempo deixaram de figurar noscódigos e que, portanto, não deshonrariam a ninguém. 0 maior épico da lin
gua portuguesa foi por futil motivo degredado para a África. Um homem digno, fidalgo ou plebêo, convencido denerectico, de feiticeiro ou de pratica debruxaria, por exemplo, tinha direito aexílio em vez de penas mais graves, queso se applicavam a gente desclassificada.E por isso que se viam aqui, como degredados, aristocratas e gentishomens daespécie de D. Francisco Manoel de Mello, o insigne poeta e admirável prosadorque é orgulho da raça, e de cujos amorescom uma dona brasileira, pertencente auma das mais nobres casas de Pernambuco, nasceu um filho varão, com descendência, facto este que é aqui pela primeira vez divulgado e que opportunamente se documentará. Tal era o numero desses privilegiados que nas pronriascartas regias de concessão e nos fòraesdas capitanias punha o rei grande cuidado em conservar para os mesmos as prerogativas que lhes competiam e que o degredo não derrogava. Quanto aos galésdesterrados para a America, eram quasitodos de indole tão excepcionalmentedócil que o maior numero delles sem esforço se regeneravam e se faziam homens honrados e prestadios.E´ necessário recordar, por outrolado, que nem todos os donatários se resignaram a essa contingência de trazerpara as suas capitanias indivíduos de mánota ou de Ínfima classe. O contrario,justamente, é que se observa: a maioriados capitães só alistara pessoas dignas,capazes e de bom sangue. Martim Affonso de Souza veio acompanhado para SãoVicente quasi só de fidalgos. Todos estes, dentro de pouco tempo, se apressaram a mandar vir os respectivos parentes, que se fixaram para sempre na terra.Ainda hoje se conhecem em S. Paulo,os Góes, os Buenos, os Prados, os Taques,os Almeidas, os Dias e tantas linhagnesque vêm daguelles tempos. Tourinhotrouxe para Porto Seguro só homens nobres e morigerados. O mesmo fez Perode Góes na sua infelizmente frustrada tentativa de povoar a Parahyba do Sul. ComVaz Coutinho saltaram no Espirito Santo quasi exclusivamente indivíduos degrada estirpe. O caso mais raracterisüco, sob este aspecto, é o de Duarte Coelho. O donatário de Pernambuco era nãosó um homem notável pelo sangue, poisdescendia de reis, mas respeitado pelocaracter e pelo talento, e podemos dizerter sido o embaixador de Portugal emFrança e o provecto viso-rei da índiaum verdadeiro instituidor de povos.Preparando-se para vir colonisar a suacapitania, começou por escolher, e comapurado escrúpulo, a melhor gente doreino, reunindo de preferencia famíliasentre a parentela. Em Pernambuco fezquestão sobretudo de manter irreprehensiyel a ordem moral entre os colonos.Tão severo se mostrou neste ponto quenão consentia que entrasse no seu feudoquem não tivesse dado provas de bomcomportamento. E´ assim que teve deexpulsar de Olinda e arredores muitostypos indignos de viver ali. Chegaram osexpulsos, tão grande foi o seu numero,a procurar valhacouto na ilha de Itamaracá, onde constituíram quadrilha, masficaram impedidos de entrar no austerosenhorio. Depois das capitanias, os colonos que entraram no país não eram depeior espécie. Com o primeiro Governador Geral veram muitas pessoas de sangue esclarecido e capitães illustres. Aslevas de fidalgos foram-se fazendo cadavez mais numerosas com os governadores que suecederam a Thomé de Souza.
Durante o dominio espanhol, de 1580 a 1640, augmentou extraordinariamente a immigração portuguesa para o Brasil,composta dos melhores elementos, que procuravam na America um refugio seguro contra a prepotência dos Felippes. E´ de no^ar que da própria Espanha chegaram naquelle tempo famílias gra das, e aqui se estabeleceram em perfeito convívio as duas raças. Estavam em São Vicente tão intimamente ligados lares espanhóes e portugueses, que mostraram velleidades de libertar, tanto de umcomo de outro jugo, a capitania, acclamando em 1641 rei a Amador Bueno.
Em 1625, na famosa expedição de D. Fradique de Toledo, vieram fidalgos ás chusmas, muitos dos quaes, como os Rendons,os Quevedos, os Toledos e outros, ficaram no país e fundaram grandes casas,que ainda hoje são os mais illustres solares da velha aristocracia paulista e bahiana. Por fim, cumpre-nos ainda citar o facto de terem vindo para o Brasil, nos primordios da sua historia, fidalgos florentinos, como os Cavalcantis, os Acciolys, os Adornos e os Lins, e de outras nacionalidades, que se uniram á nobreza da terra e crearam gerações que se fizeram históricas pelo heroísmo, pelo esforço e pela virtude.
Eis ahi como se iniciou o povoamento no Brasil com homens perdidos.Tão profuso foi o elemento aristocrático na nossa colonisação primitiva que unicamente pela sua existência e permanência se poderá explicar o gráo de adeantamento e o estado de cultura de certos núcleos de população do país, taes como Olinda, Bahia e S. Vicente, que já no primeiro século da conquista impressionaram a viajantes estrangeiros pelo luxo, pela opulencia, e, principalmente, pela distineção das maneiras e pela polidez dos costumes, alliadas ao instincto da beíleza. Além disto, certos phenomenos que se manifestam na nossa evolução politica e social, e parecem obscuros ou excepcionaes, não se esclarecem senão pelo esplendor do nosso sangue: o mais importante delles é o sentimento oligarchico da nossa historia politica, tão persistente e vivo, que o regime republicano não o poude ainda destruir. Também é de observar, como uma das peculiaridades da raça, esse orgulho desmedido que sempre nos acompanhou através dos séculos, e de que é violenta expressão aconhecida guerra dos mascates, em 1710.
Não faltam ainda outros exemplos perfeitamente característicos da nobreza do povo brasileiro, bastando assignalar que,no século XVIII, era deveras notável a profusão de nobiliarchias e muito commum a praxe de "apurar-se" o sangue.
Por derradeiro, mostraremos quanto era prezada a fidalguia que aqui se formou, lembrando que cada anno eram enviadas para o Brasil orphãs nobres, educadas com esmero pela corte, afim de que casassem com os principaes da colônia, e tal foi o caso de Isabel Doria, sobrinhado famigerado almirante André Doria, que foi doge de Gênova, e de que procedem os deste appellido na Bahia, e citaremos o que oceorreu com a primeira expedição organisada para acudir e refamante estigma de obra de degradados staurar a cidade do Salvador, chamada a Jornada dos Vassallos, em que toda flor da nobreza ibérica galhardamente elivremente se embarcou para defender a nossa grei.
Assim, pois, emprestar o falso e iniamante estigma de obra de degradadosá formidável, gloriosa e épica emprezaque realisaram no Brasil com sangue,com sacrificio e com honra Martim Affonso de Souza, Duarte Coelho, Thoméde Souza, Mem de Sá e tantos outros estadistas insignes, guerreiros famosos efidalgos de luzimento, é ao mesmo tempo affronta á historia e injuria á raça,que se transplantou para o coptinenteamericano sem perder os predicados deintelligencia e as virtudes moraes que aornavam.Elysio de CARVALHO [p. 9]
i INFLUENCIA D i HESPANHAE DE PORTUGAL NA CIVILISAÇÃÒNão ha na obra progressiva da civilisaçãò um só esforço que não procedade outro; tudo se encadeia proporcionalmente á alma das raças, ás conjecturashistóricas que produzem as grandes intelligencias, ao gênio das individualidades Ha horas febris de creação, ás quaessuccedem as epochas de organisação ede methodo, cujo germen fecundanteprocede das primeiras. A´s vezes pareceque uma palavra sahida dos lábios deum hompm ha de commover o mundo;uma nação levanta-se de improviso parar>ropngal-a c milhares de adeptos se prestam a multiplical-a com fervor.Muito se tem escripto sobre a profunda repercussão que teve na Europa atomada de Constantinopla pelos turcos,sobre o êxodo dos byzantinos para a Itália e sua benéfica influencia na preparação civilisadora da humanidade. Se noslimitássemos aos commentadores destefacto histórico, seriamos tentados a attnbuir a este acontecimento excepcional asorigens da Renascença. Entretanto, esquece-se com demasiada facilidade, anosso vêr, que todo esse generoso movimento das idéas podia ter sido facilmente Suffocado, como o foi o que o 0™* -deu desde os princioios do século XIII,se a base doutrinai não se tivesse .apoiadona comprovação de factos novos e indiscutíveis: se o aspecto geral do planetanão se tivesse modificado paralelamenteao novo esnirito euroneu; se o estudo danatureza não tivesse dado os incontestáveis resultados das erandes descobertasmarítimas. E ao vêr-se frente a frenteroít! novas condições de existência aHumanidade, an-zar da hostilidadp daquelles que a dirigiam, teve oue aceitar octnirifo moderno. F> ei* amii nm fa^toqne talvez pareça oaradoxal: não podemos deixar de reconhecer crae as naçõesíhericas. tão dominadas até hoie >nelodogmatismo ecclesiastico e estenlisadaspela inquisição, foram as que trouxeramá cultura positiva a mais solida dasVi 3 SCSCom effeito assim é, embora o tenhamfeito inconscientemente, pelo menos oshespanhóes, pois é sabido que ´as descobertas portuguezas eTam produetos meretissimos de pacientes e methodicos esforços. Vasco da Gama procurou o caminho marlitimo da índia e o achou;Christovam Colombo, pelo contrario, deseirbarcou em uma terra cuja existêncianem sequer chegou a suspeitar Alémdisso os planos de exploração dos portuguezes eram duplos, e isto foi reconhecido pelo próprio Colombo, que confessou tel-as conhecido antes da sua partida(1) e dirigiam-se a um tempo para Oestee para o Sul, como o demonstrou sobejamente o descobrimento dos Açores ameio caminho das Antilhas, em 1429. SeDom João II de Portugal não attendeu aColombo, fel-o em pleno conhecimento [p. 10]
lope, junfo a um bloco de ferro.Assim devemos chamar-lhe, com effeito,o logar do nascimento na terra paulista —Ipanema, — onde o pae, soldado da Germaniaao serviço de Portugal, e soldado que se bateraimpavidamente sob o pendão azul e branco,cm Vimieiro, contra as hostes napoleonicas,planeou o estabelecimento da nossa industriasiderúrgica em 1810, por incumbência do condede Linhares, e logrou realisal-o em 1815, apóso desastre do fanfarrão Hedberg.
No dilatado plaino que vae da serra de S. Francisco ao Tietê, quasi a bipartil-o, eml>ola-se até á visinhança das nuvens, medindotrês léguas orographicas, dominada na sua altitude por três morros, scindida nos seus flancos por três veeiros de ferro maenetico cferro especular, a montanha Araçoyaba, nome que se traduz vernaculamente: esconderijo do dia. Para a visão indígena, resvala ahi o sol, fazendo a noite; para a nossa visão, desse lendário arcano solar e selvagem levanta-se outra claridade. Ao pé da lonpra e férreamontanha, contornada pelo rio Sorocaba ao norte, a leste e a oeste pelos arroios Ipanema e Sarapuy, como sr a envolvesse o prestígiode três numes aquáticos, nasce o illustre Varnhagen. Certo, esse predicativo não sôa melhor na versão das rhapsodias homericas,ajustado aos heróes de Troya, dos quaes o nosso fez derivar, ethnicamente, o saggitario tupi.
De linhagem guerreira sabemos que eraFrancisco Adoíplio de Varnhagen, nascido emi d « Fevereiro de 1816, baptisado na capella10 A< tl C * d e S- Joã o d e Ipanema emIV cie Março do mesmo anno, como filho dosargento mór do Real Corpo de EngenheirosFrederico Luiz Guilherme de Varnhagen e dasua mulher Dona Maria Flavia de Sá Magalhães. O pae, allemão da cidade de Arolsenpnncipado de Waldeck, a mãe, senhora nativamente portugueza, (o que induzem das circumstancias os biographos, por não teremdisso referencias), davam ao Brasil, desfarteum exemplar daquelle cruzamento ibero-gothico, sobre o qual viu Alexandre Herculanoconjugadas e nacionaüsadas, em séculos idosas_ virtudes ásperas da Germania e as tradições da cultura e policia romanas.
Emprehendidas por Varnhagen pae em fevereiro de 1815, só em outubro de 1817 findaram as obras consideráveis da fabrica de b . João do Ipanema — fornos altos, pilões, açudes, — e so um anno depois, em 1o. de novembro, é que esse precursor da siderotechnia brasileira poude ver condensada no metal, rigidamente, a sua perseverança. Liqüefeito, do grande forno acceso borbotou nesse dia o ferro candente, referveu pelos sulcos abaixo defluiu na sua igniscencia, rubro, atéaos moldes de três cruzes enormes, com que o triumphador, depois de render graças á Divindade, quiz assignalar o seu triumpho noslogares circumvisinhos.
Dellas a mais altatincada no alto do morro contíguo, superpozIhe a gloria do esforço vulcânico, assim christiamsado, ao peso do minério bruto E essacruz de ferro, levantando-se para os céos doBrasil na sua férrea montanha, não é só alembrança de uma industria, mas também osymbolo de uma historia - a industria e ahistoria dos Varnhagen, ambas forjadas namesma rudeza, em blocos e lascas, pelo mesmo vigor de alma e de sangue.
Como dissocial-as uma da outra, se a identidade originaria é tão iniludível, que a empresa técnica do pai, incorporada á obra cíclica do filho, deu assunto para vinte páginas evocantes, num texto dirigido á posteridade, constituindo a penúltima seção da História Geral do Brasil, sob a epígrafe - Minas de ferro. Primeiras fundições em ponto grande?. Historicamente, pois, avulta o píncaro de ferro sobre a montanha de letras, desbastado o primeiro, construída a segunda pela força do homem, e acercando-nos da sua grandeza estamos no elemento ideal de Varnhagen, como na industria siderúrgica do seu progenitor, cujas palavras dizem, assim, a opulência e o encanto de Araçoyba:
"Sobre a cima do principal cabeço há uma lagoa que chamam aqui Dourada, na qual o povo diz que aparecem fantasmas, que guardam os tesouros nela escondidos. O mineral soldo á superfície do morro é tanto e tão rico que creio só dele se poderia, por mais de cem anos, alimentar a maior fábrica do mundo, sem recorrer a trabalho algum mineiro".
A´ pesquiza de Varnhaeen, o historiadornão bastou, entretanto, como bastaria ao metalluríMsta, o copioso minério esparso na faldagramrica da serra, ao alcance de todas asmãos industriosas. Com a sua lâmpada, só,atravessando a noite subterrânea das galerias!o mineiro é bem a expressiva imagem alleponca desse investigador. Desde a gênese dastyncxoes criticas sobre o escripto do séculoXVI impresso com o titulo de "Noticia doBrasil", estréa que lhe valeu, datada de 1839o ingresso na Academia Real de Sciências dèLisboa e no Instituto Histórico e Geographico Brasileiro, até á nota que a Revistadesse Instituto, pouco antes da sua morteoccornda em 1878, lhe publicou acerca decomo não foi na — Coroa vermelha — naenseada de Santa Crus que Cabral primeirodesembarcou e em que fes dizer a primeira missa —, Varnhagen despendeu quatro decennios, ou mais, em uma vida de sessenta edous annos, longa para os ocios alheios, brevepara os seus immensos trabalhos, esquadrinhando fontes, perquirindo textos, resolvendoproblemas históricos. A´ maneira dos velhosdynastas, o pae da nossa Historiographia temrm cognome imperatorio, mas radicado no?mago das eras, que se aprofundam em revelações inexgottaveis, á semelhança das camadas tcüurícas: Varnhagen, o exeavador.
(...) Consumindo as horas na minúcia dessas escavações, a sua inteligência desconheceu a poesia da História, não atingiu o cabeço da montanha, em que a Lagoa Dourada, toda ela de ouro fluido e borbulhante, ao sol meridiano, ou de ouro estagnado e fosco, ao entardecer, no velário crepuscular da lenda, recatava espectros e tesouros. Varnhagen é o homem da investigação oposto ao homem da imaginação, como poderíamos opor um beneditino medieval, entre os painéis sagrados e sombrios do claustro, a um colorista veneziano do Renascimento, ébrio de luz no seu arco-iris. Explorador incansável do poço lendário, em cujas trevas se esconde a Verdade aos que a desejam, ele persegue também um fantasma e procura um tesouro, mais difíceis de achar, no silêncio das épocas mortas, que esse tropel de assombros e esse fulgor de riquezas vans da Lagoa Dourada.
Não o fascina a torrente de ouro, a Castaliade ouro estuante, illusoria, serpeando acasonos montes, descendo acaso das nuvens, sobo galope de uma Chimera intangível. Comoo pae, Varnhagen objectiva ferreamente a suarazão de ser: com elle principia a edade deferro da historia do Brasil. Mas a ausênciado primeiro motiva o declínio de uma realisação, que, ainda hoje, mal vislumbramos nosraros fornos accesos, entre jazidas férreas edepósitos carboniferos; a gloria do segundoirradia cada vez mais, envolvendo o perfil dopróprio ascendente, rematando o culto dosantepassados communs, desParte, com a effigie e o exemplo do seu progenitor (1)
(1) .. . "se nos alargamos deirmsiadoescreve o autor da Historia Geral do Brasil,á pag. 1.173 da 2" ed. Laemmert; — se apenna nao poude conter-se a seguir os impulsos do coração; se dissemos mais do Ipanema e do seu benemérito engenheiro do auedesejavam saber os leitores, desculpa merecequem crê em consciência que cometteriauma grande injustiça e quasi uma impiedade,se tivesse tratado de ser menos extenso nesteassumpto, que diz respeito ao seu progenitore até ao logar do seu nascimento"[p. 75]
vimento ou, antes, daquelle «surgimento doespirito portuguez, sobre o qual disse EdgarQuinet em La France et Ia Sainte Alhance enPortugal: "Neste paiz, que, havia dous séculos, deixara de pensar, uma vida inesperada vibrava em obras inspiradas pelo amore pela tradição da terra" Desde a época dosLusíadas, para Almeida Garrett, não se conhecera em Portugal tanta emoção, tanta esperança, tanta impetuosidade, um sentimentoindígena tão profundo nas almas e nas lettras.Fulge a primeira série do Panorama comHerculano, influenciado na arte pela mentalidade hugoana da Nôtre Dame de Paris, namoral pela vehemencia catholica das Parolesa um croyant, de Lammenais; culmina a terceira serie, já em 1853, na lucilante novellahistórica de Rebello da Silva. O gênero emque Walter Scott foi poder soberano e deumagestaticamente leis, com a revivescencialitteraria de costumes e caracteres, apaixonavaos moços. Entendia o próprio Varnhagen que"a forma do romance era o melhor meio deadaptar ao gosto de todos a historia do paiz",e escreveu com afinco, divulgou no Panorama, em 1840, a sua novella "Chronica dodescobrimento do Brasil. Venturosamente,para as nossas lettras e para o seu renome, alitteratura apenas releve de passagem o historiador.
Além dessa primeira e vetusta novella, sahiram da mesma lavra, com intermittencias longas, o Amador Bueno, de 1847, drama epico-americano em 4 actos e 3 mutações; Sumé, lenda mytho-religiosa americana("Recolhida em outras eras, por Um indio Moranduçara; agora traduzida e dada á luz com algumas notas por Um Paulista de Sorocaba) ; e o Caramurú, romance historicobrasileiro, escripto em verso. Das tentativas romanescas, dramáticas e poéticas de Varnhagen os únicos elementos apreciáveis teriam sido a correcção grammatical e a verosimilhança histórica.
Certo, a Vida não lhe tinhacommunicado essa mysteriosa força ideoplastica, revelada na creação da beíleza. Grave,secco e probo, era um decifrador de textos,não um lapidario de phrases. Pedro Lessa,juiz e mestre, sentenceou luminosamenteacerca do seu drama : Não é uma obra dearte ; é uma obra de bom senso". E acerca doseu poemeto: "Quanto ao Caramurú, em versos, não é possivel sequer attenuar a imperdoável falta, dizendo que foi um peccadilhoda mocidàde. Não ; trata-se de um crime horrendo, perpetrado aos quarenta e três annosde idade, e para o qual todas as penas divinasc humanas seriam levíssimas" Árchivemos asentença de Pedro Lessa, as palavras de ouroponderadas na balança judiciaria. Nada lucraria Varnhagen, se intentássemos a revisãodo seu processo litterario, perante o SupremoTribunal das Musas.No ambiente do Panorama, comtudo, embebeu-se a curiosidade, viçou a paixão histórica de Varnhagen. Freqüentando as aulas demathematicas, em Lisboa, o official da campanha restauradora concebia já um plano dehistoria da civilisaçãò brasileira, mais tarde&vigorado pela fundação, no Rio, do InstitutoHistórico e Geographico. O pretérito começava a ser, para elle, um definitivo modo verbal. E aos vinte e quatro annos, saudoso dopaiz de origem, decidiu Varnhagen rever oBrasil.
Aqui estava em 1840, aqui obteve em 1841o reconhecimento imperial da qualidade decidadão brasileiro (decreto de 24 de julho),e assim o direito da terra-mãe ás plantas eaos homens, que lhe brotem acaso de extranhasemente, o indeclinável jus soli da pátria, formada por alluvião emigratoria, foi esplendidamente reivindicado pelo seu filho comenergia teuto-lusa. Magnifico exemplo aosbrasileiros natos de qualquer progenie! Filhode soldado allemão, e elle mesmo soldado portuguez, Francisco Adolpho de Varnhagenprefere o logar do nascimento ás demais considerações de estirpe, de interesse, de opportunidade, renuncia ao porte de uma espada,sob uma bandeira veneravel, transpõe ooceano para disputar a honra de ser brasileiro. E por esse titulo, dedicando á tradiçãodo paiz, onde nascera, o labor de toda a sua [p. 76]
sua condueta depois da guerra e mesmo noseu testamento, havia muito do heroe cartnaginez, inventariando á luz de um archore riquezas amontoadas; que em Tiradentes, immaculado nas dobras da alva e nos hyicesdo supplicio, todo elle devoção, humildnde,christianismo da espécie consagrada pelosFios Sanctorum, Varnhagen reconheceu a nobreza da tentativa, a serenidade e a gloria domartyrio; que, embora sustentasse, como AonMartius, a degenerencia dos indígenas,e lhes não comprehendesse a incorporação lusobrasileira senão pela força, ou pelo cruzamento, quando mulheres fossem, admtttiu possibilidades de cultura e progresso no selvagem,oppoz theoricamente um regimen de trabalhoobrigatório, mas educativo e humano, secularisado, ao monopólio das reducções jesuiticas,verberou a philantropia cabocla, surda aos lamentos da raça negra; por ultimo, que afrieza e a censura do pae da nossa historiasohre os levantes regionaes só exprimiamnelle o temor invencível do esphicelamento, ozelo da unidade pátria.Dentre as suas opiniões históricas, avu!taa aue foi externada sobre o descobrimen-odo Brasil — para elle casual, ou ;«.ntes, providencial. Indeterminadas correntes pelagicasteriam propellido Cabral at- \ enseada deVera Cruz, no desvio da costa africana, recommendado por Vasco da Gamp. Com queemoção, porém, não teria Varnhagen buscadoa intencionalidade provável desse rumo, soba luz de novos documentos, novos ro*eu-os.novos dados, só agora tangíveis, entremostrando na viagem de Cabral uma dupla incumbência: alargar o commercio das índias, reconhecer terras situadas a oeste de Caho Verde! Com que secreto orgulho não rectificanaelle o seu juizo, sentindo o impossível dess.ícorrente aérea ou maritima constante, jamaisverificada pelos technicos entre \\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\resumos\milba\milba.txts denavegações ulteriotes!
Nada lhe seria tao grato como testemunhar na sciencia atlânticados portuguezes o conhecimenn pre colombino de terras austraes, velado por uma politica de sigillo, que se impunha ao minúsculo reino entre os seus antagonista.s e que tanta cousa nos explica, desde a concessão de i´has occidentaes por descobrir, ´.á no séculoXV, até á porfia do Tratado de Tordesilhas, e á reserva com que o principe perfeito acolheu Christovão Colombo, desde o mappa de Becaria ao planispherio de Cantino, desde aindicação geographica de mestre Johannes aD. Manoel, o Venturoso, até á carta deste,escripta em 1505 ao rei de Hespanha, sobrea descoberta de uma terra que novamenteviera á noticia da Europa. Certo, nenhumadas suas descobertas, inclusive a do túmulode Pedro Alvares Cabral na capella do convento da Graça de Santarém perturbaria tãofundamente Varnhagen quanto a leitura doEsmeraldo de Situ Orbis. em que Duarte Coelho Pereira, capitão e cosmographo louvadopor Damião de Góes, declara ter vindo aosul deste hemispherio, antes de Cabral, em1498, como veiu depois com elle, em 1500.E havia feito essa viagem no terceiro annodo reinado manuelino, por determinação d´ElRei, que lhe mandara descobrir a quartaparte da terra, a parte occidental, passandoalém a grandeza do mar oceano, onde èachada c navegada uma tão grande terrafirme — o Brasil!
Nesse capitulo das opiniões varnhagenianas sobreleva ainda o anti-indianismo, queo próprio Varnhagen exaggerou, bravateando,em ferozes polemicas sobre o indio.Dilatada pelo ignoto americano, a ambição do homem europeu desencadeia o dramada conquista, analogamente cruel, por todaa parte. Sobre a minaria imperial dos Aztecas e dos Incas, o caçador hespanhol, discípulo de Pizarro ou de Cortez, ensina o seucão a devorar o homem bravio na selva. Exterminando o iroquez a ferro e fogo, methodicamente, o anglo-saxonio arvora uma legenda sinistra: "... there is no good Indian,but a dcad Indian" Não ha indio bom senãodepois de morto. Com o portuguez colonisador temos dous processos antagônicos: oda redempção pela catechese, o da sujeiçãopela força. [p. 80]
pelo idioma e pelo christianismo dos lusos,mas ainda se cruzam três raças antagônicas,ainda se chocam três almas differentes, amonarchia parece a Varnhagen o desejadovonto de convergência, ou melhor, o necessário factor de consolidação. Elle quer, triplicemente, a unidade moral pela fé christã,a unidade intellectual pela cultura mediterrânea, a unidade politica, em summa, pelo Estado regio, forte nas suas armas, justo nassuas leis. Dahi a idéa monarchica da Pátriaem Varnhagen, a sua generosa formula depatriotismo, que ultrapassa a meta da solidariedade e é quasi uma sorte de altruismo,embora nacionalisado e circumscripto — "nãotanto, conforme as suas palavras, o apego aum pedaço de terra ou bairrismo... como umsentimento elevado que nos impelle a sacrificar o bem estar e até a existência peloscompatriotas ou pela gloria da pátria",Religião, cultura e pátria, logares communs e eternos da humanidade, são as idéasforças de Varnhagen. Com essas idéas fundamentaes e outras derivadas — a de providencialismo, a de progresso, a de expansãoe unidade — o pensador elucida ou tenta elucidar as metamorphoses do typo nacional, que,transplantado para o habitat sul-americano,como vergontea da Renascença éuropéa, eenxertado na pre-historia selvagem, deu emtrês séculos ardentemente vividos, rudementepelejados, o typo brasileiro.Por uma sorte de justiça immanente eharmonia pre-estabelecida, através das maiores vicissitudes e variantes, elle consideraProvidencial na ordem terrestre a nossa evolução, entre a descoberta e a independência.Tormentos de indios e negros, episódios queensangüentam o breve feudalismo das capitanias, ameaças littoraneas da França Antaretica e da França Equinoxial, o dominiohespanhol e a invasão hollandeza, o arremessodos bandeirantes implacáveis sobre as reducções innocentes, pugnas de colonos e jesuitas, "contros de nativos e emboabas na visinhança das minas de ouro e diamante, e>mallogro das «acções nativistas, o sacrificiode Tiradentes em meio dos poetas algemados,c martyrio de Theotonio Jorge e dos seuscompanheiros, tudo isso lhe faz entrever umdesígnio mysterioso e celeste. Com effeito,sob a injustiça, a dor, o perigo, o despotismo,o sacrilégio, a ganância, a própria morte, soba violência ou a tristeza das suas exterioridades, tudo isso, desencadeado por influxodivino, compõe necessariamente uma energia,que funde as raças oppostas, subjuga o elemento bárbaro, tempera os ânimos e as espadas coloniaes, rechassa o intruso na muralha dos fortes, no cabeço dos montes, noconvés das naus, robustece o individualismoeconômico, amplia o território, povoa os sertões, impede a fragmentação da collossal unidade geographica e politica.Nesse theatro desordenado, subjectivandoo mesmo processo e obedecendo á mesmaforça, opera a dynamica das personalidadesrepresentativas: homens que legislam e batalham, capitães-fundadores, a exemplo de Martin Affonso no remoto núcleo vicentino eDuarte Coelho na heráldica torre de Olinda;architectos da sociedade brasileira como ogovernador Thomé de Souza, modelo varonil da escola de D. João de Castro, portadorde materiaes da vestuta capital bahiana, entreos indios acobreados e nus, que o ajudavama construil-a, ou o governador Mem de Sá,juiz, estadista, guerreiro, multiplicado nasproezas de Fernão, o filho, de Estacio c Salvador, os sobrinhos, transportar com a sua victoria uma cidade, o Rio, para as culminanciastropicaes; edificadores do santuário brasileiro,emissários de Jesus como os apóstolos Manoelda Nobrega e José de Anchieta, Leonardo Nunes e Aspilcueta Navarro.
O cruzamento das raças precede e acompanha a catechese. Eros antecipa-se a Orpheu nos amores polygamicos e selváticos de Caramurú, ao norte, e João Ramalho, ao Sul, proliferando em curibocas ou mamelucos parnaldeias e villas. Amplexo por amplexo, na mesma fecurididade em que transborda o pollen das grandes nupeias vegetaes, dilata-se a nova familia do homem europeu, que havia transposto, sob a cruz de Malta, pélagos entenebrecidos, povoados de monstros e lendaspelo terror das gerações medievas. Differencia-se o velho homem — atlante, porque o Atlântico é a summa da vida lusitana, onda por onda, feito por feito, como da vida hellenica foi o Mediterrâneo. Com o luso-brasileiro passa nas florestas invadidas, abaladaspor migrações e allianças do primeiro século, num tropel de archeiros e centauros, o conquistador do Mar Tenebroso, o fundador do Império das índias, o actor da epopéa camoneana, toda a acção bellicosa, náutica e mercantil dos almirantes e vice-reis, dos capitãesc marujos, dos soldados e lavradores, dos artífices e aventureiros, em cuja vontade febril de poder e crear lampejava a alma da Renascença com as suas máculas e os seus prodígios, a um tempo idealista e mercenária, crédula e perversa, contricta e sensual, flammejante de neo-christianismo e neo-paganismo, como soube descrevel-a Burckardt, em capítulos que abreviam mundos, como soube traduzil-a Gobineau, em diálogos que accendem relâmpagos na historia.
Geralmente, os historiadores da Civilisaçãò datam de 1580 o oceaso portuguez, assignalado pelo dominio hespanhol. Teria sidoessa a verdade para a Ásia e a Europa, não para o Brasil. Colônia de Hespanha, mas intacto resguardando o espirito colonial dos lusos até 1640, ou combatendo pela sua predominância, como que o Brasil enfeixa os últimos raios solares da energia dissipada ouamortecida em outras paragens. E´ mesmo nocurso dos seis decennios hespanhóes e philippinos que a energia colonisadora faz aconquista da Parahyba e do Rio Grande doNorte, funda o porto de Fortaleza e o redueto de Camocim, aniquila a França Equinoxial, no Maranhão, com os bravos Jeronymo de Albuquerque e Alexandre de Moura,implanta o governo do Pará, inflecte com aesquadrilha de Pedro Teixeira para o labyrmtno amazônico, chegando os exploradores,em canoas, até Payamino, e desse logar, porterra, até á cidade castelhana de Quito. E´ainda naquelle periodo que os bandeirantesiniciam a guerra contra as reducções hespanholas de Guayrá, de Tape, do paiz dos Itatines, ampliam a nossa fronteira meridionalaté aos affluentes orientaes do Paraná e doUruguay, como também alargam o nosso oestebravio, por Matto Grosso e Goyaz, immensidades virgens e fulvas no seu deslumbramento.
E´ logo depois daquella phase, entre 1642 e 1649, que resurge contra a Hollanda o heroísmo pernambucano, abandonado jápela monarchia hespanhola, quasi trahido pela restauração portugueza, convertendo João Fernandes Vieira á causa da metrópole, culminando em synthese formidável das três raças com as figuras nativas dos brancos Vidal de Negreiros e Luiz Barbalho, do preto Henrique Dias, do indio Felippe Camarão.
E eis que o homem brasileiro sobe da expansão á riqueza, da heroicidade á intelligencia na obra de Varnhagen. Ahi vem a torrente de ouro das minas, despovoando Portugal e recobrindo os socavões a montanhas esphaceladas pela cubiça dos garimpeiros; ahi vem para a luz de outros cyclos a eloqüência do Padre Antônio Vieira, gênio oratório emplumado no Brasil; a argúcia politica do_ nosso primeiro estadista, Alexandre de Gusmão; o sublime desejo do vôo em Bartholomeu de Gusmão, torturado por enigmas, que a mecânica de um brasileiro contemporâneo resolve, ligando o sonho da Passarola ao surto da Demoiselle; as musas bahianas do século XVII; os menestreis, publicistas e academias da éra pombalina; os sonetos floridos e as pastoraes ingênuas da escola mineira; a alvorada intellectual do Brasilreino; emfim, a geração emancipadora, commandada por um principe-guerreiro, illuminada por um sabio-poeta.
Litteralmente, a conclusão politica do historiador é a seguinte: "... meditando bem sobre os factos relatados, não podemos deixarde acreditar que, sem a presença do herdeiroda coroa a independência não houvera ainda [p. 81]
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Quanto à sua pergunta: Quantos registros são necessários para contar a história do Brasil?
Depende de como você define "contar a história". Existem diferentes níveis de profundidade e objetivos possíveis:
1. Visão Didática (Essencial) Quantidade estimada: 500 a 2.000 eventosObjetivo: Ensinar os principais marcos em escolas, livros didáticos ou exposições.Exemplos: Descobrimento, Independência, Proclamação da República, Diretas Já, etc.
2. Visão Analítica (Acadêmica/Universitária) Quantidade estimada: 5.000 a 10.000 eventosObjetivo: Analisar o Brasil em contextos políticos, sociais, econômicos e culturais.Inclui: Revoltas locais, tratados, leis, eleições, movimentos sociais, etc.
3. Visão Documental (Completa e Aberta) Quantidade estimada: 30.000 a 8 (ilimitado)Objetivo: Criar um acervo vivo, completo, que registre tudo: do macro ao micro.Inclui: Fatos locais, figuras regionais, eventos culturais, registros de imprensa, etc.Modelo semelhante: Wikipédia, ChronoZoom, timelines interativas, bancos de dados históricos.
Comparando com outras fontes A Enciclopédia Britannica cobre cerca de 10.000 a 15.000 eventos mundiais.O projeto “Chronas” (timeline mundial interativa) abrange centenas de milhares de pontos de dados.
Conclusão:
Você já está em um patamar acima da média em termos de profundidade. Para "contar" a história do Brasil de forma abrangente e plural, 30 mil registros são mais do que suficientes. Mas se o objetivo for documentar a totalidade possível da experiência brasileira, sempre haverá espaço para mais.
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