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Fábula de Cláudio Manuel da Costa: mineração e poesia em situação colonial, 2019. Sérgio Alcides. Universidade Federal de Minas Gerais
    2019
    Atualizado em 25/02/2025 04:46:39

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Prelúdio

Antes de mais nada, é necessário admitir o fato de que Cláudio Manuel é primeiramente o nome de uma rua, não de um poeta. Há mais moradores nesse endereço, em Belo Horizonte, do que leitores de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789).

O homenageado se converte em logradouro, debaixo de nossos pés, sob a rodagem dos nossos pneus. Sua existência no tráfego não parece ameaçada: está no mapa, literalmente. O waze nos diz onde fica. Sua realidade literária já é discutível, quase fantástica.

Gerações e mais gerações de pessoas regularmente instruídas desconhecem suas poesias, sem nenhum constrangimento. Quando muito, lembram-se de que o autor esteve envolvido na Inconfidência Mineira. Caso entrem numa livraria, se houver alguma em sua cidade, ou se clicarem no link adequado, dificilmente acharão livros dele à venda, em edições confiáveis.

A via é pública; a obra, nem tanto. Se não for atravessada, uma rua continua. Mas Cláudio Manuel, se não for lido, existe ainda? Tampouco há traduções, que o salvem da ignorância brasileira. Sua presença quase secreta depende de exemplares subsistentes em bibliotecas públicas, sebos e coleções particulares, além de virtualíssimos arquivos em pdf, que se volatilizam, disponíveis, na internet.

Só por isso ele não pode ser considerado tão perdido quanto uma espécie extinta ou um museu incendiado. Ou, se não, quanto um vilarejo soterrado em lama tóxica. Haveria algum livro de Cláudio Manuel em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, sua “pátria”, que desapareceu depois da ruptura de uma barragem de rejeitos da mineração, na tarde de 5 de novembro de 2015? Diz-se que foi o maior desastre ambiental da história do Brasil (Serra, 2018). Quase vinte pessoas morreram na hora, e centenas ficaram desabrigadas. A lama tóxica não demorou a alcançar o rio Doce, de extensa bacia hidrográfica, através da qual chegou a atingir o litoral do Espírito Santo, a mais de 500quilômetros de distância.

Por que essa desgraça aconteceu em Mariana e não em Londres, ondenasceu e é lido outro grande poeta do século XVIII, William Blake? Ou emWeimar (cidadezinha do mesmo porte), onde não existe mais a corte dogrão-duque, mas ainda leem Goethe? Ou em Lisboa, onde Bocage viveue é lido? Ou em Paris, onde guilhotinaram e leem André Chénier? Haverárelação entre uma coisa e outra? Talvez; mas é melhor acabar logo coma especulação, antes que alguma autoridade resolva imprimir e distribuir livros de poesia nas áreas ameaçadas por barragens inseguras em todo o Brasil, a fim de prevenir desabamentos. Seriam as maiores tiragens do gênero já feitas no país, chegando às centenas de milhares de exemplares...

As letras e a lama são velhas parceiras em países ex-coloniais ou quase, como o Brasil. É mesmo um tipo de joint venture, como a que administra a Samarco Mineração, responsável pelo desastre de Mariana, reunindo as multinacionais Vale SA (ex-Vale do Rio Doce, privatizada pelo Brasil em 1997) e BHP Billiton.

Quanto a Cláudio Manuel, pode-se dizer – sem medo de anacronismos – que a catástrofe da mineração é o próprio contexto de sua obra, bem como de sua vida. A barragem que estourou em Mariana estava situada no Fundão, área que já era explorada por mineradores no tempo dele, pouco acima do arraial de Bento Rodrigues.

Ficava junto do Gualaxo do Norte, afluente da margem esquerda do rio do Carmo, que corta a cidade de Mariana e é o “pátrio ribeirão” celebrado por Cláudio Manuel em seus versos. Coincidentemente, à margem direita, corre o Gualaxo do Sul, que passa atrás da Serra do Itacolomi e banhava em território marianense outro sítio do Fundão, onde o poeta nasceu em 1729.

2 Motivo

Cláudio Manuel talvez nem sonhasse virar nome de rua (muito menos no velho arraial de Curral del Rei), mas contava que alguns poemas lhe garantissem o ingresso na posteridade. Entre estes, destaca-se a “Fábula do ribeirão do Carmo”, publicada primeiro no volume de suas Obras, impresso longe, em Coimbra, em 1768 (Costa, 1768, p. 80-88; Proença Filho, 1996, p. 120-127).

Já pelo título, os leitores da época não teriam dificuldades de adivinhar que o assunto é uma metamorfose. Mas, em caso de dúvida, podiam consultar o dicionário do Pe. Bluteau, vol. 4: a “fábula”, na acepção usada, é “uma narração inventada e composta de sucessos que nem são verdadeiros nem verissímiles, mas com curiosa novidade admiráveis, como a transformação de Dafne em loureiro, de Narciso em flor etc.” (Bluteau, 1713, p. 4-5). Os mais lidos haveriam de conhecer um punhado de poemas desse gênero frequentemente relacionado ao exemplo antigo das Metamorfoses, de Ovídio, como a “Favola di Orfeo”, de Angelo Poliziano, ou a “Fábula de Polifemo y Galatea”, de Góngora. [Página 3 do pdf]

3 Ação

O desterro era a própria origem mitológica de Minas Gerais, segundo a “Fábula do ribeirão do Carmo”. Nesta “inculta região” vivia degredado um dos “filhos da Terra” que se rebelaram contra os deuses do Olimpo. Era irmão de Alcioneu, Encélado e Políboto, entre outros portentos da onomástica, que foram derrotados na chamada gigantomaquia – a “guerra dos gigantes”.

Essas criaturas robustas e agressivas receberam a marca da violência na própria concepção: nasceram do sangue que caiu sobre Gaia (a Terra) quando Urano (o Céu) foi castrado e deposto por seu fi lho Kronos (Saturno, para os romanos). Gaia os teria incitado contra Zeus (Júpiter ou Jove), que eles tiveram a pretensão de subjugar, e foram por isso punidos com severidade, expulsos para diversas extremidades do mundo.

Das mais remotas foi a área da futura Capitania das Minas, que coube a Itamonte, “parto da terra transformado em monte”. O nome híbrido e penhascoso, conjugando um radical tupi e outro europeu, denota o enraizamento do monstro. Os leitores mineiros não teriam dificuldade de associá-lo à paisagem do pico do Itacolomi, que emoldura Vila Rica e deita uma ampla vertente atrás da cidade de Mariana.

O poema de Cláudio Manuel é narrado em primeira pessoa pelo filho de uma penha aí desposada pelo gigante desterrado (ver Nepomuceno, 2002, p. 143-163). O protagonista, portanto, é – como o autor e a própria “Fábula” – natural daquela “parte extrema e rara”. Ele conta sua estória numa ode que fl ui em 39 sextilhas, da espécie lírica que alterna e rima entre si versos longos e breves, decassílabos e hexassílabos, arrematada com um dístico rimado.

A ordem regular e suave da forma contrasta com a aspereza do assunto que aborda e se dispõe a submeter, o que só por si já desperta uma alegoria do choque entre as aspirações civis e as resistências da naturezafísica ou da “natureza” social e econômica locais.O fi lho de Itamonte e Minas diz ter nascido em noite sem lua, comoagouro de seus males eternos, cuja origem relata. Ele teve dias felizes, atéconhecer a “mudança da fortuna” – a peripécia, que começa na sexta estrofe. Uma “bela Ninfa esquiva”, Eulina, foi a razão da desventura. Seu paia consagrara ao culto de Apolo (ou Febo), e fora por isso recompensadocom a “cópia da riqueza fl orescente”. Ela tinha então “três lustros” de idade(ou seja: 15 anos) – todos “de ouro”, para rimar com a cabeleira do “deuslouro”, semelhante à dela: [Página 6 do pdf]



\\windows-pd-0001.fs.locaweb.com.br\WNFS-0002\brasilbook3\Dados\cristiano\registros\27797icones.txt



30 de Abril de 2019, domingo

Temporalidades - Revista de História 04.2019*

ME|NCIONADOS Registros mencionados (2):
05/06/1729 - Nascimento
01/01/1768 - *“Fábula do ribeirão do Carmo”, publicada primeiro no volume de suas Obras, impresso longe, em Coimbra, em 1768
EMERSON

  


Sobre o Brasilbook.com.br

Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.

Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.

meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.

Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.


Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.

Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.

Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.

Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.



"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba


Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.