Machado de Assis (1839-1908) e a Independência: “não houve grito, nem Ipiranga”
15 de setembro de 1876, sexta-feira Atualizado em 25/10/2025 19:15:32
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Em 1876, Machado de Assis comentava, em uma de suas crônicas, as festas do 7 de setembro. O "grito" fazia 54 anos, e Machado diz que a festa teria remoçado. E aproveita a deixa para soltar o aforismo: "também os aniversários envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem".
No caso do aniversário do Sete, embora já fosse um "cinquentão", ele afirmava que, naquele momento, estaria "muito criança". No mister de cronista, assim como fazia cotidianamente, Machado de Assis se referia a algo que tinha sido publicado em jornais nos dias anteriores.
Neste dia, ele falava de um texto de autoria de Joaquim Antônio Pinto Junior, veiculado na Gazeta de Notícias, em 10 de setembro. O articulista mencionado teria criticado a narrativa que se fez do grito, e Machado repetia suas palavras: "segundo o ilustrado paulista não houve nem grito nem Ipiranga".De acordo com Pinto Jr., descrito por Machado, "houve algumas palavras, entre elas a Independência ou Morte, - as quais todas foram proferidas em lugar diferente das margens do Ipiranga".
Com ironia, Machado passa a questionar a história romana, e se existiram ou não os famosos personagens. Para depois:
"Mas isso é história antiga. O caso do Ipiranga data de ontem. Durante cinquenta e quatro anos temos vindo a repetir uma coisa que o dito meu amigo declara não ter existido. Houve resolução do Príncipe D. Pedro, independência e o mais; mas não foi positivamente um grito, nem ele se deu nas margens do célebre ribeiro. Lá se vão as páginas dos historiadores; e isso é o menos."
Ao final, cunha um célebre pensamento: "A lenda é melhor do que a história autêntica". E segue:
"A lenda resumia todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma coisa vaga e anônima. Tenha paciência o meu ilustrado amigo. Eu prefiro o grito do Ipiranga; é mais sumário, mais bonito e mais genérico."
Atualizando o imortal, diríamos que a verdade não pode estragar uma boa história.
MissivaA carta de Joaquim Antônio Pinto Junior ao jornal Gazeta de Notícias, tema da crônica do Bruxo, foi publicada em 10 de setembro de 1876. Leia o trecho que mereceu atenção machadiana:"A Independência do Brasil não se fez no Ypiranga como geralmente se diz, nem foi somente a illustrada abeça do estadista José Bonifácio, que elaborou esse grande pensamento.O sangue dos mártires de 1817 em Pernambuco, a execução de Tiradentes e de tantas outras vítimas sacrificadas pela grande ideia, não seriam combustíveis accumulados para promoverem no dia 7 de setembro a explosão pela centelha expedida da metrópole, e por ventura motivada pela carta de José Bonifácio?!As revoluções são o resultado da acumulação de circunstâncias, e os grandes homens, os que se colocam à testa, são levados na frente pela torrente revolucionárias, na impetuosidade, no movimento. Longe de mim querer roubar ao conselheiro José Bonifácio a parte direta que teve na nossa Independência, muito mais quando esta intervenção me foi muitas vezes relatada por seus respeitáveis irmãos e meus particulares amigos o velho Antonio Carlos e o venerando Martim Francisco! A história porém não tem paixões; encarando mais os princípios do que os homens, faz destes menção somente quando representam ideias, quando simbolizam princípios, acontecimentos de vulto e importância social.José Bonifácio é um nome essencialmente ligado à história do Brasil, como pelo saber à história da humanidade, mas em relação à nossa independência, é mister não concentrar somente nelle um triunfo para o qual trabalharam setivamente tantas inteligências robustas, que a história fria, calma e imparcial um dia há de registrar!
Em relação ao local em que foi proclamada a Independência, direi ao meu amigo, que o humilde e cristalino ribeiro denominado Ypiranga emprestou seu nome à nossa história pátria, por que assim o quiseram os primeiros escritores que trataram do fato.
A Independência foi proclamada, ou antes - o brado Independência ou morte - foi dado no alto da montanha ou colina, a mais talvez de mil braças do ribeiro Ypiranga, no lugar pertencente aos denominados campos de Piratininga. (...)Nem eu, nem o meu estimável amigo escrevemos agora a história desse memorando acontecimento, mas bom é que fique liquidado desde já que, emquanto é tempo, este ponto importante, para que mais tarde a tradição não seja distraída da esteira da verdade."CrônicaLeia a íntegra da crônica de Machado de Assis:[15 setembro]ESTE ANO parece que remoçou o aniversário da Independência. Também os aniversários envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem. O dia 7 por ora está muito criança.Houve realmente mais entusiasmo este ano. Uma sociedade nova veio festejara data memorável; e da emulação que houver entre as duas só teremos que lucrar todos nós.Nós temos fibra patriótica; mas um estimulante de longe em longe não faz mal a ninguém. Há anos em que as províncias nos levam vantagem nesse particular; e eu creio que isso vem de haver por lá mais pureza de costumes ou não sei que outro motivo. Algum há de haver. Folgo de dizer que este ano não foi assim. As iluminações foram brilhantes, e quanto povo nas ruas, suponho que todos os dez ou doze milhões que nos dá a Repartição de Estatística estavam concentrados nos largos de S. Francisco e da Constituição e ruas adjacentes. Não morreu, nem pode morrer a lembrança do grito do Ipiranga.IIGrito do Ipiranga? Isso era bom antes de um nobre amigo, que veio reclamar pela Gazeta de Notícias contra essa lenda de meio século.Segundo o ilustrado paulista não houve nem grito nem Ipiranga.Houve algumas palavras, entre elas a Independência ou Morte, -as quais todas foram proferidas em lugar diferente das margens do Ipiranga.Pondera o meu amigo que não convém, a tão curta distância, desnaturar a verdade dos fatos.Ninguém ignora a que estado reduziram a História Romana alguns autores alemães, cuja pena, semelhante a uma picareta, desbastou os inventos de dezoito séculos, não nos deixando mais que uma certa porção de sucessos exatos.Vá feito! O tempo decorrido era longo e a tradição estava arraigada como uma idéia fixa.Demais, que Numa Pompílio houvesse ou não existido é coisa que não altera sensivelmente a moderna civilização.Certamente é belo que Lucrécia haja dado um exemplo de castidade às senhoras de todos os tempos; mas se os escavadores modernos me provarem que Lucrécia é uma ficção e Tarquínio uma hipótese, nem por isso deixa de haver castidade...e pretendentes.Mas isso é história antiga.O caso do Ipiranga data de ontem. Durante cinqüenta e quatro anos temos vindo a repetir uma coisa que o dito meu amigo declara não ter existido.Houve resolução do Príncipe D. Pedro, independência e o mais; mas não foi positivamente um grito, nem ele se deu nas margens do célebre ribeiro.Lá se vão as páginas dos historiadores; e isso é o menos.Emendam-se as futuras edições. Mas os versos? Os versos emendam-se com muito menos facilidade.Minha opinião é que a lenda é melhor do que a história autêntica. A lenda resumia todo o fato da independência nacional, ao passo que a versão exata o reduz a uma coisa vaga e anônima. Tenha paciência o meu ilustrado amigo. Eu prefiro o grito do Ipiranga; é mais sumário, mais bonito e mais genérico.
A marcha das migrações: a ocupação e colonização da região sul de Goiás, 1800-1850 Data: 06/02/2018 Créditos/Fonte: Hamilton Afonso de Oliveira A marcha das migrações: a ocupação e colonização da região sul de Goiás, 1800-1850. Página 160
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A marcha das migrações: a ocupação e colonização da região sul de Goiás, 1800-1850 Data: 06/02/2018 Créditos/Fonte: A marcha das migrações: a ocupação e colonização da região sul de Goiás, 1800-1850 Página 160
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ME|NCIONADOS ATUALIZAR!!! EMERSON
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Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]
Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.
Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.
meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.
Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.
Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.
Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele: 1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689). 2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife. 3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias. 4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião. 5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio. 6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.
A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.
Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.
Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.
"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba
Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.