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Fronteiras do sertão baiano: 1640-1750, 2010. Márcio Roberto Alves dos Santos
    2010
    Atualizado em 30/10/2025 16:32:57

  
  
  


Entre esses processos adaptativos figurou a transumância, representada pelo conjunto dosdeslocamentos sazonais dos povos não sedentários. Os estudos contemporâneos têm seafastado da perspectiva convencional do “nomadismo” como um vagar sem rumo dessesgrupos por espaços possíveis de serem atingidos. Uma lógica mais precisa, baseada no cicloanual das estações, na oferta sazonal de alimentos e nos itinerários tradicionais de circulação, parece ter orientado os deslocamentos de povos extrativistas pelo semiárido.Uma certa noção de espaços definidos de circulação, ligados ao abastecimento alimentar e àguerra, pode ter se estabelecido entre os distintos grupos étnicos abrigados sob a classificação de não sedentários. Esses espaços de circulação, todavia, não se configuravam no sentido de “território”, tal como o entendemos hoje. Aplicar a ideia contemporânea de território aosespaços ameríndios, e em especial aos espaços habitados por povos não sedentários, resultanuma espécie de anacronismo antropológico. É possível que etnias e territorialidadestivessem, para o conjunto dos povos ameríndios, um sentido filosófico e políticocompletamente distinto da conotação substantiva e nacional que têm hoje para nós. Essadistinção seria ainda mais pronunciada no caso de povos que, como os não sedentários dosertão nordeste, não construíam grandes aldeias, não se dedicavam a práticas agrícolas ecirculavam sazonalmente pelos seus habitats.Para garantir as migrações sazonais em busca de alimento e os movimentos ligados à guerra,os povos não sedentários desenvolveram formas de adaptação às condições do meio e ànecessidade de rápido deslocamento: equipamentos reduzidos e resistentes, moradias simplese subsistência baseada na caça, pesca e coleta. A “simplicidade” dessas soluções esconde,como já foi lembrado, complexas formas culturais de coexistência com o semiárido.Gabriel Soares de Sousa propagou a ideia de uma grande migração tapuia, por meio da qualesses povos, originalmente habitantes da costa baiana, teriam sido obrigados a deixá-la pelapressão de um outro gentio, que o cronista denomina tupinaés. Essa teria sido a razão de,antes da chegada dos portugueses, os tapuias já habitarem o sertão. Esse relato pode sercolocado em dúvida a partir de pelo menos duas ordens de argumentação. A primeira e maisespecífica é ressaltada por Marcos Galindo Lima e reside no fato de que não foramdescobertos vestígios arqueológicos de uma suposta ocupação massiva do litoral nordestino [Página 51]

A ação bélica luso-brasileira envolveu a conquista do médio Paraguaçu a pelo menos doispovos indígenas que o habitavam. Até maio de 1672, segundo documentos coligidos porPuntoni, as ações militares paulistas se concentraram nos topins, que o autor caracteriza comofalantes do tupi e, portanto, não tapuias. Ainda assim, seriam tidos por bárbaros e inimigos aserem combatidos.89O movimento seguinte se deu contra os maracá, que começam a aparecer como alvo daconquista em novembro do mesmo ano.90 Segundo Gabriel Soares de Sousa, esse seria o povotapuia mais chegado aos povoadores da Bahia,91 isto é, mais próximo da faixa costeira, o quese coaduna com a localização das suas aldeias no médio Paraguaçu, onde os foram confrontaros paulistas.Em 20 de abril de 1673 é firmado na cidade da Bahia um assento pelo qual se autorizava aguerra contra os maracá, que, segundo o documento, teriam acompanhado os topins nashostilidades contra os luso-brasileiros.92 Esses topins já estariam então submetidos, tendoparticipado alguns dos seus principais como testemunhas na reunião da qual resultou oassento estudado. Parece que a derrota dos topins na guerra recente tornara os dois povosindígenas inimigos, tendo como consequência o depoimento desfavorável aos maracá dosprincipais topins, que fora decisivo na decretação desse segundo confronto.Segundo o relato de Juan Lopes Sierra, a última entrada contra os maracá findou em 1674,mas desde julho de 1673, de acordo com uma carta oficial citada por Puntoni, o Recôncavo [Página 68]

haviam se comprometido a guiar a tropa até as aldeias tapuias que, segundo eles, eram amorada dos índios inimigos que se queria combater. A promessa inicial era de que em cincodias os luso-brasileiros chegariam às aldeias inimigas, mas passaram-se mais de 60 dias e issonão ocorreu. A tropa foi levada por serras inúteis e montanhas ásperas e era sempreaconselhada pelos paiaiases a não atirar para matar caça ou cortar pau para tirar mel, de modoa evitar que fossem descobertos pelos tapuias inimigos. Esses inimigos nunca foram vistos,pois na realidade os ardilosos paiaiases eram o único grupo indígena da região. Durante essasandanças os soldados foram morrendo de fome e cansaço ou abandonando a entrada, cujoresultado final foi, conclui o relato, se encontrar “consumida e acabada com as doenças,misérias e trabalhos da jornada”. Esse caso nos ajuda a relativizar o papel desempenhadopelas alianças indígenas com invasores luso-brasileiros nas áreas conflagradas do sertãobaiano.185A entrada mal-sucedida do paulista Barbosa Calheiros seguira-se a outra expediçãofracassada, organizada com forças baianas e comandada pelo sargento-mor Pedro Gomes.Nessa empreitada, realizada no início do mesmo ano de 1658, os índios inimigos haviamempregado um eficiente recurso ofensivo, que consistia em envenenar com peçonha a águaque beberia o grupo indígena supostamente aliado dos luso-brasileiros.186 Pelo menos um“capitão” índio morreu vitimado pelo veneno.A fuga para um sertão mais deserto e impenetrável, como define um documento coevo, podeter sido um recurso extremo encontrado por grupos indígenas que tentavam escapar aoextermínio ou à escravização. As frentes de conquista luso-brasileira pressionavam essesgrupos a buscar áreas inóspitas, remotas ou de difícil acesso, tais como topos de serras, áreassecas e com poucas fontes de alimentos e matas fechadas. Ao mesmo tempo em querepresentava uma solução para os tapuias ameaçados, a fuga para esses “sertões maisinteriores” redefinia as territorialidades luso-brasileiras e indígenas no sertão nordeste. Muitosdos grupos indígenas do interior descritos por cronistas como Gabriel Soares de Sousa ouencontrados pelas frentes de conquista haviam chegado a áreas remotas do sertão já noperíodo colonial. Essa constatação corrobora uma das vertentes de pesquisa da história [Página 110]

A área de atuação do coronel baiano não parece, no entanto, ter se limitado ao interior daBahia e ao Piauí. Em 1691 a ele foi concedida sesmaria no lugar denominado Jacaré-Mery(Jacaremirim), entre os rios Sergipe e Japaratuba Grande, em Sergipe del Rei.238 Em 1707recebera, com seis outros peticionários, sesmarias entre os rios Doce e Tocambira(Itacambira).239 Na petição originária desse segundo ato os suplicantes alegam teremdescoberto e povoado em muitas partes as ditas terras. Não encontrei elementos documentaisque permitam acompanhar os desdobramentos dessa concessão de sesmaria, queCarvalho Franco afirma ter originado um novo teatro de ação de Leal, no qual se distinguiriacomo pesquisador de riquezas minerais e guerreador do gentio bárbaro.240Em 1719 o sertanista é cogitado, pelo governador-geral, para comandar a guerra ao gentiobárbaro que ameaçava os moradores da vila de Cairu, assaltando fazendas e matandoescravos, assunto que fora objeto de uma ordem do rei.241

Disponho de apenas um documento a respeito dessa questão, do qual se pode vagamente inferir que Leal não estava disposto aassumir a função. Parece que o baiano estava em preparativos para uma viagem a Portugal, na qual utilizaria uma nau de sua propriedade, que se engajaria na frota que deixaria Pernambuco rumo ao Reino.242 Ciente da intenção demissória do baiano, o governador-geral o insta apermanecer no seu posto, afirmando que Leal, “se não é paulista, é um dos que sabem melhor de nosso Brasil”, é “um dos coronéis que melhor têm servido a Sua Majestade” e é “capacitadíssimo”; mas não deixa de lembrá-lo que, se pretende mesmo fazê-lo, poderá conseguir a sua baixa em Portugal, porque El Rei sabe muito bem que tem no Brasil pessoas que poderiam substituí-lo. Ademais, sempre segundo o governador-geral, Sua Majestade não declarara, na ordem enviada para o Brasil, se preferia para o posto um paulista ou um oficial militar. [Fronteiras do sertão baiano: 1640-1750, 2010. Márcio Roberto Alves dos Santos. Página 135]

Esse documento é duplamente interessante, tanto pela curiosa alternativa entre paulistas e oficiais militares, mostrando que de fato os sertanistas de São Paulo se colocavam como uma espécie de força militar independente e não alinhada, mas mobilizável para a defesa interna da colonização portuguesa; quanto por atestar que a ameaça indígena perdurava na Bahia, inclusive contra núcleos litorâneos, a despeito da guerra intermitente que vinha sendo mantida contra grupos indígenas hostis pelo menos desde a década de 70 do século anterior.

Nos termos estritos da correspondência do governo-geral, essa ameaça já se restringira, na segunda década do século XVIII, a ataques episódicos contra unidades econômicas e escravos, mas, ainda assim, a reação indígena se conservava forte o suficiente para preocupar as autoridades coloniais e a própria Corte.

Na década seguinte Pedro Barbosa Leal será o principal responsável, por delegação dogoverno-geral, pela elevação a vila dos dois núcleos mineradores da Bahia: a Jacobina (1722)e Rio das Contas (1725).243 Entre as atribuições de Leal incluía-se a regulação da extraçãoaurífera, o que envolvia o levantamento do número de mineradores em atividade nas duasregiões e a nomeação de guarda-mor, tesoureiro e escrivão em cada uma delas. Um dostrabalhos mais importantes do sertanista nessa época foi a abertura de um caminho entre asduas vilas, que se tornaria regularmente frequentado, tendo sido percorrido pelo exploradorJoaquim Quaresma Delgado no início da década de 30.244 Uma referência documental indicaque a abertura dessa nova via durou três anos. Em carta do governador-geral ao rei, de 1727, oconde de Sabugosa informa que suspendera a execução da ordem régia para o estabelecimentode casas de fundição nas duas vilas. Acrescenta o governador que para essa resolução ouvira oCoronel Pedro Barbosa Leal, “não só pela prática que tem maior parte deste sertão, mas porhaver calculado pelo decurso de três anos o continente da Jacobina e Rio das Contas, e pelopapel que fez sobre este particular em resposta à minha carta [...]”.245Como os seus antecessores, o conde de Sabugosa parece ter visto em Pedro Barbosa Leal umsertanista de larga experiência, em quem podia confiar para os assuntos relacionados ao interior da Bahia. [Fronteiras do sertão baiano: 1640-1750, 2010. Márcio Roberto Alves dos Santos. Página 136]

Em 1725, possivelmente atendendo a uma demanda do governador, Leal escreve uma longa carta a ele, na qual reporta as expedições de busca de minerais preciosos que já haviam percorrido o sertão da Bahia.246 Valendo-se de informações orais colhidas durante os seus trabalhos no sertão, Leal recua a sua exposição aos tempos da expedição malograda de Gabriel Soares de Sousa (1591).

Investiga também um antigo copiador de cartas do explorador Belchior Dias Moreia, que, como vimos, morrera sem revelar o resultado das suas pesquisas minerais no interior da Bahia. Menciona ainda, baseando-se na tradição oral, a informação de que “um paulista fulano de Cubas chegara ao Paramirim aonde descobrira um grande haver voltando para S. Paulo a convocar vários parentes e amigos”.

A segunda expedição organizada por Cubas, continua Leal, malograra, pois a tropa não chegara ao Paramirim. O sertanista parece desconhecer a época em se deu essa expedição do paulista Cubas, mas não há dúvida de que se trata da entrada organizada por Brás Cubas entre 1560 e 1561, que partiu de Santos e teria chegado pelo vale do São Francisco até a barra do afluente Paramirim. 19975" Consta ainda, entre as muitas notícias incluídas nesse manuscrito de 19 laudas, a importante informação de que o nome “Jacobina” se referia, na realidade, a dois lugares diferentes. Segundo Leal, índios velhos lhe haviam declarado que a Jacobina em que o sertanista atuava não era o mesmo lugar que tinha esse nome na tradição oral indígena, localizado a 30 léguas da vila.

Essa carta não está assinada, mas, como vimos, é inegavelmente de autoria de Pedro Barbosa Leal. Da mesma forma um segundo documento, em 11 laudas, de assinatura ilegível, igualmente de 1725, em que o autor nos dá diversas evidências de se tratar também do sertanista baiano.248

A mais forte dessas evidências é a de que, segundo o autor, foi ele o responsável, por ordem do governo-geral, pelo estabelecimento das Minas do Rio das Contas e da Vila de Nossa Senhora do Livramento. Nessa carta, escrita quatro meses antes doprimeiro documento analisado, Leal aborda elementos históricos e geográficos da ocupação da área central do sertão baiano e traça uma divisão territorial dessas regiões que me será [Página 137]

largamente servidas por rios, o que evitaria as sedes frequentes que atormentavam osmissionários que incursionavam pelos sertões; proveria de caça, mel, peixe e farinha (feita depalmeiras) os expedicionários; possibilitaria o transporte de grande quantidade de farinha demandioca em canoas, poupando os índios do imenso trabalho de levá-las nas costas epossibilitando estender as jornadas diárias; evitaria as doenças provocadas pelo trabalho ecaminhadas contínuas, bem como os ataques tapuias e picadas de cobras; evitaria a fuga,provocada pelo cansaço das longas caminhadas e pela falta de alimentos, de índios que osmissionários tivessem convencido a acompanhá-los; estimularia o engajamento dosmissionários, pela facilidade de navegação e de manutenção durante as incursões. O últimoargumento do religioso é de ordem circunstancial: em São Paulo habitavam alguns índios que,tendo participado da expedição de 1613, poderiam atuar como guias em futuras incursões àsmesmas regiões. Prova disso tudo é que cinquenta moradores da vila já tinham manifestado adisposição de irem com as suas famílias a povoar as margens do rio Pará.A cuidadosa argumentação do jesuíta nos coloca diante de uma verdadeira leitura fluvial daconquista religiosa dos índios do interior da América portuguesa. Os elementos hídricostornam-se o sustentáculo material do trabalho missioneiro e do avanço da conquista espiritualdos sertões. A circulação pelos rios, na leitura do redator do relato, de alguma forma retira oviajante do meio desconhecido e ameaçador dos sertões, poupando-o dos perigos e dascarências que caracterizam as viagens por terra. Num jogo de oposições, os cursos fluviais sãoapresentados como espaços de abundância e de segurança, contrapondo-se à escassez e àsameaças do meio terrestre. Aqui, portanto, a rota fluvial e o caminho não estão, como emoutros documentos, em relação de complementaridade, mas de oposição. A possibilidade daviagem pelos rios “facilita” o trabalho a ser realizado, tornando-o uma “recreação” para ocorpo e para o espírito – de fato, facilidade é um dos termos que dá a chave para acompreensão da estrutura argumentativa dessa última parte do texto e, em suma, da principalfinalidade com que foi elaborado o relato. É notável, ainda, o olhar empático do redatorjesuíta para o feito dos “aventureiros” paulistas. Lembremo-nos de que estamos a apenasdezessete anos da expulsão dos jesuítas da capitania de São Vicente (1640) e que a polêmicaentre jesuítas e colonos a propósito da legitimidade da escravidão indígena se arrastava pelomenos desde Gabriel Soares de Sousa. Poderia surpreender, portanto, que um jesuíta descrevacom simpatia uma expedição que ele mesmo caracteriza como de caça ao índio. É que, tendoaberto uma rota “fácil” para que o missionário jesuíta atinja o coração dos impenetráveissertões do norte, de alguma forma o paulista caçador de índios se redimiu aos olhos de Deus [Página 177]

lugares estudados e a tornam um caso altamente representativo do tema tratado neste trabalho.Nas páginas seguintes empreenderei uma reconstituição da trajetória dessa povoação desde omais remoto vestígio que dela restou. O objetivo é que a miniaturização da abordagem nosajude a compreender, num movimento pendular, as linhas históricas gerais dos processos eeventos com os quais venho trabalhando.O registro mais antigo de algum tipo de ocupação luso-brasileira do lugar onde foiestabelecida a vila de Santo Antonio da Conquista nos é informado por Pedro Barbosa Leal.Em carta escrita em 1725, o sertanista baiano afirma ter sido Gabriel Soares de Sousa oresponsável, durante a sua expedição de 1591, pela construção de uma casa-forte no lugar.444

Essa casa-forte teria sido reconhecida pelos conquistadores de Estevão Ribeiro Baião (Parente) e existiria ainda quando escreve Barbosa Leal. O sertanista recolheu essas informações diretamente de pessoas que participaram da conquista da região e ainda viviam quando lá esteve, bem como de terceiros, que tiveram notícia dos eventos narrados.

Não há como, portanto, assegurar que a casa-forte que o sertanista registra existir, em 1725, defronteda vila de João Amaro, foi realmente implantada ali por Gabriel Soares de Sousa. A fundação da vila de Santo Antonio da Conquista, ou Santo Antonio da Conquista dosMaracases, ou ainda de João Amaro, está diretamente ligada à guerra contra os povosindígenas que ocupavam a região intermédia entre os rios Paraguaçu e das Contas. Osprimeiros passos para o estabelecimento da nova povoação se dão no contexto favorável dasexpedições lideradas por Estevão Ribeiro Baião Parente entre 1672 e 1674, quando, segundoJuan Lopes Sierra, pouco mais de dois milhares de prisioneiros maracá chegaram à cidade daBahia.445Dois editais passados pelo governador-geral permitem reconstituir os primórdios dapovoação.446 O primeiro, de 16 de setembro de 1673, é enviado às vilas da capitania de SãoVicente; o segundo, de 17 de outubro do mesmo ano, é tornado público na cidade da Bahia e [Página 224]

as fazendas de gado abandonadas em razão da ameaça indígena, essas áreas parecem ter setornado bravas de todo. Cada unidade territorial ou econômica perdida para o gentio ou para omeio significava, naturalmente, um enclave a menos na tênue fronteira luso-brasileira nossertões.10.3 Base hidrográfica e franjas pecuáriasUm elemento comum às frentes luso-brasileiras foi notado pelos autores que investigaram aformação histórica do interior da América portuguesa: a ligação entre a ocupação e a redehidrográfica. Felisbello Freire indicou que as linhas de povoamento do sertão baianoacompanharam, no século XVII, os vales dos rios.642 Cláudia Damasceno Fonseca observou ovínculo entre a administração civil do território mineiro e as três grandes bacias hidrográficasque cortavam as Minas Gerais.643 Marcos Galindo Lima destacou que nos sertões “a manchade ocupação da pecuária estava condicionada às possibilidades da malha hidrográfica, e asfazendas situadas à margem dos rios e várzeas, ou ainda a pequena distância de logradouroseram abastecidas com água e possuíam pasto permanente”.644É de Jaime Cortesão, contudo, que nos chega uma inspiradora reflexão sobre o tema, incluídanuma obra da década de 50 do século passado, pouco consultada e de grande valia para osestudos do sertanismo, da formação territorial e da cartografia histórica:Desta série de fatos podemos concluir que às zonas de enlaces fluviais, tal comoanteriormente as definimos, corresponderam outras tantas zonas de enlace e, emcertos casos, de fusão cultural. Os indígenas, para percorrer o território ou trocarprodutos de culturas diferentes passavam, com muita frequência, das cabeceiras dumrio ou dum sistema fluvial às do outro. Para isso utilizavam as canoas de casca,facilmente transportáveis às costas ou inteiriças e escavadas em tronco de árvore,que transportavam também a dorso, ou faziam rolar em toros de madeira. Às canoasmais pesadas, segundo Gabriel Soares de Sousa, puxavam com o cipó-embé,extremamente resistente, para as varar em terra. [Página 333]

conectados por caminhos terrestres e rotas fluviais. Essas vias de circulação percorrem, paravoltar à categoria proposta por Antonio Carlos Robert Moraes, largas zonas deextraterritorialidade.Os quatro momentos da instalação luso-brasileira definem quatro diferentes fronteiras. Aprimeira delas, a fronteira da exploração, é possivelmente o ponto mais remoto a que sechegou e ao qual se pode retornar. Não se sabe exatamente aonde teria chegado, em 1591, aexpedição malograda de Gabriel Soares de Sousa, mas, se Pedro Barbosa Leal estiver certo,ela instalou o primeiro enclave luso-brasileiro do vale do Paraguaçu – e, de certa forma, doconjunto do sertão baiano –, representado pela casa-forte erguida no lugar mais tarde ocupadopela vila de João Amaro.739 Essa seria a fronteira da exploração, não sendo casual o fato deque o lugar, também conhecido como Santo Antonio da Conquista, se torne uma das basesluso-brasileiras no sertão baiano, seja disputado aos índios por décadas e figure com destaquena descrição geo-histórica elaborada por Leal em 1725.A fronteira da conquista é definida e redefinida no próprio curso das operações militarescontra os ocupadores indígenas. Aqui voltamos ao provável significado original do termo,alusivo aos postos militares avançados e às zonas em disputa com o inimigo. Os avanços erecuos dessas frentes de conquista dependiam de um complexo jogo de forças no qual podiamser decisivas as antigas fronteiras indígenas em que se repartia o espaço almejado. Sobre essasfronteiras entre povos ameríndios sabemos muito pouco, mas é possível que, pelo menos nosprimeiros movimentos de invasão dos espaços indígenas, elas referenciassem a mobilidadeluso-brasileira. A dinâmica por meio da qual a fronteira militar avançava ou retrocedia, seconsolidava ou se fragmentava era inicialmente determinada, entre outros fatores, pelosrecortes espaciais que as relações entre os povos indígenas tinham definido antes da chegadados luso-brasileiros.740 [Página 396]



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ME|NCIONADOS Registros mencionados (3):
01/06/1560 - Partida da expedição de Bras Cubas*
11/02/1577 - Concedidas a Antonio Vaz 400 braças ao longo da Bahia (Baía?) e 1000 para dentro do sertão em Sarapohy que foram a Bras Cubas no Porto que foi de Jacotinga
22/11/1725 - Sobre os marcos
EMERSON

  


Sobre o Brasilbook.com.br

Freqüentemente acreditamos piamente que pensamos com nossa própria cabeça, quando isso é praticamente impossível. As corrêntes culturais são tantas e o poder delas tão imenso, que você geralmente está repetindo alguma coisa que você ouviu, só que você não lembra onde ouviu, então você pensa que essa ideia é sua.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação, no entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la. [29787]

Existem inúmeras correntes de poder atuando sobre nós. O exercício de inteligência exige perfurar essa camada do poder para você entender quais os poderes que se exercem sobre você, e como você "deslizar" no meio deles.

Isso se torna difícil porque, apesar de disponível, as pessoas, em geral, não meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.

meditam sobre a origem das suas ideias, elas absorvem do meio cultural, e conforme tem um sentimento de concordância e discordância, absorvem ou jogam fora.Mas quando você pergunta "qual é a origem dessa ideia? De onde você tirou essa sua ideia?" Em 99% dos casos pessoas respondem justificando a ideia, argumentando em favor da ideia.Aí eu digo assim "mas eu não procurei, não perguntei o fundamento, não perguntei a razão, eu perguntei a origem." E a origem já as pessoas não sabem. E se você não sabe a origem das suas ideias, você não sabe qual o poder que se exerceu sobre você e colocou essas idéias dentro de você.

Então esse rastreamento, quase que biográfico dos seus pensamentos, se tornaum elemento fundamental da formação da consciência.


Desde 17 de agosto de 2017 o site BrasilBook se dedicado em registrar e organizar eventos históricos e informações relevantes referentes ao Brasil, apresentando-as de forma robusta, num formato leve, dinâmico, ampliando o panorama do Brasil ao longo do tempo.

Até o momento a base de dados possui 30.439 registros atualizados frequentemente, sendo um repositório confiável de fatos, datas, nomes, cidades e temas culturais e sociais, funcionando como um calendário histórico escolar ou de pesquisa.

Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
1. Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
2. Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
3. Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
4. Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
5. Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
6. Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

Ou seja, “história” serve tanto para fatos reais quanto para narrativas inventadas, dependendo do contexto.

A famosa frase sobre Titanic, “Nem Deus pode afundar esse navio”, atribuída ao capitão do transatlântico, é amplamente conhecida e frequentemente associada ao tripulante e a história de criação.No entanto, muitos podem se surpreender ao saber que essa citação nunca existiu. Diversos historiadores e especialistas afirmam que essa declaração é apenas uma lenda que surgiu ao longo do tempo, carecendo de evidências concretas para comprová-la.Apesar de ser um elemento icônico da história do Titanic, não existem registros oficiais ou documentados de que alguém tenha proferido essa frase durante a viagem fatídica do navio.Essa afirmação não aparece nos relatos dos passageiros, nas transcrições das comunicações oficiais ou nos depoimentos dos sobreviventes.

Para entender a História é necessário entender a origem das idéias a impactaram. A influência, ou impacto, de uma ideia está mais relacionada a estrutura profunda em que a foi gerada, do que com seu sentido explícito. A estrutura geralmente está além das intenções do autor (...) As vezes tomando um caminho totalmente imprevisto pelo autor.O efeito das idéias, que geralmente é incontestável, não e a História. Basta uma pequena imprecisão na estrutura ou erro na ideia para alterar o resultado esperado. O impacto das idéias na História não acompanha a História registrada, aquela que é passada de um para outro”.Salomão Jovino da Silva O que nós entendemos por História não é o que aconteceu, mas é o que os historiadores selecionaram e deram a conhecer na forma de livros.

Aluf Alba, arquivista:...Porque o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

titanic A história do Brasil dá a idéia de uma casa edificada na areia. É só uma pessoa encostar-se na parede, por mais reforçada que pareça, e lá vem abaixo toda a grampiola."

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.



"Minha decisão foi baseada nas melhores informações disponíveis. Se existe alguma culpa ou falha ligada a esta tentativa, ela é apenas minha."Confie em mim, que nunca enganei a ninguém e nunca soube desamar a quem uma vez amei.“O homem é o que conhece. E ninguém pode amar aquilo que não conhece. Uma cidade é tanto melhor quanto mais amada e conhecida por seus governantes e pelo povo.” Rafael Greca de Macedo, ex-prefeito de Curitiba


Edmund Way Tealeeditar Moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão.