“D. Francisco de Souza”. Washington Luís Pereira de Sousa (1869-1957), Jornal Correio Paulistano
10 de outubro de 1904, segunda-feira Atualizado em 13/02/2025 06:42:31
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Governar foi para d. Francisco de Sousa descobrir minas: e, assim pensando, ele por todos os lados atacou o sertão, a parte interior do Brasil, onde desvairadas lendas situavam Sabarábussú, a montanha resplandescente, a serra de ouro e de prata.
Na Bahia auxiliou a mallograda expedição de Gabriel Soares de Sousa: do Espírito Santo fez partir Diogo Martins Cão; de São Paulo despachou bandeiras em busca das minas de prata.
Ele rodou as nascenças do rio São Francisco, onde se supunha estar a famosa serra, como a ave de rapina tenazmente rodea a preza, estreitando cada vez mais o círculo de seu voo.
Chegado aqui, logo de transportou - outubro de 1599 - para Biraçoyaba e Caativa, com ensaiadores, mineiros, fundidores.
Somas enormes ansiavam essas viagens, essas explorações, dirigidas pelas mãos rotas do governador geral do Brasil, que sempre e largamente gratificavam.
O descendente de Ruy de Sousa, porém, não encontrava embaraços para arranjar dinheiro.
Quando esgotava o produto dos dízimos, receita ordinária dos governadores; quando consumia o que tomava emprestado, por autorização especial do rei de Hespanha, saqueava sem escrúpulos.
Por fevereiro, talvez de 1609, no porto de Santos arribara o Mundo Dourado, grande urca de Amsterdam, cujo capitão, Lourenço Bicár, alegando as suas crenças cristãs e os seus intentos comerciais, requereu licença para descarregar e vender mercadorias que levava.
Despachado favoravelmente o Mundo Dourado fundeou e, depois de pagos os direitos reais, entrou a negociar com os moradores de Santos.
Dizem que mais tarde, tomando inquirições, d Francisco de Sousa viera a saber que essa nau, separada por tormentos de uma armada que fóra ao Estreito de Magalhães, a pilhar carregamentos vindos do Peru, aportara apenas para esperar as companhias.
Naquele tempo, as outras nações vingavam-se do poderio a que chegara a Hespanha e opunham-se á sua expansão, consentindo que piratas saqueassem os portos, depredassem as povoações que constituíam o domínio hespanhol "tão vasto que nele o sol não encontrava nunca o ocaso".
Meditando uma de suas manhas, que logo poz em prática, de São Paulo, onde se achava, com muitos moradores partiu d. Francisco de Sousa para Santos.
Lá, um dia, em que a maior parte da marinhagens se achava em terra, se dirigiu para a urca uma canoa empavesada, coberta de ramagens conduzindo aventureiros portugueses que cantavam e tocavam guitarra.
Recebidos a bordo sem desconfiança, começaram a bailar e a beber com os flamengos; e quando estes menos o esperavam, se fizeram senhores da praça, d´armas e da pólvora, e, logo, a sinal adrede combinado, muitas outras canoas com soldados e índios frecheiros abordaram a tomaram a nau sem que os tripulantes pudessem defender.
A manha ai passou a perfídia; mas, que importa, se os costumes da época permitiam essa duplicidade, e se essa duplicidade permitiu um apresamento superior a 100.000 cruzados, os quais tão depressa se adquiriram como se gastaram, conforme contou frei Vicente.
As minas de Piraçoyaba pouco ouro tinham; não eram mais que uma montanha de ferro, o nosso Ypanema de hoje, e foram, portanto, uma decepção para d. Francisco de Souza. Apesar disso não esmoreceu; nessas proximidades levantou pelourinho e erigiu uma vila que denominou São Phelippe; do mesmo modo, depois indo examinar as minas de Bituruna, que não corresponderam á sua expectativa, também levantou pelourinho e erigiu outra vila, a vila de Monserrat.*
Com a primeira cortejava o rei e com a segunda a santa de sua especial devoção; e não se esquecia dos moradores de São Paulo, porque prometia procurar-lhes com sua majestade muitos privilégios e mercês e elevar-lhes a vila á cidade, "por ter sido a primeira e principal parte onde, mediante o favor divino, descobriu minas".
Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) equivocou-se dizendo ficar a vila Monserrat próxima ás minas de Biraçoyaba; confundiu Monserrat com São Phelippe supondo ter existido uma só vila. Na coleção de mapas apresentados ao árbitro pelo Barão do Rio Branco, na questão chamada das Missões, ha os mapas n°. 5-A e n°. 6-A, que localizam Monserrat a N.O. de São Paulo, além do Anhamby, e São Phelippe a oeste de São Paulo, na margem de um afluente do Anhamby.
Quando Salvador Correia elevou Sorocaba a vila, diz que d. Francisco de Sousa já lá tinha mandado levantar pelourinho. - Vide em "Azevedo Marques. Apontamentos sobre Sorocaba. Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844) (Jornal de Viagem, por diferentes vilas até Sorocaba - R.I.H.G.R., vol. 45) em 1803 esteve em Parnahyba, e nas proximidades desta vila, examinou as lavras de Bituruna, "Monserrat", Taboão e Santa Fé. O mapa da Comissão Geográfica e Geológica do Estado, situa o município de Parnahyba sua fazenda "Monserrat" e porto "Grupiara", vocabulo usado pelos mineiros daquele tempo.
Vida ativa levou ele em São Paulo. Em 26 de junho de 1600, dia em que armou cavaleiros a Antonio Raposo e a Sebastião de Freitas, já tinha visitado e demoradamente examinado as minas de Biraçoyava e Caativa, e Bituruna, e três vezes, pelo áspero caminho do mar, com moradores da capitania, tinha ido a Santos, defende-la e fortifica-la contra inimigos corsários.
Por historiadores contemporâneos é acusado d. Francisco de Sousa de não ter sido rigoroso no cumprimento do alvará de 11 de novembro de 1595, que proibiu terminantemente a escravização do indígena e revogou o de 20 de março de 1570, que permitia a escravização que fossem tomado em guerra justa.
D. Francisco de Sousa não foi e, conhecidas as suas circunstâncias, não podia ter sido rigoroso no cumprimento do humano alvará; porque, justamente, sendo a cativação do índio o lucro imediato das bandeiras, tornar efetiva a sua proibição, seria proibir as entradas ao sertão, seria, pois, proibir as pesquisas e investigações das minas que ele entendia descobrir.
Ao contrário, não deu cumprimento a esse alvará; ao contrário, fomentou a cativação do índio, fomentando as entradas ao sertão. Foi ele quem arremessou a capitania ao sertão; é verdade que já existia o arco forte e a frecha acerada, mas não é menos verdade que foi ele quem o disparou.
Antes do alvará de 1595, as bandeiras não entravam ao sertão sem que houvesse declaração de que a guerra era justa; depois elas entravam, em qualquer caso, mesmo sem declaração. E, coisa notável, o alvará que proibiu terminantemente a cativação do índio veio a tornar essa cativação mais franca.
No tempo de d. Francisco de Sousa as bandeiras tomam, por assim dizer, um caráter oficial; e, mais bem organizadas e mais ousadamente, saem a cumprir a faina gloriosa, se bem que às vezes inconsciente, da constituição geográfica do Brasil.
As bandeiras queriam escravos, d. Francisco procurava minas, e o Brasil definia-se territorialmente.
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