Realidade universal que "se pobres escrevem, seus livros não são publicados", e mesmo entre os mais capazes ($) pais, pouquíssimos aconselham seus filhos á História. E falta o tempo, maioria "quer apenas que seus filhos tenham nome de Santo, o nome mais bonito".
Mesmo se, afinal, para nenhum aluno tem valor saber "quem, quando ou porque descobriram o Brasil", verdade que, “moralmente, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não, desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro, desde que ele esteja na nossa mão”.
Facilmente podemos "medir" a História de Sorocaba pelo atual brasão, que simboliza somente aos que interessam. (imagens 2 e 3).
ITUPARANGA
Os topônimos são um problema recorrente na História de Sorocaba. Geralmente não sabemos "quem, quando ou porque", como a atual bandeira de Sorocaba, adotada por lei em 22 de fevereiro de 1954, curiosamente desconhece-se a autoria do desenho [11].
Além de escreverem, sem provas, que os nativos chamavam "Itú-pararanga" as cachoeiras barulhentas [9], em toda História colonial do Brasil, nenhum documento registra a "Itupararanga", ou mesmo variantes dela, menos ainda "na e a" serra de "São Francisco".
A História do Brasil foi escrita pela Geografia! Existem muitas "Ytús" (cachoeiras) e "Cubatões" (rios que caem), mas, sem dúvidas, somente uma "Votorantim", corruptela do Ybytyra-tin, "uma cachoeira branca, numa encosta alta, coberta de alvo manto de espumas".
A cachoeira "resplandecente" estava no caminho que todos iam morrendo, buscando sonho da Sabarabuçú [12]. É a Ytu-tinga registrada já em fevereiro de 1533, na importante concessão de terras a um Cavaleiro da Ordem de Cristo [1] e omitido no trecho do incrível relato do ilustre pirata inglês, Anthony Knivet (1560-1649), que diz:
"Esses nativos não trabalham nas minas de ouro, como fazem os espanhóis, mas só pegam os pedaços que encontram quando a chuva leva a terra: pois onde estão as minas de ouro não há árvores, mas são montanhas secas de terra preta (voturuna; ibiúna) (..) e a montanha onde encontram esse grande depósito de ouro chama-se Etepararange: se esses tivessem o conhecimento de Deus, posso dizer com ousadia que não há nenhum no mundo como eles." [3]
A construção da represa danificou a Geografia e quem denominou-a Itupararanga... Hum, quem seria essa pessoa? Em 1887 o imperador D. Pedro II visitou
este salto ou cachoeira propriamente dito, de uma importância queda, formada por dois degraus, tendo o primeiro 7,60 metros de altura e o segundo 14,12 metros, obtendo a altura toral de 24,56 metros para a cachoeira do Votorantim propriamente dita; contínua, porém, para cima essa gigantesca escada. [6]
Em 3 de novembro de 1899 Basílio de Magalhães escreveu ao amigo Simplício:
"Meu caro Simplício. - Bem sabemos que, com grande prazer e tenaz perseverança, me dedico, ha muito tempo, ao estudo prático e teórico do famoso idioma dos nossos fetichistas.
Não posso, portanto, deixar que corram mundo duas recentes heresias, provocadas pelo quase completo desconhecimento da língua tupy-guarany por parte dos nossos homens de letras.
A primeira é a significação atribuída a "ytuverava" por ilustre membro da alta câmara paulista. Justificando o projeto de mudança do nome "Carmo da Franca" para aquele vocábulo tupy, afirmou o conspícuo senador que "ytuverava" quer dizer "cachoeira branca".
Pois não é: - é, sim, cachoeira brilhante ou resplandescente. Cachoeira branca seria ytutinga na doce linguagem dos nossos míseros selvícolas, tinga, forma contraste de mborotinga, é que corresponde ao descritivo branco, ao passo que berabe ou verava (no nheengatú, pois o abanheen apocopa normalmente a ultima silaba dos polissílabos tupys) equivale ao qualificativo brilhante ou resplandecente.
Assim o nome da cidade mineira de Uberaba (yberaba, no nheengatú) vale o mesmo que rio ou água brilhante.
A grafia Piráçununga, adotada para o título de uma gazeta ha pouco surta na cidade daquela denominação, tem sido alvo de motejos por parte de alguns folcicularios que, por habituados a escrever Pirassununga, supuseram logo não passasse aquela outra forma de cabeluda asnice. Asseguro-te que os taes se enganam redondamente.
Explique-se a coisa: - do pirá, peixe, o cynynga, ronco ou sibilo, devia muito naturalmente resultar em Piracynynca, isto é, ronco ou sibilo de peixe. Sendo o u, porém, de dificílima pronunciação, a língua dos nossos caipiras o trocou muitas vezes pelo u (como Pirituba, de Pirityba, juncal), donde a forma Piruçununca.
E, como os entendidos nesta matérias têm ordenado que no tupy-guarany se empregue ç em vez do s, por não ter aquele idioma o som sibilante peculiar ao segundo dos dois caracteres gráficos, é-me licito concluir que a forma Piraçununga é preferível a Pirassununca.
E, por hoje, basta, que isto de tupy-guarany também cança. Fico, porém, de alcateá, e asseguro-te, meu Simplício, que, de ora em diante, em se tratando de nheengatús e abanheens, não deixarei passar gato por lebre.
Espero que o estudioso indigenista, não de arco e flecha como os nossos ancestrais das selvas, mas de pena em punho, continue a dar caça a esses gatos, muito mais nocivos, sem duvida, que os já famosos ratos da capital artística, cotados ultimamente a 300 réis por cabeça!" [8] |