Balthazar Fernandes, fundador "oficial" de Sorocaba, "continua um mito! Sua lápide, fria e muda, não fala em morte. Nem se sabe quando ele nasceu. E se nasceu... quando morreu.
Quando se trata dele, a nossa história, oficial e acadêmica, trabalha com probabilidades. Aliás, nem se sabe ao certo a grafia do seu nome, se é Baltasar ou Baltazar, se é Balthazar ou Balthezar, tal é a diversidade das informações contidas nos documentos.
E surpreende a falta de informações documentadas sobre os locais e datas de nascimento e morte do "fundador" de Sorocaba (...) as informações divergem de autor para autor e são sempre imprecisas. Não se sabe, com certeza, quando ele se casou, nem a primeira e nem a segunda vez. Sempre as datas são acompanhadas do clássico "por volta de".
Também, não se sabe se a sua primeira filha, única do primeiro casamento, Maria de Torales, era sua filha biológica ou adotiva. (...) os historiadores divergem quanto à data da chegada do "fundador" a Sorocaba, se em 1646 ou se em 1654. Existem documentos historiando, além desses dois momentos, uma fundação em 1670. [2]
Sabe-se que em 1615 André Fernandes estava com seu "irmão mais novo" no sertão [6]. Em 22 de fevereiro desse ano registra-se “Por falecimento de Manoel Rodrigues lhe ficou um filho por nome Balthezar de idade de dez até onze anos vai com o Capitão André Fernandes (...) eu escrivão o escrevi por mandado do capitão André Fernandes” [7]. Seria ele?!!
SUZANA DIAS
Suzana Dias, a mãe de Balthazar, nasceu por volta, talvez (:-), na década de 1550. Com certeza era neta de um cacique, devota cristã, identificada com a sociedade portuguesa, apesar de sua mãe nativa e sua própria etnia mameluca. Sabemos que usava roupas, que viveu em uma casa, que ela confessou a um sacerdote, que ela se casou em uma cerimônia cristã.
Podemos supor dos nomes dos seus filhos que eles foram batizados por um sacerdote e na distribuição da Suzana de dote de casamento de suas filhas casaram-se segundo a doutrina cristã. Fundou uma capela. Em outros aspectos de sua vida pode ter mantido costumes nativos.
Ela falou, sem dúvida, a lingua nativa. Possivelmente ela dormiu em uma rede, embora sua vontade começa com a frase "doente na cama"; camas eram escassas e valiosas. [1]
Não se sabe detalhes da morte de Manoel Fernandes, seu primeiro e legítimo marido em face da Igreja, pai de Balthazar e personagem cuja biografia também é mais questionável que informativa.
Em 7 de setembro 1589 é registrado como "falecido" nas atas da Câmara de São Paulo [4]. Belchior da Costa, segundo marido de Suzana faleceu em 1625 [8].
O TESTAMENTO DE SUZANA DIAS
Em 1628 testamento datado de 1628, ditado na casa de Baltazar Fernandes Alvarenga, como testamenteiro de sua mãe, em Santa Ana de Parnaíba.
Em 1628 "(...) nas pousadas de morada do Capitão André Fernandes, onde eu também fui chamado e logo e mim foi dito por Suzana Dias dona viúva enferma em sua cama por quanto não sabia o que Deus Nosso Senhor podia dela ordenar, fez este testamento por quanto estava em seu juízo perfeito, dispunha na forma seguinte:
(...) disse ela testadora que foi casada com Manoel Fernandes Ramos, qual teve dezessete filhos e por morte dele ficaram quinze vivos os quais todos serão herdeiros de seus bens, salvo André Fernandes e Balthezar Fernandes seu irmão que se lhe não satisfez suas legítimas; mando que de minha fazenda como meus herdeiros lhe sejão pagos.
A Custódia Dias minha filha, Angela Fernandes e a Benta Dias e Augustinha Dias e Maria Machada lhes não deixo nada, porque nos dotes que lhes fiz dei-lhes e satisfiz suas legitimas que de seu pai e de mim podiam herdar.
Só declaro que a Benta Dias devo uma cavalgadura e se lhes satisfará a minha filha Augustinha Dias por festas, cabeças de perús e se lhes dará mil reis em satisfação.
Declaro que a meu filho André Fernandes das peças e serviços que tenho, por lhe estar obrigada, os cinco que me deu, poderá tomar outras cinco as quais quero que logo se entre e assim mais lhe entregará um moço por nome Manoel por outro que deu a Manoel da Costa, por minha ordem, e meu filho Balthezar Fernandes se lhe entregue um nativo por nome Antônio, por outro que me deu, para dar a sua irmã Custódia Dias, em casamento e um moço que se tem em sua casa por nome Belchior declaro que lhe pertence e ele com seus filhos, por ser assim vontade do nativo que é forro e livre.
Mando, digo quero que o meu corpo seja enterrado na ermida da gloriosa Santa Ana de que meu filho é padroeiro. E se me fará um oficio de nove lições onde corpo estiver enterrado e se me dirá trinta missas rezadas por minha alma para que Deus Nosso Senhor tenha misericórdia com ela, ás confrarias de Nossa Senhora do Rosário e a Nossa Senhora da Conceição, e cada uma deixo um cruzado; a Santo Antônio deixo dois cruzados de esmola;
E por aqui e com estas declarações atras ei este meu testamento por serrado e peso as justiças de Sua Majestade lhe devem inteiro comprimento, por ser esta minha ultima vontade e de rogo a todos os testamentos que se acharem antes deste os quais ei por nulos e de nenhum vigor e pedio ao Reverendo Padre Vigário João Pimentel que o assinasse por mim não saber escrever e as mais testemunhas que se achavam presentes Gaspar de Brito, Thomé Martins, João Fernandes.
Da consulta aos Inventários e Testamentos, à Genealogia Paulistana de Silva Leme, aos Apontamentos Históricos de Azevedo Marques, à Nobiliarquia de Pedro Taques, às obras de Américo de Moura e de Carvalho Franco, estão identificados treze dos quinze filhos vivos em 1589, do casal Manuel Fernandes Ramos e Suzana Dias, embora não se sabia a idade exata de cada um deles. [9]
1634: DIVERGÊNCIA CRONOLÓGICA
Afirma a maioria dos autores que Suzana Dias faleceu em 8 de dezembro de 1634 [14]. Sem especificar dia ou mês, Aluísio de Almeida escreveu que "Em 1634 estavam os três irmãos reunidos junto ao leito de morte da matrona Suzana Dias assistida por um vigário castelhano" [17].
Dia 24 de agosto desse ano registra-se “Este treslado de testamento (de Suzana) eu, Manoel de Alvarenga, também tirei por austeridade de Justiça do próprio livro do também Luis Ianes Grou que Deus tem por o deixar de tirar das notas do seu livro de que me reporto em todo e por todo”. [9]
Mesmo tendo um Padre na família, Francisco Fernandes de Oliveira [10], em 2 de setembro Joáo del Campo y Medina, redigiu em puro castelhano o termo de testamenteiro a favor de Balthazar Fernandes Alvarenga, “testamentero de su madre defunta que Dias aya . ..por ser verdad y en todo el tiempo constar, firmo este de iny nombre...” [12]
E em 7 de setembro “Digo João de Campos e Medina presentes nesta aldeia de Santa Ana da parnaíba que é verdade que foi reservado ao Capitão Baltazar Fernandes Alvarenga e testamentário de sua falecida mãe que Deus nos deixou, no sepultamento e missa cantada e ofício de nove lições e Assim, mais de três ofícios de nove classes, e uma missa cantada de sacramento e para ser verdade e sempre para registrar, dei-lhe isso de acordo com meu nome em 7 de setembro de 1634 anos” [13]
MONSERRATE
Já mencionado, em 1628 o testamento de Suzana cita a Santa Ana, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Conceição, e Santo Antônio [9].
Em 21 de fevereiro de 1635 "certifico eu Frei Alvaro de Caravajal prior (...) de Nossa Senhora de Monserrate da ordem do Patriarca SP (...) padre nesta vila de São Paulo, que recebi do Cap. Balthazar Fernandes de Parnaíba a esmola de dez missas que eu me obriguei a dizer e são em descargo do testamento de sua mãe defunta que ele como testamenteiro mandou fazer e por ser verdade lhe dei este por mim assinado hoje". [15] |