A região de Sorocaba era um dos locais mais movimentados do Brasil antes da chegada de Pedro Alvarez Cabral. Da passagem de índios dos grupos tupi por Sorocaba, em seu nomadismo, a certeza é completa! Haviam nativos transitando por Sorocaba, por um caminho terrestre-fluvial que ligava o litoral. [1]
Balthazar Fernandes, fundador "oficial" de Sorocaba, é bisneto do Cacique Tibiriça, e sua esposa, Suzana Dias, sobrinha de um dos europeus que aqui estavam antes da chegada de Cabral.
Outro deles, o poderoso Bacharel de Cananéa, teria chegado ao Brasil antes de 1500. Existem indícios que ele e o ferreiro Mestre Bartholomeu, chegado ao Brasil em 13 de dezembro de 1519 [3], são a mesma pessoa.
Ambos estão relacionados a Sorocaba, onde "ficavam as montanhas de Berusucaba ou Ibiraçoiaba, abundantes em veios de ferro, não lhes faltando do também veios de ouro, que os selvagens cananéas tem por costume extrair" [5]. E desde 1535 o Mestre Bartholomeu frequentava a região de Sorocaba [6].
Hans Staden deve ter passado por Sorocaba em dezembro de 1549 quando avistou cruzes e espanhóis em Cotia" [7]. Ele utilizou o mesmo caminho percorrido por Ulrich Schimdel quando passou por Sorocaba em março de 1553 [9].
Na ocasião da "primeira fundação de Sorocaba", qual caminho percorreu a comitiva que partiu de São Paulo em 23 de maio 1599?.
Os 18 dias de viagem foram percorridos parte a cavalo, parte em canoa, parte em rede [12] e a existência de um caminho passando por Itú é registrado somente em 1604 [13].
E 1710, quando o sertão paulista já estava trilhado e as comunicações eram mais fáceis, “eram precisos 12 dias de viagem para transpor a distancia que separava essa localidade da vila de S. Paulo.” [17]
2. Atravessar a Serra do Mar
Penso como o professor Jorge Ubirajara Proença que "os portugueses enviaram uma expedição colonizadora somente em 1532 quando souberem da existência de um caminho que, do litoral, atravessava a Serra do Mar". [30]
Henrique Montes teria traído o Bacharel de Cananéa, que aqui era o Senhor das terras, e revelado que o local de partida desse caminho seria nas proximidades de Cananéa, local onde a frota aportou. [4]
Nesta ocasião a primeira expedição, chamada atualmente "bandeira", foi dizimada deflagando a Guerra de Iguape, a primeira entre europeus e espanhóis ocorrida em solo brasileiro.
Algumas das consequências dessa guerra foi a extinção do sistema de capitanias, o estabelecimento dos europeus em São Vicente e vinda e dos jesuítas para fornecer mão-de-obra e auxiliar a abertura, em 1553, de caminho partindo dalí até o sertão. [30]
Este Caminho do padre Anchieta, o primeiro aberto pelos europeus, foi feito pelos nativos sob a direção de Anchieta e com ajuda do "sorocabano" Afonso Sardinha. [8]
Era péssimo! Em 1585 Fernão Cardim relata que, de tão ingrime, em alguns trechos era necessário escalar com as mãos. Nesse mesmo ano o próprio Anchieta diz:
"Vão lá por umas serras tão altas que dificultosamente podem subir nenhuns animais, e os homens sobem com trabalho e às vêzes de gatinhas por não despenharem-se, e por ser o caminho tão mau e ter ruim serventia padecem os moradores e os nossos grandes trabalhos". [6]
Em 1607, na cidade de São Paulo, “se vendiam mui bons cavalos, mas os caminhos não permitiam cavalgaduras" [7]. Em 1656 “não era possível o trânsito de animais, pois não caminhando que se faz a maior parte da viagem; é de rastros sobre as mãos e os pés, agarrando-se às raízes das árvores, em meio de rochedos ponteagudos e de tão terríveis precipícios, tremiam, confessavam, quando olhavam para baixo”. [15]
Esse caminho permaneceria com poucas atenuantes por mais uns duzentos anos. Em 1699 não haviam cavalos em Santos [16]. Data de 1792 A PRIMEIRA VIA DE LIGAÇÃO ENTRE A CAPITAL E O LITORAL PAULISTA, a Calçada do Lorena [18].
Porém, em 1852, 60 anos depois, "cavalos que não suportavam a travessia e caíam, vivos ainda, cobertos de ramos, tentavam, em vão esforço, levantar a cabeça de quando em vez. Os brasileiros costumavam deixar as pobres bestas no próprio lugar em que tombavam, sem se importarem com a morte delas, sem tirá-las do caminho.
Um vez caído o animal, aliviam-no da carga a fim de lhe facilitar os movimentos; se, mesmo assim, não consegue por-se de pé, sinal evidente de sua fraqueza e inutilidade e, mais ainda, de sua morte próxima, abandonam-no. Ninguém se incomoda mais com a pobre besta.
A carga é posta num dos outros animais, que, sempre em grande número, acompanham a tropa, e o vencido é coberto com alguns ramos. Eis o cuidado único que se toma para advertir as outras tropas que passam, pois tanto as mulas como os cavalos tem uma grande aversão pelos cadáveres dos companheiros, e nada os faria passar junto de um lugar desses". [21]
Em 1854 foi decretado a criação de uma companhia de cavalaria em São Paulo, porém não se realizou porém pela falta de cavalos. Foram tais os preços que me pediram por alguns que apareceram que resolvi demorar nesta parte da execução da lei.
É estranha essa falta de cavalos, em São Paulo, depois da metade do século XVIII e mais ainda no XIX; pois verifica-se que só no ano de 1751 passaram pelo registro de Curitiba, importados do extremo-sul e naturalmente com destino à feira de Sorocaba, nada menos de 6559 daqueles animais. [17]
Sendo que mesmo antes da abertura do péssimo caminho de Anchieta, em 1553, já haviam gados em São Paulo. Por qual caminho esses animais cruzavam a Serra do Mar?
3 - O caminho do Peabiru
Afinal, a suntuosa comitiva escalou ou percorreu a Serra do Mar em 1532? Em abril de 1560, qual caminho, inteiramente calçado, que ia de São Vicente à planície de Piratininga, encantou Mem de Sá com a beleza do trabalho? [10]
As consequências desse momento ultrapassam os limites das Histórias sorocabana e paulistana, alteraram os rumos de eventos que nos trouxeram até o atual momento...
Já em 1549 falava-se que o Inca construiu a mais grandiosa estrada que há no mundo, e que é, também, a mais longa, e desde o começo da História escrita do homem, nunca houve outra narrativa de grandiosidade tamanha, como a que pode ser vista nesta estrada que passa por cima de vales profundos (...) [29]
Era uma via construída pelos incas, de largura reduzida, em geral de 1 metro a 1 metro e meio muitas vezes, quando em terrenos mais moles, calçada de lages pequenas. As subidas dos morros era feita por mini-degraus, tão suaves que até cavalos podiam utilizar-se deles. [28]
A arqueólogo Igor Chmyz, que na década de 1970 coordenou uma equipe que identificou 30km da trilha do Peabiru, diz que “todos que me perguntam sobre esse caminho, geralmente, se referem aos incas, como se esse caminho estivesse associado aos incaicos.” [17]
4 - Sorocaba e cruz
O chamado caminho do Peabiru também era chamado de caminho de São Tomé. Para os nativos, o caminho estava associado a visita de um misterioso estrangeiro que denominavam Pay Zumé.
O padre jesuíta Manoel da Nóbrega escreveu ao seu superior em Coimbra: "São Tomé esteve aqui! (...) Alguns nativos procuram a cruz e Casa de canto como se fosse um hábito antigo".
A cruz já era um símbolo sagrado para os nativos. Uns dizem ser pelos princípios cristãos ensinados por Pay Zumé, ou o próprio apóstolo de Cristo. Outros alegam que a cruz para eles já era sagrada, e representava o entrocamento de caminhos. [2]
Da passagem de índios dos grupos tupi por Sorocaba, em seu nomadismo, a certeza é completa! Haviam nativos transitando por Sorocaba, por um caminho terrestre-fluvial que ligava o litoral.
Escrevem sobre “um sistema viário ou feixe de comunicações no qual Sorocaba era o ponto de passagem”. Aqui limitavam-se vários grupos nativos. Era, já então, uma encruzilhada aonde convergiam. [1]
5 - O Caminho...
Muitos especulam por onde, exatamente, esses caminhos cruzavam Sorocaba. Minhas pesquisas indicam que o mais notável caminho que, não só cruzava Sorocaba, mas entre todos os caminhos já existentes antes da chegada dos europeus, era o o que da aldeia de Imbohy (ou Mboy), passando por Santo Amaro e Itapecerica da Serra se dirigia a Itanhaém, conhecido por Caminho do Gado.
Era nessa região, cortada pelos dois caminhos - do gado e da aldeia velha (Paraná-mirim) - que estavam situadas as minas de Araçoiaba e as legendárias terras auríficas de Botucavarú, Lagoa Dourada e outras, das quais os aranzéis (roteiros antigos) nos dão notícias.
Esse caminho era o divisor de águas que nasciam na Serra "do rio que nasce junto ao Cubatão e desciam por ela", "em Caucaia, caminho para o mar, (...) indo para o mar nas cabeceiras de Gaspar Conqueiro, Cornélio de Arzão e Damião Simões".
Sabemos que Caucaia de localiza na Serra, entre os municípios de Cotia e de Una (Ibiúna) e que Cornélio de Arzão possuía uma Fazenda em Apereatuba, atual bairro Piratuba na cidade de Piedade.
Nota-se que TODOS os proprietários dessas terras eram aparentados. Em 1623, Luis Furtado, morador e proprietário nas proximidades de Itanhaém, denunciou-os por:
“impedir o livre trânsito no antigo caminho real, que era utilizado por nativos e pelos moradores da vila que negociavam com eles. Segundo a denúncia, tratavam mal os nativos, confiscavam os bens trazidos por eles e impediam a romaria até Itanhaém”. [2]
6 - De Piedade a Juquiá
Quais seriam as atuais cidades que eram cortadas por este caminho até Itanhaém? Passaria por Juquiá? São raros os documentos que registram esse caminho!
Poderia este caminho ser aquele que atualmente liga Piedade á Juquiá passando por Tapiraí e pela "Cabeça da Anta"? A novamente encontram-se muitas lacunas nos registros.
Em 1824 “consta que vai abrir uma estrada de Sorocaba para o Rio Juquiá, obra de suma importância e interesse para os Povos de ambos os distritos (...) porém lembra-se a providência da abertura de outra estrada que saindo da Capital, costeando a serra pelos Campos á esquerda da Freguesia de Cotia, va reunir-se a estrada que se fizer de Sorocaba para Juquiá, naquela parte onde foi possível junto a Serra”. [10]
A Prefeitura de Juquiá afirma que em 1824 foi aberta uma picada entre Sorocaba até o rio Juquiá, porém na cita a fonte da informação [11].
O relatório apresentado á Assembléia Geral Legislativa na segunda sessão da décima-segunda legislatura, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, José Mariano de Matos, em 1864, aparenta que a dúvida não é somente minha:
"Foi-me recomendado o exame da estrada que se havia projetado para um porto de embarque no rio Juquiá, afluente da ribeira do Iguape: as notícias que achei acerca desta estrada davam a distância entre Ypanema e o referido porto de nove até dezesseis léguas.
Como eu não conhecia o rumo em que ficava o porto em questão, resolvi seguir por qualquer caminho que para lá conduzisse, calcular a posição astronômica e dai deduzir a distância e a direção á fábrica.
Informei-me dos habitantes do lugar se havia meio de transitar com os meus instrumentos geodésicos, afirmaram-me que havia estrada pela qual passavam animais carregados, boiadas, etc.; além disso tive notícia que posteriormente a 1859 se havia gasto 14:000$00 rs. com ela". [14]
Em 21 de janeiro de 1562 “informa com urgência sobre o objeto do incluso ofício em que José Francisco da Rosa, inspetor da estrada do Ypanema a Juquiá, pede o pagamento da quantia de 7:507$480”. [13] |