| A atual região de Sorocaba aparece nos documentos como uma "rabíola de pipa embramada". Entre "Nossa Senhora da Ponte", fundada por "Balthazar" em 1661 e a anterior, "Nossa Senhora de Montserrat", estão 50 anos de "silêncio", chamado assim por Aluísio de Almeida.
"Sorocaba" aparece no "google" a partir de 1842, como "Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba". Porém, quase cem anos antes, era a principal "vila" do estado e talvez do Brasil. Possuía cinco vezes mais habitantes do que a atual São Paulo. Sorocaba tinha 1.191 prédios e uma população de 5.158 pessoas enquanto a atual capital contava com 1.516 habitantes. São Paulo era a décima no ranking das mais habitadas. As duas primeiras eram Sorocaba e Paranaguá.
Sobre a fundação "oficial", em 1661, o jornalista Sérgio Coelho de Oliveira, autor de "Baltazar Fernandes: Culpado ou Inocente?", no qual se posiciona como "advogado de defesa" do bandeirante no caso "Assassinato do Padre Alfaro", diz:
"Como se fosse coisa de Deus, a oportunidade de fundar Sorocaba em 1661 surgiu de bandeja, com a visita do Capitão Salvador Correia de Sá a São Paulo, governador residente no Rio de Janeiro".
É uma verdadeira "blasfêmia", pois, o motivo registrado nos documentos é claramente a "pinga", a "Revolta da Cachaça", como o motivo da "expulsão" de Salvador Correia do Rio.
PARECE MILAGRE
Em 1661 Salvador Correia de Sá governava do Rio de Janeiro quando foi "obrigado" a viajar a Pronvíncia de São Paulo. De alguma forma o "fundador" de Sorocaba fica sabendo da visita, monta em seu cavalo, aos 80 anos de idade, cavalga por três dias, e se encontra com o ele no dia 2 de março e no dia seguinte o documento que autorizava a criação da "vila de Nossa Senhora de Ponte", após ter sido assinado em São Vicente, retorna a São Paulo e fim!
Sendo assim, presume-se que o "fundador" de Sorocaba já teria pronto extensos documentos, listas nominando ao menos 30 famílias e todas as informações necessárias, somente aguardando a oportunidade. Ok? Alguns autores supõem a possibilidade do "fundador" não ter feito a longa cavalgada. Devido a idade avançada teria enviado "assessores".
Ele indo pessoalmente ou não existe outro problema na cronologia. Salvador Correia só foi oficialmente convidado pelos paulistas no dia 3 de março, ou seja, quando ele e o "fundador" de Sorocaba se encontraram, não foi em São Paulo! Então a viagem feita em três dias teria sido mais longa. Aonde estaria o governador?
A "vila" foi criada e no mês seguinte o general Sá e Benevides, acompanhado de "bandeirantes" paulistas, atacam e apoderam-se da Torre da Pólvora, dos fortes de São Sebestião e Santiago, onde estava o Arsenal de Guerra e reconquistam o Rio de Janeiro.
VILA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE PARANGUÁ
Salvador Correia de Sá sempre soube do ouro em "Paranaguá". Ainda pequeno, quando o Governador D. Francisco enviou três expedições para procurar seu companheiro Gabriel Soares, que havia morrido num lugar conhecido como "Sabarabussú", Salvador acompanhava seu pai na expedição comandanda por Martim Correia de Sá.
É nesse período, chamado por Aluísio de Almeida como "o silêncio em Sorocaba", que acontece algo inédito na história do Brasil: um homem foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos, quando um novo rei assumiu o trono de Portugal.
O partido ao qual pertenciam Gabriel Ponce de León, D. Bartolomeu de Torales, D. André de Zúñega e seu irmão D. Bartolomeu de Contreras y Torales, e entre outros, que subscreveram o termo de aclamação, a 1º de abril de 1641.
Os citados deviam ser os líderes desse movimento, pois o trono foi oferecido ao sogro deles, ele próprio filho de espanhol e homem do maior prol em sua república pela inteligência, a fortuna, o passado de bandeirante, o casamento, os cargos ocupados. Negou e foi até ameaçado de morte caso não quisesse empunhar o cetro tendo que sair de casa fugido para esconder-se no Mosteiro de São Bento."
De onde emanava o poder deste homem, que tamanha honraria, respeito e liderança, nenhum outro brasilero foi merecedor de receber? O "aclamado" e seus genros são "fundadores" de Sorocaba, pelas mãos de Salvador Benevides. Teria alguma conexão com o ouro?
Em 1643, Salvador Corrêa, tendo noticia da existência de minas de ouro em algum lugar de São Paulo, resolveu empreender uma viagem a Portugal. Lá informou a Rei e propôs o descobrimento das minas da Capitania.
Em 24 de junho de 1645 ele escreve à Câmara de São Paulo, convidando os paulistas a se reconciliarem e a porem fim a seus sangrentos conflitos e, ao terminar, recomenda a cunhagem do ouro na Casa da Moeda de São Paulo.
Em 17 de janeiro de 1654 registra-se o manifesto que fez o Capitão Bartholomeu de Toralles perante o Provedor das minas, o Capitão Diogo Vaz de Escobar, do minerio de prata que descobrira num serro próximo da vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranagua.
GABRIEL DE LARA E A VILA DE PARANAGUÁ
Um ano antes (1640) muitos novos habitantes haviam chegada a "Paranaguá", atraídos pela mineração, e atingiu seu ponto máximo, com a chegada de Gabrel de Lara, recorrente na genealogia dos "fundadores" de Sorocaba. Ele era cunhado do "fundador" de Sorocaba, estava presente no leito de morte de sua mãe, Suzanna Dias, ao lado dele e dos irmãos, quando o testamento dela foi escrito em 8 de dezembro de 1634.
Em 1646 todos ficam sabendo do ouro em "Paranaguá", quando Gabriel de Lara viaja para São Paulo especialmente para registrar o precioso minerio na casa da moeda. Isso atraiu a cobiça dos vicentistas. Estes, em grande número, se fizeram transportar á Paranaguá, onde se atiraram resolutamente ás explorações dos rios das serras e montes circunvisinhos, em bandos tão numerosos que pareciam cidades ambulantes.
Neste mesmo ano os documentos registram que o "fundador de Sorocaba", juntos a seus genros, os filhos e incríveis 400 nominados e registrados "escravizados", se transportaram para o lugar chamado Sorocaba, Gabriel de Lara, seu cunhado do "fundador", estava em Paranaguá procurando ouro. E por ordem da Metrópole, Gabriel de Lara constrói um pelourinho em "Pananaguá", símbolo da autoridade e justiça do Rei.
Dia 19 de julho de 1648 Gabriel de Lara faz a leitura de elevação desse povoado à categoria de "Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá". Neste mesmo ano, é irônico André Fernandes ter, segundo o vago registro, "falecido em data e local desconhecido, no oeste longínquo, em local tão oposto ao sertão do Sabaraboçu onde sempre desejara e prometera ir.
É claro que fizeram de tudo para esconder. A administração das Minas de Paranaguá, por autoridades nomeadas pelo Governo do Rio de Janeiro, não era bem vista pelo Governo de S. Paulo. Além disso, a competição de dominação por parte dos descendentes dos donatarios das Capitanias de S. Vicente e de S. Amaro, veio estabelecer grande tumulto e confusão.
Por qual motivo Gabriel de Lara foi acusado em 27 de novembro de 1649, perante a Câmara por "tentar registrar ouro da "Vila de Paranaguá" na Vila de São Paulo"? O que era extremamente proibido e extremamente fora da lei.
O MILAGRE FOI AQUI
Todos os registros contidos nos documentos que descrevem a vida de Salvador Correa de Sá, quando relacionados, evidenciam que foi o ouro que fez "um idoso cavalgar vários dias milagrosamente". Pois este "idoso", tamanho poder e respeito não teve "que sair de casa", de seu luxuoso sobrado em Sorocaba.
Em 1643, Salvador Corrêa de Sá e Benavides, tendo noticia da existencia de minas de ouro em S. Paulo, resolveu empreender uma viagem a Portugal. Lá informou a Rei e propôs o descobrimento das minas da Capitania. O Rei aceitou a proposta e ofereceu-lhe o título de Marques e 4000 cruzados anuais, se elas rendessem até 500.000 cruzados á Corôa; e 5% do produto de todo o ouro que delas fosse retirado.
Dia 20 de maio de 1653 Salvador Correia encarrega Alvaro Rodrigues do Prado de descobrir as minas de Paranaguá. Parece ter sido uma escolha ingênua, afinal o pai de Alvaro, Clemente Alvares, havia fundado, em 15 de agosto de 1607, uma "fundição de metais" neste mesmo local.
Dia 17 de janeiro do ano seguinte, 1654, registra-se o manifesto que fez o Capitão Bartholomeu de Toralles perante o Provedor das minas, o Capitão Diogo Vaz de Escobar, do minerio de prata que descobrira num serro próximo da vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranagua.
Dia 2 de setembro de 1654, em carta de Salvador Correia de Sá e Benevides ao rei, ele falava que, em relação às minas de São Paulo, os interessados “as avaliam por mais do que são; e os outros por menos do que mostram” .
Na Universidade de Coimbra encontram-se os documentos manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval referentes ao Brasil. Lá encontramos a carta escrita por Tomé Correia de Alvarenga ao Rei, um mês após o "encontro milagroso" que "fundou" Sorocaba, comunicando o motim ocorrido em São Sebastião do Rio de Janeiro, diz que Salvador Correia de Sá teria ido e estaria na "Vila de Paranaguá"...
COMO O SEGREDO FOI MANTIDO
Mas a fama da existência de prata e ouro não pararam de relacionar "Sabarabussú" a "Paranaguá". Em uma carta dirigida ao rei, escrita em 20 de maio 1653 pelo provedor da fazenda do Rio de Janeiro e administrador geral das Minas do sul, Pedro de Sousa Pereira, é mencionada uma suposta amostra de prata trazida do sertão por Antonio Nunes Pinto.
É interessante observar que, ao mesmo tempo em que procura apurar esta informação, o provedor da fazenda preocupa-se em organizar uma expedição para a busca da serra do Sabarabuçu:
“Somente tratei de averiguar as noticias que havia das pedras da prata, que do sertão trouxe Antonio Nunes Pinto, e as da Serra de Sabarabussú, e achando de uma e outra couza bastantes informações, encarreguei do descobrimento da dita Serra a Álvaro Rodrigues do Prado”.
Escolheram o homem errado. O pai de Alvaro Rodrigues havia construído uma "fundição de metais" em Sabarabussú, dia 15 de agosto de 1607.
Quatro anos "Sorocaba" ter sido fundada por "Balthazar Fernandes" surge o apelo do Rei D Afonso VI para que Fernão Dias, “chefe de ilustre família, senhor de vastos latifúndios e milhares de escravos, aldeias de índios que administrava, e grossos cabedais, além de corpo de armas numeroso”, partisse em busca do Sabarabussu.
Após muitos anos, em 19 de fevreiro de 1671, Fernão Dias escreve, faz algumas referências geográficas que identificavam o sítio onde a Serra do Sabarabuçu, onde se encontrava, na Bahia: “E porque aqui se me disse que do pé das Serras do Sabarabussú, ha um Rio navegavel que se vae meter no de São Francisco e que por ele abaixo se poderá conduzir mais brevemente a prata até junto a estas Serras que ficam no distrito da Bahia”.
É aí que aparece pela primeira vez nos documentos a palavra "paulista". Em 8 de maio o Visconde de Barbacena torna Fernão Dias chefe da grande expedição com o título de "governador das esmeraldas e da conquista dos índios Mapaxós".
Barbacena e Fernão dias iniciam uma correspondência desenfreada! Dois grossos volumes contêm essas letras frenéticas começou ele por mandar a Fernão Dias Paes Leme carta sobre carta. Eram tudo incitamentos, promessas atiçadoras, grandes e fogosas palavras para que o potentado paulista se botasse pelos matos em busca de esmeraldas e prata.
A angústia do Visconde de Barbacena cessou quando, certa vez, estando na Bahia, veio a cidade um morador do sertão, cujas experiencias e procedimentos poderam abonar as suas atestações. Informou ao governador ter descoberto grandiosas minas de prata em parte muito diversa.
Quem era esse morador do sertão que assim carreava notícia tão ridente? Um mensageiro de certo Antônio Lemos Conde. E quem era Antônio Lemos Conde? Era, "lá do sul", provedor-mor dos Reais Quintos de ouro.
Mensageiro, aparentemente pessoa qualificada e de alta responsabilidade. E a notícia, por isso mesmo, merecedora do mais alto crédito. Mas onde? Logo Barbacena perguntou "onde ficavam as tais minas?"
Numa região inteiramente inesperada: em Paranaguá. Sim, em Paranaguá, no atual Estado do Bahia é que está a Sabarabuçu! A Serra das Esmeraldas!"
A "paranaguá bahiana" não vingou, pois em 1721 a atual e nova "Paranaguá" foi criada no Paraná. Fica claro que não se trata da mesma citada nos documentos como aquela relacionada ao "ouro de Sabarabussú". Pois foi somente neste ano (1721) que a regulamentação da vida urbana nessa nova vila foi definida, com a presença do Ouvidor-Geral da Capitania de São Paulo, Rafael Pires Pardinho.
Os 178 provimentos foram lidos para apenas 115 moradores e tratavam de suas relações com as comunidades vizinhas, como Antonina e Curitiba, além da abertura e conservação de estradas, organização do sistema de defesa militar, projeto para a construção da Casa de Câmara e Cadeia de Paranaguá, entre outros atos administrativos.
É neste período que a atual Sorocaba era o principal do estado e talvez do Brasil. Possuía cinco vezes mais habitantes do que a atual São Paulo. Sorocaba tinha 1.191 prédios e uma população de 5.158 pessoas enquanto a atual capital contava com 1.516 habitantes.
Somente em 5 de janeiro de 1800 a Câmara da atual Paranaguá estabelece as Casinhas, e nelas se venderem gêneros comestíveis como carne seca, toucinho, lombo, banha, feijão, milho, queijo, erva-mate, tudo por pesos miúdos. Até mesmo o bispo responsável pelo livro do Tombo da cidade apontou "incoerências" nos registros. |