Essa "história", bem curtinha, com poucas datas, de 1698 á 1710, apenas um pequeno trecho sobre a "fundação" de Sorocaba, me faz lembrar uma entrevista ocorrida em 21 de dezembro de 1971. QUando Francisco Cândido Xavier, esteve diante da pergunta de um dos entrevistadores sobre um dos assuntos mais debatidos em todos os tempos, a pena de morte. Na condição de "cristão e com a máxima veneração as nossas leis e pelas autoridades que as expõem", ele evoca palavras contidas na Bíblia:
"Dentro da parábola existem as qualificações menos uma. Um homem descia de Jerusalem para Jericó quando caiu em poder de malfeitores que o feriram e o deixaram sem qualquer piedade. Em seguida passou um religioso que o viu e seguiu adiante; em seguida veio um levita que o viu também e também passou adiante; em seguida veio um samaritano, este considerado um homem até mesmo sem qualquer qualificação religiosa, mas era um samaritano, e foi ele que fez o papel da caridade e do amor que devemos uns aos outros; outro vem em seguida.
Todos os que apareceram foram qualificados pelo Senhor, menos a vítima... A vítima era um homem, quem quer que seja, merece o nosso respeito (...) como Cristão, não posso censurar ninguém (...) nós todos somos irmãos (...) devemos acreditar que a justiça tenha recursos para tratamento espiritual quando estivermos em desacordo com os príncipios de fraternidade e respeito que nos régem uns diante dos outros (...)
(...) mas que nenhum homem seja morto em nome da justica. A vítima era um homem, um homem que nunca saberemos quem era, se era abastado ou menos abastado, se ele era amaducerido ou jovem (...) [39]
“TODOS QUE BUSCARAM O SABABUSSÚ MORRERAM”
Foi o que escreveu um dos maiores estudiosos da lenda do ouro de "Sabarabussú", Paulo Setúbal, em "Romance da Prata".
A lenda de uma cidade feita toda de ouro, conhecida por "Eldorado", na verdade é registrado nos documentos como "Sabarabussú", literalmente "sagrada montanha resplandescente", como nativos chamavam o local. Os documentos são fartos quanto a isso. A nossa históra apesar de mal contada e mal documentada, está bastante registrada.
Desafio os pesquisadores, históriadores e geográfos a, baseado nos documentos, relacionar o atual estado de Minas Gerais a lenda da montanha sagrada. Durante mais de 200 anos a lenda esteve relacionada a atual região de Sorocaba, mais especificamente o "Araçoiaba". Os registros são tão espeficicos quanto a isso que sabemos até mesmo o dia exato no qual "Sabarabussu" passou a ser associado a Minas Gerais.
As minas que Borba Gato apresentou para Artur de Sá e que ele mesmo conferiu em 15 de outubro de 1698 foi na "Paragem a que chamam Sabarahussú" [18]. Foi no dia 8 de julho de 1711, quando um povoado foi elevada a "Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabarabuçu", com o fim da Guerra dos Emboabas, que terminou com a expulsão dos paulistas daquele estado [38]. Este episódio não foi todo esclarecido ainda, sendo que, nele, várias passagens permanecem obscuras.
MANUEL DE BORBA GATO
Um dos homens que morreu na busca e no "Sabarabussú" foi Rodrigo de Castelo Branco (uma das autoridades nomeadas para encontrar a montanha), empurrado num "sumidouro" (buraco de mina) por Manuel de Borba Gato. [13]
Após ter assassinado Castelo Branco, Borba Gato desaparece dos registros. Isso foi dia 28 de agosto de 1682. E após muitos anos, é por meio de seu primo, Garcia Rodrigues Paes, que chegam notícias de Borba Gato.
Artur de Sá, que substituiu Rodrigo Castelo Branco, desde início declarava que sua missão era encontrar o Sabababussu. Ao chegar a São Paulo é abordado por Garcia Paes, com notícias incríveis: Borba Gato encontrou a montanha sagrada! E revelaria em troca de "perdão e poder".
Conseguiu ambos. Borba Gato apresenta o Sabarabussu para Artur de Sá e ponto final! Após 200 anos procurando em "Sorocaba", a montanha sagrada ficava na verdade na atual Minas Gerais.
Não foi só Artur de Sá que desconfiou, foram muitos os que, quando viram com os próprios olhos o local apresentado por Borba Gato, perceberam que "ou a lenda era falsa" ou "ali não era o descrito nos documentos como Sabarabussú".
UMA PALAVRA RESPLANDESCENTE
A "Sorocaba" na denominação da cidade, nos documentos, só aparece em 1842, quando "rebatizada" de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba.
Acrescente um "T" ao "Gato" e não encontramos mais o "Manuel Borba". Ele ficou marcado na história como o homem que assassinou aquele que procurava o "Sabarabussú" e que anos depois conseguiu o perdão revelando o local da montanha sagrada.
Os registros são como lápides sem nomes e sem flores. Já ouviram falar de "Nossa Senhora de Mont Serrate"? E "nofsa Sra. do Mofsarrate"? No ano de 1701 encontramos registros curiosos. São dezenas, senão centenas, de documentos que comprovam que paulistas compraram terras em Minas Geras, na esmagadora maioria delas, pago em ouro em pó. Lembrando que o ouro ainda não havia sido extraído em Minas.
Os documentos foram assinados na "nova morada" de Borba Gato, em algum ponto do Rio das Velhas. Ganhou essa "moradia" por ter revelado o local da montanha e seria próximo a montanha. Mas a verdade é que ninguém sabe exatemente onde foram assinados. Nem ao menos sabemos onde Borba Gato esta sepultado. Mas eles existem.
Os locais citados nos documentos ainda nem haviam sido fundados, como por exemplo a cidade de "Sabarabussu", citada nos documentos como "Sabara", ainda não havia sendo fundada. Seu primo, Garcia Paes é o tabelião que assina quase todos estes documentos.
Mesmo confrontando todos os detalhes, conclusão alguma é possível. São textos "vazios" e sem "emoção". Ler todos os documentos foi uma árdua e cansativa tarefa. Quando a energia e a esperança já haviam acabado, o amor inexplicável pela história que me fez continuar. Necessário repetir: são milhares de palavras em centenas de documentos. E em apenas um deles encontra-se a única prova.
E mesmo empoeirado ele reluziu para mim, como a sagrada montanha. Encontrado na gaverta 16 do 2o. cofre, existe um livro curioso, a que faltam, além da abertura e encerramento, as primeiras paginas, pois começa pela de n. 9, sendo todas rubricadas "Olivra.". Mas o que eu procurava está alí, com a assinatura de Borba Gato e Garcia Paes, o local é claro:
Os documentos foram todos assinados em "Nossa Senhora de Montesserrat"! Como se fosse o destino ou o próprio Deus evidenciando a imperfeição humana, talvez simples descuido ou cansaço, afinal, aqueles que produziram todos esses documentos também eram "humanos". [imagem 1]
"Termo de arrematação de terras minerais, assinado no dia 6 de março de 1701, no Ribeirão de Nossa Senhora de Montesserrat, arrematação de terras mineraes, presidida por Borba Gatto [21].
O pouco que se sabe da "Vila Nossa Senhora de Montesserrat", que existiu em "Sorocaba", como mostra o mapa de 1785 [imagem 2], é que ela foi criada devido a descoberta de ouro nas montanhas da Araçoiaba (Sabarabussu).
Quando Borba Gato afirmou que a "montanha sagrada" ficava em Minas, muitos dos termos registrados nos documentos que identificam o local, foram utilizados nas denominações das "novas cidades" criadas no local. Pintaguy, Ibituruma e Sabarabussu são apenas três exemplos de cidades criadas "achando" que era alí, em Minas, o local a que os documentos se referiam.
Em minas, muitos terras foram imediamente compradas, pagas em outro em pó, por nomes constantes na genealogia "sorocabana". Esses paulistas foram expulsos de Minas em 1709...
Nossa Senhora de Mont Serrate e "nofsa Sra. do Mofsarrate" (06/03/1701)