A data de "fundação" de Sorocaba foi escolhida em 1952 para ser "15 de agosto de 1654" talvez para "arredondar a data" e coiscincidir com a grande festa do centenário da cidade, ocorrida logo em seguida a escolha da data, em 1954.
Uma boa data (não a melhor) seria 3 de março de 1661, quando o povoado foi elevado a "vila". Para isso eram necessários, no mínimo, 30 "fogos" (famílias estabelecidas) no local. Quanto a isso não há dúvidas. O próximo passo seria solicitar ao governador a criação de uma vila. O nome escolhido faz os pesquisadores discordarem do motivo até os dias de hoje: "Nossa Senhora da Ponte". Porque não "Sorocaba"? Que tal "Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba"?
Além da denominação, causa estranheza o fato já haver um povoado estabelecido e inclusive já elevado a "vila", no atual bairro Itavuvu, então chamado "Nossa Senhora de Montserrat". Uma padroeira já havia sido estabelecida alí. O "fundador" de Sorocaba, além de fundar uma "nova" vila pediu para transferir o pelourinho que existia no Itavuvu, para "Nossa Senhora da Ponte".
Ou seja, criou uma vila e "matou" outra. Por que? Morar no Itavuvu seria ruim? Vamos lembrar a assinatura do documento que efetivou essa mudança.
"COMO SE FOSSE COISA DE DEUS"
Nas palavras do jornalista Sérgio Coelho de Oliveira, autor de "Baltazar Fernandes: Culpado ou Inocente?", no qual se posiciona como "advogado de defesa" do bandeirante no caso "Assassinato do Padre Alfaro", diz:
"Como se fosse coisa de Deus, a oportunidade de se fazer o pedido surgiu de bandeja, com a visita do Capitão Salvador Correia de Sá, governador da Repartição Sul, a que pertencia a São Paulo." Afinal Salvador Correia residia no Rio de Janeiro.
Como o próprio autor resume no mesmo parágrafo "a visita não foi tão divina assim". Mas não vou detalhar esse encontro, os Benevides e os Fernandes já tinham um relacionamento bastante próximo já fazia mais de 50 anos. Vamos seguir em frente.
No ano anterior a "fundação" da vila Nossa Senhora da Ponte, o "fundador" já havia feito a doação das terras ao Mosteiro de São Bento. A assinatura do documento requer atenção. Salvador Correia de Sá governava do Rio de Janeiro quando foi "obrigado" a viajar a Pronvíncia de São Paulo.De alguma forma o "fundador" de Sorocaba ficou sabendo da visita do governador. Os historiadores costumam dizer que ele montou em seu cavalo, aos 80 anos de idade, cavalgou por três dias, e se encontrou com o governador no dia 2 de março e no dia seguinte o documento que autorizava a criação da "vila de Nossa Senhora de Ponte", após ter sido assinado em São Vicente, retorna a São Paulo e fim!
Sendo assim, presume-se que o "fundador" de Sorocaba já teria a tal lista nominando as 30 famílias e todas as informações necessárias, somente aguardando a oportunidade. Ok? Alguns autores supõem a possibilidade do "fundador" não ter feito a longa cavalgada. Devido a idade avança teria enviado "assessores".
Ele indo pessoalmente ou não existe outro problema na cronologia. Salvador Correia de Sá só foi oficialmente convidado pelos paulistas no dia 3 de março, ou seja, quando ele e o "fundador" de Sorocaba se encontraram, não foi em São Paulo! Então a viagem feita em três dias teria sido mais longa. Aonde estaria o governador?
A "vila" foi criada e no mês seguinte o general Sá e Benevides, acompanhado de "bandeirantes" paulistas, atacam e apoderam-se da Torre da Pólvora, do fortes de São Sebestião e Santiago, onde estava o Arsenal de Guerra e reconquistam o Rio de Janeiro.
O "FUNDADOR" DE SOROCABA ERA SIM UM CRIMINOSO
Calma! Nada de queimar estátuas! Talvez um "Robin Hood", afinal, não havia uma legislação clara quanto as expedições feitas contra os "nativos". Me refiro a violar a lei vigente mesmo.
Ter uma fundição de metais neste trecho das terras era sim proibido desde janeiro de 1556. E mais, encontrar ouro e não comunicar as autoridades também. E, aparentemente, o "fundador" de Sorocaba fez isso por mais de vinte anos.
Em 24 de setembro de 1619 seu irmão, André Fernandes, obteve para si uma concessão de terras alegando ter encontrado ouro, num local chamado "Ibituruma". O ouro nunca foi apresentado, mas a "tenda de ferreiro" de seu irmão, "fundador" de Sorocaba, funcionou, pelo menos, até 1645, quando foi confiscada. E se foi confiscada, qual foi a punição sofrida pelo proprietário do estabelecimento?
O motivo, alegado, da probição das fundições era para a "tecnologia" não cair nas mãos dos nativos, para assim, por exemplo, não fabricarem flechas mais letais, com pontas de metal. Sendo assim, o "fundador" de Sorocaba, nos dias de hoje, estaria fabricando armas de fogo, teria uma fábrica delas.
Os registros silenciam.
TENDA DE FERREIRO
O primeiro documento que aparece a palavra "Sorocaba" (Sorcava, Sorocabua ou Sorocava) é o mesmo que atesta que o "fundador" da cidade tinha, aqui, uma "tenda de ferreiro". Este documento é a base para a teoria de que neste ano, 1654, ele e mais de 400 membros de sua família se estabeleceram aqui.
Isso sempre causou desconfiança. Onde teriam se hospedado, por exemplo, é uma das dúvidas básicas, dada as condições da época. E essa "tenda de ferreiro"? Eu acredito seja a mesma que ele construiu nas terras que seu irmão André encontrou ouro, Ibituruma, e que essa "viagem com 400 pessoas" talvez não aconteceu.
DIA 15 DE AGOSTO E CLEMENTE ALVAREZ
Uma das poucas tentativas de quantificar o ouro encontrado em Sorocaba, baseada nos inventários, calculou cerca de 200 quilos de prata e 19 quilos de ouro, presentes, na sua maioria, em peças e ornamentos, como pratos, brincos, cruzes, taças, anéis etc. Porém a mesma autora, teria indicado, cerca de 930 arrobas (15.000 quilos), por um método que não consegui idenditicar.
A existência de ouro em "Sorocaba" é atestada nos inventários de Maria Pedroso e Maria Gonçalves, esposas de Cláudio Furquim. Uma "tenda de ourives" e ouro em pó são mencionados nos documentos. Cláudio Furquim é o mesmo testamenteiro do "fundador" de Sorocaba.
São muitos os descendentes do "fundador" de Sorocaba. E todos eles tem em sua genealogia um homem que, na maioria das vezes, aparece como "Clemente Alvarez", um dos proprietários dessas terras.
Citando novamente o jornalista Sérgio Coelho de Oliveira sobre o "fundador" de Sorocaba:
"(...) continua sendo um mito! Sua lápide, fria e muda, não fala em morte. Nem se sabe quando ele nasceu. E se nasceu... quando morreu."
Os registros acerca de Clemente Alvarez são mais claros. No dia 15 de agosto de 1607, juntamente com seu sogro, ferreiro experiente, cunhado e alguns sócios, construiu, um engenho de metais sob a invocação de Nossa Senhora de Agosto (ou da Assunção).
Ele já residia em "Ibiaraçoiaba" desde 1600, quando deixou o cargo de almocatel (responsável por pesos e medidas) em São Paulo e obteve uma concessão de terras alí. Ficou como guardião de certo metal que parecia prata, e foi responsável por fazer os testes adequados.
A presensa de Clemente Alvares com sua "tenda de ferreiro" em "Itavuvu" é comprovada em vários documentos da Câmaras Municipais de São Paulo e São Vicente. Em 1609 ele ganha a concessão do "porto de Parapitingui", localizado em nos arredores do atual bairro.
No seu inventário feito dia 27 de junho de 1641 (humm, estamos chegando próxmo a "fundação") consta ter deixado uma casa sobrado, terras em Birasoyaba e Ibituruna. Sua tenda de ferreiro foi avaliada em 13$000, enquanto a casa que tinha “de telhas de três lanços com sua "tacaniça" com sete portas e um meio sobrado”, uma mansão na época, valeu 10$000. Já a casa principal em Parnaiba foi avaliada em 20$000.