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Fernão de Magalhães e o estreito que tem hoje o seu nome, nationalgeographic.pt
6 de abril de 202209/04/2024 11:08:44
Avenida São Paulo
Data: 01/01/1924

Magalhães estava convencido de que conseguiria encontrar uma rota mais curta para chegar ao Oriente e lutou contra os elementos para descobrir o caminho que permitiria atravessar do Atlântico ao Pacífico.

No dia 4 de Setembro de 1522, um navio de aparência fantasmagórica chegava a Sanlúcar de Barrameda, na foz do Guadalquivir. Tratava-se de Victoria, uma das cinco embarcações que formaram a frota liderada por um experiente capitão português, Fernão de Magalhães, que três anos antes se tinha feito ao mar para descobrir a passagem entre o Atlântico e o mar do Sul. A bordo, estavam apenas dezoito homens, entre eles Juan Sebastián Elcano e o veneziano Antonio Pigafetta, cujo diário viria a tornar-se a crónica da primeira viagem à volta do mundo. Não havia rasto de Magalhães.Expedicionário e visionárioNascido em 1480, Fernão de Magalhães pertencia a uma família do Norte de Portugal de origem nobre mas com poucos recursos, pelo que, aos 12 anos, o seu pai enviou-o para Lisboa, onde entrou ao serviço da rainha Leonor. Ali, as notícias sobre o sucesso das expedições portuguesas e castelhanas daquela época suscitaram no jovem o desejo de partir para o Oriente, onde aspirava obter glória e enriquecer.

O comércio com as Índias era uma incrível fonte de riqueza, pelo que Dom Manuel I, o Venturoso, enviou em 1505 uma grande expedição com a missão de assumir o controlo do tráfego de especiarias. Entre os homens que embarcaram rumo àquelas terras, encontrava-se Magalhães, que na altura tinha 25 anos. O navegador português rapidamente pôde mostrar o seu valor. Em 1510, participou na tomada de Goa, a partir de então capital das Índias portuguesas. Um ano mais tarde, interveio na tomada de Malaca (Malásia), e de outras praças.

O grande perigo a bordo: o risco de motimAs grandes viagens, como a de Maga- lhães, colocavam o seu protagonista em situações de tensão extrema, sobretudo quando ao frio e à fome se juntava o medo da natureza selvagem e impiedosa. Como resistir naquele inferno tempestuoso? Po- dia-se confiar no almirante? Saberia para onde se dirigia?

O anúncio do racionamento decretado por Magalhães em finais de Março de 1520, gerou enorme descontentamento entre a tripulação do seu navio e a tensão foi aproveitada por Juan de Cartagena e outros homens, como Juan Sebastián Elcano, para liderar um motim contra o almirante. A tentativa de rebelião foi rapidamente travada, mas Magalhães teve de marcar a sua posição contra aqueles que tinham ousado revoltar-se contra si. Não podia executar de repente cerca de meia centena de homens. Como tal, resolveu submeter a maioria e castigar com dureza os principais cabecilhas e instigadores, como o referido Juan de Cartagena e o capelão Calmette, abandonados numa praia em finais de Agosto de 1520. Na imagem, fragmento de uma gravura do século XVI de Theodor de Bry, dedicada à passagem do estreito por Magalhães, que mostra o almirante sozinho a bordo, rodeado de perigos.

No entanto, o desânimo já pesava em Magalhães. Embora tivesse ascendido na hierarquia, nunca contou realmente com a estima dos seus superiores. Além disso, não via com bons olhos os abusos e a violência com que agiam os seus. À noite, em vez de se entregar a comportamentos desenfreados como faziam os seus companheiros, preferia passar o tempo livre a estudar livros de astronomia e matemática. Os sete anos no Índico começavam a pesar, de modo que, logo que surgiu a oportunidade, empreendeu a viagem de regresso a Lisboa. Acompanhava-o o seu fiel companheiro Henrique, um escravo malaio que permaneceu com ele até ao fim dos seus dias.O regresso de Magalhães a Lisboa, em 1512, passou despercebido numa cidade que gozava os benefícios proporcionados pelo comércio português com as Índias. A sorte andou durante anos longe do capitão, que se viu obrigado a participar numa operação militar em Marrocos, de onde regressou com uma ferida no joelho que o deixou coxo de uma perna.Nos anos que se seguiram, Magalhães dedicou-se a preparar um ambicioso projecto. Dirigia-se regularmente à Casa da Índia, onde se reuniam capitães, pilotos, cartógrafos… e cujos arquivos guardavam valiosos livros e documentos. Foi ali que conheceu o cosmógrafo Rui Faleiro, com quem trabalhou num plano para encontrar uma rota mais curta para chegar às Índias portuguesas, navegando em direcção a poente. Finalizado o plano, faltava apenas encontrar alguém que o financiasse.Confiante na viabilidade do seu projecto, o capitão decidiu expor os seus planos a Dom Manuel que, apesar dos desencontros entre ambos, aceitou suportar os custos da expedição. Ou, pelo menos, disso se convenceu Magalhães até que a realidade se impôs, já que o rei acabou por desdenhar dos planos daquele homem. Humilhado, Magalhães decidiu procurar outro senhor a quem servir.Sevilha era, naquela época, a porta da América, já que todo o tráfico marítimo com as Índias tinha de passar por ali. Magalhães conseguiu apresentar o seu projecto na Casa de Contratação, graças à influência de um primo, mas essa entidade não o considerou viável. No entanto, a intermediação do mercador Juan de Aranda, permitiu-lhe chegar ao arcebispo Fonseca que, interessado no projecto, intercedeu para que o português tivesse a oportunidade de o apresentar a Carlos I no seu palácio de Valladolid. O jovem monarca ficou entusiasmado com uma aventura que, entre outras vantagens, poderia servir para descobrir se as Molucas se encontravam ou não na parte do mundo que o Tratado de Tordesilhas concedera a Castela.

Os preparativos exigiram dezoito meses de trabalho árduo. Magalhães recebeu cinco navios em mau estado que teve de recuperar; por outro lado, o decidido marinheiro teve de lidar com os funcionários da Casa de Contratação e do porto, ignorar as tentativas de sabotagem dos agentes portugueses e reunir uma tripulação de mais de duzentos homens – a maioria de baixa condição e de sete nacionalidades diferentes. No entanto, o almirante não se rendeu e, finalmente, no dia 10 de Agosto de 1519, a armada, formada pelo Trindad, que era o navio-almirante, o Victoria, o Conceição, o Santiago e o Santo António, levantaram âncoras. No dia 20 de Setembro, depois de encherem as despensas com os últimos aprovisionamentos, os navios fizeram-se ao mar.

Em busca do caminho

Depois da escala técnica obrigatória nas ilhas Canárias, a expedição seguiu a linha da costa africana, o que começou a levantar algumas suspeitas aos capitães castelhanos – em especial a Juan de Cartagena, fiscal do rei – para quem o almirante não deixava de ser um estrangeiro que os poderia atraiçoar a qualquer momento. Magalhães tinha consciência da desconfiança que gerava. Mas não estava disposto a partilhar os seus planos. Dois meses depois de partir, avistaram o cabo Frio. Alguns dias mais tarde, no dia 13 de Dezembro de 1519, os navios chegavam à baía de Santa Luzia (Brasil) onde a tripulação pôde desfrutar do calor do clima e das suas gentes.

Instrumentos de navegação. Este astrolábio francês de finais do século XVI foi realizado pelo célebre artesão Philippe Danfrie. Na época em que Magalhães empreendeu a circum-navegação do globo, a tecnologia naval estava pouco desenvolvida; contava com um astrolábio, como o da imagem, mas o sextante, por exemplo, ainda não fora inventado. (Museu de História da Ciência, Oxford).

Nos meses que se seguiram, os navios continuaram ao longo da costa em direcção a sul. Segundo um mapa que Magalhães vira em Portugal alguns anos antes, o caminho deveria encontrar-se por volta dos 40° de latitude sul, mas chegados a esse ponto, não havia nada. Passavam as semanas, os raios de Sol aqueciam cada vez menos, as forças fraquejavam e o mau tempo deixava adivinhar que o Inverno austral não iria ter compaixão. Em finais de Março de 1520, o almirante deu ordem para pararem na baía de São Julião a cerca de mil quilómetros do cabo Horn. Os navios ancorariam ali para passar o Inverno.

Nos meses seguintes, apenas viram um grupo de indígenas, aos quais chamaram “patagões” em virtude da sua grande altura e dos seus enormes pés, cuja pegada e tornava descomunal por força do calçado que utilizavam. Ao chegar Agosto, parecia que os ventos se tornavam mais favoráveis. A Primavera aproximava-se, mas o almirante português não se queria aventurar mais para sul sem antes ter a certeza de que o bom tempo os acompanharia. Além disso, não se poderia permitir a perder mais um navio, pois o Santiago naufragara um mês antes.

A espera no rio Santa Cruz prolongou-se até meados de Outubro. Nessa altura, o almirante ordenou que se levantassem as ncoras e a frota prosseguiu finalmente a rota para sul. Ordenou ao Conceição e ao Santo António que se adiantassem para explorar aquelas costas e, no final de utubro de 1520, os navios puderam ancorar num lugar seguro, à entrada o ansiado estreito, em frente da costa da Terra do Fogo.

Nos dias seguintes, O Conceição e o Santo António exploraram aquele labirinto de ilhas e braços de mar. A sua ausência, no entanto, prolongou-se mais do que era esperado. O português, que já temia o pior, decidiu sair à sua procura e rapidamente encontrou o Conceição, cujo capitão o informou de que a missão tinha tido sucesso: aquele estreito conduzia a mar aberto. No dia 28 de Novembro, os três navios que restavam – o San António desaparecera com todas as provisões a bordo – chegaram ao cabo Horn, onde o oceano Pacífico lhes deu as boas-vindas.O pacífico mar do SulO tempo ameno e alguns ventos favoráveis incendiaram de novo os ânimos de Magalhães e dos seus homens. O almirante acreditava que a viagem até Luzon (Filipinas) seria rápida, mas San Martín, o cosmógrafo que enviou no lugar de Rui Faleiro, mostrou-lhe que estava errado. De acordo com os seus cálculos, tratava-se de um vasto oceano no qual iriam passar muitas semanas. Já tinham poucos víveres, pelo que a morte e o desespero se tornaram, uma vez mais, incómodas companheiras de viagem.Reconhecimento cartográfico. Este mapa de Abraham Ortelius foi realizado em 1570 e inclui já o estreito de Magalhães, dando-lhe o nome do almirante português. O mapa-múndi foi inserido no Theatrum Orbis Terrarum, considerado o primeiro atlas moderno.No início de Março de 1521, três meses depois de entrar no Pacífico, Magalhães chegou a um arquipélago situado a norte de Mindanau, ao qual chamou ilhas dos Ladrões (Marianas), pois os indígenas roubaram-lhes tudo o que puderam. Depois de os castigar, o almirante e os seus homens saquearam a povoação e retomaram a navegação para sudeste. Duas semanas mais tarde, desembarcaram noutra ilha onde Magalhães ordenou que se montasse acampamento. Ali, tiveram contacto com os indígenas que se ofereceram para os levar a Cebu, um grande porto comercial onde chegaram no início de Abril.Finalmente, depois de tantos esforços, as Molucas começavam agora a ser um objectivo alcançável. As águas já lhes pareciam mais familiares, embora ainda tivessem muito caminho pela frente. Em Cebu, Magalhães e os seus homens foram recebidos pelo sultão Humabon, com quem estabeleceram boas relações. Conforme relatou Pigafetta, “abrimos o nosso armazém e expusemos as nossas mercadorias, que os ilhéus admiraram com estranheza. Em troca de objectos de bronze, ferro e outros metais, davam-nos ouro. As nossas bagatelas convertiam-se em arroz, porcos, cabras e outros bens alimentares.”Em pouco tempo, Magalhães conseguiu que os reis locais prestassem vassalagem a Carlos I, embora também tenha deparado com a recusa de Cilapulapu, senhor de Mactan. O almirante decidiu que iria pessoalmente submeter aquele rebelde. Convencido da sua superioridade em relação aos indígenas, o português desembarcou com 49 homens na alvorada do dia 27 de Abril de 1521, disposto a impor-se àquele líder rebelde. Mas naquele dia, uma flecha envenenada atravessou a perna do almirante que não teve outro remédio senão ordenar a retirada. Os seus homens correram para os navios, enquanto ele exalava o último suspiro aos 41 anos, numa distante praia do Extremo Oriente. O seu corpo nunca chegou a ser recuperado, mas a história concedeu-lhe a honra de ser o protagonista da primeira viagem de circum-navegação do globo.
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