O Caminho Novo, entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais,encurtava bastante o trajeto, passando dos 90 dias do Caminho Velho, quevinha por São Paulo, para apenas 17, partindo da baía da Guanabara. Àsua margem havia roças, o que garantia pouso e alimento para os viajantes, com a ocupação das terras circunvizinhas. Não era a única via entre olitoral e as minas, mas era a mais curta e eficiente, sendo, por isso mesmo,a mais controlada pela Coroa, o que levava os eventuais contrabandistas e‘desencaminhadores’ a se utilizar de outros caminhos, menos conhecidose vigiados17.Assim, da mesma forma que a malograda bandeira de Fernão DiasPais Leme, o caçador de esmeraldas, teria dado origem ao Caminho Velho, que ligava São Paulo e outros centros vicentinos ao que era entãodenominado o sertão dos Cataguases, nas Minas Gerais, o seu filho tevepapel fundamental na abertura do Caminho Novo, que veio em substituição àquele.
Havia caminhos de São Paulo para Cuiabá, também por terra e por rio, em meio a “cachoeiras seguidas” e “matas muito grossas”, povoadas ainda de muitas nações de gentios, muito ferozes, que viviam “vagos sem domicílio”18. É o caso daquele que passava pela Vila Boa de Goiás, de cuja abertura foi encarregado o cartógrafo Tosi Colombina, em troca da concessão do seu rendimento por dez anos, em 1750. A iniciativa não foi adiante, por falta de recursos do interessado. Havia caminhos também para o sertão paraguaio, “parte de navegação, parte de viagem por terra”, que ligavam o litoral brasileiro ao Peru. O Paraguai era o epicentro dessas comunicações, que visavam instituir uma nova – e informal – rota da prata, em concorrência com a oficial. [Página 44]
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
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Eu confirmarei perante Deus tudo aquilo que afirmei aos homens.