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O índio “Sorocaba” e os Versteg
22 de janeiro de 186804/04/2024 00:04:07

Valdomiro Sipp diante do tumulo do bisavô Jacó Versteg
Data: 01/01/2000
Créditos: Débora Ertel/GES

Há anos uma história povoa o imaginário de quem vive no Vale do Caí, principalmente nos municípios que ficam mais ao norte desta região. Reza a lenda, que não é tão lenda assim, que um índio caingangue foi o líder de um levante contra os imigrantes alemães.

O fato aconteceu em janeiro de 1868, na localidade de Forromeco, na época interior de São Vendelino, hoje Carlos Barbosa. Fazia 44 anos que os europeus haviam chegado ao Rio Grande do Sul e muitas picadas ainda eram abertas em locais onde até então somente os índios tinham pisado. Se de um lado os europeus queriam construir um novo lar, do outro, os donos da terra eram surpreendidos pela ocupação do homem branco.

Os personagens deste conflito são o nativo batizado como Luís Antônio da Silva Lima , que ficou conhecido pelo apelido pejorativo de Luís Bugre, e a família de Lamperto Versteg, que na realidade era colonizador holandês. Contam as línguas que Bugre e Lamperto tiveram um estranhamento e, como vingança, o índio teria comandado a destruição da propriedade de seu oponente e sequestro de sua família a esposa, Catharina Bein, e os filhos Lucila e Jacó. O paradeiro da esposa de Lamperto nunca foi descoberto depois que teria sido morta de maneira cruel pelos índios.

O mesmo aconteceu com Lucila, que foi retirada do convívio dos índios depois de uma tentativa de fuga. Já Jacó, após dois anos de cárcere, conseguiu fugir e reencontrar o pai na Real Feitoria, em São Leopoldo.

Passaram-se quase 150 anos e apesar disso, não é preciso andar muito por cidades como Feliz, Bom Princípio e São Sebastião do Caí para ouvir alguém dizer “eu conheço essa história”. Se quem conta um conto aumenta um pouco, a fama de Luís Bugre também foi se transformando com o passar do tempo.

O herdeiro da história

Esse relato ganhou força na década de 40, quando o padre Matias José Gansweidt publicou em 1946, pela editora Selbach, o livro “As vítimas do bugre”. A obra, que diz apresentar uma narrativa real de como os fatos aconteceram, teve como base o depoimento de Jacó Versteg, o menino que conseguiu fugir dos caingangues. No entanto, os próprios descendentes concordam que existem algumas contradições no relato.

Uma delas é o nome da esposa de Lamperto, no livro chamada de Valfrida, enquanto que seu nome verdadeiro era Catharina.

Em São Vendelino, um dos guardiões desse episódio é o professor de biologia aposentado e apaixonado por história, Valdomiro Sipp, 72 anos. Em suas veias corre o sangue dos Versteg e foi assim que conheceu os detalhes do conflito que deixou marcas profundas em sua família. Sipp é filho de Theobaldo Carlos Sipp e de Hilda Versteg, que por sua vez era filha de Guilherme, um dos 14 filhos que teve Jacó Versteg.

O Monsenhor Gandsweidt, em seu livro os nossos índios, descreve, com pormenores, o que aconteceu no Campo dos Bugres. Fala de fabricação de bebida alcoólica, as lutas travadas, e rufar de tambores.

Embriagavam-se com cauim. Balavam sob a copa dos pinheiros.

No dia seguinte ao churrasco, a taba corda aos gritos. Ao longe, ouve-se o latido dos cães. É luiz Bugre que chega em visita, acompanhado pela sua cainçalha.

Um dos cães ataca uma índia de nome Sapa e os anciãos se reúnem, às ordens de um índio chamado Sorocaba. O nome do cão é Bull, e é sacrificado, pela lei de talião.

Luiz Bugre conta aos índios o que se passa de parte dos brancos e das expedições armadas. Os caiagangues desfazem-se de tudo. Desarmam as cabanas e apanham seus haveres. Depois, migram para outras regiões, mais ao fundo da floresta, em busca de segurança, arrastando consigo aos três prisioneiros.

A 22 de janeiro de 1868, nova expedição parte para libertar os Versteg. O presidente da Província Francisco de Marcondes Homem de Melo favorece as buscas. O grupo está composto por João Weisheimer, João Vogt, Xavier Angst, Pedro Alles, Castor Gewehr, Felipe Rammé, Nicolau Linsfedl, Felipe Althau, João Gohn, Jacó Blank, Pedro Fusiger, Miguel Ort, Carlos Persch, Romeu Schafer, Jacob Weirich, Valentim Weber, João Flach e Lamberto Versteg.

Chefiava a coluna o Delegado de Polícia de São Leopoldo, cujo nome não aparece entre os componentes do grupo. Na hora da saída, Luiz Bugre aparece e prontifica a ajudar. Ninguém, porém, conhece sua ação no caso do assalto a casa de Versteg.

Estaria ele buscando uma recompensa, em caso de libertação? Ou, então, vai orientar o grupo? O autor do romance descreve a penetração na floresta e narra uma matança de caetetus, episódio lastimável.Teriam sido mortos mais de 700 animais.

A expedição, já no interior da floresta, passa a socorrer-se da orientação de Luiz Bugre. Este os conduz ao "Campos dos Bugres", onde pouco resta da aldeia desmantelada. Os expedicionários desconfiavam da atuação de Luiz, mas, este indica-lhes o caminho para onde se dirigiram os índios, em sua retirada.

A perseguição recomeça. Gandsweidt conta que caminharam quatro horas, e chagaram ao fim da mata, atingindo o campo. Lá matam uma rês, que churrasqueiaram e depois voltam a andar, até que chegam a casa de um fazendeiro chamado Manuel Firminiano.

O autor do romance não dispõe de elementos para situar geograficamente a situação. Patrece, entretanto, que a expedição, seguiu o divisor de aguar até Ana Rech e daí para Vila Seca, entrando pelo campo na altura do Rio Faxinal.

Manuel Firminiano tinha sua casa nas vizinhanças do Rio das Marrecas. Vivia rodeado de agregados e tinha escravos. Recebeu os colonos muito bem, hospedou-os por dois dias e, ainda mais, mandou todo o seu pessoal entrar pela mata, em busca dos prisioneiros.

Nessas andanças apenas encontraram o lugar onde os índios haviam churrasqueado alguns macacos. As chuvas, que caíram, impediram todos os rastros e a expedição voltou sem conseguir a libertação.

Luis Bugre desapareceu. Os expedicionários varam a mata durante 23 dias, e nos valiosos relatórios do Governo da Província, Francisco Marcondes Homem de Melo, aos passar a a ministração ao seu sucessor registra o seguinte:

"Apesar dos núcleos de aldeamentos de índios existentes nesta província, não cessaram eles de incursões e estragos nas suas vizinhanças. No dia 14 daquele mês (janeiro), assaltaram os bugres a casa do colo Lamberto Versteg, da colonia Santa Maria da Soledade, situada no 5o. Distrito de São Leopoldo, levando para a floresta a família do mesmo colono, composta de mulher e filhos.

Tão depressa tive conhecimento desta triste ocorrência, autorizei o Dr. Chefe de Policia a mandar proceder as necessárias diligencias com o fim de afastar os bugres para longe das colonias e de reaver a família raptada.

Por oficio de 24 de fevereiro, comunicou-me o chefe de policia que foram infrutíferas todas as diligencias empregadas, pois apenas encontraram vestígios passageiros da marcha dos índios, despendendo-se com a partida de 19 de janeiro até 11 de fevereiro se internou pelas matas, a quantia de 701$740 réis, que mandei pagar pela diretoria da Fazenda Provincial.

O documento comprova a veracidade dos fatos, ao menos no seu essencial e vincula a est episódio com o passado de Caxias do Sul. ALém de Gandsweidt sobre ele escreveu o Prof. Zulmiro Lino Lermen, com duas obras e o episódio figuras em várias publicações.

Cessas as buscas, Lamberto Versteg perdeu seu interesse de viver. Vendeu suas terras a um imigrante italiano, de nacionalidade austríaca, chamado Antonio Zeni, e transfere-se para São Leopoldo.

Enquanto isso, Valfrida, Lucila e Jacõ acompanham a tribo em sua fuga pela floresta. Daqui por diante, tudo quanto se narra se deve a Jacó Versteg que, a certo momento, consegue libertar-se.

Mas, terá sido realmente o que se sucedeu? Até que ponto Jacó conseguiu assenhorar-se dos fatos, menino que era? O certo é que ele voltou aos braços do pai. Lucila e Valfrida teria sido mortas. Quanto a Valfrida não parece haver duvidas, pois, Jacó tentou encontrar a sua sepultura perto do Rio Burati, mas não conseguiu.

De Lucila, as informações são vagas. Talvez tenha se transformado numa bugra. Nunca conseguiu-se maiores detalhes entre os índios de Caique Doble.

Quem era o Bugre?

Luís Bugre, que com certeza deveria ter outro nome no idioma indígena, acabou sendo criado pelo colono de origem portuguesa João Rodrigues da Fonseca na localidade da Piedade em Bom Princípio.

Se de um lado os colonos tomavam conta das terras que até então eram somente dos nativos, do outro não eram raros os saques dos índios aos galpões dos imigrantes. Foi no ano de 1843, na colônia de Feliz, que os alemães decidiram investir contra os furtos dos indígenas e montaram uma espécie de armadilha. Alguns dizem que o menino caingangue teria ficado para trás enquanto os adultos fugiam da fúria dos colonos saqueados.

Há outros que garantem que o garoto foi raptado. O certo é que Fonseca, que vivia em meio aos germânicos, passou a criar o menino, que vivia parte do tempo dentro da colônia e parte no meio da mata. O índio aprendeu a falar alemão, mas, como relata o livro de Gansweidt, apesar de viver em meio aos brancos mantinha as características de homem criado no meio da floresta.

Dessa maneira, Luís Antônio, relacionava-se tanto com os índios como com os colonos e tinha trânsito livre nas duas etnias. No entanto, como até hoje corre pela boca do povo, o índio ficava enfurecido quando era chamado de Bugre, apelido depreciativo.

O índio para a família Fonseca

No município de Feliz, vive o comerciante Renato Froener, 60 anos, descendente de Fonseca, o homem que criou o índio. Ele conta que cresceu ouvindo as histórias que a mãe aprendeu com sua avó, Ana Rodrigues Fonseca, filha de João Rodrigues da Fonseca.

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