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“Uma experiência pernambucana em Angola: o governo de João Fernandes Vieira, 1658 a 1661”. Leandro Nascimento de Souza, Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História. Mestrado em História
201305/04/2024 00:10:23

Em 1644, Correia de Sá regressou de Lisboa para o Brasil. Deveria ir primeiro aSalvador, na Bahia, capital do Estado do Brasil, defendê-la em caso de necessidade e seguirpara o Rio de Janeiro, para preparar a expedição a Angola, que seria chefiada por FranciscoSouto Maior, governador interino da capitania. Correia de Sá retornou ao reino como Generalda Frota do Brasil, no comando de 22 navios, entre eles seis galeões construídos no Rio deJaneiro. Tendo aportado a Lisboa em 1645, teve que comprovar ao Conselho Ultramarino oseu bom proceder, uma vez que se afirmara, à época, que ele, ao passar por Salvador, recusaraapoio ao governador-geral António Teles da Silva num plano para atacar o Recife holandês.Em Lisboa, Correia de Sá trabalhou nos planos para a reconquista do Nordeste do Brasil e deAngola, na qualidade de Conselheiro do Conselho Ultramarino.Apesar de entender que se devia levar a guerra aos holandeses em Angola, optouse por celebrar um acordo diplomático para a restituição dos lugares ocupados. Anos antes,Salvador defendera que um acordo desse tipo seria a solução, tendo a ação do Padre AntónioVieira152 e do embaixador Francisco de Sousa Coutinho nos Países Baixos. Diante do poucoprogresso obtido pela diplomacia, uma intervenção militar afigurou-se então como melhoropção tanto no Brasil como em Angola.

Correia de Sá partiu de Lisboa, a 24 de Outubro de 1647, com uma pequena esquadra de seis navios e a patente de governador das Capitanias do Sul. Não seriam proclamados os verdadeiros poderes que lhe foram atribuídos nem se declarava que partia para reconquistar Angola. Oficialmente continuava-se a pregar as vantagens de um acordo diplomático.

Chegou ao Rio de Janeiro em Janeiro do ano seguinte, 1648, passando a ocupar-se da armada que partiria para Angola, preparando mantimentos e completando as guarnições dos navios. Duarte Correia Vasqueanes, parente de Correia de Sá, governara a capitania entre 1645 e 1648.

Ao chegar ao Rio, Correia de Sá assumiu o governo da capitania entre Janeiro e Maio de 1648 e, neste período, ainda remeteu para o governador-geral, na Bahia, uma embarcação de mantimentos, e despachou três navios com sal para a ilha de Santa Ana, onde deveriam ser preparadas as carnes para a viagem. Incumbiu-se pessoalmente dos preparativos da expedição.

Em 9 de Maio de 1648, Correia de Sá reuniu em sua residência na cidade do Rio de Janeiro os capitães de mar e guerra e os pilotos práticos dos galeões e navios da Armada. Após a reunião, Correia de Sá escreveu para o soberano português relatando as providências tomadas: a armada, seria composta por 15 embarcações, quatro adquiridas às suas próprias expensas, com 1400 homens, dos quais 900 de desembarque. Levavam mantimentos para seis meses. Para fazer face à despesa, Correia de Sá apelou, na capitania, ao patriotismo e aos interesses dos homens mais abastados, aos quais a perda de Angola prejudicava diretamente. Para o financiamento, o povo do Rio de Janeiro contribuiu com 60000 mil cruzados. Para a despesa contribuíram ainda as ordens religiosas, sobretudo a Ordem de São Bento.

A esquadra partiria a 12 de Maio, chegando a Luanda em Agosto. A praça do Rio de Janeiro ficava pouco guarnecida de soldados, munições de guerra, peças de artilharia e de mantimentos. Por essa razão, em sua carta ao soberano, solicitava que se enviassem do Reino munições, pólvora e infantes para as fortalezas que defendiam a cidade, que ficava muito exposta às invasões dos holandeses, já em situação difícil em Pernambuco.

Enquanto isso, na Europa, em Junho de 1648 celebrou-se a paz entre os EstadosGerais e a Espanha, e poucos dias depois chegavam notícias da vitória luso-brasileira sobre osholandeses nas batalhas dos Guararapes, na capitania de Pernambuco. Em Portugal, o padreAntónio Vieira continuava a pregar um acordo diplomático.

A armada de Correia de Sá saiu do Rio de Janeiro em fins de Maio de 1648, comboiando e protegendo, até certa altura da viagem, a frota de açúcar que ia para Portugal. A frota chegou a Quicombo a 12 de Julho de 1648. Dias depois, uma tempestade tirou a vida de 300 homens entre eles o almirante, Baltasar da Costa de Abreu. Comentam autores portugueses que nunca empresa tão importante fora intentada com tão pequenas forças. A construção de um fortim na enseada de Quicombo, o Fortim do Kikombo, permitiu estabelecer comunicações com os portugueses na região que desde a perda de Angola serviu de refugio aos lusos, o Forte de Massângano.

Usando como pretexto as hostilidades que os holandeses moviam aos remanescentes da antiga guarnição portuguesa, Correia de Sá declarou que aquilo era uma flagrante quebra da paz, o que o autorizava a pedir-lhes uma satisfação. Seguiu por mar até São Paulo de Luanda, onde aportou em Agosto. Propôs aos holandeses que abandonassem a cidade, ocupada havia sete anos. Participou-lhes os motivos da sua vinda, as suas razões de queixa, declarando-lhes que como eles não respeitavam a paz, também ele se não julgava obrigado a deixar de a infringir, e portanto que exigia que se entregassem. Surpreendidos com esta audácia, os holandeses avaliaram em maior do que era o poder dos assaltantes, e pediram oito dias para tomarem uma decisão. Na realidade desejavam tempo para que retornassem à cidade 300 soldados, ausentes no interior em busca de suprimentos. Salvador concedeu apenas três dias, e a 14 de Agosto fez desembarcar, a meia légua da cidade, 650 soldados e 250 marinheiros, deixando 180 nos navios155.

Os holandeses, repelidos de todos os pontos exteriores, refugiaram-se na Fortaleza de São Miguel de Luanda e no Forte de Nossa Senhora da Guia, tendo abandonado com tanta pressa o Fortim de Santo António, que não tiveram tempo de encravar mais do que duas peças de artilharia das oito que o fortim possuía. Aproveitou-as Correia de Sá, e juntando-as a quatro meios canhões que mandou desembarcar, formou uma bateria que principiou a bombardear a fortaleza, causando pouco dano, mas produzindo grande terror à guarnição holandesa, assombrados da rapidez com que a bateria se assentara. Viu, porém, Correia de Sá que seria demorado o êxito da bateria e premido pela necessidade de impedir que o inimigo se reforçasse, ordenou, no dia seguinte, 15 de Agosto, o assalto às duas fortalezas ocupadas pelo inimigo. Embora temerário, dado que as fortalezas se encontravam guarnecidas por 1.200 soldados europeus e outros tantos africanos, o assalto foi vitorioso. Após uma escalada inicial em que os assaltantes foram repelidos, Correia de Sá ordenou reagrupar as forças, contando 163 mortos e 160 feridos, cerca de um terço do seu efetivo. Preparava-se para ordenar um segundo assalto quando, com surpresa, viu surgir um negociador holandês que vinha propor uma capitulação. Correia de Sá, de imediato, aceitou-a, concedendo todas as honras militares, facilitando ao inimigo a anistia que pediram para os seus partidários. Assinada a capitulação, no dia seguinte, 16 de Agosto, saíram das duas fortalezas, onde as muralhas se encontravam quase intactas, 1.100 homens que passaram diante de menos de 600, número a que estava reduzido o exército sitiador.

A guarnição de Benguela rendeu se a dois navios portugueses sem disparar umtiro, e a da ilha de São Tomé, apenas sabendo que Luanda se rendera, partiram, desamparandoa ilha e deixando atrás de si a artilharia e munições, de modo que os navios que Correia de Sáenviou para a conquista, já encontraram a bandeira portuguesa arvorada nos fortes. Do mesmomodo desampararam os holandeses também as suas feitorias de Benguela-a-Velha, de Luango [Páginas 59, 60 e 61]

ingleses e holandeses193. Como o seu maior biógrafo afirma, José Antonio Gonsalves deMello, Vieira governou a Paraíba planejando seu governo em Angola, e logo fez solicitaçõesa Coroa portuguesa a respeito de reforçar as defesas angolanas, principalmente com militaresque tinham acumulado experiências nas lutas contras os holandeses no Brasil. Uma consultado Conselho Ultramarino a Rainha regente D. Luísa de Gusmão, datada em 22 de novembrode 1656, dois anos antes de Vieira assumir o governo angolano, nos mostra que Vieirasolicitou a licença para transferir duzentos soldados da Capitania de Pernambuco paraAngola194. Além de soldados Vieira solicitou armamentos, munições e gente preparada paraservir ao arsenal militar, como nos mostra José Antonio Gonsalves de Mello:Pediu também permissão para conduzir de Pernambuco 3 mil mosquetes e arcabuzescom os seus aviamentos, por lhe constar haver lá falta deles e para que do Reino selhe enviassem 100 quintais de pólvora com a munição necessária e dois oficiais deserralheiros ou armeiros para concerto das armas [...] Solicitou ainda autorizaçãopara levar de Pernambuco 6 peças de artilharia, por lhe parecer, à vista da planta dacidade de Luanda, que seria necessário fazer-se de novo uma fortaleza na ponta dailha do mesmo nome ou reedificar-se o Forte do Penedo e guarnecê-lo com artilhariaque não havia ali [...] Pediu ainda que se mandasse conduzir a Angola 400 infantes,por haver ali grande falta de infantaria, que era a principal força que consistia suadefesa, por não haver outra nem por mar nem por terra [...]195Em Consulta do Conselho Ultramarino datada de 23 de novembro de 1656, Vieiracom a justificativa de que precisava de força militar para conquistar os sertões de Angolatambém solicita um número de Cavalos que possam formar duas companhias, o mesmooferece seus cavalos, mais solicita oficiais para as companhias196. Os cavalos foram defundamental importância nas guerras angolanas, inicialmente levados para Angola de regiõescomo Cabo Verde, Espanha, Argentina, Itália e Brasil, no tráfico de escravos os navios quelevassem cavalos para Angola tinham a preferência na liberação do porto. Os cavalos eramum terror para os africanos, pois os mesmos achavam que os animais eram demônios, e issoafetava o psicológico dos soldados nas batalhas, vinte cavaleiros na frente de batalhacausavam um temor maior do que uma infantaria inteira. O cavalo também trazia mobilidadeàs forças governamentais: comunicação, patrulhamento e reconhecimento197. [Página 74]
*“Uma experiência pernambucana em Angola: o governo de João Fernandes Vieira, 1658 a 1661”. Leandro Nascimento de Souza, Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História. Mestrado em História

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“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

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