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“Heroísmos, Sedições e Heresias: A construção do ufanismo e do ressentimento nos sertões da capitania de São Paulo (1768-1774)”, Michael Kobelinski
200808/04/2024 04:30:22

Ao longo do documento Theotônio José Juzarte ressalta a severidade dos “trabalhos,fomes, necessidades, perigos e mortandade”. A concepção de espacialidade e a cautela comoforma de sobrevivência permitiu o reconhecimento dos sertões do Iguatemi; a grandeza dosrios, os perigos e as populações ameríndias. Ele deu atenção especial à toponímia indígena e àzoografia tropical na medida em que se tornavam vitais à sobrevivência da expedição, ou porseu revés, quando tornava-se ameaçadora e colocava a existência humana em perigo.Mas o ponto central a ser identificado em Theotônio José Juzarte manifesta-se nacondição que se fez presente no transcurso dos acontecimentos: o comportamento exasperadoe estressante a que foi submetido. A condição tornava-se mais aguda à medida em que aexpedição avançava e se estabelecia “definitivamente” no “Iguatemi”. Em vários momentoso autor do diário manifesta essa condição psicológica, como, por exemplo, o fato de reunirtodas as pessoas pelas “impertinências, trabalhos e incômodos”. Indício de que, mesmo antesde se começar a expedição, a situação não era desejada e, portanto, era contra a sua vontadeem razão das imposições. Tanto que ao longo do texto raramente refere-se ao Morgado deMateus, e assume que tinha consciência de que havia gente sem escrúpulos entre oscolonizadores.Temos que reconhecer que os recrutamentos forçados, gastos pessoais com expediçõescolonizadoras ou militares, conspiração, deserção, possíveis enfrentamentos com gruposindígenas e espanhóis, isso sem falar da carestia alimentar e do desconforto do sertão, eramsituações extremas para todos. Em tais circunstâncias, as emanações sociais comuns naconstrução das sensibilidades para a paisagem e para a natureza americana foram constituídaspor motivações externas - pela conjuntura histórica -, motivações internas, psíquicas ouorgânicas, nostálgicas e, finalmente, por uma “memória coletiva” estruturada a partir dossentidos e valores atribuídos ao entorno e a suas próprias vidas. 68As incertezas estimularam estados de atenção, como o de vigília, os quais provocaramquadros melancólicos. 69 Aquelas pessoas não estavam acostumadas a pernoitar no sertão, emuito menos compartilhar comportamentos da esfera privada com “desconhecidos” e, dessemodo, estavam mais suscetíveis a fragilizações psicológicas e orgânicas: “mais uma vez, violou-se o caráter privado de atos íntimos, os doentes tendo de fazer suas necessidadescorporais onde fosse possível, uns tentando se esconder nos matos, outros desfalecidos e sempoder se movimentar, tendo de ser carregados em redes ou removidos pelos sãos”. 70No primeiro trecho da viagem, nas proximidades do rio Sorocaba, afluente do Tietê,no dia quinze de abril de 1769, Theotônio José Juzarte afirma:soube que um homem se achava esmorecido, e que não comia havia três dias, o qualse achava escondido fora da comunicação das mais pessoas, o qual fiz conduzir, econsolando-o e fortificando-o com vinho, e sustento, foi tomando a si, e me disseque por acanhado, e melancólico esperava ocasião de se deixar ficar, e morrernaqueles matos, ao qual daí em diante me foi preciso pôr-lhe vigia. 71Outro sinal desse estado depressivo surgiu no dia dezessete de abril de 1769, naprimeira fase da viagem, durante o encontro com Dom Antônio Barbosa, “diretor dapovoação”, na barra do rio Piracicaba, quando um dos soldados pagos embrenhou-se na matae se perdeu. Encontraram-no “trepado sobre uma árvore sem saber em que parte estava, edisposto a ficar a morrer naquele sertão” devido ao fato de fugir de uma vara de porcos domato e de uma “onça de extraordinária grandeza”. 72 Notadamente as motivações para essesestados de alteração eram mais profundas.Na navegação pelos rios Tietê, Paraná e Iguatemi não se reconheceram apenas osproblemas advindos dos perigos fluviais. A percepção da fauna colonial também remete aessas situações psicológicas de desconforto, uma vez que elas são freqüentes durante ajornada e, ao mesmo tempo, requeriam atenção dobrada. As serpentes do Velho Testamentose materializavam por todo lugar: “são estas cobras tão venenosas, que mordendo emqualquer pessoa instantâneamente fica sem vista, e entra a exalar sangue pelos olhos, bôca, enariz, e pelas unhas, e o mais que dura vivo são vinte, e quatro horas”. 73Em parte da narrativa Juzarte utiliza-se de metáforas para associar diversoscomportamentos entre diferentes representantes do mundo animal: as lontras se parecemcomo os cães; os tuiuiús se assemelham, em tamanho, aos cavalos; as emas eram mais velozes [Páginas 118 e 119]

legasse sinão a memoria de mais um intrépido paulista, que se sacrificara á insaciávelambição dos mandões da época”. 106As ações de Afonso Botelho, porém, diante das notícias da fundação da Vila Real doRio Mourão, não tinham apenas a finalidade de remediar a falta de edificações, “restaurar”ruínas antigas ou promover “desatinadas” formas de deslocamentos populacionais em áreasisoladas, e desvios de recursos régios como viam seus opositores. Também visavam evitarfrustrações no interior da corporação militar e assegurar possessões. Assim, não teria sentidoo Tenente Jeremias de Lemos e João Crisóstomo Pais deslocarem-se para lá, efetuandopagamentos e instruindo o Capitão Francisco Lopes a socorrer a Praça Nossa Senhora dosPrazeres dos ataques de forças espanholas, pois as tensões internas e externas só se“resolveriam”, parcialmente, após a “deposição” tumultuada do Morgado de Mateus.

5.4 Descoberta e enaltecimento

O significado do termo invasão dos sertões toma forma com o reconhecimento doscaminhos que interligavam a orla marítima, o interior dos campos de Tibagi e a Praça deIguatemi ao núcleo da Província de São Paulo, porém não se tratava apenas dereconhecimento prévio, mas de um conjunto de experiências problemáticas relacionadas auma seriação de incursões militares desencontradas onde prevalecia, em primeiro lugar,questões de ordem pessoal.

O diário do Tenente Bruno da Costa Filgueiras, apesar de breve, acrescentainformações sobre as sensibilidades aqui priorizadas. Essa expedição que entrava pelo Porto Nossa Senhora da Conceição de Caiacanga, no rio Grande do Registro em vinte e oito de agosto de 1769, tinha como objetivo “procurar caminho ou por terra, ou por água, por onde se possa chegar com mais comodidade até a barra, que êste rio Grande do Registro faz no Paraná”. 107

Pelo que foi levantado na documentação, a experiência de Bruno da Costa Filgueiras nos sertões foi significativa, pois participara como cabo na expedição de Domingos Lopes Cascais, em dezembro de 1768. Contudo, a descoberta do sertão de Guarapuava também envolvia estratégias bem definidas para suprir as necessidades de abastecimento das tropas.

Mesmo porque as explorações não se realizaram exclusivamente sobre o meio aquático; os“soldados” enfrentaram consideráveis percursos em mata fechada, além das irregularidades do relevo e da precariedade alimentar. Bruno da Costa Filgueiras seguia com um agrupamento de vinte e cinco homens, entre eles mateiros e caçadores da vila de Curitiba (Quadro 4). A navegação em canoas por trinta1 léguas, a organização de um acampamento base na foz do rio Petinga, marchando-se “de dia, e de noute”, demonstram o estado de conhecimento dos interiores coloniais e a urgência de ações pontuais. Entre elas, a principal era procurar a partir de rio Verde, os “ignotos campos de Gorapuava”.

O que é significante neste diário são as supostas imaginações de Bruno da Costa Filgueiras, nas quais se registravam os sons de “onças e tigres, que era gado que andava em campo”. Além do mais, a expedição “acreditou” que estava “abaixo dos saltos grandes do mesmo rio”, nos Campos de Putrebu, na Província do Paraguai e Missões. Aliás, isso pode ter sido algo proposital, uma vez que poderia seguir caminho mais interessante em seu julgamento, e lhe possibilitaria êxito em sua nova exploração. É menos provável que tenha ocorrido um erro estratégico, pois a expedição empreendeu caminho por terra, e depois de explorar o sertão por quarenta dias, acabou retornando ao Porto Nossa Senhora da Victória, no rio Grande do Registro.

A documentação está impregnada do rigor disciplinar do Antigo Regime portuguêsestabelecido por Afonso Botelho na capitania de São Paulo, mas mesmo assim, não há comoolhar para estes documentos sem perceber um campo de “aparição” das sensibilidades emoposição. Nessa austeridade, considerava-se que Bruno da Costa não cumprira fielmente suamissão e “com três dias de volta encontrou a Bernardino da Costa, e José da Costa, seusirmãos, e outros mais, que iam socorrê-lo por ter entrado na quinta expedição, que se segue, ese uniu a esta, e continuou debaixo da ordem do comandante dela, o capitão Antonio daSilveira Peixoto”. 108 Nesse encontro, o Capitão em exercício, Silveira Peixoto considerou quea missão de Bruno da Costa não fora suficiente, e deste modo o encarcerou e o remeteu àParanaguá. [Páginas 173 e 174]
“Heroísmos, Sedições e Heresias: A construção do ufanismo e do ressentimento nos sertões da capitania de São Paulo (1768-1774)”, Michael Kobelinski

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