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Relatório apresentado á Assembléia Geral Legislativa na segunda sessão da décima-segunda legislatura, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, José Mariano de Matos
186406/04/2024 20:06:34

Fazenda Ipanema
Data: 01/01/1879
Créditos: Hemeroteca

Guilherme Schuch de Capanema

“A fábrica deixou de produzir ferro; era pois de esperar que um estabelecimento que tem um administrador e alguns vinte africanos e escravizados válidos, além de uma triste plantação de milho e feijão, que reprovo, pois antes de devia cuidar da cultura de matas, produzisse alguma coisa, pelo menos gado muar e cavalar para sustento do pessoal e transportes.

Não acontece isso, segundo a comparação do quadro de 30 de setembro do ano passado, com um que encontrei de 1851, e ele ai vai em seguida. No mapa de 1851 vem uma nota curiosa que é a declaração do aumento de seis bestas de carga mansas que foram compradas.

Vê-se que em 1851 havia 204 cabeças, e que hoje existem apenas 150. Parece que com efeito é devida essa diminuição em parte a extravios de que se fala que tiveram lugar durante a desastrosa debandada para Mato-Grosso. Em todo o caso os extravios e as trocas são provas de desleixo, ao qual se deve por cobro para o futuro.

Dos terneiros e poldros que ainda nascem, a maior parte morre de berne e bicheira, a verdade é que a Fábrica possui um único campeiro, mas dois bois que havia foram cedidos ao Barão de Antonina, e fazem hoje esse serviço moleques de 12 e 13 anos!

As vacas são pouco prolificas, tanto que durante a minha estada na fábrica nem davam leite para uso da casa, tendo para este fim o administrador algumas de sua propriedade. Os bois inutilizados o são por velhos.

Quanto á produção de animais cavalares, as condições são ainda mais desfavoráveis; ha só um pastor, e não dos melhores, e duas éguas em estado de produzir; as outras já estão estereis”. [Página 10]

Figuram no mapa 15 animais de sela; no entretanto, em quanto estive na fábrica, cavalguei animais de propriedade do administrador, e para fazer excursões maiores tive de pedir-lhe que comprasse um cavalo, que lá deixei entregue.

Quanto aos animais de carga, pode-se fazer uma ideia do que são, á vista da experiência que eu mesmo fiz; quando segui para Juquiá, a besta que levava os meus instrumentos arreou há três léguas da fábrica; foi-se ver e examinar qual a causa, e era bróca; de modo que devo ao obsequio de um fazendeiro o ter-me emprestado outra que aguentou toda a viagem.

De quatro animais de carga que vieram de Sorocaba a Santos com descanso em São Paulo, afrouxaram no caminho dois. Para os conduzir, tive de alugar um tropeiro, porque os negros da fábrica não servem para isso.

Ai nem há meios de ferrar um cavalo. Quanto á material, existiam apenas 10 cangalhas compradas recentemente; não existia selim no estabelecimento; fui obrigado a mandar comprar para as minhas excursões, e é o único que lá existe hoje. [Página 11]

O estado dos escravizados que hoje existem na fábrica não é dos mais lisonjeiros. São em número de 63, destes 27 são maiores de 60 anos, 17 menores de 12 anos, e 3 inválidos, aí vão 47 ou 74% do total inutilizados para o serviço. Africanos livres existem 15, dos quais 3 inválidos e uma de 69 anos.Temos portanto, sobre 68 escravizados e africanos, 27 capazes de serviço; neste número estão incluídos 3 meninos de 12 e 13 anos, que servem para campear gado. E o único oficial de ofício, o pedreiro, é ele aleijado de ambas as pernas.

Ocupa-se toda a gente aproveitável na roça em cultivar mantimentos para sua subsistência. É claro que a fábrica de Ypanema, com suas riquezas tão preciosas, em vez de cuidar da produção de matas durante a sua inação, para então em remoto futuro levantar de novo a cabeça com recursos que se deveriam tornar perpétuos, é hoje um triste asilo de inválidos. E, ainda mais, um adilo pouco digno do Estado, porque é lastimosa a condição dos negros, muitos dos quais já serviram a nação para cima de 60 anos.

Dá-se-lhes uma ração, que é insuficiente para o sustento de um homem robusto, e consta do seguinte:Toucinho, meia libra
Feijão, dois décimo de quarta
Fubá de milho, seis décimos de quarta
Um boi ou novilho, tenha ele 5 ou 10 arrobas, para todos os 78, tudo isto é por semana; e note-se que o fubá é como sai do moinho com farelo, o que reduz a matéria alimentícia á menos de meia quarta; feijão não chega a um selamim. O arroz, farinha, canjica e algum fumo é coisa que só aos doentes de concede.

Quando sobra dinheiro da consignação, compra-se roupa para os escravizados; porém, parece não chegar para todos, porque alguns andam literalmente nus, cobertos com andrajos que não os protegem, nem ao menos contra o frio; parece que de longa data se dava isso, pois pela cópia de um ofício dirigido ao governo pelo atual administrador, vejo que pelo espaço de seis anos não receberam roupa esses entes, dos quais alguns trabalham para o Estado, mal nutridos e sem um real de gratificação!

Ainda não é tudo! Para esses 78 homens, mulheres e crianças, não ha um capelão, e não há um médico! Queixa-se o administrador de que a tesouraria lhe recambiara a conta de um médico chamado para tratar de alguns doentes, por não haver verba no orçamento para se salvar a vida de um homem!

Antigamente se pagava uma gratificação mensal a um médico de Sorocaba, que tinha de acudir aos chamados, e na fábrica havia enfermeiro e botica; haver-se cortado essa despesa foi falta prejudicial ao estabelecimento.

Quanto á botica, tenho a lembrar a conveniência de ser ela sortida com drogas enviadas d´aqui, porque um boticário, Rosa, de Sorocaba, excede de muito os limites do que o decoro permite levar em contas exageradas; como exemplo citarei o clorofórmio, do qual me vendeu, impuro, a onça por 8$000 rs., quando em qualquer parte da Europa custa 2$000 rs. a libra! E a fábrica hoje está sujeita á estes preços exorbitantes.

É pois, medida urgente cuidar do melhoramento do estado moral e físico de toda essa gente que representa o resíduo de 303 escravizados e africanos, cujo assentamento existe na fábrica... [Páginas 12 e 23]

Foi-me recomendado o exame da estrada que se havia projetado para um porto de embarque no rio Juquiá, afluente da ribeira do Iguape: as notícias que achei acerca desta estrada davam a distância entre Ypanema e o referido porto de nove até dezesseis léguas.

Como eu não conhecia o rumo em que ficava o porto em questão, resolvi seguir por qualquer caminho que para lá conduzisse, calcular a posição astronômica e dai deduzir a distância e a direção á fábrica.

Informei-me dos habitantes do lugar se havia meio de transitar com os meus instrumentos geodésicos, afirmaram-me que havia estrada pela qual passavam animais carregados, boiadas, etc.; além disso tive notícia que posteriormente a 1859 se havia gasto 14:000$00 rs. com ela.

Segui para o sul, e afastando apenas 1/3 de légua do meridiano de Ypanema, cheguei á Fazenda do Taboleiro é margem do rio Sarapuhy: ela já é situada sobre terreno granítico, distando em linha reta 4 3/4 de légua da fábrica, e dentro da orla da mata que acima mencionei quando indiquei a necessidade de uma estrada até ai, para abastecimento de combustível.

Continuei ainda no mesmo rumo atravessando a serra de São Francisco, que é fácil de transpor, com declive suave; ela separa a região fluvial que deságua para o Tietê daquela do rio Turvo que corre para o Paranapanema.

Atravessando esse rio até um seu afluente, o Rio Bonito, ainda avancei em direção ao sul 3 1/2 léguas, e perto de duas para leste quase todo o caminho atravessa a mata virgem, por isso não pude avaliar se todas as subidas, das quais algumas bem íngremes e as descidas opostas, podiam ser evitadas, como acontece a muitas delas.

Já uma légua, antes de chegar ao Rio Bonito, viajem pela nova estrada em terras inteiramente desabitadas, tanto que tive de arranchar ao relento. Esta estrada é uma derrubada em mato virgem, com 60 palmos de largura, bem destocada na maior parte de sua extensão; infelizmente são algumas léguas de serviço perdido, porque a direção vária a cada passo, a ponto de desandas ás vezes caminho feito; não ha motivo algum que justifique esta irregularidade, porque colinas perfeitamente rodeáveis, são atravessadas com notável afoutesa; outras, cujas faldas permitiriam ascensão com declive muito branco, sobe-se perpendicularmente ao seu espigão. Em alguns lugares busca-se uma crista, abaixo da qual se avistam á direita e esquerda as mais altas copas de árvores; do lado oposto encontra-se para descida verdadeiros despenhadeiros.

Já se vê, que além da má direção, não houve escolha alguma do mais vantajoso terreno. Do Rio Bonito avancei até a tapéra do Caetano com quase três léguas para leste e 5/6 para o sul; o caminho é sempre através de mato virgem, e os últimos 3/4 de légua já pertencendo á vertentes do Rio Verde que desaguá para o Juquiá, formam um só atoleiro, a ponto que no último quarto de légua foi preciso deixar as malas dos instrumentos e conduzir estes em costas dos negros, porque era preciso atravessar terrenos alagadiços, que se teriam evitado se a estrada acompanhasse a falda de uma montanha na margem oposta do rio. [Página 35]

Outra vantagem a favor do Juquiá é estar muito mais internado, portanto de mais difícil acesso no caso de eventualidade de guerra, do que o Cubatão. Não é sem importância a consideração de que essa estrada pode ainda servir de comunicação interna para a província do Paraná.

Na cabeceiras da ribeira de Iguape existem os depósitos de sulfuretos de chumbo e de ferro, cujas amostras eu vi em diversos lugares, e me parecem ricas; se, pelo exame das localidades a que não pude proceder, que porém devo recomendar como indispensável, essa suposição se verificar, são um recurso precioso para o fabrico de munições de guerra, e que em tempo de paz poderão fornecer valioso auxilio á industria.

Estes depósitos estão em condições que, no caso de um bloqueio, ainda seus produtos poderão ter saída pela estrada do Juquiá. Quanto á lavoura e comércio, os proveitos que lhes resultam são de grande monta.

O território de Sarapuhy está principiando agora a cultura do café, com bom resultado; tem conduzi-lo com 30 léguas até Santos, enquanto ao Juquiá o embarca com 10 léguas. Em torno de Sorocaba se deu principio á cultura de algodão, que produz perfeitamente, e tem de ser embarcado com 28 léguas de transporte terrestre, que para Juquiá reduz-se á metade.

De Tatuí vem mantimentos, inclusive galinhas, com viagem de 36 léguas para Santos: também para esse distrito ainda o caminho para Juquiá reduz-se a pouco mais da metade. Itapetininga, que é grande centro de produção de mantimentos, já ha longo tempo reclama uma comunicação com a ribeira, muitas tentativas tem sido feitas, e uma das picadas na estrada dos 14 contos, que acima descrevi. [Página 37]
*Relatório apresentado á Assembléia Geral Legislativa na segunda sessão da décima-segunda legislatura, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra, José Mariano de Matos

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