História das bandeiras paulistas - Tomo II, 1975. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958)
1975
06/04/2024 10:52:24
História das bandeiras paulistas - Tomo II
Data: 01/01/1975
Créditos: Afonso de E. Taunay
Página 202
Corria a fama de que no litoral paulista havia copioso ouro. Daí as arremetidas de corsários ingleses, segundo nos conta Frei Vicente do Salvador (1564-1639), o propósito das de Fenton em 1583 e Cavendish em 1592.
O ouro apareceu, embora escassamente, na quase contiguidade de São Paulo, no Jaraguá e Vuturuna, onde, segundo Pedro Taques, entre 1590 e 1597 lavraram os dois Sardinha, pai e filho e seu sócio Clemente Álvares.
Os proventos desta mineração, os 80.000 cruzados de ouro em pó, mencionados no testamento do segundo Sardinha, achou-os Capistrano de Abreu muito exagerados. Em todo o caso foi a notícia da existência deste ouro que a São Paulo atraiu D. Francisco de Souza. [História das bandeiras paulistas - Tomo II, 1975. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958). Página 28]
Em meados de junho de 1680 entrou em São Paulo, onde a 2 de julho presidiu uma assembléia a que comparecem os camaristas e muitos sertanistas, várias dos quais eminentes como Matias Cardoso, Brás de Arzão, Jerônimo de Camargo.
Foi o escopo de tal reunião "assentar com acerto o mais útil e conveniente para a função (sic) de Sabarabuçu". Muito desconfiavam os paulistas dos atos do Administrador-Geral e com muita má vontade a Câmara e os particulares atenderam às suas requisições de nativos e mantimentos. Enquanto isto inspecionava as faisqueiras do Jaraguá e da Vuturuna. [História das bandeiras paulistas - Tomo II, 1975. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958). Página 162]
Aos que se aplicam à exegese de tais papéis recomendamos a leitura de um que data de antes de 1711. Certo Antônio Mendes legou-o aos pósteros: o "Aranzel ou rotel de haver ouro e pedras preciosas dos campos de Apreatuba entre o Sul e o Leste". [História das bandeiras paulistas - Tomo II, 1975. Página 202]
Segundo nos relata Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777) na Informação Sobre as Minas de São Paulo, foi o segundo Afonso Sardinha quem entre 1589 e 1597 localizou grandes jazidas nas serras de Jaguamimbaba, Vuturuna e Araçoiaba. D. Francisco de Sousa, amante de quanto se ligasse à mineração, animou-o a explorar o ferro no Araçoiaba. [História das bandeiras paulistas - Tomo II, 1975. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958). Página 346]
*História das bandeiras paulistas - Tomo II, 1975. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958)
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
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É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.