Uma lápide, datada de 1875, foi encontrada no porão de uma escola de Sorocaba, onde permaneceu por aproximadamente 50 anos.
Trata-se de uma importante descoberta para a história da cidade, principalmente pelo nome que ali está gravado:
Francisca Amália do Amaral, mãe do monsenhor João Soares do Amaral, sacerdote sorocabano que foi muito atuante no auxílio aos doentes de febre amarela. O material foi identificado por ocasião de uma reforma no prédio da Escola Estadual Júlio Prestes de Albuquerque, o Estadão.
A informação sobre a lápide circulou rapidamente pela escola depois que alguns estudantes, vendo o porão aberto por causa da reforma, entraram no local. A partir desse dia, os alunos começaram a falar sobre uma "tal de dona Francisca" que perambulava por lá e o boato começou a se tornar famoso naquela instituição de ensino.
"Um conhecido ficou sabendo do fato através de um aluno, decidiu pesquisar e foi assim que descobrimos que tratava-se da lápide da mãe do monsenhor João Soares", conta o diretor da escola, Guaracy Rodrigues Bueno.
De acordo com Guaracy, que é diretor da escola há 20 anos, a lápide já tinha sido vista por ele anteriormente, mas como não sabia mais informações a respeito, acabou esquecendo-se dela.
O risco de desabamento de uma parte do prédio, que exigiu de pedreiros a ida até o porão para fazerem o serviço, motivou uma limpeza do local - que está cheio de objetos descartados, como carteiras, estantes, lustres - e dessa forma a lápide foi reencontrada. Por pouco não foi parar no lixo.
O diretor conta que teve a ideia de pedir para juntarem os pedaços e deixou em um canto com a finalidade de pesquisar. Foi quando os alunos viram.
Outra curiosidade nessa história é que o diretor da escola acabou sabendo que tem parentesco com Francisca Amália do Amaral. "Por parte de uma irmã de meu avô e de uma irmã de meu bisavô", afirma.
Quando soube da importância histórica, o diretor ficou surpreso e resolveu destinar a um museu. O material será encaminhado ao Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Sorocaba.
História da lápide
O diretor do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Sorocaba, Pedro Benedito Paiva Júnior, ficou feliz quando soube da descoberta da lápide e da doação para o acervo.
Pedro anunciou que em breve o museu terá a sua sede própria e o material poderá ser visto pelos sorocabanos. Ele conta que foi pesquisar a respeito da lápide e encontrou periódicos da década de 60 que informavam sobre o assunto.
Em julho de 1963, o jornal Folha Popular já noticiava a descoberta. Pedro explica: "Dona Francisca foi enterrada no Convento Santa Clara. Com o passar dos anos o convento recebeu piso, que encobriu a lápide.
Somente na época da demolição do prédio, que ficava onde hoje é o Conjunto Santa Clara, que os pedreiros encontraram a lápide. O material foi destinado ao museu, mas no ano seguinte o museu, que ficava na rua Padre Luiz, foi fechado e o acervo foi parar no porão da escola", esclarece Pedro.
O diretor do museu, na época, era o professor Renato Sêneca de Sá Fleury, que lecionava no Estadão. Supõe-se que este seja o motivo para ter levado todo o material do museu para o porão da escola.
Conforme Adolfo Frioli, pesquisador da geohistória da região de Sorocaba, e que foi diretor do museu - logo que foi reaberto, em 1968, já no casarão situado no interior do zoológico -, o material que estava no porão da escola foi resgatado nesse período.
"Mas pode ter ficado alguma coisa ainda, eu não sei dizer porque quem fez a mudança foi um pessoal contratado para instalar o museu. Esse achado é importante porque a gente desconhecia que existia uma lápide naquele bendito porão.
O importante agora é preservar a peça. Tomara que encontrem mais coisas. Aliás, acredito que Sorocaba tenha muita coisa para revelar ainda", afirma.
Sobre a importância, Frioli afirma que a lápide equivale a um documento, por conter nome e data. Na lápide pode ser vista a seguinte inscrição: "D. Francisca Amalia do Amaral.
Fallecida aos 25 de março de 1875 com 66 annos de idade". E ainda o epitáfio "Hic requiescens clamito precesque supplex flagito", que conforme registros históricos, teria sido o seu filho, monsenhor João Soares que mandou colocar.
A frase, escrita em latim, significa: "aqui jazendo clamo e rogo suplicando preces". A lápide, que já estava quebrada quando foi encontrada em 1963, tem hoje nove pedaços.
Monsenhor João Soares
O monsenhor João Soares consolidou em Sorocaba a prática e tradição da romaria, com o traslado da imagem de Nossa Senhora da igreja central para o bairro de Aparecidinha. Com seus sermões, ele influenciou o místico João de Camargo, considerado milagreiro.
Em sua homenagem, há um monumento com seu busto na Praça Coronel Fernando Prestes, junto à Catedral Metropolitana, que foi implantado em 1944. Na região central da cidade também há nome de rua em sua homenagem.