Cedo hoje, com muito gosto, o meu jogar nesta coluna ao orgulho poeta do iria. São dele as seguintes linhas: "Meu caro Simplício. - Bem sabemos que, com grande prazer e tenaz perseverança, me dedico, ha muito tempo, ao estudo prático e teórico do famoso idioma dos nossos fetichistas.
Não posso, portanto, deixar que corram mundo duas recentes heresias, provocadas pelo quase completo desconhecimento da língua tupy-guarany por parte dos nossos homens de letras.
A primeira é a significação atribuída a "ytuverava" por ilustre membro da alta câmara paulista. Justificando o projeto de mudança do nome "Carmo da Franca" para aquele vocábulo tupy, afirmou o conspícuo senador que "ytuverava" quer dizer "cachoeira branca".
Pois não é: - é, sim, cachoeira brilhante ou resplandescente. Cachoeira branca seria ytutinga na doce linguagem dos nossos míseros selvícolas, tinga, forma contraste de mborotinga, é que corresponde ao descritivo branco, ao passo que berabe ou verava (no nheengatú, pois o abanheen apocopa normalmente a ultima silaba dos polissílabos tupys) equivale ao qualificativo brilhante ou resplandecente.Assim o nome da cidade mineira de Uberaba (yberaba, no nheengatú) vale o mesmo que - rio ou água brilhante.
A grafia Piráçununga, adotada para o título de uma gazeta ha pouco surta na cidade daquela denominação, tem sido alvo de motejos por parte de alguns folcicularios que, por habituados a escrever Pirassununga, supuseram logo não passasse aquela outra forma de cabeluda asnice. Asseguro-te que os taes se enganam redondamente.
Explique-se a coisa: - do pirá, peixe, o cynynga, ronco ou sibilo, devia muito naturalmente resultar em Piracynynca, isto é, ronco ou sibilo de peixe. Sendo o u, porém, de dificílima pronunciação, a língua dos nossos caipiras o trocou muitas vezes pelo u (como Pirituba, de Pirityba, juncal), donde a forma Piruçununca.
E, como os entendidos nesta matérias têm ordenado que no tupy-guarany se empregue ç em vez do s, por não ter aquele idioma o som sibilante peculiar ao segundo dos dois caracteres gráficos, é-me licito concluir que a forma Piraçununga é preferível a Pirassununca.
E, por hoje, basta, que isto de tupy-guarany também cança. Fico, porém, de alcateá, e asseguro-te, meu Simplício, que, de ora em diante, em se tratando de nheengatús e abanheens, não deixarei passar gato por lebre.
Espero que o estudioso indigenista, não de arco e flecha como os nossos ancestrais das selvas, mas de pena em punho, continue a dar caça a esses gatos, muito mais nocivos, sem duvida, que os já famosos ratos da capital artística, cotados ultimamente a 300 réis por cabeça!"
Isso não quer dizer que os indígenas não desenvolveram os seus próprios conhecimentos astronômicos. No único registro a respeito disso, datado do século 17, a dupla de capuchinhos franceses Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux descreveu o povo Tupinambá do Maranhão. Eles sabiam a maioria dos corpos celestes do hemisfério e possuíam o próprio sistema de constelações. Com isso, era possível organizar calendários para marcar as estações chuvosas e as épocas de colheita. Os Tupinambá do Maranhão também já associavam as fases da Lua com as subidas e descidas das marés. *Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux
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Nenhum de nós escolhe o nosso fim, na verdade. Um rei pode induzir um homem, um pai pode assumir um filho, mas lembre-se disto, mesmo que aqueles que o induzirem forem reis ou homens de poder, sua alma pertencerá apenas a você. Quando estiver perante Deus não poderá dizer mas outros ‘me disseram para fazer isto‘ ou que a virtude não era conveniente no momento não será suficiente.Balduíno IV de Jerusalém (1161-1185) 5 registros