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“Sumé: Lenda mito-religiosa americana. Recolhida em outras era por um índio moranduçara, agora traduzida e dada luz com algumas notas por um paulista de Sorocaba”. Periódico Universal “A Abelha” (15.03.1856) Página 11-16
15 de março de 185604/04/2024 23:12:17

A Abelha. Períodico Universal
Data: 15/03/1856

I - “Posteros! Não duvideis do que ides ler. Porque estas linhas só verão a luz, quando a paz e a justiça reinem na terra do cruzeiro, e haja nela quem entenda e quem creia as palavras proferidas em nome do Senhor. Então a verdade triumfará e radiará como a luz do sol. Por que o sol é a imagem da verdade, como o trovão o éco de Tupan (A divindade dos nativos) terrivel e omnipotente. É a mesma verdade terá um dia adeptos inspirados, que bemdirão ao Senhor, entoando cantos e cânticos ao seo apóstolo...”

II - Naquelle tempo áchando-me no cimo da serra entre nevoeiros, o céo ribombavamedonho, E ouvi uma voz que dizia: "Levanta-ter Que és o escolhido para contar aos vindouros os prodígios qtie passareis á presenciar."Por què á sçiencia prefere desposar-se com os pobres e modestos, que tém a çonsciencia purae sã."E Jehovah te infundirão conhecimento da linguados profetas, para que leias o queestá escripto, e para que possas ;escrevèr."E em sobresalto è alvoroço apenas me oceorreo responder: "A minha alma se engrandecé, éb meo espirito sé alegrará de servir a Deos meo creador! Gloria ao Senhor nas alturas, e paz na terra entre os homens que o adorão."

III - E no dia iromediato eu me vi transportado á foz do máximo rio (2). E a meio lado éstãvaó uns rolos com o texto das Escripturas Santas.Porém ahi ás águas crescião ecrescião; e por fim rebentarão com medonho eslampido (3). E as ondas salgadas como que ameaçavão invadir toda a terra.... O ruido que fazião semelhava aode mil gigantes entoando juntos po.. ro.. ro.. ca! .. É depois do estampidotudo serenava. Logo se me enlevavão os ouvidos com a melodia de vozes que não pare- cião da mortaes, e com o som de instrumentos que nunca tinha ouvido. Eis que divisei a Sumé, que parecia vestido de graça. A pejle de seo rosto resplandecia, e o seo olhar era sereno, e os seos cabellos erão como os raios do sol, e as barbas que lhe ornavão a frente parecião ter brilho e esplendor. E deixara outras terras do septentrião, onde percorrera uma por uma as ilhas invadidas pelos Caribes canibaes. E em todas havião os povos sido surdos á sua voz, incorrendo por isso na maldição do Senhor. Deos eterno ! Vós que me haveis inspirado ardente zelo para escrever estas linhas, aluiiiiai-me com a unção da vossa divina graça, e não deixeis de infundir em meos leitores a fé divina, sem a qual nada ha na terra de bom, nem de grande. Será Sumé o mesmo apóstolo Thomé, a quem coube também em partilha o annunciar o verbo no oriente? Perdoae, Senhor, se um indio moranduçara (4) se arroja a querer penetrar os vossos mysteriosos arcanos. Porém vós ordenastes aos doze escolhidos que fossem por toda a terra... o elles por certo vos obedecerão ; como antes delles vos obedecurão, alumiando igualmente no ocidente como no oriente, o sol e a lua, que creastes no quarto dia....

IV - E a turba immensa de gentios deixava as suastabas, (5) construídas sobre troncos dearvores em meio das águas do máximo rio, ou vogava em velozes e ornadas canoas lavradas de um só madeiro; e movida da curiosidade vinha apinhar-se em redor do enviado do Se- nhor Deos. E todos uns aos outros dizião : Quem é o novo hospede? E a que vem por aqui? E como ninguém soubesse explicar, Sumé lhes respondeo: "Chamo-me Sumé: sou o enviado do Senhor, e venho a resgatar vossas almas do captiveiro. ".Olhavão os bárbaros uns para os outros cmar de quem nada havia entendido.Conheceo-o Sumé, e erguendo de novo avoz proseguio: "Venho ensinar-vos a conhecer o verdadeiro Tupan, e a amal-o, amando a virtude,"E os povos o ouvião, c se rião com dtsentoadas gargalhadas."Maldiclos os que escarnecem dos ministrosdo Senhor. » Exclamou uma voz nasalturas.«Ouvide-me» proseguia Sumé, «que venho ensinar-vos o modo de vos regerdes pelas leis da sociedade civil, e de fazerdes producli- vã a madre terra, mais fecunda que mil devossas mulheres." E as turbas vozearão e o tratarão de impostor. E elle continuava :"Para que tanto afan e tanta incerteza,buscando unicamente na caça o sustento?Para que tanto trabalho com os vossos arcos?..»Eis que em meio de um prolongado urrogeral partia contra Sumé um chuveiro de settas disparadas de todos os arcos.Porém nenhuma o feria, e uma a uma cahiãotodas a seos pés, e algumas volta vão a ferir ospróprios que as havião disparado.Eatao os homens alemorisados, fugiãotodos, uns para a banda do oceidente, e outrospara as do meio-dia.Entretanto ficavão com Sumé as mulheres,e todas ellas flisserão como acereditavão nopoder do novo Tupan.E Surné lhes pregou a palavra do Senhor.E por fim lhes disse: «Ide, que em quanto tiverdes fé dominareis vossos maridos, e vencereis águas arriba todos os que não acereditarem em quanto vos revelei."E quaes matronas das margens do Thermodonte, da outra banda dos mares dondeprocedeis, sereis vós mais fortes do que os varões descrentes." E como faremos fecunda, como nós, a madre terra? Atalhou Xingu, de todas as novas Amazonas a mais hella. Então quebrou Sumé o ramo de um arbusto, e enterrou parte delle. E tomou três sementes, e as cobrio de terra, E disse : Quandopassem tresluas colherei." E ensinando depois como dos fruetos se prepararião os alimentos, desápparece.

V - . Ao cabo das três luas foi Xingu ao sitio ; e vio as três plantas nascidas das três sementes, todas carregadas de sendos fruetos. E de um pé de milho recolheo muitas maçarocas; e de certo legume as vagens meioseccas, e de uma planta reptante de folhas grandes os girimús, e as cambuquiras. E não vendo fruetos no arbusto que resultara do ramo plantado, tratou-o de resto.Nem que duvidasse da promessa de Sumé, da mesma fôrma que Moysés tocando no rochedo hesitara se brotaria deelle o manancial. E nesse mesmo sitio fez Xingu novas srmenteiras, e colheo os fructos dentro do mesmo prazo naquella terra de promissão.E repetio as colheitas: e numa dellas, profundando um pouco, junto oa pé do arbustoplantado por Sumé, encontrou uma raiz branda, e notou que as folhas parecião representara mão e os dedos do próprio Sumé. Então caio Xingu em si, o conheceo a suaculpa. Era o arbusto um pé de maniba ou da planta da mandioca.E esta planta, em virtude da culpa de Xingú, se viciou; não só avesando-se a ser muidemorada e tardia em crescer e em formar-se, como sendo venenosa, antes de ser de proveito.

X - Porém em Cabo-Frio Sumè não foi mais afortunado do que antes. Era na força do inverno, o o povo sofria do rigor da estação, pois nessa paragem sente^se effcciivamenle o frio. E vindo todos saudar a Sumé com o seo conhecido Ereiupé, o escolhido do Senhor secompadeceo deles, e lhes ensinou a produzir o fogo pelo attrilo aturado de dous páos.E os bárbaros íizerão fogueiras, e se aquecerão, e acharão-se melhor. E logo começarão a assar em covas, ou a moqitear as suas viandas. E encontrando-as mais saborosas quizerãotambém moquear a carne dos inimigos que apresionavão. Intentava Sumé cohibir este uso brutal, quando os ingratos hospedes projectarão assassinalrO, em recompensa do beneficio delle recebido. Então ordenou o Senhor a Sumé qpe seguissepara diante, deixando também ali vestigios de suas plantas. Apenas porém souberão os canibaes que Sumé partira, se juntarão todos em conciliabulos e corrilhos; e logo forão largando fogo aos mattos, afim de que Sumé neles se não escondesse.Mas ordenou o Senhor que chovesse tanto que as frias águas do novo dilúvio convertessem em lagoas e lagamares os bosques incendiados.E junto ao maior deles cm que estava Suiné, entre fogos subterrâneos, fez erguer das tmtranhas da terra uin gigante quo salvasse o profeta, tomandoro sobre ósseos hombros.E ordenou a Sumé que segnisse; dispoz que o gigante fingindo-se dormido, não só guardassea Sumé para que pòdesse seguir sua perigri- nação; como dali em diante atalaiasse a barrado grande lagamar (1) que. em virtude da frialdade de suas águas se ficou chamando Y-leroig(2) ou de Nhy-teroy. E maudou queno Cabo-Frio encontrassemguarida ás bestas feras; e que as cobras entrassem pelas tàbas e itaocas (3) e os jacarése os jaguares tragassem os incrédulos ingratos.

XII - E a noticia do castigo tremendo do Senhor se espalhou de boca em boca por aquelas gerações que vivião para as bandas da constellação das estreitas brilhantes em fôrma de cruz. E todas fugião da beira do mar, imaginando que só a marinha poderia ser alagada em virtude da ira do Senhor.

E levavão consigo provisões de marisco deixando na costa montes de ostras, nos quaes derão sepultura aos cadáveres dos que então falecerão. E o Senhor fazia que novos signaes de pe-gadas do seo profeta se gravassem em outros lugares por essas bandas. E eu começava a sentir como um pezadello.

E via que a mente se me offuscava, e que eu nada mais sabia de Sumé. Por fim ouvi uma voz que dizia: "Contenta-te de seres moranduçara do que sabes, que é quanto tens de transmittirá prosteridade. Sumé irá para outras terras; por que aos surdos não é possível fazer que oução as palavras do Senhor. E uma língua de fogo se vio no mais alto cimo do morro de Biraçoyaba, que parecia como a chama de um vulcão.

E o monte se derretia em lavas de ferro. E aí se formava uma espécie de cratera ou algar (Vale das Furnas) cujas cinzas quentes, depois se apagavam com as águas de uma lagoa (Lagoa dourada, onde o povo do Ipanema, ainda não há muito, julgava que apareciam fantasmas, que guardavam tesouros escondidos.).

E ouvi a mesma voz de antes dizer-me : “Ali esconderás o legado que deveis deixarás gerações vindouras, para que os homeus tenhao mais uma prova da misericórdia divina, que é de toda a eternidade, e durará até o dia de juizo.” — Amen.08:21
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