Sorocaba no Império: comércio de animais e desenvolvimento urbano, por Cássia Maria Baddini
junho de 2002
06/04/2024 19:34:24
Sorocaba no Império: comércio de animais e desenvolvimento urbano
Data: 01/06/2002
Créditos: Cássia Maria Baddini
Página 118
Dessa forma, verificamos que a partir dos croquis de 1661, apresentados napágina a seguir, a estrutura urbana inicial de Sorocaba estava constituída. Comopodemos notar, a partir da leitura de Baddini, nessa épocafoi aberta a rua Boa Vista, ligando a residência de Baltasar Fernandes àIgreja. Também foi construída a ponte de madeira sobre o rio Sorocaba,abaixo da foz do Ribeirão do Moinho e na direção da capela, a fim deestabelecer a comunicação com as vilas do planalto, como Parnaíba eSão Paulo. Em 1750, ela serviria para definir a localização do Registro deAnimais, que seria instalado na sua embocadura, na margem direita dorio, em direção da saída para São Paulo. (...) Da capela até a ponte foiaberto um caminho, cujo trecho inicial seguia em linha reta na direçãodo rio Sorocaba, desviando-se levemente à direita para compor umoutro trecho que, também em linha reta, iria alcançar a ponte. Na partealta, próximo ao Mosteiro, passou a ser conhecido como rua São Bento;a partir de seu desvio para a direita, em direção à ponte, como rua daPonte. Desde os primórdios da ocupação local, essas duas ruasrepresentaram o [início do] núcleo urbano, a partir do qual seestruturou o traçado da cidade. (Baddini, 2002, ps. 99, 100)
Apesar da intensa agitação política que tomou conta de Sorocaba em outubro de 1823, os Aires mantiveram-se no poder e asseguraram a vitória do partido liberal nas eleições municipais desse mesmo ano. O controle do processo eleitoral permitiu arranjos políticos que assegurassem os interesses ameaçados de ricos proprietários, como Américo Antonio Aires, os quais adquiriram datas de terra com dispensa de edificação em áreas privilegiadas do "rossio". Nesse ano, o próprio sargento-mor Américo Antonio Aires foi eleito juiz ordinário da Câmara.
Após a correição geral de 1825, em que foram abertas três novas ruas - a da Margem, do Conselho e 7 de Setembro -, o caminho das tropas foi ligeiramente alterado, na entrada da vila pelo caminho do sul. A rua da Penha, embora ainda utilizada para passagem dos animais, foi pouco a pouco sendo substituída pela 7 de Setembro. A estrada de Santo Antônio manteve-se como importante via de acesso ao Registro para as tropas invernadas nos campos Além-Supiriri. A estrada e rua do Piques serviu, com exclusividade até 1838, para conduzir as tropas invernadas no Itavuvu e Terra Vermelha. Nesse ano, foi aberta a estrada de Porto Feliz, aliviando o tráfego do gado nessa direção. [Página 118]
Sorocaba no Império: comércio de animais e desenvolvimento urbano, por Cássia Maria Baddini*
Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas? Nos livros estão nomes de reis; O reis carregaram as pedras? E Babilônia, tantas vezes destruída. Quem a reconstruía sempre? Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a construíram? No dia em que a Muralha da China ficou pronta. Para onde foram os pedreiros?
1840
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“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.