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“A fábrica de ferro São João de Ipanema: economia e política nas últimas décadas do segundo reinado”, Nilton Pereira dos Santos
200906/04/2024 11:59:48

No livro A fábrica de ferro São João de Ipanema: economia e política nasúltimas décadas do segundo reinado, Nilton Pereira dos Santos chamou a atençãopara outro problema da administração Bloem.Analisando os dados referentes ao ano de 1835, é possível constatar que os parâmetrosutilizados pela contabilidade distorceram um pouco a real situação da fábrica. Da rendatotal de 20 contos de réis, 6,9 contos eram fruto de trabalhos e aparelhos confeccionadospara uso no próprio estabelecimento, mas computados como renda, como minerais extraídos, o carvão usado. Se a contabilidade fosse refeita apresentaria um déficit de 3,7 contos, ao invés do saldo de 3,2 contos. [0]Santos (2009) foi o único a tirar a administração do foco, aoescrever que “a fábrica teve um período de prosperidade entre 1836 e 1842,favorecido pela expansão da lavoura canavieira no interior paulista”. []

Na fábrica havia um grande número de trabalhadores, sobretudo escravos africanos elibertos de nação2, além de técnicos em siderurgia contratados na Europa. Numerosas tambémeram as edificações, sendo as principais: casa do administrador, oficina de refino, moradiasdos operários, depósitos, fornos altos, fábrica de armas brancas e uma represa que alimentavaum engenhoso conjunto de canais que moviam as máquinas nas diversas oficinas.

Ao longo do século XX houve várias tentativas de aproveitamento dos prédiosremanescentes da antiga fundição. Entre 1910-1913, foi instalado em Ipanema um quartel doExército. Seguiu-se um período de relativo abandono e só a partir de 1930 o Governo voltou autilizar o lugar, desta vez para realizar experiências com adubos fosfatados.Entretanto, durante o período não houve o cuidado sistemático com a preservação dopatrimônio edificado que, na década de 1960, atingiu um estado de ruína bastante avançado. [Página 20]

foi reorganizada, novos prédios foram construídos e a fabricação de ferro foi elevada. Oaumento da produção decorreu da reestruturação dos pequenos fornos construídos porHedberg34 e da construção de dois fornos altos, que ficaram prontos em 1818.Nos primeiros anos à frente da fábrica grande era a empolgação de Varnhagen com osprogressos auferidos, como é possível constatar na correspondência enviada ao Barão deEschwege, em abril de 1816:Meus serviços avançam celeremente. Os fornos já possuem 25 palmos de altura, feitos dearenito lavrado. Lá para agosto estará a fábrica terminada. Então, darei início à construção dainstalação dos malhos35.A conclusão das obras no estabelecimento, porém, levaram mais tempo do que previuo engenheiro, como atestaram os viajantes Spix & Martius, que estiveram no estabelecimentono início de 1818, época em que os fornos altos ficaram prontos:A bela e extensa obra, cujo custo montou a 300.000 cruzados, acabava de completar-se,quando chegamos a Ipanema, porém ainda não se havia ali fundido coisa alguma porque seesperavam da Alemanha, para o trabalho, os necessários fundidores de alto-forno [sic]. Osnovos prédios da fábrica são construídos com bom gosto e sólidos, com o grés amarelo daqui.A usina consiste em dois altos-fornos e diversas forjas de refinação; os ventiladores sãomovidos a água. Para depósito de carvão e dos utensílios acabados, foram levantadosarmazéns espaçosos, muito adequados, perto do edifício principal que recebe a água necessáriado Rio Ipanema, por um canal de alvenaria munido de comportas. Também para os operáriosdoentes, tem a fábrica um hospital com dois cirurgiões [...]36.Sem dúvida alguma, os fornos altos foram a principal obra de Varnhagen,concentrando sua total atenção. Além de acompanhar de perto a construção, o engenheiroregistrou em um diário, com muitos detalhes, a primeira jornada dos novos fornos, em 1818, oque nos permite compreender como era feita a fundição do ferro na fábrica. Tratava-se deuma operação bastante trabalhosa.Durante as campanhas, apenas um forno entrava em operação, enquanto o outro erareparado para uma jornada posterior. Foram necessários 25 dias de preparação para que o [Página 29]

Ainda em relação à escravaria, Capanema apontou para as divergências entre os dadosassentados nos livros da fábrica e os indicados nos referidos avisos ministeriais, deixandoexposto que tão difícil quanto obter o número exato de africanos saídos do estabelecimentoera mapear o real destino dado a estes viventes e solicitar que fossem devolvidos.O maquinário e as instalações da companhia também estavam em estado deplorável,fruto do descaso e de fenômenos naturais, como as fortes chuvas que assolaram a região anosantes:No decurso de todo o ano próximo passado as chuvas foram aqui consideráveis, e a contar domês de Agosto tornaram-se cotidianas, com raras exceções. Neste ano começaram as chuvascom mais intensidade, e ultimamente a ponto tal que no 1º do corrente pelas 11 horas da noiteas águas passaram com impetuosidade por sobre o açude desta fábrica e invadiram oalmoxarifado, as oficinas dos fornos, moldação, casa de máquinas, tornando a oficina deferreiros em um lado. Vários açudes de vizinhos colocados acima da fábrica foram rompidos, entre eles o do barão de Mogi-Mirim, bastante lesado: as águas neles represas soltando-se [...] afluíram de chofre sobre o rio, dando causa a extravasação [sic] no açude da fábrica, que a nãoser a forte muralha interna, e os esforços, com que prontamente se acudio[sic], ficariatotalmente destruído. [...] Tenho tomado as medidas ao meu alcance para refazer o açudearrombado em dois lugares [...]137.Não espanta, portanto, que Capanema tenha encontrado um estabelecimento em tãomau estado de conservação, como atesta sua descrição feita sobre a oficina de refino:Do lado oposto do antigo rio, acostado ao açude, está o lugar onde foi outrora oficina derefino; é o mais eloqüente quadro da devastação e da incúria que perseguiram Ipanema [...] Oteto, asseguram-me, que veio abaixo, e muita telha acha-se recolhida debaixo de cobertaenxuta. Mais adiante, estendida sobre a terra batida pelos raios do sol e levadas pelas chuvas, [Página 63]

É possível notar, analisando a tabela, que a elevação no repasse para Ipanema não foicapaz de criar, logo de início, uma receita que ao menos equivalesse aos gastos. Pelocontrário, o dinheiro obtido com a venda de produtos equivalia apenas a cerca de ¼ do totaldessas despesas. Sem levar em consideração os repasses governamentais, a fábrica tevenaquele ano um déficit de 164:916$281 réis.Os dados da tabela também indicam que as vendas feitas diretamente ao Estadoequivaleram a pouco mais da metade da receita total da companhia, provando que aquelaaltura apenas a demanda estatal não seria suficiente para manter a fábrica. Tal observação,aliás, já fora feita pelo ministro Sinimbú que, apesar de ter declarado sua intenção deabastecer a ferrovia D. Pedro II com ferro de Ipanema, não eliminou a necessidade da fábricafornecer produtos também aos compradores particulares “no mercado da corte”312 comomeio de elevar sua receita.Os problemas que contribuíam para a baixa receita foram apresentados pelo próprioMursa no relatório anual referente a 1881. O coronel criticava os pequenos fornos altosexistentes no estabelecimento, afirmando que por conta deles as campanhas eraminterrompidas diversas vezes. Justamente por tantas interrupções, Mursa reiterava anecessidade de conclusão das obras do novo forno alto como meio de elevar a produção deferro e torná-la mais regular.Ao tratar da oficina de refino, Mursa declarou que era o espaço mais carente demáquinas existente em Ipanema, e que tal situação dificultava o bom andamento dostrabalhos, impossibilitando pedidos maiores e limitando a produção diária à meia tonelada deferro. Contudo, a construção de uma nova oficina estava em andamento, situada a 400m doantigo prédio. Esperava-se que com o novo prédio haveria um melhor aproveitamento da força motriz gerada pelo rio Ipanema, cujas águas seriam conduzidas até o local por um canallateral. Com este melhoramento e novas máquinas, acreditava-se que a produção desta oficinapudesse atingir “diariamente 10 toneladas de ferro batido”, satisfazendo “com vantagem asencomendas assim dos arsenais como das vias férreas do Estado313”.A reorganização da fábrica também foi apontada como solução pelo ministro ManoelAraújo, para quem sem uma “profunda reorganização da fábrica314”, dificilmente osprejuízos seriam superados.Para compreender porque a fábrica, apesar das melhorias feitas, permaneceu gerandodéficits é necessário investigar a situação do mercado brasileiro para utensílios de ferro nadécada de 1880, de modo a entender os obstáculos encontrados por Ipanema com aconcorrência. Por outro lado, é preciso também analisar quais ações foram tomadas peloEstado com vistas à reorganização da companhia e a superação dos obstáculos por elaencontrados.3.2 A concorrênciaEm meados do século XIX, a Europa assistiu ao amadurecimento tecnológico devários ramos industriais, como o têxtil e o siderúrgico.Tais avanços foram possíveis, entre outros fatores, pelo aprimoramento dosmecanismos legais voltados ao desenvolvimento econômico, como a redução doprotecionismo através de acordos comerciais. E, se por um lado, esta redução expôs aindústria à competição externa, por outro, abriu um caminho sem precedente ao crescimentofabril.No campo da técnica, a utilização em larga escala de novas fontes energéticas, como ocarvão mineral e o vapor, substituindo quase por completo o carvão vegetal e a água,possibilitou uma grande expansão industrial no continente, bem como uma elevaçãosignificativa nos níveis de produtividade.Aplicada ao transporte, essa mudança na matriz energética proporcionou o rápidoavanço das ferrovias. Com a maior agilidade nos deslocamentos, os estabelecimentos [Páginas 116 e 117]

na ordem de prioridade do ministério da Agricultura, ultrapassando em receita o corpo debombeiros e a Secretaria de Estado. Ipanema estava atrás somente das obras modernizadorasde maior vulto, como os telégrafos, esgotos, correios, iluminação pública e a ferrovia D.Pedro II.Uma vez aprovada a elevação das verbas para Ipanema era preciso um planoespecífico para aplicação dos recursos, que foi elaborado em 1883.3.4 Uma fábrica de primeira ordemAprovada a elevação dos recursos para a companhia, o Estado tratou de fixar asdiretrizes que balizariam a aplicação dos novos valores. Tais parâmetros se basearam emobservações enviadas ao Ministério da Agricultura pelo diretor Mursa, em 1881353, comotambém no parecer de uma comissão formada por membros do Ministério da Marinha que,atendendo ao pedido do Ministério da Agricultura em 1883, estudou a fábrica a fim de indicarquais os trabalhos feitos ali poderiam ser úteis aos arsenais da Corte. O objetivo destas açõesera claro, conforme declarou o ministro da Agricultura: fazer de Ipanema uma “fábrica deprimeira ordem354”.Mursa já defendia que Ipanema não deveria concorrer com a indústria particular, e simfornecer ferro e obras moldadas para o Estado, especialmente ferrovias e arsenais. Apontavatambém que o caminho para que tal objetivo fosse atingido era a ampliação da oferta decombustível disponível para a fábrica, o aumento da potência hidráulica através do desvio departe das águas do rio Sorocaba para o rio Ipanema e, por fim, com a aquisição de maquináriomais moderno.Outra preocupação relevante demonstrada por Mursa dizia respeito ao papel da fábricacomo centro formador de mão-de-obra especializada em siderurgia, de modo que deveria ser“facilitada a instrução prática dos engenheiros e mestres que se dedica[ssem] a estaindústria, não só em serviço do Estado como nas oficinas particulares que se353 Bases para a reorganização da fábrica Ipanema, 9 mar. 1881. In: BRASIL. Ministério da Agricultura [Página 138]

Esta estrutura ficou comprovada com a análise do Almanak Laemmert. Enquanto ascasas comerciais tinham muitos anúncios publicitários e ofereciam várias facilidades, como aentrega dos produtos e vendas a prazo para atrair compradores, Ipanema apenas constava noanuário com um anúncio muito simples e não oferecia nenhuma vantagem especial aosconsumidores.A fábrica não contava com escritórios ou outro ponto comercial próximo dos centrosurbanos, onde as pessoas pudessem fazer encomendas. Todos os funcionários administrativosatuavam no interior da companhia, ou seja, afastados dos possíveis consumidores.Outro fator que obstou a saída de produtos da fábrica foi o estágio de desenvolvimentotecnológico em que a companhia se encontrava. Enquanto a larga utilização do vapor e docarvão mineral possibilitava às fundições européias força suficiente para produzir grandequantidade de trilhos de aço, Ipanema ainda era movida pela força hidráulica da represaconstruída em 1814 pelo primeiro administrador, e seus fornos eram tocados com carvãovegetal.Embora o carvão vegetal fornecesse um ferro especial, muito apreciado para aconstrução de eixos e rodas para locomotivas e vagões, a força gerada pelas águas da represa,e que adentravam as diversas oficinas através de um sofisticado e engenhoso sistema decanais, era insuficiente para gerar a força necessária à produção de trilhos. Além disso,segundo relato do próprio diretor, a capacidade produtiva de Ipanema era insuficiente paratornar a operação do custoso maquinário destinado ao fabrico de trilhos viáveleconomicamente. Aliado a tais fatores, pesava o preço dos transportes. Ficava assim a fábricaimpossibilitada de atender o promissor mercado formado pelas ferrovias particulares que iamsendo instaladas na província por conta do avanço da cafeicultura.Em relação às obras públicas estatais, a fábrica fez importantes fornecimentos aosarsenais, as estradas de ferro D. Pedro II, Baturité e Porto Alegre à Uruguaiana. Entretanto, naausência de grandes conflitos a demanda por ferro dos arsenais não era grande. Por outro lado,as ferrovias estatais correspondiam apenas a 25% do total das vias férreas do país no fim doImpério.Como a presente análise se propôs a entender como se deu o desempenho econômicoda fábrica Ipanema e qual o contexto político que permitiu os investimentos do Estado nacompanhia, conclui-se que não faltou disposição governamental para solucionar os principaisproblemas que afligiram a empresa. O Estado procurou prover Ipanema com os recursosnecessários ao seu desenvolvimento, e manteve seus investimentos na fábrica como parte deum projeto mais amplo, que era estimular o progresso econômico do Império, especialmente [Página 165]
*“A fábrica de ferro São João de Ipanema: economia e política nas últimas décadas do segundo reinado”, Nilton Pereira dos Santos

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