Como Damião de Góis foi o cronista-mór dos netos de D. João II e dos Reis Católicos, entre os quais se déra o formidável pleito para a posse das novas terras descobertas, era-lhe impossível dizer toda a verdade sobre o grande debate, sem grave melin- dre ou menoscabo para qualquer das partes. Sa- be-se hoje que a sua "Crónica de D. Manuel" foi odiosamente mutilada por ordem real em tudo, — e foram longas passagens, — que podia ferir as pessoas reais vivas ou a memória dos Reis cató- licos (2). No mesmo anno de 1566, em que saiu a l. a edição, se publicou uma 2. a e se fizeram de- saparecer quási todos os exemplares daquella. Este facto, que igualmente confirma as mutilações das outras crónicas, explica que Damião de Góis, ao publicar a Crónica do Príncipe D. João, não desse^ a razão oculta dos desaparecimentos e furtos que apontava. Era-lhe vedado, a experiência o ensi- nava, o publicá-la.