Os tupiniquins estavam em guerra contra os portugueses que conseguiram aliar-se aos tamoios da região de Bertioga, restou apenas uma opção os temiminós - 01/01/1565 de ( registros)
Os tupiniquins estavam em guerra contra os portugueses que conseguiram aliar-se aos tamoios da região de Bertioga, restou apenas uma opção os temiminós
Como em 1565, os tupiniquins estavam em guerra contra os portugueses que conseguiram aliar-se aos tamoios da região de Bertioga, restou apenas uma opção os temiminós.
Mas que tribo era essa? Quais suas origens? Pouco se sabe sobre a trajetória dos temiminós antes de sua transferência para o Espírito Santo.
Suas origens são incertas, devido a falta de documentação anterior, talvez esta tribo possa ser uma divisão de uma das tribos tamoias da Guanabara, que no contato inter-étnico, criou-se ao terem de escolher de qual lado fixar uma aliança: do português ou do francês.
“...na possibilidade de estarmos diante de uma etnia que se construiu numa conjuntura de guerra, estimulada pelos interesses e motivações tanto dos portugueses quanto dos próprios índios.”
Sabemos apenas que após sua transferência, os padres começaram a sua catequese e consideravam-nos bons cristãos. “...que os padres da Companhia tem feito com o gentio: haa muitos cristãos e bem doutrinados...” e que estes defenderam o Espírito Santo dos franceses.
“Consultaram os da villa darem lá com elles e levaram Vasco Fernandes, aliás Gato, com sua gente, o qual adiantando-se dos Christãos, deram nos Francezes que estavam em terra que seriam alguns vinte, os quaes truoxeram, e duas chalupas e uma ferraria e muito resgate e roupas, de maneira que quase todos os Negros vinham vestidos.”
Mesmo tendo apenas certeza de seus feitos, sabemos de sua origem que em dado momento estes índios do Gato, que depois se tornariam os temiminós estavam em desvantagens com os tamoios na Guanabara e pediram apoio ao donatário do Espírito Santo, para se refugiarem em sua capitania.
“...porque depois que eu tornei a arribar a esta Capitania, chegou aqui um principal,que chamam Maracaiaguaçu, que quer dizer Gato Grande, que é mui conhecido doscristãos e mui temido entre os gentios e o mais aparentado entre eles. Este vivia no Rio deJaneiro e há muitos anos que tem guerra com os Tamóios, e, tendo dantes muitas vitóriasdeles, por derradeiro vieram-no pôr em tanto aperto, com cercas que puseram sobre a suaAldeia e dos seus, que foi constrangido a mandar um filho seu, a esta Capitania, a pedir quelhe mandassem embarcação pera se vir pelo aperto grande em que estava, porque ele esua mulher e seus filhos e os mais dos seus se queriam fazer cristãos. (...) Tirou VascoFernandes Coutinho sobre isso testemunhas e mandou 4 navios, pera que fossem segurosdos Franceses, que sempre há naquele Rio, e que lhe dessem todo favor, com artilharia emantimento que levaram, mas que não os trouxessem se não estivessem em extremanecessidade. Chegando lá os navios, estando já com as casas de fato queimado, dentro emdia e maio se embarcaram com tanta pressa, que havia pais que deixavam na praia seusfilhos, e dois que ficavam na praia pera expirar, já de fome, baptizaram logo, e no-losderam.”O interessante deste relato é notar em que estado estavam os temiminós nachegada dos portugueses, muitos mortos e capturados, casas queimadas, o desespero aoponto dos pais abandonarem seus filhos. Este cenário demonstra o grau de humilhação que estes nativos sofreram dos tamoios.Contudo, parece que esta não foi a última tribo de temiminós na Guanabara, umpouco depois deste resgate outro ataque aconteceu, desta vez presenciado pelos franceses.“Para lá se dirigiam à noite, apanhando a pobre gente desprevenida, e tal carnificinafizeram que causava dó ouvir clamarem as vítimas. Avisados, já quase à meia-noite, algunsfranceses bem armados embarcaram às pressas para a dita aldeia que distava quatro oucinco léguas do nosso fortim. Antes de chegarem, porém já tudo se consumara. Enfurecidose encarniçados os nossos selvagens já haviam incendiado as chocas para desalojar osmoradores e a muitos já haviam morto. Segundo me foi dito só se viam homens e mulheresespostejados nos moquéns e até crianças de peito assadas inteiras.”É esta violência dos tamoios contra os temiminós, enquanto estes ainda habitavam aGuanabara que os leva ao principal fator de sua aliança na conquista do Rio de Janeiro: aobrigação da vingança ancestral. “Pressões psicológicas: a crença na necessidade da‘vingança’ transformava a participação das atividades guerreiras uma obrigação moral.”Este fator é agravado, pois os ataques dos tamoios quase dizimaram aquela unidade nativa. “A noção de vingança retinha como leit-motiv a intenção de satisfazer a necessidadede relação sacrificial de um parente morto, de um antepassado memorável ou de umancestral mítico. Todavia, parece que essa necessidade aparecia quando a integridade dacoletividade se via ameaçada em sua subsistência: nos momentos em que determinadascircunstâncias expunham o grupo ao risco de sofrer uma mutilação social.”No discurso e na prática dos acontecimentos pode-se repara no papel da vingançaancestral no combate, primeiro pelo discurso jesuítico proclamado aos nativos antes docombate.“Aos índios nossos confederados praticavam em sua língua própria; (...) os insultos,que não obstante elas lhes fizeram, cativando, matando, e comendo as mulheres, e filhos demuitos deles...”Segundo, pelo resultado deste discurso: dois massacres, sendo que no primeironenhum tamoio saiu com vida, enquanto que no segundo muitos deles foram mortos. “...foientrada, e vencida, com estrago lastimoso, porque dos Tamoios, não ficou um com vida.”“foi necessário conduzir artilharia, e bater-lhe em cercas, que eram dobradas efortíssimas: mas em breve tempo foram postas por terra com todas as suas casas, e mortosquantidade dos bárbaros.”Em ambos os ataques a vingança temiminó foi cumprida, não mais com rituaisantropofágicos, mas de uma maneira cristã, com a morte dos infiéis, aqueles que serebelaram não só com Portugal, mas com a cristandade ao aliarem-se a protestantes.Mas não bastavam apenas nativos para vencer a guerra, também eram necessáriospara povoar o local e Mem de Sá não iria cometer o mesmo erro que cometeu na tomada deColigny. Os poucos tupiniquins que tinham vindo de São Vicente voltaram para as suasterras. “Os Índios, que vieram de Piratininga à guerra do Rio de Janeiro, voltaram quásitodos para suas terras.” Era então necessário que os temiminós de Araribóia ficassem, oestranho é notar que aparentemente isso não aconteceria, senão pela interferência de Memde Sá. “... e porque estava muito dispeso, e gastado pedio licença a V. S.ª para sahir comsua gente a repousar dos trabalhos passados, por haver quatro annos que andava n’estaconquista, e por V. S.ª lhe foi pedido ao supplicante que folgasse de ficar na terra com suagente para a favorecer e ajudar a povoar, por ser el-rei nosso senhor a quem muito faziaserviço, e porque elle suplicante desejava fazê-lo por lhe mandar, quer trazer sua mulher emuita gente que tem.”O que causa estranheza neste discurso, que se Araribóia tivesse negado, Mem deSá não teria como empreender a colonização. Não acredito que o Governador Geral searriscaria a tal possibilidade. Ao se pensar neste discurso pode-se perceber que se o convitefoi feito por Mem de Sá, e é graças a ele que Araribóia resolveu ficar no Rio de Janeiro. Emsuma, as glórias pela viabilização da colonização do Rio de Janeiro seriam dele.Por outro lado, pensando na agressividade da saída dos temiminós do Rio deJaneiro para o Espírito Santo a retomada das terras, depois de quase quinze anos deconvivência cristã naquela capitania, poderia ser encarada como parte da vingança. Essemovimento migratório surge “...em conseqüência de perturbações ocorridas nas suascondições normais de vida.”Outro fator a se pensar, é porque apenas os temiminós de Araribóia vieram ao Riode Janeiro, e não os da Aldeia da Conceição? Esta última aldeia tinha sido instalada desdea chegada destes nativos ao Espírito Santo, enquanto a real fundação da aldeia de SãoJoão, a de Araribóia, é de 1564, um ano antes do início dos combates na Guanabara.