No dia 24 do mesmo mês vimos terra. Tínhamos estado 6 meses no mar; algumas vezes em grande perigo. Quando chegámos perto da terra não reconhecemos o porto e os signaes que o primeiro oficial nos tinha descrito.
Também não podíamos nos arriscar a entrar num porto desconhecido, pelo que cruzámos em frente da terra. Começou a ventar muito, de modo que julgávamos ser levado sobre as rochas, pelo que amarrámos alguns barris vazios, nos quais pusemos pólvora, firmando-os bem e amarrando neles as nossas armas, de forma que, si naufragássemos e alguns escapassem, teriam com que se defender em terra, porque as ondas levariam os barris para a terra.
Continuámos então a cruzar, mas não nos valeu de nada, porque o vento levou-nos sobre as rochas, que estavam submergidas, com 4 braças de água e por causa das grandes vagas tínhamos de aprôar para a terra, na persuasão de que todos haviam de perecer.
Deus, porem, quiz que quando chegámos bem perto das rochas, os nossos companheiros enxergassem um porto, no qual entrámos. Ahi avistámos um pequeno navio que fugiu de nós e se escondeu por detrás de uma ilha, onde não o podíamos ver, nem saber quenavio era; porém não o seguimos.
Deitámos aqui ancora, agradecendo a Deus qne nos salvou, descançamos e enxugámos a nossa roupa. Eram mais ou menos duas horas da tarde, quando deitámos ancora. De tarde, veio uma grande embarcação com selvagens, que queriam falar conosco. Nenhum de nós, porém, entendia a língua deles.
Démos-lhes algumas facas e anzóes, com que voltaram. Na mesma noite, veio mais uma embarcação cheia, na qual estavam dois portugueses. Estes nos perguntaram de onde vínhamos. Respondemos que vínhamos da Hespanha. A isto replicaram que devíamos ter um bom piloto, que podesse nos levar ao porto, porque, apezar de elles bem o conhecerem, com uma tempestade destas não poderiam ter entrado.
Contámos-lhes então tudo e como o vento e as ondas quasi nos fizeram naufragar; e quando estávamos certos de estar perdidos, enxergámos de repente o porto. Foi, pois, Deus que nos guiou inesperadamente e nos salvou do naufrágio; e nem sabíamos onde estávamos.
Quando ouviram isso, admiraram-se muito e agradeceram a Deus e disseram que o porto onde estávamos era Supraway (Superaqui) e que estávamos a 18 léguas (86,9km) de uma ilha, chamada S. Vincente, que pertencia a El-Rei de Portugal, e lá moravam elles e aquelles que tínhamos visto com o navio pequeno que fugiram porque pensaram que nós éramos francezes.
Perguntámos também a que distancia estava a ilha de Santa Catharina, para onde queríamos ir. Responderam que podia ser umas trinta milhas (48,2km) para o sul e que lá havia uma tribo de selvagens chamados Carijós (Carijós) e que devíamos nos acautellar contra elles. Os selvagens do porto onde estávamos, chamavan-se Tuppin Ikins (Tupiniquins) e eram seus amigos, de modo que não corríamos perigo.
Perguntámos mais em que latitude estava o lugar, e responderam-nos que estava a 28 gráos, o que era verdade. Também nos ensinaram como havíamos de conhecer o paiz.
Os nativos tem alguma notícia do dilúvio, mas muito confusa, por lhes ficar de mão em mão dos maiores e contam a história de diversas maneiras. Também lhes ficou dos antigos noticias de dois homens que andaram entre eles, um bom e outro mau, ao bom chamam Sume, que deve ser o apóstolo Tomé, e este dizem que lhes fazia boas obras, mas não se lembram em particular.
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Se você for rejeitado, aceite. Se você não for amado deixe ir. Se escolherem alguém ou algo em vez de você, siga em frente. Nem todos que você ama permanecerão. Nem todos em quem você confia serão leais.