Cunhada do tesoureiro de Collor afirma que sobrinhos perguntaram por envolvimento de Augusto FariasFilhos de PC questionam atos de tutorMÁRIO MAGALHÃESda Sucursal do RioA mulher que os filhos de Paulo César Farias escolheram para criá-los, a promotora de Justiça Eônia Pereira Bezerra, deu um depoimento sigiloso à Polícia Civil e ao Ministério Público de Alagoas que reforça a suspeita policial de que o deputado Augusto Farias (PPB-AL) possa ter participado da trama que resultou nas mortes do irmão PC e de Suzana Marcolino.Eônia, 51, é irmã de Elma Farias, a mulher de PC morta em 1994. A pedido dos sobrinhos Ingrid, 19, e Paulo, 17, ela mora com eles em Maceió.A promotora afirma que há indícios de que a irmã, ""odiada por Augusto Farias", tenha sido assassinada, que PC acumulava grandes prejuízos financeiros antes de morrer e que o deputado havia tomado do irmão o controle dos negócios.Conta que a caseira Marisa Carvalho teme ser morta por saber demais, que os filhos do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello têm como rendimentos apenas uma pensão de R$ 546 para cada e que um dos seguranças indiciados por duplo homicídio agora trabalha para Rosane Collor.De acordo com Eônia, os sobrinhos desconfiam que o tio e tutor Augusto possa ter sido o responsável pelas mortes de PC e Suzana, ocorridas em 1996.Desde 1979, quando a irmã se casou com PC, Eônia conviveu com o cunhado. Quando o empresário esteve preso, em Brasília, administrou, por solicitação dele, a casa em Maceió.Com o assassinato de PC em 1996, cumpriu promessa feita à irmã de cuidar dos sobrinhos. Passa a maior parte da semana na antiga casa do empresário, no bairro de Mangabeiras.A polícia aponta o depoimento de Eônia como o mais importante desde a reabertura da investigação, em março.Registradas em 11 páginas, as afirmações de Eônia, até agora inéditas, foram feitas no dia 23 de setembro, na Secretaria da Segurança Pública de Alagoas.Ao contrário da irmã mais nova, Élia Pereira Bezerra, 39, a promotora se recusa a dar entrevistas. Élia vive em Santos (litoral de São Paulo) e já depôs, com menos informações, à polícia.ElogioAo afirmar que Élia não é confiável, Augusto Farias implicitamente elogiou Eônia: ""A decisão sobre a tutela (dos sobrinhos) é deles. Se decidirem pela tia Eônia, concordo. Quanto à Élia, faço objeções".Em entrevista à Folha, publicada em 23 de setembro, Augusto Farias negou envolvimento com a morte do irmão e disse que a polícia não tem nenhum indício contra ele."Se alguma pessoa tiver a mente poluída e imaginar que eu fui capaz de matar meu próprio irmão e padrinho, essa pessoa é capaz de matar sua própria mãe. Quero que consigam apenas um indício de prova contra mim. Se eu dissesse que daria a minha vida pelo PC, poderia parecer demagogia. Mas digo que daria tudo na vida para ter o meu irmão de volta", declarou Augusto.A seguir, os principais itens do depoimento da mulher que vive com os filhos de PC Farias:DESCONFIANÇA -A partir deste ano, os sobrinhos Ingrid e ""Paulinho" passaram a indagá-la (Eônia) sobre ""o efetivo envolvimento do tio Augusto" na morte de PC. ""Numa das vezes em que as crianças" a questionaram, disse ""achar estranho o posicionamento adotado pelo deputado em relação às investigações" sobre as mortes de PC e Suzana.Augusto Farias até hoje sustenta a versão de que Suzana Marcolino matou PC Farias e se suicidou em seguida. Reportagem da Folha publicada em 23 de março mostrou que essa versão não se sustenta, quando são analisadas a altura de Suzana e a trajetória percorrida pela bala.CASEIRA -A caseira Marisa Carvalho estava na casa de praia em que os corpos de PC e Suzana foram encontrados, em junho de 1996.Ao ser chamada para depor na nova investigação, Marisa ficou ""completamente descontrolada, chorando copiosamente", segundo Eônia Bezerra.""Ela repetia as frases: "Eu tô muito nervosa, eu não aguento mais, eu tô vendo a hora de morrer, de matarem meu filho, eu já disse ao Nino (marido), vamos embora daqui"."Segundo depoimento da jornalista Ana Luiza Marcolino Noaro, irmã de Suzana, Marisa dissera, no velório da namorada de Paulo César Farias, que esta havia sido morta por um dos seguranças do empresário.VOZ -Gravação de uma mensagem telefônica de Suzana na madrugada das mortes mostra um homem lhe dizendo: ""Te arruma, te arruma".""Com certeza, essas palavras não foram pronunciadas por Paulo César Farias", disse Eônia.""Se havia uma pessoa que merecia admiração pela forma perfeita e inteligente de expressar-se, essa pessoa era ele, mesmo quando bebia."FAZENDA -De acordo com a promotora, a partir da morte de PC ""o patrimônio de Augusto elevou-se substancialmente, sendo a mais recente aquisição uma propriedade rural gigantesca no município de União dos Palmares (AL)".PATRIMÔNIO -Na condição de tutor dos sobrinhos, o deputado ""depreda" o patrimônio de Ingrid e Paulo, segundo Eônia. Ela cita um apartamento em São Paulo, cujo condomínio seria de R$ 1.050. Augusto Farias cede o apartamento para amigos, disse a promotora.MOTORISTA -Receitas de imóveis que deveriam ser recebidas pelos filhos de PC são depositadas na conta particular do motorista Juarez Alves, empregado dos Farias, segundo Eônia Bezerra.PENSÃO -""Ingrid e Paulinho têm como rendimentos efetivos em seus nomes tão-somente uma pensão previdenciária deixada por PC Farias e Elma como autônomos." Segundo a promotora, cada sobrinho recebe R$ 546 por mês.ÓDIO -""Com a fuga e a prisão de Paulo César Farias, Augusto simplesmente intitulou-se gestor do patrimônio do irmão, passando então a exteriorizar todo o seu ódio por Elma", disse Eônia.""Ele negava-lhe os meios necessários à sua manutenção e à dos filhos, o que forçou Elma a vender diversos objetos de arte para fazer face às despesas."PERUA -Depois da eleição de Fernando Collor, em 1989, Elma teria aconselhado PC a se afastar do novo presidente.Por esse motivo, Augusto Farias teria dito ao irmão: ""Paulo, largue essa perua, porque com essa perua você não vai ser nada nunca".PERFUMES -Eônia Bezerra afirma que, durante muitos anos, Augusto Farias nutriu uma ""doentia empatia" por PC.""Ele chegava ao ponto de imitá-lo em quase todos os seus atos, tais como: se Paulo César comprava um perfume, dias depois Augusto comprava o mesmo perfume."EXPULSÃO -Conforme o relato de Eônia Bezerra, quando PC estava preso Augusto Farias ordenou a Elma que deixasse a casa de Mangabeiras porque queria viver lá.A uma irmã de Augusto que comunicava o desejo do deputado, Elma teria dito: ""Vocês são uns sanguessugas, vocês não prestam, um dia Paulo vai saber exatamente quem são vocês".AMEAÇA -Quando avisou Elma que, como de hábito, iria para Brasília passar alguns dias com a irmã e os sobrinhos -PC estava preso-, ""de maneira surpreendente" ouviu: ""Não venha, eu quero você aí em Maceió", teria dito Elma.Poucos dias depois, a mulher de PC morreria, supostamente por edema pulmonar. Eônia disse acreditar que Elma estivesse sendo ameaçada de morte e, para protegê-la, a queria longe.SUSPEITA -A promotora afirmou que o corpo da irmã não tinha características de quem morre de edema pulmonar.O cadáver não apresentava ""características básicas e inerentes a mortes desse tipo, como manchas arroxeadas, principalmente ao redor dos olhos, dos lábios, do pescoço e das unhas".DESPACHO -Dois meses antes de morrer, PC disse ao paisagista e pai-de-santo Gilson Lima que ""os seus negócios não andavam bem, que estava perdendo bastante dinheiro nas transações que havia realizado". PC teria pedido, então, para Lima fazer um despacho que o ajudasse.ROSANE COLLOR -O policial militar Adeildo Costa dos Santos foi um dos quatro seguranças indiciados em 1999 sob acusação de co-autoria das mortes de PC e Suzana.""Adeildo afirmou não ter mais condições de ser segurança e motorista trabalhando na "mansão" (a casa em Mangabeiras), pois aquele era um trabalho puxado. Pouco tempo depois, foi ser segurança e motorista de Rosane Collor (mulher de Fernando Collor, ex-primeira-dama)."MÁFIA -Em Buenos Aires, Eônia disse ter sido apresentada ao argentino Jorge La Salvia, ""uma das pessoas que efetuavam negócios com Paulo César Farias".La Salvia é apontado pela Polícia Federal como suspeito de ser um dos elos de PC com a Máfia italiana no tráfico de drogas.
