A primeira notícia da descoberta de metais preciosos foi do biscainho João Sanches: “próximo a Itapucu e na parte donde nós outros povoamos, os portuguezes encontraram muitas minas de prata muito ricas, e isto digo porque na minha presença fizeram muitas fundições, as quais todas enviam ao rei de Portugal para que logo mande povoar toda a costa”. [1]
Em 1552 novas notícias sobre a existência destas riquezas se deu através de uma carta do primeiro bispo Brasil, Pedro Fernandes Sardinha, ao rei. Em seguida ele teria sido “devorado”. [2] Em 8 de fevereiro Tomé de Sousa concedeu a aprovação a Bras Cubas para “povoar” terras. [3]
Em 1 de março de 1554 uma expedição planejada por Thomé de Souza parte em busca do ouro, segundo notícia dada pelo Padre Anchieta, quanto a localização: região do Ypanema, da primeira descoberta de Afonso Sardinha. [4]
Dia 7 de setembro de 1559 a rainha regente D. Catarina comunicava ao governador Mem de Sá que enviara o mineiro Luis Martins para averiguar as notícias das minas de ouro. [5]
O primeiro registro da palavra “Sorocaba” aparece no inventário da segunda esposa do “fundador”, em 1655: “Nesta paragem de Sorocaba, onde tem sua fazenda e igreja”.
Mas, a primeira referência a atual cidade de Sorocaba é registrada muito antes. Como em 25 de abril de 1562, quando “Brás Cubas escreve ao rei de Portugal anunciando a descoberta de ouro e metais preciosos perto de São Paulo, 30 léguas de Santos, em Bacaetava, Birácoyaba e Ivuturuna”. [6]
Em 5 de novembro desse ano (1562) o escrivão da Câmara do porto de Santos, Jácome da Mota, registra:
“(...) chegando do campo, Luis Martins, onde fora por mandado do Governador da Baía para descobrir alguns metais, mostrara perante muitas testemunhas o ouro que trazia, o qual pesara três marcos e seis grãos, que ficara em seu poder de Luis Martins para remeter ao governador da Baía de Todos os Santos”. [7]
Em 1589, 27 anos depois, Afonso Sardinha (primeiro "homem branco" em Sorocaba) funda no local uma “nova” fábrica, a “Usina de Ferro do Vale das Furnas”. [8] Em 1603 um Regimento surgiu depois das notícias da morte do tal mineiro alemão que andava “nessas bandas” e dos boatos de que se fundia ouro do tamanho da “cabeça de um cavalo”. [9]
Quase 100 anos depois, em 1680, os irmãos Moreira Cabral reativaram a produção de ferro no morro Ipanema. [10]
A existência de uma fábrica em 1769 está no relato do Barão de Eschwege, que registra a presença de um escravizado vindo da Africa, hábil em metalurgia. Impressiona o Barão ter passado pela fábrica 42 anos depois, em 1811, esse homem ainda estaria alí. [11]
Em 31 de janeiro desse ano (1769) “ficaram prontos os reparos dos canhões, de todos os calibres, além de outros acessórios, para a Fortaleza da Ilha do Mel, Paranaguá”. [12]
Em julho os sócios da fábrica de ferro anterior resolveram ceder a administração dela para o Capitão Jacinto José de Abreu. [13]
Em 14 de fevereiro de 1770 ele escreve ao governador da Capitania de São Paulo, Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, “relatando as providências tomadas para a entrega de encomenda de barras de ferro, sugerindo um aumento de rendimento para o mestre pedindo uma opinião sobre a compra de um terreno para aumentar a fábrica”. [14]
O FERRO DEIXA DE “FLUIR”
Não encontram registros sobre essa fábrica até 1788, quando Cláudio de Madureira Calheiros e Vicente da Costa Taques Goes propõem criar uma nova fábrica de ferro e aço em Ipanema. [16]
Quanto ao impacto que a última fábrica teve no aumento habitacional de Sorocaba, eis os números:
Em 1780 a vila de Sorocaba tinha 6.614 habitantes. Os escravizados eram 1.174, ou seja, representavam quase 18% da população ou um para cada seis pessoas livres”; em 1800 eram 10.180 habitantes e e, 1810, ano da fundação eram 9.576, sendo 1900 escravizados. [17]
Em 18 de junho de 1800 o governador e capitão general da capitania de São Paulo, Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, escreve ao secretário de estado da Marinha e Ultramarino, conde de Linhares, D. Rodrigo de Sousa Coutinho sobre os trabalhos de instalação da fábrica de ferro das minas da cidade de Araçoiaba. [18]
NAPOLEÃO E A ÚLTIMA FÁBRICA
Ninguém esperava pela Revolução Francesa, iniciada em 5 de maio de 1789, muitos menos suas consequências. Napoleão tinha então 20 anos de idade. Suas ações durante a revolução somado a sua genialidade militar, após conquistar quase todo a Europa, em 26 de novembro de 1807, após a rainha dona Maria I, conhecida como “a Louca”, descobriu que o homem que ela via como o anticristo marchava em direção ao reino de Portugal.
Era Napoleão Bonaparte, a própria encarnação do demônio, na opinião da monarca e D. João, príncipe regente de Portugal, torna pública a resolução de mudar a corte para o Brasil. [19]
Em 17 de março de 1808 chegam ao Rio de Janeiro a rainha dona Maria I e o príncipe regente dom João. A cidade ficou sendo, até 26 de abril de 1821, a capital da monarquia portuguesa. [20]
Em 13 de maio a Real Fábrica de Pólvora foi criada pelo decreto de 13 de maio de 1808 e estabelecida na Fazenda da Lagoa Rodrigo de Freitas, que fora adquirida pela Coroa por meio de subscrição voluntária entre os moradores da cidade e em cujas terras também foi instalado um jardim botânico. [21] Em 1809 chega em Sorocaba o sueco Frederico Luiz Guilherme de Varnhagem. [22]
1810: BACAETAVA E A FUNDAÇÃO DA FÁBRICA
Manoel Fabiano Madureira ganha posse de terras em Bacaetava. Foi seu pai, Cláudio de Madureira Calheiros e Vicente da Costa Taques Goes, que propuseram criar uma fábrica de ferro e aço em Ipanema em 1788. Francisca e Francisco Feliciano de Oliveiras Rosa também ganham Fazenda em Bacaetava. [23]
Em 17 de julho, o Príncipe encaminhou ofício ao General Horta para que formulasse “convite” para que as pessoas mais abonadas da vila subscrevessem ações de 800$ cada. [24]
Enquanto Hedberg partia de Londres para o Brasil, a Coroa trabalhava na captação de acionistas para a fábrica de ferro. Em 17 de julho de 1810, o Príncipe encaminhou ofício ao General Horta para que formulasse “convite” para que as pessoas mais abonadas da vila subscrevessem ações de 800$ cada. [25]
Em 4 de agosto o ofício foi repassado às câmaras municipais das vilas de Sorocaba, Parnaíba, Taubaté, São Luis, Mogi das Cruzes, Itu, Cunha, Jacareí, Paranaguá, Cananéia, Santos e Curitiba: Apenas se conseguiu em Curitiba um acionista. [26]
Em 16 de setembro, em Sorocaba conseguiram-se mais três acionistas: Coronel Antonio Francisco, Coronel Bento Manuel de Almeida e Pais, Tenente Francisco de Paula Penteado. Tentou-se a subscrição da ação de Maria de Nazaré de Nascimento Lima por ser dona das terras, mas não foi aceita. [27]
Em 27 de novembro as autoridades locais, como o Governador da Capitania, Gen. Antonio José de França e Horta e o Brigadeiro José Arouche de Toledo Rendon, assumiram esse ônus de subscreverem ações. Em 27 de novembro de 1810, comunicou-se ao Príncipe a existência de treze acionistas. [28]
Em 4 de dezembro é criada a “Companhia Montanística das Minas Gerais de Sorocaba”, empresa responsável pela fundição de Ipanema, como uma sociedade de capital misto, com treze ações pertencentes à Coroa Portuguesa e 47 a acionistas particulares de São Paulo, do Rio de Janeiro e da Bahia. [29]
D. JOÃO VI, “O CLEMENTE”
Em 12 de julho de 1811 o príncipe regente d. João VI (44 anos) escreve, do Palácio no Rio de Janeiro, ao Governador da Capitania de São Paulo, Luís Teles da Silva Caminha e Meneses, 8.º conde de Tarouca e 5.º marquês de Alegrete (36 anos).
O título da carta régia é “Sobre os trabalhos das minas de ferro de Sorocaba”Nesta carta régia se destacam:
- que tudo fosse feito debaixo de princípios inalteravelmente justos, e sem violência
- que tudo fosse executado perfeita, dando-lhe conta regular não só do estado em que a achastes, mas ainda do sucessivo melhoramento que fosse tendo, e da receita e despesa
- cessar o monopólio do comércio das madeiras e sua venda nos diferentes portos da Capitania
- proibir queimadas nas matas, mas facilitar o corte, contanto que se cuidasse também da sua reprodução, não se opondo obstaculo aos esforços da natureza
- civilizar o “índio bravo” que impedia a livre comunicação das três Capitanias de S. Paulo, Santa Catharina, Rio Grande do Sul e do Distrito do Paiz de Missões
- a cultura do linho cânhamo também faria a riqueza da capitania de S. Paulo
- se conseguisse, debaixo de liberais princípios, naturalizar na Capitania a produção de cânhamo, “fareis aos meu real serviço, a navegação e á riqueza dessa Capitania o maior bem possível e jamais me esquecerei de tão grande serviço”
- facilitar o corte de madeira, contanto que se cuide também na sua reprodução, não se opondo obstaculo aos esforços da natureza.
- esse primeiro estabelecimento, em tais bases, resultaria, não só a sua perfeita utilidade, mas ainda a felicidade da Capitania ou de toda a variada industria da fundição e forja do ferro e das imensas fabricas que dele, e do aço depois se derivam, devem achar toda a facilidade em se estabelecerem, visto que a riqueza e produção do solo, fazendo que seja tudo ali muito barato
- abertura das estradas, que servirão a dar facil e barata passagem a todos estes produtos até aos portos de mar
- evitar todos os motivos de ciúme ou de questão, que possam existir entre o Diretor e operarios suecos, e os empregados portugueses na fabrica
- que relatórios anuais detalhados fossem publicados afim de que os acionistas vissem a boa fé e exatidão como se procedem os serviços
- os vastos e preciosos campos de Guarapuava poderiam vir a ser outra Capitania tão importante como a do Rio Grande [30]
Em 10 de novembro de 1813 a junta diretora resolveu que se chamasse “Real Fábrica de São João do Ipanema”. [31] Em 27 de setembro de 1814 Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen assume a direção da fábrica. [32]
Após 4 anos o sargento-mor (depois coronel) Frederico Luís Guilherme de Varnhagen inaugura neste dia os trabalhos da fábrica fundindo três cruzes monumentais, que foram plantadas nas vizinhanças da fábrica. A maior dessas cruzes foi assentada no alto do morro do Araçoiaba. [33] |