' História de Bertioga. Carlos Eduardo de Castro Prefeitura Municipal de Bertioga, VI Seminário Regional de Cidades Fortificadas e Primeiro Encontro Técnico de Gestores de Fortificações* - 01/03/2010 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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História de Bertioga. Carlos Eduardo de Castro Prefeitura Municipal de Bertioga, VI Seminário Regional de Cidades Fortificadas e Primeiro Encontro Técnico de Gestores de Fortificações
março de 2010. Há 14 anos
Ao se considerar a história de Bertioga como município independente, pode-se caracterizá-lapraticamente como uma “adolescente”, pois em 1943 foi anexada pelo Governo de São Paulo àcidade de Santos. Elevada a subprefeitura e depois distrito, em 1991 se realizou um plebiscito ondese votou por sua emancipação. Em 1992 ocorreram as primeiras eleições municipais e em 1993 oprimeiro prefeito tomou posse. Entretanto, a história de Bertioga é muito anterior à suaemancipação como município. Muito antes da chegada dos colonizadores a região já era ocupadapor grupos humanos. Primeiro pelos sambaquieiros, mais tarde pelos tupi.Bertioga foi logradouro estratégico nos primeiros anos da colonização do Brasil e palco deeventos relevantes da História brasileira. Assistiu à chegada de Martim Afonso de Souza, em 1532;abrigou a primeira fortificação militar do país construída com planta real e em alvenaria, o Forte deSão Tiago; testemunhou inúmeras batalhas entre os tupiniquim e seus aliados portugueses contra ostupinambá, que habitavam as terras de São Sebastião a Cabo Frio; aquartelou o alemão Hans Stadene presenciou a sua captura pelos tupinambá; recebeu os jesuítas José de Anchieta e Manoel daNóbrega, que desenvolveram o trabalho de catequese dos curumins; acompanhou a organização esaída da esquadra comandada por Estácio de Sá, que lutou e expulsou os franceses e fundou a Vilade São Sebastião do Rio de Janeiro; viu entrar por seu canal o galeão Roebuck, do corsário ThomasCavendish, que tomou a vila de Santos em 1593; alojou uma grande armação de baleias no séculoXVIII; e, impávida, viu a urbanização se desenvolver e seus loteamentos e condomíniosespraiarem-se ao final do século XX.Hoje, por suas reminiscências, Bertioga é cenário rememorável da História do Brasil. Portanto, oconhecimento, a valorização e a difusão desta História é de grande relevância para a compreensãoda formação do país.Forte de São João de BertiogaEra três de dezembro de 1530, quando a expedição armada pelo rei de Portugal, D. João III, partede Lisboa com destino às terras do Brasil. Composta por cinco naus e aproximadamente 400homens, ficou sob o comando de Martim Afonso de Souza, fidalgo português que recebeu plenospoderes do rei em carta régia.Poderes estes de vida e de morte sobre os seus comandados, assim como as atribuições dedescobrir e ocupar terras, e distribuir sesmarias. Entretanto, o grande objetivo de D. João III aoenviar a esquadra não era o de colonizar as novas terras, mas sim o de fazer uma incursão pelo Rioda Prata que, por conta de muitas lendas e raras evidências, conduziria à região de imensas riquezas.Em fins de janeiro de 1531, a esquadra avistou o Cabo de santo Agostinho. Lá, combateufranceses traficantes de pau-brasil que assediavam a costa brasileira. Seguiu em direção sulenquanto uma de suas naus procedia a uma expedição ao Amazonas, que seria frustrada pelo maltempo na região.

Em março chegou à Baía de Todos os Santos onde conheceu Diogo Álvares, o Caramuru. Maistarde atracou no Rio de Janeiro, onde permaneceu por quatro meses. Segundo a Carta de navegaçãode Pero Lopes, no dia 22 de janeiro de 1532, Martim Afonso veio dar na desembocadura de um rio,região de imensa beleza natural. O local era denominado pelos tupiniquim, Burikioca, “a casa domacaco grande (mono-carvoeiro)”. [Página 1 do pdf]

Aqui, alguns homens de Martim Afonso construíram uma caiçara, chamada também de paliçada,fortificação feita com estacas de madeira. A região ocupada pelos tupiniquim sofreu seguidasinvestidas de seus inimigos, os tupinambá. Estes últimos eram grandes guerreiros que ocupavam asterras de São Sebastião a Cabo Frio, e que se aliaram aos franceses na luta contra tupiniquim eportugueses.Os sucessivos ataques acabaram por destruir o fortim, que foi reconstruído pelos irmãos Braga,filhos de um português, Diogo Braga, e de uma índia cristianizada, ao que eram chamadosmamelucos, palavra que designa o produto da miscigenação entre o homem branco e a mulheríndia. Nascidos em Santos, tiveram grande destaque na história local e na guerra contra ostupinambá.A entrada do Canal da Bertioga era posição estratégica a ser defendida pela coroa portuguesa epelos luso-brasileiros, pois dava acesso às Vilas de São Vicente e Santos. Luis Góes, fidalgo eproprietário de terras na região, enviou uma carta a D. João III, rei de Portugal, reivindicando aajuda real para a defesa de Bertioga:“Mui alto e mui poderoso Senhor, que se com o tempo e brevidade vossa Alteza não socorrer a estas capitanias eCosta do Brasil, que ainda que nós percamos as vidas e fazendas vossa Alteza perderá a terra”Em 1551 um ataque tupinambá destruiu a paliçada construída pelos irmãos Braga, e nestemesmo ano um alvará régio deferiu o requerimento dos súditos de São Vicente. O Rei ordenou aconstrução em alvenaria do forte em Bertioga. Foi a primeira fortaleza construída com projetoarquitetônico enviado de Portugal na costa brasileira e em alvenaria.Segundo relato do Governador Geral da colônia, Tomé de Souza, à D. João III, as obras seiniciam no ano de 1553. À planta original, enviada pela coroa, foram feitas algumas adaptações àscondições locais. O forte foi erigido em pedras unidas por argamassa à base de barro, cal desambaquis e óleo de peixe, que nada mais era que óleo de baleia.Seguiu as normas de construções militares ibéricas do período renascentista. É interessante seobservar a orientação horizontal da construção, que a diferencia das fortalezas medievais, pois estaspossuíam muralhas verticalizadas. Isto se deve ao fato de que houve uma grande transformaçãotecnológica bélica. Os projéteis, que em princípio eram impulsionados por força elástica, (arco eflecha, catapultas, etc.) passam a ser lançados por explosão. É o que chamamos de pirobalística.Portanto, já não se justificava as grandes muralhas verticais das fortalezas medievais, que seriamvulneráveis aos tiros de bocas de fogo, bombardas e, mais tarde, de canhões.Entretanto, a planta original sofreu alterações para adaptá-la às necessidades locais. SegundoMori, “a hipótese mais provável, sobre a adaptação do projeto efetuado por Tomé de Souza, seriaque a ‘traça’ enviada de Portugal fora concebida dentro dos novos conceitos renascentistasdeterminados pelo desenvolvimento da pirobalística. A realidade local vivenciada pelo GovernadorGeral, onde os indígenas ainda desconheciam a balestra ou a catapulta, o teria levado a construir um‘forte de transição’, que defendesse tanto as armas de fogo das naus francesas como das flechas dostupinambás (tamoios). Voltada para o canal, a ‘torre’ com suas canhoneiras e guaritas, denunciava oprojeto erudito da ‘cortina horizontal’ dentro dos princípios da ‘pirobalística’. E para o lado da terrafirme uma ‘estacada dobrada’ ou dupla paliçada cercando o alojamento e talvez até mesmo a casados povoadores, para se defender do ‘combate de contato’ sempre freqüente dos contrários, dentrodos ditames da neurobalística.”À leste do forte, próximo à praia, havia uma pequena capela em homenagem a São João. Umaforte ressaca levou os moradores do povoado a transferirem a imagem de São João para dentro doForte de São Tiago. Os moradores da região passam a se referir ao Forte que abrigava o São João e,aos poucos, substituíram o nome de Forte de São Tiago para Forte de São João, nome que oacompanha até hoje.Nos séculos seguintes à sua construção o Forte da Bertioga sofreu algumas alterações: a muralhafoi reconstruída e aumentada no século XVIII e a paliçada foi retirada. Apesar das reformas e [Página 2 do pdf]

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