A instituição do governo-geral, em 1548, é considerada uma evolução do Estado monárquico em Portugal, cada vez mais centralizador, mas também uma medida saneadora. Estava na hora de tomar posse efetiva do Brasil e fazê-lo render.
Para cumprir sua missão, o primeiro governador-geral do Brasil veio preparado. Sua armada reunia três naus (Salvador, Conceição e Ajuda), duas caravelas (Leoa e Rainha), um bergantim (São Roque) e duas outras naus de comércio, que deveriam voltar cheias de pau-brasil. Embarcadas, estima-se de 500 a mil pessoas, entre 130 soldados, 90 marinheiros, 70 profissionais (carpinteiros, ferreiros, serradores, etc.), funcionários públicos, jesuítas comandados por Manuel da Nóbrega, 500 degredados e outros peões para o trabalho pesado.
Debaixo do braço, Tomé trazia o Regimento do Governador e Capitão Geral, com as ordens do rei dom João III, redigido em 17 de dezembro de 1548. Com 48 artigos, determina a fundação da cidade-fortaleza e trata da defesa militar da costa, das relações com os nativos, de doações de sesmarias, cobrança de proventos devidos à corte.
"Foi o que alguns chamam de a primeira Constituição do Brasil", diz o historiador Cid Teixeira.
Quando o grupo de Tomé de Souza desembarcou, foi bem recebido. "Achamos a terra de paz e 40 ou 50 moradores na povoação que antes era. Receberam-nos com grande alegria", escreveu Manuel da Nóbrega. Mas, se as relações com os nativos eram tão tensas, como explicar a acolhida descrita pelo jesuíta? Graças à presença, em terra, de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, aliado dos nativos e mediador indispensável aos propósitos portugueses.
Dois meses antes da chegada da armada, o rei mandara carta a Caramuru pedindo sua colaboração: "Porque sou informado, pela muita prática e experiência que tendes dessas terras e da gente e costume delas, o sabereis bem ajudar e conciliar, vos mando que quando o dito Tomé de Souza lá chegar, voz vades para ele, e o ajudeis no que lhe deveis cumprir e que vos encarregar". [Brasil Colônia e Império: Grandes Personagens de nossa História, 12.12.2021. Israel Foguel. Páginas 38 e 39]