Aparecem, depois, alguns casamentos com esta naturalidade,"nascido em Gatemim". Tal foi Francisco Gomes de Carvalho, docasal supra, que em 1806 se casou com Maria Angélica de Matos .Dona Engrácia Maria da Paixão, filha de Francisco — Maria Angélica, viria a casar-se com Carlos Leão Baillot, de Bar-le-Duc, ourives e pintor assassinado em Campo Largo, hoje Araçoiaba, e foram os pais de Augusto Baillot, professor de matemática no antigo Ginásio do Estado de São Paulo.
Os sorocabanos que tanto auxiliaram os outros paulistas a dilatar as fronteiras do oeste, foram convocados por Gomes Freire deAndrade, governador do Rio (por estar extinta a nossa capitania) epor indicação do bispo Galvão, de São Paulo, a dirigir uma curiosaexpedição em 1753: levar os marcos de pedra vindos de Lisboa, comas armas reais inscritas, à Comissão de limites que estava no rioParaguai. Tanta importância se dava aos símbolos! Antônio de Almeida Falcão, mestre-de-campo, que viera definitivamente de Cuiabáà terra natal, vivendo na sua fazenda do Rio Abaixo, tinha até índiosdaquelas regiões e foi o cabo ou guia paulista do comandante de primeira linha. A flotilha fluvial partiu de Araritaguaba com os riosainda cheios, facilitando certas itaipavas. Êle ia sempre à frente,passando primeiro nos lugares mais perigosos. Acima das Sete Quedas, os homens levaram por terra até Curuguatí, onde estava o brigadeiro José Custódio aquelas pedras, certamente numa espécie deestrado de madeira, que alguns chamavam banguê. Falcão retornoufelizmente em outubro daquele ano e como era viúvo, ainda em 1760casou segunda vez e decerto morreu em seu leito, anos depois.
Um episódio mais doloroso do que o da guerra aos paiaguás foi o de Iguatemí, presídio fundado em 1767, pelo governador Morgado de Mateus no sul do atual Mato Grosso, não longe do antigo arraial sorocabano-ituano do Mboteteí, de um século antes, para segurar as fronteiras contra os castelhanos. Todos e só os paulistas de tôdas as vilas concorreram para essa colônia militar que entrou na história com o nome de Cemitério de Paulista e rendeu-se aos espanhóis em 1777, mas Sorocaba e Itú sofreram mais. O nosso capitãomor José de Almeida Leme via-se obrigado a recrutar gente e comprar mantimentos e enviar a Araritaguaba. Toicinho salgado, feijão e farinha de milho para alimentar uma povoação que, ainda hoje, na éra do avião, é longe. Em 1771 o sargento-mor Luís Vaz de ToledoPiza que aqui morava, embora já casado em Cotia, com o irmão padre Carlos Correia de Toledo e Melo, ambos futuros Inconfidentes mortos no destêrro, levou uma condução de alimentos. Duas mu- [Página 172]
percalços apontados . Assim, na Colônia, sob o nome de campos reúnos, no Império e na República campos nacionais, ainda existe hojeum resto dêles . A gente vai cercando, cercando . Em 1950, ia-se deEden a Aparecida sem porteira . Hoje não . Assim mesmo houve sesmarias inteiras em campos com grandes capões e restingas de mato .A sesmaria começara em Portugal, evidentemente em muito menor escala, para as terras abandonadas e daninhas . Chamadas também pardieiros .No Brasil, não eram terras abandonadas . Ao contrário! O tamanho estêve de acôrdo. As primeiras foram dadas por Marfim Afonso em 1532 tomando como testada o litoral e sertão a Paranapiacaba . Tôda sesmaria têm testada, a frente, e sertão, o fundo . Sertão,palavra africana, é o que está no interior e não própriamente o mato.O quintal é o sertão da casa... A testada era o mar ou um cursode água e, a seguir, os caminhos, o que concorria para fixá-los, apesar de péssimos . André Fernandes tinha muitas sesmarias na regiãode Sorocaba. Dava-as de amor em graça.Baltazar teve uma de uma légua em quadra de cada lado do rioSorocaba, a começar da ponte. Nunca as mediu.A primeira sesmaria foi dada por Dom Francisco de Sousa norio Sarapú.
João Martins Claro tirou sesmaria no Piragibú cêrca de 1695; é a mesma que em parte passou a seu genro e netos, os Monteiro de Carvalho. Limítrofe, com testada no caminho de Piragibú e sertão para o Mato Dentro, desde 1611, fôra concedida uma grande sesmaria de uma légua de testada e três de sertão, na direção da atual São Roque.
Dita sesmaria, não povoada, em 1786 foi concedida de nôvo a modestos sitiantes como Antônio José da Silva, Marcelo de Marins, Francisco Teixeira da Silva, e assim se povoou Piragibú do Meio, com Inhaiba . Ainda em 1819 havia mato com uriundiúba que serviram até para retábulos de altar .
A continuação do Inhaiba e capela da Penha era sesmaria dosDomingues, desde lá por 1690. Foi-se dividindo com as partilhaspor herança e escrituras de venda . Com os Domingues vizinhavaPascoal Moreira Cabral, desde lá por 1654, isto é, êles vieram vizinhar-se . Por sua vez, no córrego Itapeva Moreira Cabral se encontrava com Baltazar Fernandes . O terceiro Pascoal Moreira Cabral,um pobretão, ainda vendeu terras no Apereatuba lá por 1770, bemvelho. Tinha acompanhado o pai (o segundo) a Cuiabá, mas o ouro de Cuiabá a ninguém aproveitou senão a Inglaterra .Ainda por 1690 João Antunes Maciel tirou grande sesmaria noPirapora, descendo por êle e pelo Sarapuí. Além dêste rio, continuaram os beneditinos e, como vimos, foram surgindo fazendas decriar até Curitiba . [Memória Histórica de Sorocaba: parte V, 1967]
De Sorocaba para o Ipanema a sesmaria do alcaide-mor Jacinto ou a de outro, já dividida, passou por compra ao vigário padre Pedro de Godói, 1690. Uma légua em quadra por 20 mil réis, o preço de um escravo índio.
O alto Pirapora, onde em parte se acha o município de Piedade foi dado ao português José Nunes Vieira, nome da família que reaparece em Pilar do Sul neste século.
No Jurupará entraram em 1780 homens humildes fabricando canoas para as monções do Tietê e para isso fizeram roça e rancho. Deram com uma sesmaria recém-tirada pelos Madureiras, a mesma que permitiu a dona Maria Floriana fundar aí outro engenho, de cana.
Os Madureira tinham duas grandes fazendas, uma mais perto do Votorantim, na Ventania, vendo-se ainda no mapa municipal o córrego Madureira, à direita do rio Sorocaba, outra, à esquerda, cuja sede era na capela de Nossa Senhora do Pópulo, depois também chamada São Francisco.
Tudo por herança, pois Matias de Madureira Calheiros era genro de Fernão Dias Falcão, dono da fazenda do Itapeva, que me parece era uma só. E a sesmaria do Gurupará, que seria para arredondar.
Em 1822 os povoadores pobres aproveitaram a mudança política e obtiveram terras no Gurupará, e, então, contaram aquela história de 1780. Talvez o capitão-mor não olhasse com bons olhos essa vizinhança, talvez legalizavam posses que entravam em terras dêle.
Já para o lado do Pilar do Sul, depois da Ilha, vizinhando com os Antunes e São Bento, estava, por 1750, Geraldo Domingues, casado com Catarina Correia.
Êstes Correias, aliados aos Domingues, sempre pediam nos testamentos para serem enterrados ao pé do altar de Nossa Senhora do Pilar, em São Bento. Talvez tivesse emsua casa os Domingues uma cópia da imagem de Nossa Senhora do Pilar, que se perdeu. Em todo caso, a lenda de que os caçadores iam àquelas terras para "pilar" carne donde o nome ao lugar, não resiste ao bom senso.
Em 1803 João de Barros Lima comprou uma sesmaria além do rio Sarapuí . O povoamento ou posse das terras de Pilar do Sul completou-se nas vésperas de 1822, com as sesmarias do Turvo (dos Loureiro) e do Pinhal até a Paranapiacaba.
O Salto de Pirapora, que então se chamava Campo Largo do Salto, também depois de 1700 foi sendo povoado por sesmarias a diversos, gente pobre que é a que verdadeiramente mora no local, Sarapurã e Pirapora acima, e aqui temos os nomes de Bento de Lima Maciel, Ana de Zuniga, Maria Maciel, João Pereira Domingues, Joaquim Oliveira Camargo, Salvador Rodrigues, mas tudo abaixo da serra, de modo que já se estava no norte do territóriode Piedade, continuando, porém, a mata virgem despovoada. Na serra, em 1835, tudo acabava na fazenda Madureira. (Página 176)